BitterSweetheart escrita por Marcella Chase


Capítulo 9
Capítulo 9 – Sobremesas e silenciosas declarações


Notas iniciais do capítulo

Capítulo mais light agora. Espero que gostem e que não odeiem a Carla. Eu sempre fico com raiva dela quando estou com os olhos da Anne :x hahahahahaha Boa leitura.



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Carla

– Eu disse que você descobriria muito sobre aparências aqui. Achei até que você demorou muito para perceber sobre a Mai. Fiquei decepcionado.

– Mas ela é casada, Gui. Como eu ia imaginar?

– E daí? Quantos gays se casam por aparências? Eu falei a você, Carla. Não confie nas aparências nesse lugar. Por que você acha que eu não subo de cargo a mais de um ano? Porque eu não tenho medo de ser feliz. As pessoas odeiam a felicidade alheia. A Maitê precisa de aparências para manter um cargo como o dela.

– Credo Gui. Ouvir você falando assim me deixa mal. Eu não imaginei que fosse assim. Que existisse tanta maldade e falsidade por aqui. Ninguém pode ser o que é. Isso me deprime.

– Eu sei. Eu também fiquei muito mal quando entrei. Achei que não fosse aguentar. Eu estava sempre down, mas decidi lutar para ser um carneirinho feliz no meio da matilha de lobos. Eu não desisti. Mas é preciso ter estômago para se manter por aqui porque vão esperar que você se omita e se cale na frente das maiores calamidades. Os que não conseguem, ganham passagem só de ida para bem longe.

– Às vezes me pergunto se é isso que quero para a minha vida.

– Se você for ficar aqui, precisa ter certeza de que não é isso que você quer. Ou será corrompida pelo sistema. Esse lugar precisa de gente decente, Carla. Por isso eu fiquei. Para montar meu exército de super heróis e destruir o mal. – Ele riu da própria piada idiota. – Mas falando sério, nem sempre vale a pena lutar pelo que acreditamos, mas pelo que precisamos sempre vale. Lute pelo que você precisa. Agora deixando de lado o papel de chefe e voltando ao de melhor amigo, conte-me a história toda com detalhes. Estou curiosíssimo.

Contei tudo a ele, mas na hora de dizer o que aconteceu com os relatórios não soube o que fazer. Fiquei com pena de Paula, eu sabia que a idiota merecia o pior, mas eu não podia me rebaixar ao nível dela e, finalmente, dar motivos para a raiva que ela tinha de mim. No fundo acho que eu queria provar que não tinha feito amizades por causa do poder das pessoas, como Paula me acusara de ter feito. Acabei por dizer que a briga toda foi por causa do Tiago e omiti tudo sobre relatórios. Contei como nós duas demos na cara do “Chatiago”, parte em que o Gui riu muito e disse que iria cuidar do “dodói dele”, e depois contei também como derrubei Mai, que acabou me convidando para sair.

– Amiga, deve ser bom ser gostosa como você. Se fosse homem eu te pegaria sem nem pensar.

– Você pega qualquer um sem nem pensar, Gui.

– É verdade... Mas não vem ao caso. Você entendeu.

– Você é uma putinha.

– Não sou.

– É sim...

– Carla, você me paga. Vai se arrepender de ter dito isso. – Ele começou a fazer cócegas em mim e eu saí correndo e rindo. Ele corria atrás gritando que se me pegasse eu teria que dar para ele a noite toda. Eu ria mais ainda e dizia que era mais provável que eu o comesse a noite toda. Sim, agíamos como duas criancinhas brincando de pegar mesmo, me julguem. Eu adorava minha amizade com Gui e a forma que conseguíamos nos divertir sempre com tão pouco. Fomos correndo e brincando até a entrada do prédio, onde encontramos Anne.

– Vocês não estão brincando de pegar, não é? Diz que não. – Gui pulou nela todo suado da corrida e beijou seu rosto enquanto ela o empurrava e fazia algumas caretas.

– Na verdade, nós estávamos sim.

– Eu tinha medo de escutar isso. – Ela continuava olhando a gente com aquela cara de incredulidade.

– É divertido e engraçado. Faz bem voltar a ser criança às vezes, Anne. Você devia tentar. – Eu disse tentando justificar um pouco nosso comportamento.

– Às vezes, Carla? – Ela me olhou divertida quando eu disse aquilo e resolveu responder com um sorriso ainda maior. – Quando foi que você deixou de ser criança?

– Ah, morra Anne. Eu não sou criança.

– É sim. Uma criancinha linda.

Fiz beicinho e fechei a cara. Fiz manha sim, odeio me sentir criança e mais ainda que me digam isso.

– Não gosto que me chamem de criança. Pegou pesado.

– Está vendo só. Ainda fica emburradinha. Que gracinha. Pare de apelar com tudo, Carla. Se apelar assim eu não te dou pirulito.

– Não gosto de pirulito, prefiro chupar outras coisas. Me dá?

– Ui... Que criança safada. – Gui sempre foi esperto o suficiente para saber quando era hora de uma retirada estratégica e ele, claro, percebeu o momento propício para as minhas segundas intenções ali. – Bem eu vou deixar as duas decidindo se chupa ou não. Vou almoçar.

Anne pareceu um pouco sem graça com a brincadeira. Ela ficou vermelha e eu percebi que ela ficava ainda mais linda assim.

– Olha o que você fala, Carla. E se alguém leva isso a sério?!

Abracei Anne por trás e dei um beijo estalado em sua bochecha. Então ela fica sem graça porque tem vergonha de mim? Ok.

– Você sabe que é brincadeira, não é? Eu não ia dizer isso sério para você.

– Ah! É você não ia... Eu vou almoçar, Carla. Boa tarde. – Ela se desvencilhou do meu abraço rudemente. Eu fiquei olhando sem acreditar. Ela pareceu mesmo decepcionada ou foi impressão?

– Anne espere!

Anne se virou rápido, sorria o sorriso mais lindo do mundo. Parecia estar só me esperando chamar.

– Eu estou a fim de comer alguma coisa. Almoça comigo hoje?

Ela pensou por uns instantes e fez que sim, tentando não parecer muito interessada, mas sem conseguir – Acho que pode ser.

Ela estava mesmo só me esperando chamar. Confirmado.

Segurei sua mão e fomos pegar o carro para almoçar.

Anne

– Anne, você não vai acreditar no que aconteceu hoje.

– O que?

Carla me contou tudo que Paula fez com os relatórios e contou como Tiago não parava de pegar no pé dela, me dando todos os detalhes da história.

– Mas que idiota. Eu vou falar com o Tiago. Ele não pode ser tão inconveniente. Que cara otário. Mas e a Maitê? Quer que eu fale com ela sobre os relatórios? Ela é difícil, mas eu tento fazê-la entender.

– Não tudo bem. Eu já falei com ela. Ela me deu até amanhã para refazer os relatórios.

– E ela deixou por isso mesmo? Nem disse nada?

– Não. Ela foi muito compreensiva. – Isso agora foi estranho, não era do feitio de Maitê ser generosa e compreensiva. Que intenções ela teria por trás disso?

– Ah! Que bom que ela gosta de você, então. Nem teve maiores problemas. – Abaixei o olhar e me pareceu que uma nuvem negra havia estacionado sobre a minha cabeça de repente. Senti-me muito triste ao pensar no motivo pelo qual Mai poderia importar-se tanto com Carla.

– É, que bom. Eu tive sorte. E eu não contei nada para o Gui sobre a Paula, então não conte também. Prefiro deixar como está e colocar um ponto final nessa história.

– Tudo bem, como você quiser.

– Você ficou triste. O que aconteceu? – Agora ela lia minhas expressões também? Que saco.

– Nada. Impressão sua.

Acabamos de almoçar sem trocar muitas palavras. Eu ainda estava chateada e nem eu mesma sabia ao certo por que e não queria que Carla soubesse também.

Carla

Eu não aguentava mais o clima. Anne quando emburrava era pior que mula empacada, credo. Passei o almoço todo pensando em alguma forma de fazê-la sorrir e só quando acabei é que tive uma ideia.

– Está a fim de uma sobremesa? Eu estou com vontade de comer doce. Culpa da sua história de pirulito.

Ela sorriu ao lembrar, e meu sorriso de satisfação deve ter deixado muito óbvio que era exatamente essa a minha intenção, fazê-la sorrir. Eu sabia que ela ria de todas as minhas palhaçadas e eu não estava mais aguentando o silêncio dela. Eu amava escutar a Anne que sempre falava um pouco demais. A maior alegria do meu dia era ficar ouvindo-a falar e falar... E quando ela sorria tudo se iluminava. Abri um sorriso largo e sincero.

– Toda essa alegria por causa da sobremesa, Carla? – Ela segurou a minha mão. – Se está com tanta vontade não vamos comer qualquer coisa. Vou te levar para comer doce de verdade.

Pensei na hora que o que me deixou alegre não fora a idéia da sobremesa, mas sim o sorriso que arranquei dela. Tive vontade de dizer isso, mas o que saiu foi apenas um “aonde você vai me levar, gata?” – Era sempre assim. Eu não tinha o dom do romantismo. Não conseguia dizer coisinhas bonitinhas e fazer declarações, nem quando realmente era hora de fazer isso.

Ela me encarou nos olhos, parecia tentar ler ali as palavras que eu não havia dito e ela também parecia muito querer me dizer algo, mas só disse que iríamos à Dolce Vitta. – Seria sempre assim entre a gente? Olhares que dizem muito mais do que os lábios se permitem dizer? Meras suposições que não levam embora o medo de arriscar? – Provavelmente sim...

– Você não tem que trabalhar agora?

– Não importa. Você quer comer uma sobremesa. Você vai comer o melhor brownie de chocolate da cidade porque você adora brownie.

– Como você sabe que eu gosto de brownie?

Anne ficou um pouco vermelha, eu já disse o quanto ela fica linda sem graça? Vou dizer de novo, ela fica perfeita. As maçãs do rosto rosadinhas e o olhar perdido para baixo. Aposto como ninguém nunca viu nada tão lindo assim.

– Você disse aquele dia enquanto assistíamos The Avengers.

Percebi nitidamente a mão de Anne na minha quando ela disse aquilo. Pela primeira vez o toque dela parecia estar existindo de verdade. E parecia mais que isso, parecia queimar a minha pele e colocar fogo em meu corpo.

– Não acredito que você se lembra disso, Anne.

Ela me olhou nos olhos, muito mais séria, mas ainda toda corada com a timidez que tomava conta dela às vezes.

– Eu me lembro de cada coisa que você disse desde que a gente se conheceu, Carla. Eu lembro que Bill é o nome do seu cachorrinho de pelúcia. Lembro até que você fez um poema ridículo sobre uma sereia para a primeira menina que você gostou. – Anne riu, mas eu não estava mais sorrindo. Eu a encarava sem desviar o olhar, segurei sua mão mais forte ainda e fiquei fazendo carinho nela com o polegar. Mal acreditava que Anne realmente havia dito tudo aquilo, e que se lembrava de histórias contadas há tanto tempo e algumas que nem mesmo contei diretamente para ela. Essa do poema eu contei para o Gui, mas agora sabia que Anne estava lá prestando atenção em cada palavra. Ficamos nos olhando sem nem piscar por um longo tempo. Parecíamos não querer nos mover nunca mais. Até respirar poderia quebrar a magia daquele momento. Mas Anne não conseguiu mais sustentar meu olhar, encarou suas mãos, depois levantou o olhar e sorriu. Mexeu os lábios devagar, parecia estar dizendo algo que eu não entendi, cheguei mais perto para tentar escutar, mas ela somente mexeu os lábios de novo. Sorri e fui chegando mais perto.

Anne

Apertei mais a mão de Carla ao senti-la se aproximando. Não resisti à tentação, encarei seus lábios e percebi que instintivamente ela fazia o mesmo. Não conseguia desviar o olhar daquela boca que estava me deixando louca e tomando conta de todos os meus sonhos nos últimos dias. E agora estavam ali, tão perto. Fechei os olhos. Não queria mais ver nada, nem pensar em nada. A única coisa que queria agora era sentir aqueles lábios nos seus. Carla chegou muito perto do meu rosto e encostou a boca ao meu ouvido fazendo com que eu me arrepiasse toda.

– O que você disse, gatinha? Fala alto. – Como assim o que você disse? Não acredito que ela fez essa ceninha toda para me perguntar o que eu disse. Que garota estúpida!

– Você chegou tão perto para me perguntar o que eu queria falar?

– É ué. Qual o problema? – Ela me olhou surpresa parecia não entender nada, ou fingia não entender e se não entendesse também que fosse à merda.

– Problema nenhum, Carla. Não tem problema nenhum. Eu não disse nada.

Aí ela se revoltou. Pode isso? Ela ainda se acha no direito de ficar revoltada com o jeito que eu falei. Provavelmente achava que não tinha feito nada demais.

– Ta bem, Anne. Vamos comer brownie, então. – E se levantou com raiva.

Fiquei sentada por mais um tempo olhando Carla se afastar.

– Eu amo você... Era isso que eu havia falado, sua idiota! Eu amo você...


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Carla foi idiota ou a Anne está fazendo um pouco de tempestade em copo d'água? Comentei sua opinião XD