Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn


Capítulo 27
27


Notas iniciais do capítulo

Agora sim, o capítulo final. Às quase 5 da matina do dia 29 de setembro, posto-o.
Pov Misto de novo.



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~Haymitch

   Durante a Rebelião, tivemos alguns problemas pessoais. O estresse de comandar uma boa parte das operações dos rebeldes estava me afetando, e o confinamento no bunker por causa do bombardeamento do Distrito 13 estava afetando Effie. No entanto, o casamento de Annie e Finnick me reanimou, e, embora não tenha deixado transparecer aos outros, Effie percebeu, e pareceu sentir-se melhor também. Uma hora dançamos juntos, o mais casualmente possível, até que ela apertou minha mão, sorriu para mim e disse:

  - Eu e você aqui de novo, não é mesmo? – ela não mais se preocupava em fazer o sotaque. Tanto tempo sem maquiagem a havia deixado ainda mais bonita do que eu jamais a vira, apesar do cansaço.

  - Eu e você, princesa – olhei para Katniss, que dançava com Prim. Ela também parecia finalmente feliz – E nossa filha postiça – ri.

   Ela riu também, mas mais fracamente.

  - Desculpe. Você deve estar pensando em Peeta.

  - Sim, mas tudo bem. Você vai resgatá-lo.

   Essa afirmação tão veemente me pegou de surpresa.

  - Você sempre teve tanta fé em mim, Effie. Não entendo por que. Só agora estou fazendo algo de significativo depois de tanto tempo deixando os tributos morrerem.

   Ela balançou a cabeça.

  - E só agora eu me juntei à rebelião depois de tanto tempo sendo uma escolta inútil, que também deixava os tributos morrerem. Apesar de que já sentia que chegaria a algo assim quando nos conhecemos pela primeira vez. Foi com você que minha revolução começou, e eu nunca desisti dela de verdade, assim como nunca desisti de você. E não desistirei.

   Não resisti e abracei-a. Se alguém nos viu, não deixou transparecer.

   Mais tarde, ela visitou meu quarto, e tivemos nossa própria “noite de núpcias”, tentando ao máximo não fazer barulho.

   Acho que não deu muito certo.

~Effie

   O fim da Segunda Rebelião foi... indescritível. Meus sentimentos eram uma mistura de alívio, medo do que estava por vir, confusão por tudo que tinha acontecido, a morte de Coin, de Snow, de tantos outros. O clamor de Panem me assegurou que tinha colaborado com algo de bom, de justo, mas o rastro de horror deixado no caminho tinha sido verdadeiramente assombroso.

   Fui mandada de volta à Capital, sem saber por que, e sem conseguir falar com Aber. Descobri que queriam que eu fosse um tipo de embaixadora da Capital antes da instauração do novo governo, para que não houvessem revoltas dos cidadãos Capitalistas que haviam restado e que não estavam de todo felizes com a perda de seus tantos privilégios. Fiz o meu melhor conversando com alguns, poucos dos quais eu na verdade já conhecia, mas que de início não me reconheceram sem os aparatos e acessórios todos que usava quando era escolta. Eventualmente, ouvi dizer que Haymitch havia voltado ao Distrito 12, que estava sendo reconstruído, ou que a Vila dos Vitoriosos não havia sido dizimada, não entendi direito. Alguém até disse que ele estava criando gansos. Achei engraçado, pois ele nunca me dissera que era um interesse seu, mas parecia fazer sentido, estranhamente.

   Pedi aos novos oficiais do governo para que me transferissem ao Distrito 12, e avisei que, se não quisessem, eu me demitiria e iria para lá de qualquer modo. Eles provavelmente acharam que eu sentia falta dos meus tributos ou que, pateticamente, não conhecia mais ninguém além deles ou, pior ainda, queria me aproveitar de sua fama e viver uma vida confortável às suas custas em nome dos tempos da Rebelião, veteranos todos que éramos. Eu não poderia me importar menos; também não ligaria se soubessem da verdade, de minha história com o outro tributo vitorioso do 12, e de como ele era, de fato, a única pessoa que eu conhecia de verdade, e a única pessoa que me conhecia.

   Permitiram que eu me transferisse com garantia de algum emprego medíocre na prefeitura do 12, ou na nova escola, ou no Mercado, ou em qualquer lugar. Claramente eles também não se importavam mais.

   Cheguei de trem e fui escoltada por uma menina de não mais de quinze anos até a Vila dos Vitoriosos. Ela me lembrou um pouco de Sailee, minha primeira tributo: muito mais forte do que parecia. Assim como todas as pessoas do Distrito 12, imagino. Algo que Aber havia visto, percebido, por todo esse tempo, mas que eu só realmente senti durante a Rebelião. Fui sozinha à casa de Aber, mas ela estava visivelmente vazia. Entrei pela porta destrancada, botei minha mala no sofá da sala e fui à casa que parecia habitada, que presumi ser de Katniss. Para minha surpresa, quem atendeu foi Peeta, parecendo muito melhor que a última vez que o vira.

  - Effie? Há quanto tempo – disse, demonstrando certa felicidade. Abracei-o o mais ternamente que consegui; ambos tínhamos passado por muita coisa nas mãos da Capital, mas ele certamente mais que eu.

  - Sim, há quanto tempo, Peeta. Onde está Katniss?

  - Saiu com o arco e flecha – respondeu, como se fosse extremamente comum, o que imaginei que fosse.

  - E Ab- Haymitch?

  - No bar no antigo Prego – respondeu com a mesma naturalidade, o que deu a entender que ele havia voltado a ser o bêbado de antes. Suspirei e perguntei como chegar lá, e depois de ouvir a resposta, agradeci e fui seguir suas instruções.

~Haymitch

   Quando voltei ao 13 para buscar Effie e descobri que a haviam mandado à Capital para um trabalho idiota de embaixadora ou sei lá o que era, fiquei puto. Agora, quando descobri que não tinha mais autoridade pra exigir que ela fosse transferida, trazida de volta ao 13 ou levada ao 12, fiquei muito puto. Sem jeito de contatá-la, não tive jeito senão voltar ao 12 e esperar que ela botasse em prática o plano de forjar a morte e vir morar comigo. Não havia possibilidade de eu ir pra Capital encontrá-la; eu nunca voltaria àquele lugar maldito, independentemente de quem estava no comando.

   Em pouco tempo tive uma recaída. Os tempos de Distrito 13 tinham sido uma reabilitação involuntária, pois simplesmente não havia álcool lá, mas isso não havia me permitido esquecer o conforto que ele providenciava, especialmente ao ver meu Distrito natal devastado ao meu redor toda vez que botava o pé fora da Vila dos Vitoriosos.

   Um dia, quando acordei de um clássico desmaio de bebedeira na sarjeta, havia um ganso sentado na minha cabeça. Tentei me desvencilhar dele, ou, como logo descobri, dela, mas sem sucesso; Pekinns, a Gansa, tinha vindo pra ficar. Trouxe também seus dois filhotes, uns gansinhos feios, que chamei de Heavens e de Bee, de modo que, toda vez que ficasse bravo com Plutarch na minha mente em um pesadelo consciente sobre as reuniões insuportáveis que tínhamos antes e durante a rebelião, pelo menos apareceriam dois pássaros esquisitos para me fazerem rir.

   E assim foi a vida; Effie estava demorando um pouquinho para aparecer, mas nada que me afogar em uísque não pudesse ajudar. Além do mais, Katniss e Peeta estavam finalmente se dando bem de novo, e às vezes me incluíam nas cortesias de convidarem um ao outro pra jantar.

   Até que, um dia, no bar do antigo Prego, quando havia chegado na metade de uma garrafa de uísque, vi pelo rabo do olho uma figura conhecida, e tive de me virar para constatar que era, de fato, Effie Trinket, o amor de minha vida, entrando no recinto.

  - Effie Trinket! – exclamei – O amor de minha vida, entrando no recinto! Por que demorou tanto?

   Effie estava lindíssima. Sem um pingo de maquiagem, os cabelos louros finos estavam soltos e ligeiramente ondulados; seus olhos azuis brilharam de felicidade e provavelmente um pouco de decepção ao me ver naquele estado, mas foda-se. Sentou-se ao meu lado e, sem alarde nenhum, disse:

  - Olá, Haymitch.

   Franzi o cenho.

  - Haymitch? Como assim? Há cinco anos você me chama de Aber sem problemas quando estamos sozinhos, e agora que não tem problema fazer isso em público, você vai e me chama de Haymitch? Pelo amor de Deus, Effie!

   Ela sorriu. Caralho, que sorriso. Eu tinha sentido falta dele.

  - Força de hábito. Além do mais, prefiro te chamar de Aber quando você está sóbrio.

  - Então não vai dar pra me chamar de Aber nunca mais, princesa. Eu tô fodido – e, mais baixinho, algo que eu não tinha admitido a ninguém, nem a mim mesmo até então – Os pesadelos voltaram.

   Ela tomou uma expressão de preocupação, e sua desaprovação amenizou. Segurou minha mão e disse:

  - Tá tudo bem, Aber. Vamos cuidar disso, eu e você.

   Assenti, apertando sua mão de volta. Tomei mais um gole da garrafa e ficamos em silêncio por um tempo.

  - Effie – comecei, tentando falar algo em que estivera pensando fazia um tempo – Agora que você está aqui... Quer dizer, nós estivemos juntos por tanto tempo...

  - Sim – ela disse, confirmando ao mesmo tempo em que indicava estar ouvindo.

  - E agora está tudo bem. A Capital não vai mais me encher o saco, nem o seu. Nada nos impede de... bem, você sabe...

  - De ficar juntos, sim. Por isso estou aqui, Aber – ela disse.

  - Sim, eu sei, mas... não sei, sabe, algo que minha mãe sempre quis... quer dizer, ela sempre sonhou que eu fosse eventualmente... que eu me casasse...

   Ela virou-se para mim, surpresa.

  - Você está me pedindo em casamento?

  - Bem, sim. Sim, isso.

   Effie levantou uma sobrancelha, desconfiando.

  - Mas você está fazendo isso porque é um sonho antigo da sua mãe que você está relembrando agora que voltou ao 12 mas que na verdade nunca teve muito interesse e preferiria que ficássemos juntos sem rodeios, sem envolver o Estado, mesmo que seja um melhor que o antigo, e sem dar nomes específicos, ou porque você realmente quer oficializar sua vontade de passar o resto da vida comigo e me chamar de esposa?

   Franzi o cenho de novo. Essa não era exatamente a reação que eu esperava. O que era bom; Effie ainda conseguia me surpreender.

  - A segunda.

   Effie me encarou por poucos segundos, para depois tirar da minha mão a garrafa de uísque pela metade e beber, do gargalo, de uma vez, todo seu conteúdo restante sem que eu pudesse impedi-la. Ao terminar, pousou com vigor a garrafa na bancada do bar, soltando um soluço como havia feito tanto tempo atrás, da primeira vez que se embebedara na minha frente.

  - *hic* Óbvio que eu quero *hic* me casar com você, Aber. *hic* - sorriu, já bêbada, e pousou sua cabeça em meu ombro. Eu também sorri, e pedi outra garrafa pro barman.

~Effie

   Se alguém me dissesse depois da primeira vez que eu vi Haymitch Abernathy que nós nos casaríamos, quase trinta anos depois, sendo o primeiro matrimônio oficializado no Distrito 12 após sua destruição devido à Segunda Rebelião, a que acabou com os Jogos Vorazes e com a repugnante plutocracia em que vivíamos sob o controle da Capital, eu teria dado no pé e denunciado a pessoa por uso de alucinógeno em local público. No entanto, aqui estamos. E aqui estaremos até o final da vida.

   Eu e você, Aber.

~Haymitch

   Eu e você, princesa.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a todxs que leram essa fic ao longo do tempo. Tentei manter o estilo o mais parecido com o antigo possível, embora saiba que não funcionou o tempo todo.
Espero que quem quis tanto que terminasse ainda esteja por aqui pra ver esse fim, e que estejam satisfeitxs com ele.
Um beijo e um abraço, um pedido de desculpas e um agradecimento.
Boa noite/bom dia, e boa vida.
(Os pássaros já estão cantando).



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