O misterioso caso de Ayne Clearwater escrita por Menino das Sobrancelhas Firmes


Capítulo 4
4 - Verdades Empoeiradas




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Ela era o tipo de menina que era bonita sem querer ser. Será que ela sabia que atraia olhares quando dava aquele sorriso torto e escondido? O único que fazia Ayne se embalar para a frente e jogar a franja sobre os miraculosos olhos claros.

Eu nunca lhe perguntei isso. Nunca tive coragem de dizer que ela bonita o suficiente para ter quem quisesse, embora, ela pensava que Jude era a única coisa que aguentaria ela pelo resto da vida. Você estava errada Ayne, eu estava aqui, bem ao seu lado... Apenas esperando que ele soltasse sua mão para que eu pudesse pegar.

Mas eu não podia. Não enquanto ele era dela e ela era dele. Jude era meu amigo, um dos melhos, um daqueles que você daria a vida para proteger. Ele fez isso por mim uma vez, foi exatamente assim que a gente se conheceu. Estávamos na sexta serie quando tivemos que ir em uma visita á floresta. Eu era desorientado, bem, não muita coisa mudou! Escorreguei e cai em um buraco fundo. A professora que nos acompanhava acabou ficando louca e histérica, então Jude simplesmente pegou um galho e me ofereceu para me tirar daquele enorme vão escuro.

Desde então ele tem sentado ao meu lado na escola, ou pelo menos assim era antes de eu me formar.

Quando começamos o ensino médio, conheci Ayne. Não lembro bem como. Talvez eu não lembre porque desde o primeiro minuto era como se nos conhecêssemos desde sempre. Então um dia, em uma festa qualquer, eu apresentei Jude á Ayne. E foi ali, durante o primeiro beijo deles... Que eu descobri que amava Ayne Clearwater mais do quê qualquer outra coisa no mundo.

Meus olhos abrem violentamente. Estou acordado desde muito cedo, ou talvez de muito tarde. Não sei. Não tive coragem de levantar da cama desde que sonhei com Ayne morta no corredor enquanto dizia a frase que ecoava em minha mente.

Um sonho ruim. Apenas um sonho ruim.

Levanto da cama e assisto do lado de fora o frio vindo. Em minha mente, uma doce melodia acústica começa a tomar espaço e a voz de Jude ecoa cantando:

‘Every single day, every single morning, every stars than burn, all the love in the world, birds than cant fly, stomach butterflies, everything you let… And I’m trying to get’.

Ele dá uma pausa. As paredes são finas o suficiente para que eu ouça ele voltando a cantar:

‘Can’t Forget Yet, running to you when you go, and arming my heart or kissing hope. Can’t Forget Yet, following your smiles lose my tears, alive inside, far and near… Can’t Forget Yet’.

–Nova musica? –Pergunto encostado na pilastra á beira da sala.

A tevê está ligada no mudo, ele tem as duas pernas cruzadas próximas ao seu corpo no sofá, um violão velho na mão e um lápis com papel na mesinha de centro. Apenas Judas sendo Judas.

‘Judas, soa engraçado. Cuidado para você não acabar sendo o Jesus da história’ –Disse ele uma vez.

‘Prefiro lhe chamar de Jude, soa menos traiçoeiro’. –Eu falei rindo.

–Eu acordei com ela na cabeça. Gruda. –Ele disse.

Jude vendia musicas para se manter alimentado, não estava dando certo ultimamente, ele não tinha o reconhecimento que merecia... Realmente haviam letras boas. Essa era apenas mais uma.

–Eu comprei umas coisas pra arrumar a casa. Estão no porta-malas.

–Eu pego depois. –Diz Jude passando a mão da testa até a nuca, alisando os cabelos para trás do jeito que Ayne sempre reclamava.

‘Isso lhe deixará calvo. Eu não vou morrer ao lado de um homem calvo’. –Depois ela ria, talvez por medo de ter soado serio demais, realístico demais. Com medo de que ele lhe abandonasse por qualquer besteira.

–Vou cuidar do porão. Aproveitar que está claro.

–Okey. –Ele não me olhou. Apenas Angus.

Pego uma maçã e puxo a velha porta branca. Os degraus somem em alguma parte da escuridão. Sem medo. Sem pensar. Apenas desço e me deixo perder no meio do negro. Pulo uma cordinha pois sei exatamente onde está, e então, lâmpadas grandes piscam e oscilam umas três vezes até que tudo esteja aceso. As velhas pequenas janelas na borda do teto do porão, trazem alguma luz natural onde uma lâmpada já está queimada.

Passo a manhã toda ali, sentado no chão abrindo caixas e mais caixas. Empilho algumas coisas e separo o que devo ser jogado fora. Remexo em uma caixa com as palavras ‘Ayne’s’ e encontro fotos antigas, certificados, documentos e algumas –poucas- bonecas.

Ayne nunca foi apreciada pela avó. Nunca entendi seu relacionamento com a idosa. Pelo que parece, Ayne tinha perdido os pais ainda muito nova e teve que morar com sua única parente viva. A avó nunca gostou muito da ideia, não que ela odiasse Ayne, talvez ela estivesse cansada de ter que cuidar de filhos e depois de netos e quem sabe... Se Ayne tivesse o azar de ter filhos cedo, cuidar de bisnetos.

Ela apenas... Queria morrer em paz.

–Ian. –Jude fala. –Visita. –Poucas palavras. Ele estava sutilmente estranho hoje.

Volto ao alto do porão e me assusto quando vejo Reeser Tuner parada com uma caixa na mão.

–Olá Ian. –Ela sorri.

–Reeser. –Dou um suspiro. Subo o resto da escada. –Quanto tempo.

Ela me agarra em um forte abraço.

–Encontrei isso lá fora, decidi trazer para você. –Ela entrega um pacote com cartas presas em uma liga amarela.

–É... Quer um suco? –Pergunto.

–Claro.

Lhe acomodo do outro lado da bancada da cozinha e sento em sua frente após servir o refresco para nós dois. Meus olhos sibilam na luz. O que diabos a melhor amiga de Ayne veio fazer aqui? Era certo que saímos algumas vezes, mas nada o suficiente para merecer sua visita.

–Eu serei claro e objetivo. –Digo rispidamente.

Meu tom de voz mudou rapidamente e ela se assusta, o ar está mais denso e gelado. Posso sentir uma gota de suor descer minha testa e se engatar em algum lugar de minha sobrancelha, minha testa está rígida e com aquele nó em cima do nariz. Não preciso me olhar no espelho para saber que estou com a cara mais tensa do universo.

–O que você faz de volta á cidade? Ou melhor. O que você faz de volta aqui?

Ela brinca com os dedos na borda do copo, seus olhos ainda tentando encontrar alguma coisa dentro dos meus. O que é aquilo nos dela? Medo?!

–Sua volta despertou meu interesse para voltar.

–Porque? Porque? Você fugiu disso tudo antes de mim. –Eu digo.

–E eu sempre quis voltar atrás Ian. Sempre! Não esqueça que Ayne era pra mim a mesma coisa que era pra você. EU também a amava, eu também queria que ela continuasse viva e não que se matasse em um abismo qualquer.

Permaneço calado. Graças a Deus, Jude entra naquele estilo vagaroso e preguiçoso atrás de mais comida.

–Está frio aqui. Essa casa anda muito fria. Talvez eu tenha que checar o aquecedor. –Ele fala e vai embora, talvez estivesse apenas pensando alto.

–Há algo de errado na morte de Ayne, eu sei disso, você sabe. –Ela dá uma pausa e agora talvez queira me envolver em algo que é parte de seu plano. Será que ela sabe sobre as cartas? Será que Reeiser sabe sobre o que a velha Clearwater recebia?

–O que você quer dizer?

–Ayne não se mataria. Não naquela noite... –Reeiser diz. –Ela estava feliz. Embora não fosse para a festa, Ayne disse que ficaria em casa e tinha planos para um pouco mais tarde. Você a conhecia Ian. Ela jamais perdoou a mãe por ter matado o marido e depois cortado os seus pulsos por ciúmes da própria filha. –Eu não sabia que esse era o desfeche de seus pais. Nunca perguntei porque parecia magoar Ayne toda vez que a palavra ‘mãe’ ou ‘pai’ era dita.

–O que você quer dizer? –Talvez eu esteja em um replay, ou apenas não consiga soltar outra frase.

–Ayne Clearwater não se matou. Ayne pode estar viva por ai.

–A avó dela foi ao enterro Reeiser. Ela levou o corpo de Ayne até a Florida para lhe enterrar onde a menina nasceu. –Minha voz está rouca, fanhosa. Só agora noto que estou chorando, meus dedos estão fincados na bancada, há um tremor crescente que me engole de dentro para fora e eu quero simplesmente apagar minha memória e aceitar a ideia de que Ayne se foi e não importa como.

–Não Ian. Ayne não foi enterrada. –Reeiser para de falar. Eu estou em choque. –Eu fugi porque eu fui até a Florida. Ayne Clearwater nunca foi encontrada entre a cidade e a capital. Ayne nunca saiu do portão dessa cidade. –Ela para de falar novamente. Estende seu corpo sobre o mármore que nos separa e sussurra em meu ouvido. –Cuidado com quem você hospeda.


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Notas finais do capítulo

Todo mundo tem aquela velha verdade guardada dentro de si, ela está escondida dentro de uma caixa pequena e fechada, com teias de aranha e poeira sobre as bordas... Sinto que essas caixas estão começando a ser abertas.
Espero que tenha um maior acompanhamento dessa fic, porque dá muito trabalho você escrever e não saber se tem alguém realmente seguindo a história. Enfim, prometo que os próximos capitulos serão mais sobre Ayne e mesmo sobre introdução de personagens. See u all soon. Não esqueça do review.



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