Abri meus olhos devagar, uma imensa claridade me cegava, ouvi o soar de um sino, o riso de crianças correndo, o tinir dos sinos das ovelhas, xícaras de chá tilintando na sala. De repente tudo se silenciou, um vento forte levava as folhas de papel que estavam sobre a mesa em meu quarto, as janelas se debatiam contra a parede fazendo um enorme estrondo. Fui até o corredor e encontrei um alvoroço de pessoas desesperadas correndo para a saída, esperei até que todas saíssem e fui de encontro à porta dos fundos. Antes que pudesse sair encontrei uma pequena menina ruiva de pele pálida caída no chão, hesitei por um instante mas logo fui ajuda-la, estendi minha mão para alcança-la e ela a pegou. Um toque leve, suave e doce, com dedos finos e frios. E então mergulhei em seus imensos olhos azuis, quando pude sair, puxei-a para meus braços e fomos em direção à porta. Vi as pessoas correndo pelo campo, gritando e chorando, não entendia o que estava acontecendo, olhei para trás e vi a pensão onde estava ir se desintegrando aos poucos. Segurei a pequena ruiva pela mão e corri, ela me acompanhou com dificuldade e nos escondemos na floresta, a empurrei para o canto de uma árvore e fui olhar o que acontecia. A pensão se envolveu e se despedaçou, desapareceu deixando uma imensa falha no local que estava, um buraco enorme, não se passou muito tempo e a relva começou a se desintegrar também.

Encostei-me na árvore, jogando minha cabeça para trás, e ouvi um pequeno sussurro e me virei para a pequena ruiva que estava encolhida de frio no canto da árvore que a deixei e fui até ela, coloquei seu cabelo atrás da orelha e mergulhei novamente em seus olhos azuis. Um grito soou do meio da floresta e a garotinha pôs-se a correr, me levantei e corri atrás da mesma. Fomos nos envolvendo cada vez mais na densidade da floresta, uma escuridão prendia os raios solares não deixando-os chegarem até nós, continuamos correndo até que a criança parou.

-Dakota!

O grito veio de um ponto mais fundo da floresta. A menina olhou em volta, com olhos buscadores.

- Dakota! – novamente o grito.

A menina agarrou minha mão e começou a correr em direção ao som.

- Dakota! – um quarto grito.

A menina soltou minha mão, se curvou um pouco e a vi transformar-se em uma linda raposa de pelos arruivados, bem diante de meus olhos. Ela começou a correr, acompanhei-a de longe, já que, em quatro patas, a menina era muito mais rápida.

Ao ouvir o quinto grito, fui surpreendido com o volume do som. Corremos mais alguns metros e a raposa se transformou de volta em menina e pulou de encontro com uma jovem, também ruiva.

Quando a outra ruiva notou minha presença, empurrou a pequena para trás de si e me encarou.

- Quem é você?

Antes que pudesse responder um alto estrondo veio da direção onde se encontrava a pensão. Com ele, um forte vento veio balançando as árvores até chegar até nós. Elas olharam pra floresta com espanto, me virei para ver o que era e só vi as árvores tombando, uma por uma.

- Venha!

Elas começaram a correr, segui-as. Uma jorrada de vento passou por nós, o chão tremia e as árvores continuavam caindo. Olhei para trás e neste momento cai. Estava com os olhos fechados, ouvi a voz da maior ruiva gritando meu nome e apaguei.