Stay escrita por Paanic


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Alô galera da madru, não conseguia dormir sem postar antes, e antes que eu me esqueça...
Adeus ano velho, feliz ano novo!! Sei que to meia atrasada para desejar feliz ano novo, mas o que vale é a intenção né?



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Não sei se me sinto pior ou melhor quando meus olhos se abrem. Foram três horas de sono sem pesadelo nenhum, o puro e sólido negro por toda a parte. Preferia ter ele todas as noites. Eles eram nada, vazios, ocos, silenciosos, bem parecidos comigo, mas o sonho de antes, o que eu tive no meio da madrugada e que acordei Peeta gritando e histérica, é que me deixa angustiada.

São em manhãs como essa que eu penso em desistir, e em como seria fácil. Eu encho demais uma banheira, tomo todos os vidros de remédio que a capital me manda para o meu tratamento, entro na floresta e procuro pelas amoras cadeado... As ideias se formam na minha cabeça e seria tão fácil agora que eu havia sido largada no Distrito 12, mas minhas pernas não querem se mover nem mesmo para isso. Acho que sou uma covarde porque eu penso nisso todo o tempo, todo o dia, mas por algum motivo não tenho coragem suficiente para fazer. Eu não quero fazer nada além de ficar deitada aqui por todo o resto do dia.

Os sonhos negros parecem me dragar até o fim e toda a vez que tenho eles acordo ainda mais cansada do que quando fui dormir, ainda assim prefiro eles aos pesadelos, prefiro qualquer coisa aos pesadelos.

Nos últimos meses Peeta tem sempre estado ao meu lado todas as noites e todas as manhãs e quando os pesadelos veem ele sempre me acalma e me consola, mas hoje quando abri os olhos pela segunda vez ele não estava aqui.

Subo minhas mãos contra os meus ouvidos, tento parar, mas sei que é inútil. Leva tudo de mim quando me encolho e abraço os meus joelhos revivendo o pesadelo de ontem.

Eu estou na floresta do Quarter Quell de novo e está tão absurdamente quente.

É quando o primeiro pássaro aparece e pousa em um galho perto de mim, sei o que vem a seguir e os meus olhos procuram Finnick, mas ele não está aqui, eu estou sozinha. O jabberjay abre o bico e emite a voz de Prim, o grito de dor de Prim, mas dessa vez eu sei o que fazer. O miro com uma flecha e o acerto e seu grito se cala. Me sinto momentaneamente aliviada, até me virar e me dar conta de que estou cercada por árvores negras. Os pássaros ocupam todos os galhos que antes eram de folhas verdes e eu mal tenho tempo para respirar quando eles começam de novo, mas desta vez não é apenas Prim ou Gale. Os gritos todos se reúnem, na melodia de Rue, Marvel, Glimmer, Thresh, Cato, Cinna, Finnick, Madge, Mags, Flavius, Venia, Octavia, Johanna, Delly, Annie, minha mãe, Effie, Greasy Sue, Haymitch, meu pai e qualquer pessoa que eu me importe um pouco. Pego flechas e mais flechas e um a um todos eles vão caindo até restar apenas um.

Em um galho mais alto é o único jabberjay que não grita e é por isso que eu hesito. Ele apenas me observa, atento ao meu rosto por alguns instantes antes de abrir o bico e o grito que sai dele é de Peeta. Tão alto, tão frenético, tão torturado e tão desesperador que preenche a minha mente e gela meu sangue, mas o acerto com uma flecha bem no meio dos seus olhos.

O que despenca do galho não é o corpo do animal e sim de Peeta e ele cai no chão com um baque surdo. Corro até ele, já sentindo minhas lágrimas descendo por meu rosto, mas quando o alcanço Peeta já está morto, e quando olho ao redor todos os pássaros haviam se transformado nas pessoas. Rue, Prim, minha mãe... Estou em uma floresta de corpos mortos, todos inertes no chão, todos sujos de vermelho, e eu havia matado todos eles!

Continuo na mesma posição, remoendo tudo. O sonho, os jogos, a guerra, as bombas, as perdas, as palavras de conforto que Peeta havia usado para me consolar. Nada disso importa, é tudo culpa minha, eu matei mais da metade de todas as pessoas daquele sonho. Como eu ainda consigo viver com isso? Eu deveria ter morrido.

Tento seguir uma das indicações que Dr. Aurelius me deu, para quando tudo na minha cabeça se tornar tão alto que eu não posso aguentar.

Rastejo pela cama, me ergo até a cômoda do outro lado do quarto e engulo o comprimido. Volto para a cama e apago minha mente, fico vazia de novo. Eu não vou pensar nisso.

Meu nome é Katniss Everdeen. Eu tenho dezoito anos. O Distrito 12 é a minha casa. O Distrito 12 foi destruído pela Capital. Quase todas as pessoas que viviam aqui estão mortas, mas eu ainda vivo aqui. Eu matei quase todas as pessoas.

É quando o cheiro familiar interrompe o monólogo na minha cabeça, e o grito das pessoas do sonho que soam dentro dela. Ele me atinge e estou tão curiosa que não posso me controlar ou ignorá-lo quando levanto da cama.

Estou entorpecida pelo remédio, mas sei dizer que o cheiro vem lá de baixo, alguns passos a mais e sei que vem da cozinha. Assim que a adentro vejo Peeta com uma bandeja cheia deles na mão.

O cheiro do pão de queijo me envolve, faz minha boca salivar. Minha comida preferida no mundo inteiro e fazia tanto tempo desde que não comia.

Ele coloca o tabuleiro cheio deles em cima da mesa e me dirige um sorriso tão lindo quanto o sol. Não reprimo o impulso de ir até ele e pular nos seus braços. Peeta é pego de surpresa, mas nos equilibra muito bem. Ele parece extasiado pelo meu entusiasmo súbito. Eu estou feliz pelo pão de queijo, estou radiante, mas estou ainda mais porque percebo que ele havia lembrado, ele havia lembrado que eram os meus preferidos e eu amo isso tão loucamente que não consigo explicar.

A próxima coisa que sei é que nossas bocas estão grudadas, e que fui eu quem fez isso. Peeta relaxa em meus braços, apoia suas mãos na minha cintura me ajudando a me equilibrar nas pontas dos pés quando eu sinto minhas pernas fracas. Uma calma tão boa me preenche. Eu só quero agradecê-lo.

O beijo que damos é terno, calmo e despreocupado, diferente de todos que já demos desde que o acaso nos uniu naquele palco na praça, mas significa tanto pra mim. Eu só me sinto tão aliviada e preenchida e agradecida pela primeira vez, quase feliz.

Depois que nós separamos não há atitudes arrebatadoras. Peeta não me pega no colo, nem me leva escada acima, nem tenta um segundo beijo mais aprofundado, e nem eu suspiro enlevada, mas meus lábios ainda pinicam e meu estômago ainda parece abrigar borboletas. É tudo tão real. Eu só entrelaço meus braços ao redor do seu pescoço, não entendendo de onde vêm aquelas atitudes, de onde vem aquela necessidade. Peeta sorri tão puro quanto uma criança pra mim, e eu só espero que isso dure.

— Se essa foi sua reação por um pão de queijo, imagina quando eu te fizer cozido de cordeiro com ameixas secas — ele ri e eu afundo meu rosto em seu pescoço sentindo o seu cheiro. Eu consigo sentir sua respiração nos meus cabelos, Peeta faz o mesmo comigo.

Quando nos separamos para o café nenhum de nós parece embaraçado. Aquilo parece tão certo a tanto tempo que eu não consigo me sentir envergonhada.

— Eu vi que o pesadelo dessa noite foi pior, então pensei em fazer alguma coisa que te animasse um pouco — ele está dizendo enquanto devoramos o pão de queijo com chocolate quente.

Peeta sabe o quão ruim foi porque levou horas até que ele conseguisse me acalmar. Ele apenas me apertou mais forte contra seu peito e ficou me dizendo repetidamente que eu não tinha culpa em nada, em quanto aquilo era loucura e que ele estava ali agora, e estaria sempre. Ele conseguiu me estabilizar depois de um tempo, e eu duvido que qualquer outro conseguiria.

— Eu adorei. Obrigada — digo sinceramente. — Não lembrava o quanto sentia falta dos seus pães de queijo.

Ele me responde com um grande sorriso e volta a comer, é quando meus olhos recaem sobre a grande caixa com coisas da Capital que havia chegado ontem.

— Eu estava pensando em fazer um livro de memórias — me vejo murmurando. Atraio a atenção de Peeta, que deixa o chocolate de lado para me avaliar.

— Livro de memórias?

— Sim. Comentei sobre isso com o Dr. Aurelius a um tempo e ontem chegou uma caixa com folhas de pergaminho da Capital. Ele acha que pode ser uma boa ideia. Nós colocamos nossas memórias no álbum, pessoas, momentos, assim como no álbum do meu pai sobre plantas.

Peeta acena.

— Acho que pode ser uma boa ideia.

Assim, quando terminamos o café, estamos deitados no chão da sala, apoiados contra as folhas e uma confusão de tintas e cores de Peeta.

— Como começamos? — ele pergunta e eu não tinha pensado sobre isso ainda, entretanto o nome sai da minha boca ainda assim:

— Cinna.

Me parece bem justo já que sem ele não vejo como as coisas poderiam ter acontecido.

Peeta faz a expressão de concentração que sempre faz quando vai pintar ou desenhar alguma coisa, os cenhos loiros franzidos, as sobrancelhas douradas contra a luz do sol que invade a janela. Então escolhe a tinta preta e eu o observo trabalhar nos primeiros traços contra a folha de papel.

É nossa primeira adição e enquanto a mão de Peeta vai dando os traços de Cinna com perfeição eu penso no que deveria escrever. Talvez a primeira página devesse ser de Prim, eu devia isso a ela, entretanto não acho que tenho forças para fazer uma página para ela ainda, não hoje, não agora pelo menos.

Quando Peeta termina eu me vejo sem ar. A figura de Cinna em preto e branco retrata completamente como seu rosto era, entretanto seus olhos são uma coisa a parte, Peeta conseguiu retratar a determinação deles, fogo que ardia por trás de suas pupilas, bem assim como eu me lembro. A minha letra cuidadosa escreve: Cinna era mais do que o melhor estilista de Panem, ele era um gênio. Ele criou a Garota em Chamas. Ele fazia as melhores roupas, me deixava bonita e me ajudava a me manter inteira no meio de todo o circo da Capital, com ele eu me sentia a vontade, com ele eu me sentia em casa. Ele era um amigo e acreditava realmente em mim. Eu não vou decepcioná-lo.

— Está tudo bem? — Peeta diz exigindo a atenção para ele. É quando percebo que meus dedos ainda seguram com força a caneta e minhas mãos tremem. Seus dedos sobem ao meu rosto e seus olhos me vasculham. Ele limpa lágrimas que eu nem mesmo sabia que haviam saído. Quando o olho seu rosto é uma visão turva por lágrimas, eu sorrio.

— Sim. É bom, é libertador.

Porque parece que te tira um peso das costas. Você coloca coisas no papel pra se certificar de que lembra os aspectos mais importantes da pessoa, coisas que seriam imperdoáveis de se esquecer.

Peeta desenha, eu escrevo e logo depois passamos água salgada para selar a página. É como se deixássemos o passado para trás, mas ainda lembrássemos de quem foi importante.

Quando a página está preenchida já é início da tarde e o sol brilha a pino no céu. Peeta procura pelo relógio que fica atrás de mim pendurado na parede. Não parece, mas já se passaram três meses desde que ele havia voltado, e nesses meses ele havia concentrado a sua atenção em ajudar na reconstrução da cidade, na reconstrução da sua padaria, na criação de patos do Haymitch, em não me deixar ficar entorpecida por muito tempo, em me incentivar a ir caçar na floresta, e deu a ideia que mais preenchia os meus dias: Ensinar arco e flechas para as crianças do Distrito.

Suas sobrancelhas se crispam, eu sei que está é a hora dele ir. Não tento impedir, apesar de querer ficar perto dele. Sei que levantar escombros e carregar sacos de cimento é uma espécie de terapia para Peeta, e eu não reclamo já que isso o ajuda com os flashbacks que ele eventualmente ainda tem. Eu própria poderia ajudar na reconstrução da cidade, se não fosse aquela praça e tudo o que ela ainda representa pra mim.

Ele se levanta, ajeita as folhas ao nosso redor, mas hesita um pouco quando seu olhar desliza até mim.

— Faz alguma coisa hoje, sim? Vá para a floresta Katniss, cace, respire.

Ele está preocupado em eu subir de novo e me meter na cama pelo resto do dia. Eu concordo com a cabeça. Apesar do pesadelo eu já havia feito a parte mais difícil: levantar da cama, e a ideia do livro me deu animação suficiente para não querer ficar parada então eu vou fazer como que ele me pediu. Vou para a floresta, respirar, escalar, caçar.

Peeta se inclina, deposita um beijo no topo da minha cabeça e depois sai.


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Notas finais do capítulo

Peeta fofuxoo, aaain *.*
To ansiosa para postar o próximo capítulo que já está quase todo escrito porque foi o capítulo que eu mais gostei de escrever até agora. Então, reviewszinhos?? Vamos lá garotas e garotos!! Reviews pelo próximo! Bom final de semana ;*;*