Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn


Capítulo 10
10


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente: Esse capítulo é, eu diria, triste pra car*lho, então preparem-se ;)
Segundamente: Aeee finalmente a primeira dezena dessa joça (ainda tem muito mais e.e)
Terceiramente: Muito muito muito obrigada a todas que comentaram e desculpem que demorei dez capítulos pra fazer notas decentes no começo :v
Quartamente (isso existe? :P ): Aproveitem esse capítulo de ~Pov Haymitch



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Fazia apenas um dia que os Jogos acabaram, mas eu ainda não acreditava que havia sido eu o tributo vencedor. Eu nunca chamaria aquilo de vitória. Irritantemente, o que eu estava vivendo parecia um inferno, algo que me fazia pensar que havia morrido. Eu estava sempre agindo distante, acho, e os rostos alegres que viviam me congratulando pareciam estátuas fantasmagóricas. Pekinns estava mais eufórica do que nunca, algo que também me irritava profundamente, mas era inevitável ser pelo menos um pouco educado com ela.

Mas o mais importante de tudo: eu não conseguia tirar da minha cabeça que, ao mesmo tempo em que Effie estava absolutamente certa, eu reencontraria minha namorada e teria de deixar a garota da Capital para trás. Por mais que isso parecesse conveniente, eu não queria esquecê-la. Cada momento que tivemos juntos me atormentava, cada sorriso que ela dera e... a sensação que me atingiu antes e durante nosso beijo. Aquilo realmente estava me incomodando.

Quando começou a Turnê da Vitória, eu comecei a ter os pesadelos. As feridas. As mortes. Os horrores e traumas dos Jogos que marcavam um tributo para sempre. Eu acordava à noite suando frio e com a boca doendo de tê-la mantido aberta como se estivesse gritando, mas sem fazer som algum. Teve uma vez que fui acordado pelas convulsões de terror que me acometeram no sonho e transcenderam as barreiras entre este e aquele mundo.

Pekinns escrevera discursos padronizados, sempre com algumas modificações mínimas, que elogiavam a bravura dos outros tributos enquanto eu me expunha em um palco na prefeitura do distrito, como se me desculpasse por minha vitória. Eu não me sentiria culpado por vencer se não fosse Maysilee. Ela morrera bem na minha frente e eu não pudera fazer nada para impedir.

Eu estava a salvo do ódio extremo dos habitantes dos distritos porque lutara com praticamente nenhum tributo, e nem todos que me desafiaram morreram pela minha mão. Ainda assim, nenhum cidadão parecia muito feliz em me ver enquanto eu falava do sacrifício trágico de seus conterrâneos, da superação que sempre haveria depois dos Jogos, palavras vazias, blá-blá-blá. Nada de coração, pois não havia nada de bom para falar. Eu odiava todos eles.

Fazia quase uma semana que voltara da Turnê e a vida ainda não parecia estar voltando ao normal. Mesmo tendo a casa na Vila dos Vitoriosos, eu havia preferido viver com minha mãe e irmão no Prego, na casa que habitara a vida inteira e que se encontrava extraordinariamente perto da casa da minha namorada. Esta estava sendo maravilhosamente compreensiva e atenciosa, o que tirou minha mente de Effie por alguns dias, mas nada me impedia de continuar a ter pesadelos. Eu não queria que ninguém soubesse, pois tentariam ajudar, e isso talvez piorasse as coisas.

De qualquer maneira, eu tentava normalizar minha rotina. Ia ao Prego fazer compras e ajudava minha mãe com a casa. Passava um tempo na casa da minha namorada, normalmente sentados no sofá conversando ou abraçados em silêncio. Falava com meu irmão sobre a escola, sobre como ele estava indo, ou sobre algo que aconteceu com um dos pacificadores. Qualquer coisa menos os Jogos.

Naquele dia, nada havia mudado. Eu havia acordado, tomado um banho rápido, bebido uma xícara de café e prometido varrer meu quarto. Minha namorada chegou cedo na minha casa, só pra ficar por lá. Conversamos um pouco, sendo interrompidos pela minha mãe, que me pediu para ir comprar um frango no Prego. Concordei e, antes de sair, dei bom-dia para meu irmão, que acabara de acordar.

– Tchau, amorzinho – eu dissera à minha namorada, com um sorriso de lado.

– Tchau, Aber. Até mais.

Aquele momento ficou congelado na minha mente. Minha mãe ao lado do sofá acenando. Meu irmão grunhindo um “Até” enquanto mastigava o pão. Minha namorada sorrindo, sem se importar com o cabelo caindo nos olhos. Céus, como ela era bonita. Todos eles eram tão maravilhosos. Todos eles me amavam, e eu os amava mais ainda. Eles eram tudo que eu tinha, toda a sanidade que me restava depois do Massacre.

Mas a Capital os tirou de mim.

Eu me lembro de quando voltei. Antes mesmo de ver a casa, vi a coluna de fumaça. Estranhei e apertei o passo, mas não passou pela minha cabeça que a origem da fumaça era meu lar. Virei na encruzilhada e paralisei. Cada músculo do meu corpo tencionou-se de horror e desespero e meu cérebro quis explodir. A casa estava preta e branca, com a madeira queimada e cinzas espalhadas por todo lado. Todas as vigas e tábuas do chão haviam se desfeito inteira ou parcialmente e os móveis simples dispostos pelas salas estavam negros de fogo. O teto havia se desfeito em partes e os pedaços cinzentos de madeira e telha jaziam no chão escuro. A casa estava vazia.

A casa estava vazia.

Subitamente descongelando, gritei o nome do meu irmão e corri na direção dos escombros. Chamei por ele, pela minha mãe e pela minha namorada, mas não obtive resposta. Contornei a casa e, para meu horror, encontrei dois pacificadores. Eles me ignoraram no início, enquanto carregavam sacos nas costas e os jogavam em uma pilha de palha. Quando um deles se virou para mim, havia um brilho cruel em seus olhos.

– Ah, aí está você. Acho que chegou meio tarde.

– Do quê você está falando? – perguntei, pausadamente, com a respiração pesada.

– Do quê? Da sua familiazinha estúpida, claro – o outro disse.

– Onde eles estão? – tentei esconder o desespero na minha voz, sem sucesso.

Eles se entreolharam e se afastaram da pilha de palha. Demorei um segundo para distinguir os três sacos, mas assim que vi que não eram sacos, caí ajoelhado no chão.

– Snow queria que eles sobrevivessem ao incêndio para que você os visse sendo mortos depois de queimados – o primeiro pacificador falou, sua voz parecendo abafada por um pedaço gigante de algodão – Mas eles entraram em pânico e não conseguimos tirá-los antes de apagar o fogo.

Eu não sabia o que sentir. Tristeza? Ódio? Desolação? Raiva? Não. Em vez de sentir algo, senti um vazio. Um buraco gigantesco que se apoderava da minha existência e me fazia engasgar com nada. Por puro reflexo, lágrimas desceram, incontroláveis, pelas minhas bochechas sujas de fuligem, borrando minha visão ao extremo. O luto tomava conta do meu coração e eu não percebi que o pacificador havia se aproximado de mim até que este falasse no meu ouvido, suas palavras flutuando, claras, na vasta escuridão da minha mente:

– É isso que acontece quando se mexe com a Capital.

Meia hora depois do funeral da minha família, eu me encontrava em um bar. Nunca havia ficado bêbado antes, mas o que mais ouvia dizer de gente que já ficara é que, quando se está consumido pela bebida, você esquece seus problemas. E o que eu mais queria naquele momento era esquecer.

Tomei um longo gole da garrafa.


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Notas finais do capítulo

E... é isso :D aqui está um mega spoiler lindo: o reencontro é no próximo capítulo < abraços mil o/