Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn


Capítulo 8
8


Notas iniciais do capítulo

~Pov Haymitch



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Maysilee andava em silêncio logo atrás de mim. Eu sabia que ela estava cansada, mas o sol ainda não havia se posto e eu sentia que não estávamos tão longe do fim da Arena.

– Haymitch. – ela chamou.

– O que foi? – respondi, sem me virar.

– Você ainda está com aquele trapo amarrado no seu braço, né?

Fiquei em silêncio e ela tomou aquilo como um sim.

– Eu não acredito! – ela prosseguiu, andando ligeiramente mais rápido – A sua namorada não te dá nada de lembrança e você...

– Maysilee.

– O quê?

– Fica quieta.

Ela bufou, aborrecida. Fazia dias que não encontrávamos com nenhum tributo e na noite passada nenhuma foto aparecera no céu. Nenhum patrocinador mandou algo para nós, mas eu não me importava nem um pouco. Maysilee, porém, estava desapontada; ela se esforçara muito na entrevista com Caesar, tentando parecer engraçada e interessante. Não posso dizer que ela falhou miseravelmente; eu acho que ela foi bem simpática, mas não foi o suficiente para os patrocinadores. Eu, por outro lado, fora o mais sarcástico e inconveniente possível, reduzindo a zero minhas chances de conseguir um patrocinador. Desnecessário dizer que isso me deixou satisfeito.

Continuamos a caminhada em silêncio, cada um com seus pensamentos. No meu caso, os pensamentos estavam focados na Effie. Como era possível ter conhecido uma garota por tão pouco tempo e pensar nela com tanta frequência? Nem quando conheci minha namorada pensava tanto nela. Mas Effie era tão diferente de qualquer garota que eu já conhecera... claro, eu só conhecia as meninas do 12, que eram ou rudes e caladas vagando pelo Prego ou delicadas e silenciosas ao prestar atenção na aula. Eu não tinha escolha senão me acostumar com todas elas e por acaso me apaixonei por uma. Ela era de uma família carvoeira e gostava de dar frequentes caminhadas ao longo da cerca elétrica, eu me lembro bem.

Effie, como ela mesma dissera, não era interessante, não fazia nada da vida. Era um filhotinho carente da Capital, desesperada por roupas brilhantes e eventos superlotados . Mas isso, citando dela própria novamente, antes de me conhecer.

Sem contar o momento em que, inesperadamente, eu a beijei. Eu não percebi o que estava fazendo até reparar que ela parara de falar, além de, claro, estar com seus lábios nos meus. Foi um impulso estúpido, se pensar bem, e foi a razão dela ter surtado como surtou quando eu lhe contei que tinha uma namorada. Ainda não entendo realmente o que me fez beijá-la daquela maneira naquele momento. Fora um perfeito idiota ao pensar que me safaria da situação sem que nenhuma das duas soubesse. Isso me fez, obviamente, ficar ainda mais determinado a não deixar minha namorada saber de nada do que acontecera na Capital. Ela certamente não iria me incomodar sobre o assunto se eu negasse uma primeira vez, afinal, realmente era uma experiência horrível. Aparentemente, no entanto, a única maneira que meu cérebro estúpido encontrara de fugir do trauma era criar dilemas amorosos entre minha namorada havia três anos e uma garota da Capital que conhecera por três dias. Patético.

De repente, senti uma elevação drástica no solo e Maysilee parou de andar. Ao olhar para frente, vi um penhasco que se estendia a perder de vista e, além, uma paisagem desolada que parecia desconexa em relação à Arena. Na borda do penhasco o gramado já começava a rarear e o chão ficava pedregoso e cinzento como o resto do vale que se estendia à nossa frente. Naquele momento, Maysilee verbalizou meus pensamentos de desde que botei os olhos na paisagem:

– É o fim da Arena.

E a única resposta que me veio à cabeça foi:

– É.

Por alguns momentos, contemplamos o vazio além do penhasco que delimitava a Arena e dizimava qualquer possibilidade de fuga que nós poderíamos ter. Pela expressão de Maysilee, percebi que ela sabia o que eu estava planejando e como o plano estava desmoronando perante nossos olhos, deixando-nos sem alternativa senão dar meia-volta e nos encontrarmos com os tributos restantes, que ansiavam por nos matar. Imediatamente, fiz a decisão que seria considerada a mais idiota: eu não voltaria. Ficaria ali no penhasco, assistindo moitas rolarem pela terra seca até que alguma ideia brilhante me atingisse ou até todos os outros tributos tiverem se matado. Preferivelmente a segunda opção, claro.

– E agora? – ela perguntou, parecendo realmente desamparada.

– Vamos ficar.

Vamos? Haymitch, você realmente perdeu o juízo, não é? Se nos fixarmos em um lugar tão exposto, seremos encontrados e assassinados assim! – ela estalou os dedos, demostrando o quão rápido nossa morte chegaria.

– Pois bem – eu disse, virando-me de costas para ela – Se não quer permanecer, pode ir embora.

Houve uma pausa, como se ela não acreditasse no que eu dizia.

– Haymitch, se nos separarmos, seremos...

– Mortos. Sim, eu sei. Mas prefiro arriscar ficar aqui do que correr para a morte de braços abertos.

– Você... está desfazendo a aliança?

– Sim. Se você quiser ir embora, tem toda a liberdade.

Ela deu uma risada nervosa e histérica.

– Sem a aliança, eu posso te matar aqui e agora.

– Mas você não vai.

Depois de alguns segundos, ela suspirou, vencida.

– Adeus, Haymitch.

– Adeus, Maysilee. Foi um prazer sobreviver com você.

– Igualmente.

E, assim, ela se fora.

Não sei se por raiva ou frustração, eu chutei uma pedra qualquer para o vazio inóspito do vale e, antes que eu pudesse me virar, ouvi um som elétrico, como se houvesse um curto-circuito lá embaixo.

E a pedra ricocheteou.

Fazia alguns minutos que eu me sentara no penhasco, fascinado com a genialidade de um campo de força ao redor da Arena, quando um grito de congelar o sangue ecoou pelo vale. Imediatamente, me levantei e, identificando de onde o berro havia vindo, saí correndo à procura de quem o dera. Ao ouvir o segundo grito de dor, soube de quem era a voz.

– Maysilee! – chamei, correndo mais rápido.

Entre os gritos, houve um gemido que tomei como meu nome. Ao desviar de uma árvore, vi a razão de sua dor. Não eram tributos, e sim pássaros pequenos, velozes e cor-de-rosa, que atacavam Maysilee Donner e dilaceravam seus braços. Antes que eu pudesse alcançá-la para parar os pássaros, eles se voltaram para sua garganta, abrindo lanhos vermelhos em seu pescoço e cessando os gritos. Logo quando se dispersaram, deixando-a jazendo na grama brilhante, eu me vi de pé ao seu lado. Ajoelhei-me e tentei estancar o sangramento; minha mente estava enevoada e eu não sabia o que fazer, só queria ajudá-la de qualquer jeito. Apoiei sua cabeça em um minúsculo monte de terra fofa e, quando fui rasgar um pedaço da minha manga, ela levantou a mão.

– Não adianta – ela murmurou – Não consigo... respirar – Maysilee arquejou.

– Maysilee... você que merecia sobreviver. Isso não é...

– Justo? E o que é? – ela disse, a voz gorgolejando de sangue.

Silenciei e deixei minha mão cair no meu colo no meio do ato de enfaixar seu pescoço. Limpei o sangue que transbordava da borda de sua boca. Ela fez uma tentativa de respiração funda, mas percebeu que se o fizesse, teria seus pulmões repletos de sangue.

Então simplesmente parou de respirar.


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Notas finais do capítulo

Alguém chorou? :v
espero que não queiram me matar por isso :3