BitterSweetheart escrita por Marcella Chase


Capítulo 24
Capítulo 24 – Jantar de amigos




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Anne

Assim que Diego acordou, eu o levei para o meu apartamento. Nem tive dificuldade em convencê-lo, pois ele parecia bem mais tranquilo em relação ao que aconteceu. Passamos o restinho da tarde fazendo a lasanha, ou melhor, Diego fazia enquanto eu dava apoio moral. Eu sou um verdadeiro desastre na cozinha.

– Até hoje não acredito que você não sabe cozinhar Anne. Coisa de sapatão. – Ele riu e me jogou o pano que mantinha no ombro.

– Eu só não levo jeito para isso poxa. Nada a ver com ser ou não.

– Mas me explique uma coisa afinal de contas, Anne. Quando alguém fica impedido no futebol?

– É que entre o goleiro e o último jogador do time adversário tem que haver pelo menos um jogador...

Diego deu uma gargalhada que me fez parar de falar e perceber que ele estava apenas tirando onda com a minha cara.

– Viu só, de cozinha não entende, mas eu falar de futebol você sabe cada detalhe. Não tente mais se defender.

Foi impossível não rir. O maldito me pegou, mas afinal eu realmente nunca gostei de cozinhar.

– Di, eu nunca precisei saber cozinhar. Você sempre soube para mim. Mas como você não conseguia entender a regra de impedimento eu tive que aprender. É tudo uma questão de necessidade.

Diego riu e negou com a cabeça. Eu sempre vencia todas as nossas discussões e todas as nossas implicâncias um com o outro. Então como não podia me vencer com argumentos, ele me jogou farinha. Maldito. Eu revidei imediatamente com um copo de água. Claro que isso deu início a uma guerra de comida que logo passou para guerra de almofadas e minha casa se transformou em uma completa bagunça. Nós dois sempre brincamos assim e eu estava realmente feliz por ver meu melhor amigo bem de novo. A brincadeira só parou quando a campainha tocou e eu fui abrir. Era Carla.

– Mas o que foi isso? Passou algum furacão por aqui?

– Nenhum desastre natural, Carla. Eu só estava brincando com o Diego.

– Agora está tudo explicado, eram apenas a Barbie e o Ken brincando de casinha.

– Barbie é o caralho. – Dei um tapa no braço de Carla e puxei ela para dentro. – Eu e o Diego sempre conseguimos quebrar a casa, amor. Ele estava fazendo o jantar e a gente começou uma guerra de comida e depois de almofadas. Bem, no final, a guerra era do que estivesse na frente mesmo. Cadê o Guilherme?

– Está subindo com a bebida. Acho que ele está com um pouco de medo.

– Eu acabo com isso rapidinho. – Desci e encontrei Gui parado no carro. Ele não queria subir, mas não dei opção. Arrastei-o até o apartamento. Assim que ele entrou começou a resmungar.

– Anne você mora nisso? Nem a Carla consegue fazer tanta bagunça.

– Eu sou organizada, ok? Só estava me divertindo aqui. Depois eu arrumo. Quando me der vontade é claro.

– Ei que história é essa de “nem a Carla consegue”? – Carla não conseguiria ficar quieta, mas eu sabia que era a mais pura verdade. Ela era absolutamente desorganizada. – Eu sou muito organizada, ok?

– É claro que é. – Guilherme deu uma risada irônica e começou a pegar as coisas espalhadas pelo chão.

– O que você está fazendo? – Perguntei.

– Organizando. Não consigo ficar nesse chiqueiro nem dois minutos sem arrumá-lo.

– Ele é meio paranóico. – Carla tentou justificar o amigo. – Não ligue amor. Se ele vir um porta-retratos torto ele tem uma crise e desmaia.

Nesse instante Diego entrou na sala com a lasanha e teve um acesso de tosse quando viu Guilherme, quase derrubando tudo, o que fez com que Guilherme parasse sua arrumação.

– Por acaso vocês não planejaram isso sem ele saber que eu viria, não é?

– Não tudo bem. Eu sabia. Eu me engasguei só isso.

– Melhor assim. Bem, é... Boa noite Diego.

– Boa noite Guilherme. Eu... Ah esquece. Vamos comer numa boa. Depois eu preciso conversar com você, tudo bem?

– Claro. Por mim não tem o menor problema. – Guilherme nem tentou disfarçar o sorriso de orelha a orelha. Acabou de arrumar minha sala, que ficou infinitamente melhor que antes, e foi ajudar a arrumar a mesa. Carla e eu não parávamos de olhar para os dois e rir. Eles se olhavam furtivamente e viravam o rosto, fingindo um interesse repentino no forro da mesa ou na posição dos garfos. Acho que o fato de nós duas nos beijarmos o tempo todo não os deixava mais confortáveis, mas quem liga? É para isso que servem melhores amigos. Acabamos tendo um jantar muito agradável, nos divertimos, rimos e fizemos piadas e no meio do jantar todos já estavam bem mais a vontade com a situação e nem pareciam mais se lembrar de constrangimento.

– Anne, eu quase me esqueci. – Diego começou a falar quando finalmente passamos algum tempo em silêncio. – Você já contou a novidade para a sua namorada?

Nesse momento Carla olhou para Guilherme com uma cara de susto, bateu na testa e saiu correndo. Voltou alguns instantes depois segurando algo.

– Esqueceu no carro, cabeça oca? – Disse Guilherme.

– Você sabe que eu sou meio desligada.

– Esqueceu o que? – Eu não estava entendendo nada.

– Bem é que o Diego me chamou de sua namorada e me lembrou disso. – Carla tirou do bolso uma caixinha e se aproximou de mim. – Você disse que só seria minha namorada depois de um pedido oficial, então estou resolvendo isso. Anne, você quer namorar comigo?

Eu nem sabia o que fazer ou dizer. Tudo parecia engasgado. Carla me estendia uma caixinha, aparentemente o que ela esquecera no carro, e esperava minha resposta. Eu peguei a caixa e sorri largamente para ela. Levantei-me e a abracei forte.

– Claro que quero, meu amor. É o que eu mais quero.

Carla abriu a caixinha e tirou um colar, me virou de costas para colocá-lo em mim e percebi que havia outro em sua mão.

– É uma cara-metade. – Ela separou o pingente de duas meninas de mãos dadas que se encaixavam. – Uma metade é minha e a outra é sua. Achei que alianças eram muito comuns e esse símbolo é bem melhor porque você como o nome desse colar, você é minha metade.

A única coisa que eu consegui fazer sem desabar em lágrimas foi abraçá-la e lhe dar um beijo terno e carinhoso que demonstrasse o quão feliz e emocionada eu estava.

– Eu te amo Anne e sempre vou amar. Mesmo que alguma vez eu não demonstre isso, quero que olhe o colar e se lembre. Eu posso ser um tanto seca, mas o que sinto por você é muito verdadeiro.

– Eu também te amo e nunca vou esquecer.

– Ai que meigo. – Guilherme riu e começou a cantar I will always love you porque era um ogro e precisava quebrar o clima.

– Nossa como você é romântico, Guilherme.

– Verdade Di. – Reclamei. – Ele quebrou o clima mais perfeito da minha vida.

– Mas eu tenho bons motivos. Foi linda a declaração da Carla, mas se vocês continuassem iam acabar se comendo aqui que eu sei e nosso jantar ia para o espaço.

– Isso é verdade. – Carla obviamente precisava concordar com Guilherme e me matar de vergonha. – Não dá para negar que ia acabar nisso. – Ela piscou, me beijou e se sentou. – E antes que eu me esqueça, qual era a novidade?

– Que novidade?

– O Diego disse que você tinha uma novidade. Qual era? Você não me contou.

– Ah é. Bem, a Olívia saiu então esses dois amores da minha vida aqui – fiz um gesto que abrangia Diego e Guilherme – indicaram meu nome para substituí-la. Segunda eu serei votada pelo conselho e provavelmente serei a nova Assistente Sênior do Diego. – Eu não conseguia conter minha felicidade. As coisas finalmente estavam começando a dar certo e nada parecia capaz de estragar esse momento.

– Parabéns amor! Isso é incrível. Você merece muito mais que isso. – Carla se inclinou e me beijou, mas antes que pudéssemos curtir um pouco o beijo Diego nos interrompeu.

– Vocês podiam parar de usar qualquer motivo para se beijarem e voltar a comer. A lasanha vai esfriar.

Guilherme

Acabamos de comer e tudo foi surpreendentemente agradável. Eu já estava saindo para ir embora quando Diego me chamou para me lembrar que ele queria conversar comigo.

– É verdade. Quase me esqueci. Eu te deixo em casa e a gente conversa no caminho pode ser?

Diego pareceu meio apreensivo, mas acabou concordando. Eu dirigi em silêncio por um longo tempo. Esperava Diego dizer algo primeiro para saber que rumo tomaria aquela conversa.

– Guilherme, eu queria te pedir desculpas. Eu fui um idiota aquele dia na sua casa, mas tente me entender. Eu estava com medo, aliás, eu estou. Eu não sei o que fazer nem o que eu quero. Só não queria que se ofendesse com isso.

– Eu não me ofendi. Eu entendo seu medo, é normal. Eu passei por isso também. O que me magoou na verdade não foi o jeito que você saiu, mas o fato de ter me ignorado depois.

– Eu sei. Mas eu estava com medo, eu disse. Estou pesando as coisas que estão acontecendo comigo e refletindo. Preciso acertar minha cabeça e não queria que você ficasse chateado comigo. Por isso queria pedir desculpas e dizer que quero que fiquemos bem. Sempre fomos bons amigos, acho que podemos continuar sendo.

– Bons amigos? Acho que podemos ser com certeza. – Ele tinha uma tristeza profunda no olhar, mas eu não poderia oferecer nada a ele no momento. Seria melhor que tudo ficasse numa boa entre a gente. – Nós podemos continuar sendo bons amigos se for isso mesmo que você quer. Se você disser que é eu não vou insistir. Vou esquecer e fingir que nunca aconteceu nada.

Eu não me sentia seguro de nada no momento, mas sabia que precisaria de um tempo para mim. Um tempo para refletir e lidar com tudo que se passava na minha própria cabeça. E isso era algo que eu precisava resolver sozinho, não faria bem a ninguém estar ao meu lado nesse momento.

– Eu tenho certeza que é o melhor.

– Tudo bem então. – Guilherme estacionou em frente a minha casa e me estendeu a mão. - Amigos?

Olhei em seus olhos e por um segundo tive vontade de mandar tudo para o espaço e pedir que ele subisse, mas me controlei. Não queria fazer nada de que me arrependesse depois. Apenas apertei a mão dele.

– Amigos. Até amanhã, Gui.


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