Segui direto pra casa, nem quis saber o que minha mãe acharia da situação.

Ela ficou desconcertada quando contei o que aconteceu.

-Ah, então a Família Uchiha está de volta, hãm?

-É,... estão. E o Lee está ficando maluco.

Minha mãe veio até a minha cama onde eu estava sentada.

-Sakura, Lee teve ciúmes, você não consegue entender?

-Claro que consigo, kaa-sama. A única coisa que eu não entendo é o barraco que ele fez. Deixou-me totalmente sem graça. Sasuke vai achar que somos loucos.

-Aposto que Sasuke vai ter bom senso o suficiente para saber que foi uma situação que deve ser ignorada. Lee virá te pedir desculpas. Acredite nisso. – e saiu, me deixando sozinha.

Pelo resto da noite, até a hora de dormir, não consegui parar de pensar na festa, principalmente nos fatos mais marcantes: a chegada dos Uchiha, Sasuke me convidando pra dançar, Sasuke dançando comigo, seus olhos me perseguindo onde quer que eu fosse, e claro, o maldito barraco.

Se me perguntasse se eu faria tudo de novo, apenas pra dançar com Sasuke, a resposta seria sim.

                                               (*)

Na segunda de manha me arrumei pra escola. Não teria nada de melhor pra fazer eu me distrair, então me apressei pra chegar lá. Mas, antes que eu pudesse sair de casa, Lee já batia na porta. Minha mãe foi abrir, porque Shizune ainda estava se arrumando.

-Olá, Tsunade-sama. Er.... a Sakura...?

-Sim, ela está, Lee.

Desci as escadas devagar quando minha mãe me chamou dizendo que ele estava na sala.

Ele me esperava sozinho. Assim que me viu, ficou vermelho e abaixou o olhar.

-Sakura-san,... eu quero me ... desculpar por ontem.

Fiquei encarando-o por um tempo. Ele achou que eu não ia responder.

-Não, não perdôo.

Ele se assustou.

-P-por que não??

-Porque só perdôo se te ver pedindo desculpas ao Sasuke.

 O semblante dele se fechou.

-Sasuke importa tanto assim?

-Claro, ele é novo na cidade, é um novo amigo, e você reparou no jeito como o tratou??

Ele não respondeu, ficou olhando pro chão.

-Ta.... eu aceito. – disse por fim.

-Ótimo, então depois que tiver feito isso, me procure. – saí andando na frente, deixando claro que queria ir sozinha pra escola.

Fui pensando em quando encontraria Sasuke de novo. Eu esperava que isso não demorasse, afinal, eu queria me desculpar também. E outro motivo também me fazia querer vê-lo, mas eu não sabia dizer o que era.

Mal sabia eu que o varia ali mesmo, na escola.

Eu jamais imaginei que ele fosse estudar ali. Na verdade, fazia até sentido, já que ele tinha vindo a Festa de Boas - vindas da escola. Mas, inicialmente, eu pensei que eram convidados do Neji.

O vi quando ia pra minha sala. Ele estava arrumando o material em cima de uma mesa. Não me viu. Chequei a porta da sala:

1°B

Ótimo, então ele também era do primeiro ano!!

Aquilo era bom demais, nem sabia o porquê.

(*)

As aulas passaram normais, como sempre. Conheci os professores novos, e pra variar, Kakashi seria meu professor de Física. O coitado ficou vermelho quando me viu, e gaguejou duas vezes enquanto explicava sobre a Física e suas ramificações.

No intervalo, Lee veio até mim.

-Eu não quero saber, Lee. Já pediu desculpas a ele?

-Já... – ele disse desanimado.

         O olhei de soslaio.

-Já...?

-Já... eu não sabia que ele ia estudar aqui.

-Ele aceitou as desculpas?

-É, falou pra eu esquecer. – revirou os olhos.

O abracei devagar.

-Tudo bem, então eu aceito também.

Ele me abraçou em seguida e subimos pra sala.

(*)

Lee não era da mesma sala que eu, então quando as aulas acabaram, ele veio até minha sala, perguntar se eu iria embora com ele.

-Não vai dar, Lee. Eu já tenho as oficinas pra fazer. Não se preocupe, Shizune tem motivos pra vir aqui depois, eu vou embora com ela.

-E provavelmente com o professor Kakashi.

         -Claro.

         Rimos da situação.

         -Tem certeza que quer ficar pra fazer oficina??

         -Tenho, hoje mesmo vou me inscrever na de decoração. Elas são muito boas, Lee. Devia fazer também.

         -Não, eu prefiro estudar em casa.

Rimos novamente e Lee foi pra casa.

Fui até a sala de inscrições, que ficava no primeiro andar. A escola tinha três andares mais o térreo, e detalhe, não havia elevador.

Desci o primeiro lance de escadas bem. A escola não era muito movimentada nessa hora após as aulas, então o perigo de acontecer um acidente na escada era muito menor.

Assim que virei pra descer o segundo lance que me levaria ao segundo andar, vi que Sasuke vinha subindo as escadas. Ele me olhou meio que desconfiado, e eu perdi a noção da escada. Desci dois degraus inconscientemente enquanto o olhava, mas quando meu pé não sentiu o terceiro degrau, desviei minha atenção para a escada.

 Eu havia pisado em falso. Sentia a queda se aproximar lentamente, pronta para fazer minha saia ir pros ares, o que não era muito conveniente tendo Sasuke ali.

Senti o corpo se inclinar pra trás e me levar ao chão. Tentei, em vão, me segurar no corrimão, mas eu tinha um quilo de pastas nos braços, o que deixei escorregar, claro.

Eu sentia a vergonha de estar caindo ali, só porque o vi. Patética. E o chão se aproximava mais. Por fim, quando meu corpo tinha centímetros de distancia da quina do degrau, senti braços fortes em torno de mim.

O olhei pra cima: Sasuke me segurava com um sorriso, aquele sorriso da festa, que havia me hipnotizado.

Fiquei de novo sem sentidos enquanto ele me olhava. Ele também não me soltou.

-Acha que pode se levantar? – a voz suave e profunda soou bem perto de mim.

-Ah,... claro. – me senti corar.

Olhei pro chão, todas as minhas pastas estavam escorregando pela escada abaixo. Ele se apressou em me colocar de pé e descer para pegá-las. Tinha uma mochila preta nas costas.

-Acho que vou seguir seu exemplo. Vou comprar uma mochila.

Ele sorriu.

-Acho que é uma boa idéia. São bem mais praticas e seguras. Quem sabe devia deixar de vir de sair pra escola também.

Abaixei a cabeça, envergonhada.

-Desculpe por ontem, Sasuke. Eu,... não quis-

-Não precisa se desculpar, Sakura-san. – ele riu – não foi sua culpa.

-Nem sua, Sasuke-kun. – me flagrei sorrindo ao lembrar que tinha pedido pra ele me chamar de Sakura-san. Ele ainda lembrava daquilo.

Ele chegou mais perto de mim, e pude sentir minha respiração ofegar. Não me pergunte o porque.

Passou o braço em volta da minha cintura.

-Acha que pode descer o resto sem se machucar? – ele disse calmamente.

“Não, impossível. Não estou respirando.”

-C-claro. – eu sentia minha pele queimar.

Ele deu um riso baixinho, e falou me encarando nos olhos.

-Eu acho que não.

Então senti seu braço me guiar pra baixo. Desci acompanhando seu ritmo lento e cuidadoso.

-Estou me sentindo uma completa incapaz mental. Uma deficiente.

Ele riu.

-Sempre fui solidário com essas pessoas. Se quiser continuar sendo ajudada por mim, nem se preocupe com isso.

Chegamos ao fim da escada.

-Aonde vai? – ele perguntou.

-Vou até a sala 1. Lá haverá as inscrições para as oficinas, e eu quero me inscrever.

-Ah, eu também me inscrevi.

-Serio? – uma estranha felicidade me invadiu – pra qual??

-Eletrônica.

-Putz... que difícil.

-Acha difícil montar uma placa-mãe??

-Claro, qualquer pessoa normal acha. – dei um sorriso de sátira.

-Eu não sou normal. – o sorriso malicioso dele venceu o meu.

-Acho que já pude ter uma noção disso.

Seu rosto ficou meio distante naquele momento, meio preocupado.

-Tudo bem, então. – o sorriso normal voltou – vá em segurança e se segure no corrimão.

-Ah, certo. Obrigada de novo, Sasuke, e... desculpas outra vez.

-Não aceito desculpas duas vezes. – ele riu e eu, relutantemente, me virei pra descer as escadas.

Sua imagem não saia de minha cabeça de jeito nenhum. Seu cheiro também não saiu do meu nariz, e sua voz ecoava em minha mente.

Nunca fui do tipo que se segurou em corrimão, mas só por prevenção, dessa vez eu segurei.