18 de Outubro de 1993

Querido Charlie,
Você não me conhece, nem nunca conhecerá. Por favor, não questione como sei seu endereço e como sei seu nome, isso facilitará as coisas, tanto para mim quanto para você. Não se preocupe, eu não sou uma serial killer, uma detetive nem nada disso. Sou só uma garota que precisa de um amigo.

Estou falando muito, não é? Me desculpe.

Vou resumir as coisas do melhor jeito possível:

Meu nome é Nell. Tenho dezesseis anos.

Minha vida nunca foi fácil. Perdi meu pai quando tinha nove anos. Ele era alcoólatra, e minha mãe morreu logo depois de sua morte. Eles eram muito unidos, mesmo com a situação em que meu pai se encontrava. Depois que ele morreram, fiquei aos cuidados de meu irmão mais velho, Chris, até o ano em que fiz catorze anos, quando ele foi diagnosticado com câncer e os médicos alegaram que ele precisava de tratamento e que não poderia mais cuidar de mim. Chris tinha vinte e dois anos.

O governo me mandou para meu parente mais próximo: meu tio Leonard. Ele é uma boa pessoa. Sempre gostou muito de mim e me aceitou em sua casa quando mais precisei dele, e nossa relação é ótima, desde que eu não saia depois da meia-noite e não descumpra as regras. Essa foi a única fase fácil da minha vida.

Agora vamos sair do passado e vir para os dias atuais:

Eu frequento a escola West Pitssburgh High, que não é uma das piores escolas da cidade. É até boa, comparada á algumas por aí. Não tenho muitos amigos lá... A verdade é que eu não tenho nenhum amigo lá. Ninguém. Espero que, por meio dessas cartas que trocarei com você, consiga achar um amigo.

Mais uma coisa sobre mim: eu adoro ler.

Bem, essa sou eu, e aqueles parágrafos de cima são minha vida resumida em uma folha de papel com alguns pingos de tinta.

Com amor,

Nell.