Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 52
Pop! Pop! It’s show time! - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

ANTES DE MEIA NOITE AINDA É DOMINGO!
Falei que ia voltar, e voltei. Me desculpem pela TORA de mais de dez mil palavras, mas realmente não teve como kkkkkkkkkkkk eu até pensei em dividir de novo mas não vi nenhum lugar que desse pra fazer isso e na real não faz diferença pq eu ia liberar tudo de uma vez então ia ser como se eu tivesse soltado tudo num capítulo só. Enfim, take your time para ler.
É, gente, acabou :((( acho que a ficha ainda não caiu completamente por causa dos bônus, porque por mais que a história meio que fique completamente resolvida aqui, ainda tem coisas que eu vou abordar nos bônus que são desdobramentos dos plots paralelos da fic, então não tá tudo completamente acabadinho. Em outras palavras: os bônus não vão ser só mais uma oportunidade de ver os personagens jogando conversa fora, eles também vão amarrar algumas pontas soltas que eu não tive como ajeitar aqui porque estou privilegiando o casal principal (que às vezes a gente até esquece, né, mas é FANNIE).
Eu espero com todo o meu coração que vocês fiquem satisfeitos, porque eu levei um bom tempo decidindo como terminar essa história e queria que vocês sentissem que valeu a pena. Foram quase três anos de história, gente, então eu tinha a obrigação de dar o meu melhor, e acho que consegui. Eu tinha muitos jeitos de contar esse final, mas decidi ir pelo mais próximo da realidade e mais fiel à personalidade dos personagens. Espero mesmo mesmo mesmo que vocês gostem.
Nas finais vou falar mais sobre os bônus ♥
AAAAAAAAAAAHHHH (nossa eu quase esqueci MESMO): Música do título: 24k Magic, do Bruno Mars (rs) e a do capítulo ficou com o HINO Umbrella, da Rihanna.
Até daqui a pouco (ou muito, dependendo do quanto vocês demorem para ler essa bíblia aqui kkkkkkkkkkkkkk)



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“These fancy things
Will never come in between
You're part of my entity
Here for infinity
When the war has took it's part
When the world has delt it's cards
If the hand is hard, together we'll mend your heart

Because

When the sun shines, we'll shine together
Told you I'll be here forever
Said I'll always be your friend
Took an oath I'mma stick it out 'till the end
Now that it's raining more than ever
Know that we'll still have each other
You can stand under my umbrella”

 

 

— Você sabe disso há quanto tempo? – Plutarch fez a primeira pergunta após Annie contar tudo, a voz sem demonstrar nenhuma emoção.

— Poucos dias. – Annie respondeu, e suspirou, descruzando os braços que se mantinham firmemente entrelaçados na altura do peito. – Assim que eu soube, eu e meus amigos armamos esse plano.

— Você devia ter nos avisado. – Plutarch respondeu, sem saber bem como reagir. Afinal, ele fora o responsável por trazer Coin para a vida de Mags, crente que levara uma grande oportunidade para a loja da amiga. Não fazia ideia que, na verdade, acabou trazendo a maior cobra com a qual a família Cresta teve que lidar em toda a sua história.

— Não queríamos espalhar a notícia, porque pensamos que quanto mais gente soubesse, mais chance ela teria de desconfiar do que sabíamos. – Annie explicou. – Mas isso não importa agora. O que importa é que agora vocês sabem que foi ela que sumiu com esse comprovante. Está com ela.

— Ela não seria burra ao ponto de levar o comprovante com ela. – Cato objetou. – Ela não ia querer ser pega com isso.

— Ela não sabe que desconfiamos dela. – Annie rebateu. – E qual o lugar mais seguro pra manter o documento que vai ferrar com essa festa do que dentro da própria casa? Ninguém teria nenhum motivo para procurar lá e ela ainda ficaria com o papel embaixo do nariz. Ela não teria absolutamente nenhum motivo para guardar isso em outro lugar. Nós precisamos ir lá buscar esse papel! – Annie exclamou, levantando da mesa onde tinha encostado enquanto contava a história. – Agora! - Ela insistiu, os olhos verdes oscilando loucamente de Cato para Plutarch porque sentia a hesitação emanar de ambos na sua frente.

— Annie, não acho que essa seja a melhor ideia... – Plutarch ponderou, e recebeu um olhar incrédulo de Annie em resposta. – Você pretende entrar na casa da Coin como? E procurar pela casa dela toda? A essa hora já cortaram a luz na festa. – Ele disse, consultando o relógio. – Será que você vai conseguir achar esse papel a tempo da festa ainda acontecer?

— E você tem alguma ideia melhor? – Annie perguntou, irritada.

— Na verdade, tenho sim. – Cato se manifestou, olhando cautelosamente para o pai e para Annie. – O comprovante pode ter sumido, mas nós pagamos a conta. Eu mesmo cuidei da transação, então nós não estamos devendo à companhia.

— Mas por algum motivo o dinheiro não entrou. – Annie interrompeu. – Se tivesse entrado, não teria porquê a companhia aparecer dizendo que ia cortar a luz.

— O pagamento não ter caído no sistema da companhia não significa que o dinheiro não está lá. – Cato observou. – Se a Coin é mesmo tão influente quanto você diz, ela pode ter contatos dispostos a bagunçar o controle de pagamentos. O comprovante era a forma mais simples de mostrar que o dinheiro saiu da conta da Cherry para a da companhia, mas não é a única.

— No que você está pensando? – Annie perguntou, confusa.

— Pai, você acha que seria muito complicado ligar para o Snow agora? – Cato perguntou e a cabeça de Annie deu um giro. Snow, Snow... Ela se lembrava de ter escutado aquele nome em algum lugar.

Os olhos de Plutarch se iluminaram, mas não pareciam exatamente surpresos. Quando você é o dono de uma das maiores empresas de consultoria financeira da cidade, a primeira pessoa para quem você recorre quando uma bomba estoura é para o gerente do banco que abriga quase todas as contas de seus principais clientes. E então, Annie se lembrou de onde ouvira o nome de Snow: ele era o gerente do banco que hospedava as contas da Cherry.

— Não se eu for bem insistente. – Plutarch respondeu, tirando o celular rapidamente do bolso e chamando o número que Annie concluiu ser de Snow.

Annie começou a se irritar com as informações pela metade. Cato e Plutarch compartilhavam uma linguagem que fazia com que frases soltas fossem o suficiente para que eles compreendessem o que passava na cabeça um do outro, mas Annie infelizmente não era fluente nesse idioma.

— Eu não entendi nada. – Annie admitiu. – Qual é o plano agora?

Cato abriu a boca para começar a explicar, mas no minuto que seus lábios se tocaram para formar a primeira palavra, Plutarch começou a falar com o telefone. O loiro, então, preferiu apenas apontar para o pai, indicando que Annie deveria prestar atenção na conversa.

— Oi, Snow! – Plutarch saudou o banqueiro alegremente. – Tudo ótimo e com você? Sim, sim, imagino. Que pena que você não pode vir pra festa. Vamos marcar com certeza. Então, eu precisava de uma ajuda sua. Sim. É com a Cherry. Isso. – Ele contou resumidamente a história do corte da luz, obviamente sem mencionar a participação de Coin. – Pois é, o comprovante sumiu. Não me pergunte como, mas eu vou descobrir. O problema é que não tenho tempo de fazer isso agora e preciso provar para a companhia que a Mags não é caloteira. Não tem como você puxar o histórico das transações da conta da Cherry e me mandar para eu provar que houve a retirada do dinheiro para o pagamento da conta? – Ele ficou em silêncio por alguns instantes. – Sim, com certeza. Mas preciso disso agora, Snow, se não corre o risco da festa nem acontecer. Sim, eles estão sem luz lá nesse exato momento. – Annie afundou as unhas nas palmas das mãos de nervoso ao ser lembrada disso. – Tudo bem, vou esperar. Me ligue assim que tiver novidades.

Ele desligou o telefone e virou-se para Annie e Cato.

— Ele disse que consegue e vai me ligar assim que tiver mandado as cópias da movimentação na conta. – Annie soltou um suspiro aliviado e murmurou um som desconexo que se assemelhava a um “graças a Deus” encharcado de gratidão.

— E o que podemos fazer enquanto isso? – Cato perguntou.

— Ligar para Mags e pedi-la para segurar o funcionário da companhia e os convidados lá. – Plutarch respondeu, esfregando a mão na testa em um claro sinal de cansaço, mas também de alívio. – Porque essa festa vai sair.

~~

Mags sabia que era questão de segundos até a imprensa acha-la no meio da escuridão para bombardeá-la de perguntas, então decidiu poupá-los do trabalho ir até o palco para dar uma única declaração para os jornalistas e convidados. Enquanto caminhava cautelosamente no que acreditava ser a direção do palco, seu celular vibrou em sua mão. Seu coração sacudiu numa velocidade tão violenta ao ler o nome de Annie na tela que chegou a doer.

— Tia, calma. – Annie começou antes mesmo de Mags dizer “alô”. – Não achamos o comprovante, mas arrumamos outro jeito. A única coisa que eu preciso é que você segure o cara da companhia e os convidados aí. Não deixa ninguém ir embora, nem que você tenha que trancar todo mundo aí dentro e jogar a chave fora! – Ela pediu, desesperada.

É lógico que Mags não se deu por satisfeita com essa fraca explicação de Annie, e exigiu que a filha explicasse exatamente o que estavam planejando para salvar a festa. Annie contou a ideia de Cato e informou a tia de que, no momento, esperavam o retorno de Snow com a movimentação da conta da Cherry que seria capaz de provar que, por mais que o dinheiro não tivesse chegado na companhia, ele tinha saído dos bolsos de Mags com esse destino.

— E se isso não der certo? – Mags perguntou, aflita.

— Tia, por favor, nem fale isso em voz alta. – Annie pediu. – Não existe essa possibilidade. Eu te ligo assim que o Plutarch receber o e-mail com os extratos das transações. Beijo e fica firme aí. Qualquer coisa me liga. – Annie se despediu e desligou o telefone, deixando Mags absolutamente petrificada no lugar onde estava.

O comprovante era a primeira resolução possível, e havia sido minada por Coin. O que impedia essa de ter o mesmo destino? Ela queria sentir-se mais confiante, mas o pessimismo ameaçava afogar toda a determinação que poupara para aquela noite. Pela primeira vez, sentiu seus olhos umedecerem e a frustração amealhou transbordar por eles, mas recusou-se a se entregar enquanto ainda havia uma mísera possibilidade das coisas darem certo. Seguiu seu caminho para o palco às cegas e nem arriscou subir nele. Começou seu discurso do chão mesmo.

— Boa noite a todos! – Ela aumentou consideravelmente o volume da voz e o burburinho que se instalara desde o corte da energia foi aos poucos cessando. Uma luz branca (que parecia ser uma lanterna de celular) surgiu, iluminando-a, e em poucos segundos várias outras apareceram e só a imagem de Mags ficou distinguível no meio daquela escuridão toda. – Obrigada. – Ela agradeceu pela iluminação improvisada. - Em primeiro lugar, gostaria de pedir desculpas. Vocês devem ter percebido que estamos com um problema. – Ela deu uma risada suave, como alguém que não se abala nem diante dos piores imprevistos. – Gostaria de explicar para vocês o que houve antes que os rumores surjam e as fofocas comecem. O que está acontecendo aqui agora é um grave engano. – Ela começou. – Tivemos a luz cortada porque a companhia acredita que não pagamos a conta, mas nós pagamos e temos como provar isso. Meu consultor financeiro, que a maioria de vocês deve conhecer, Plutarch Heavensbee, já está resolvendo isso e em poucos instantes teremos a luz reestabelecida para que a festa continue. Peço desculpas mais uma vez pelo transtorno, mas peço também que fiquem, porque vai ter festa. Esse é um dia muito especial para mim, minha filha e toda a equipe da Cherry, e estamos trabalhando duro para contornar esse imprevisto e oferecer para vocês a melhor noite que a Cherry poderia oferecer. Muito obrigada. – Ela encerrou a fala e tentou caminhar até onde se lembrava de ter visto Johanna e os amigos de Annie, mas a luz que a tornara visível durante o discurso continuava a acompanha-la e Mags sentiu o zumbido da aproximação dos jornalistas tal qual um enxame de abelhas.

“Mags, Mags!” Ela ouvia os chamados insistentes e percebeu que andar no escuro com uma dúzia de jornalistas pendurados na barra de seu vestido dificultaria 100% sua caminhada.

“O que você tem a dizer sobre os rumores de que está tentando dar um calote na companhia de luz?” “Ainda vai ter festa?” “Como pretende resolver isso?”

Bom, se Coin pretendia tornar a vida de Mags num inferno naquela noite, ela conseguira, e Mags desejou mais do que nunca que as coisas com Snow dessem certo. A festa precisava acontecer para que Mags pudesse dar o troco.

— Eu já respondi todas essas perguntas no comunicado que acabei de fazer. – Ela repetia cada vez que uma nova pergunta pipocava. – Eu já res... – Ela estava prestes a dizer a frase mecanicamente pela sétima vez quando a iluminação dos celulares dos jornalistas lhe permitiu enxergar a pequena comoção que acontecia perto da saída do evento. Mags reconheceu o vestido azul de Johanna de costas, mas o que mais chamou sua atenção foi a voz da morena, que sobressaía no ambiente parcialmente silencioso.

— Vocês não podem fazer isso! Isso é contra a lei! – Ela gritava para algo que Mags não conseguia ver, mas presumiu ser o funcionário da companhia de luz.

— Minha filha, eu tenho autorização para vir aqui e cortar o fornecimento de energia. – Uma voz masculina irritada respondeu. – Agora, se você me der licença, eu preciso ir. – Mags foi capaz de ver um vulto se movendo na direção da saída, e imaginou que fosse o homem indo embora. Estava prestes a atropelar todos os jornalistas para impedi-lo quando a voz de Johanna soou clara e límpida como um ultimato.

— Não, senhor. – Johanna respondeu. – O senhor não tem o direito de vir aqui fora de horário comercial, sem aviso prévio e no meio de uma comemoração para cortar a energia desse jeito.

— Nós não precisamos dar aviso prévio, é obrigação do cliente saber que após 30 dias de atraso de pagamento a companhia pode interromper o fornecimento de energia a qualquer momento. – Ele destacou as últimas três palavras sugestivamente.

— Não, não. É obrigação da companhia avisar no mínimo 15 dias antes. O senhor sabia que isso é corte indevido de energia e que a sua companhia pode levar um processo de danos morais nas costas pelo que acabou de acontecer aqui?

— Desculpe, mocinha, mas eu posso saber quem é você e por que está me ameaçando desse jeito? – O homem indagou. Os jornalistas haviam abandonado completamente Mags, focando no escândalo que Johanna protagonizava.

Bom, Mags esperava conseguir manter o funcionário ali de uma maneira mais discreta e, de preferência, longe das câmeras , mas o plano de Johanna estava funcionando bem demais para ela reclamar. Não era como se Johanna tivesse muitos problemas com a imprensa. Ela era paga para brigar com os outros em público, a única diferença é que dessa vez havia algumas câmeras registrando a discussão.

— Eu sou advogada auxiliar da empresa. – Ela respondeu, estufando o peito. Mags arregalou os olhos. Johanna era uma ótima advogada, mas sua especialidade não tinha nada a ver com a Cherry. Mags nunca a envolvera em nada relacionado à loja, a não ser alguns conselhos informais pedidos quando os advogados reais da empresa não estavam acessíveis. – E como tal, digo que temos como provar que isso tudo não passa de um engano. Nosso consultor financeiro está chegando com o comprovante do pagamento.

— Mas eu infelizmente não posso esperar. – O homem parecia irredutível. Talvez a irritação da espera e da discussão com Johanna estivesse pesando para diminuir sua boa vontade.

Johanna precisava pensar rápido. Em sua prática jurídica, ela aprendera que abaixar a cabeça não era uma atitude recomendada, mas, em raros casos, podia ser a salvação de um processo. Será que havia chegado a hora da advogada conciliadora entrar em ação?

— Olha, senhor... – Ela se interrompeu para que ele pudesse completar com seu nome.

— Thresh. – Ele respondeu de má vontade.

— Thresh. – Ela repetiu, preparando seu melhor tom “vamos entrar em acordo”. – Hoje é um dia muito, muito especial para a Mags. É a primeira coleção na qual a filha dela se envolveu de verdade na criação, e agora ela está correndo para tentar resolver esse mal entendido. Nós temos como provar que tudo não passou de um engano, a única coisa que eu peço ao senhor é que espere um pouco mais pelas provas que temos a oferecer. Eu sei que o senhor está cansado, mas eu também estou, então eu proponho um acordo. – Ela sugeriu. – O senhor espera pelas provas que eu estou dizendo que temos e eu não entro com um processo por danos morais e corte indevido de energia contra a sua companhia. O senhor vai embora e a sua companhia leva um processo que você sabe que nós vamos ganhar porque temos razão. – Ela deu o ultimato e um silêncio pesado caiu sobre a atmosfera. Nem a imprensa se atreveu a dar um pio. – Está nas suas mãos.

Thresh esfregou o queixo, indeciso. Ele era orientado a não recuar, mas, acima disso, a orientação máxima era evitar problemas com a justiça, porque processos perdidos significavam indenizações, que por sua vez significavam diminuição de lucro. E se tivesse mesmo sido um engano? Ele tinha certeza que seu supervisor o trucidaria se a companhia levasse um processo fadado a derrota cara a dentro por sua culpa. Ele podia até ser demitido!

Enquanto Thresh decidia, o celular de Mags vibrou em sua mão mais uma vez. Ela o atendeu e disse o “alô” mais baixo que conseguiu para não atrapalhar o silêncio que se instalara.

— Tia, conseguimos! – A voz de Annie transbordava alívio e Mags fechou os olhos e deixou uma única lágrima vazar para desabafar a tensão. Um sorriso agradecido se espalhou por seu rosto e ela sentiu sua garganta entrar em colapso com a felicidade que tomou conta de seu ser. – O Plutarch imprimiu todos os extratos dos últimos dois meses da conta da Cherry e achamos a transação da conta. Estamos saindo daqui agora. Tia? – Ela perguntou, diante do silêncio de Mags.

— Estou aqui. – Mags respondeu, baixo. Respirou fundo para poder continuar. – Pode vir. O homem da companhia ainda está aqui. Você precisa ver o escândalo que a Johanna armou. – Uma risada trêmula escapou de seus lábios.

— Eu imagino. Mandei uma mensagem para ela avisando que precisávamos ganhar tempo. – Annie respondeu, e Mags foi capaz de ouvir o sorriso na voz da filha. – Conseguimos, tia. A festa vai acontecer. Eu estou chegando. – Annie disse, mas a frase soou mais como uma promessa.

— Espera um minuto. Bota o Plutarch na linha. – Mags pediu. – Olá? – Mags chamou a atenção da discussão, e todos se viraram para ela. – Estou com a minha filha no telefone e ela acaba de dizer que está vindo com meu consultor. – Ela colocou o telefone no viva voz para que todos pudessem ouvir Plutarch. – Plutarch, coloquei você no viva voz. Vocês estão com os papéis?

— Estamos. – A voz dele respondeu. – Estamos entrando no carro agora. Chegamos em no máximo vinte minutos.

— Vinte minutos ou um processo, senhor Thresh. – Johanna fez pressão. – Eu se fosse o senhor pesaria bem sua escolha.

Thresh suspirou pesadamente.

— Tudo bem. Eu fico.

Johanna olhou para o alto e soltou um ininteligível agradecimento aos céus.

— Ótimo. – Ela disse, mais para si mesma do que para ele. – O senhor não vai se arrepender.

~~

Para o bem dos nervos de Annie, a volta foi levemente mais rápida que a ida. Quando Plutarch entrou no estacionamento e manobrou sua elegante BMW na vaga que ocupava antes deles saírem, Annie se sentiu gravemente tentada a livrar os pés da sandália salto 15 de tiras largas que usava para poder correr até o salão mais rapidamente, mas resistiu firmemente. Precisava manter a compostura para as horas de festa que ainda enfrentaria.

Os três andaram rapidamente pelos tortuosos caminhos que levavam até o salão às escuras. Annie ligou a lanterna de seu celular e mirou em todas as direções até que a luz refletiu o chamativo vestido da tia, indicando qual direção ela devia seguir.

— Chegamos! – Annie exclamou, ofegante, tocando o braço da tia quando se aproximou dela o suficiente. – Pra quem mostramos os papéis? – Ela perguntou, virando a cabeça de um lado para o outro.

— Pra mim. – A voz de Thresh sobressaiu e Annie assentiu, mas obviamente ele não foi capaz de ver. – Por que não trouxeram apenas o comprovante do pagamento?

— Porque ele foi roubado do meu escritório. – Plutarch atirou, sem papas na língua. – E eu não vou descansar até descobrir quem foi, mas como precisava de uma maneira rápida de provar que o pagamento foi feito, entrei em contato com o gerente do banco para acessar a movimentação da conta. Aqui, – Plutarch apontou, e Annie iluminou o local com a luz de seu celular. – podemos ver a retirada do dinheiro no valor exato da conta. – Thresh consultou os papéis que carregava, e Annie direcionou a luz para que ele pudesse enxergar o que precisava. – No mesmo dia, mais tarde, temos o pagamento do boleto bem aqui. – Plutarch indicou um novo número, algumas linhas abaixo do primeiro. – Está aqui o destino do dinheiro. Essa não é a sua companhia?

— É. – Thresh confirmou, apertando os olhos para enxergar as letras pequenas na parca iluminação.

— Pois bem. – Plutarch assentiu, satisfeito. – O dinheiro foi entregue à sua empresa, senhor Thresh. Se aconteceu algo no meio do caminho e a quantia não chegou ou chegou e o sistema não detectou, não é culpa da Mags. Será que agora o senhor pode religar a energia para prosseguirmos com a festa?

Thresh passou alguns segundos encarando os papéis, o olhar oscilando do extrato trazido por Plutarch para os papéis que ele trouxera para justificar o corte da luz.

— Preciso consultar meu supervisor. – Ele anunciou, e um suspiro exasperado escapou de várias bocas que acompanhavam a confusão. – Aguardem um minuto.

Ele andou um pouco mais na direção da porta e Annie e Mags o acompanharam discretamente para se certificar que ele não fugiria. Thresh fez questão de manter a conversa em voz baixa, mas Annie ainda foi capaz de distinguir algumas palavras e o tom nervoso que indicava que Thresh fora pego de surpresa pela resistência dos responsáveis por aquela festa. Ela não fazia ideia que tinha sido enviado para cortar a luz do evento de gente tão importante, afinal, gente importante não deixa de pagar a luz. Ele estava quase convencido de que realmente tudo não passara de um engano.

Annie viu o vulto de Thresh retirar o telefone da orelha e devolve-lo ao bolso da calça, e olhou-lhe em expectativa.

— Muito bem. Estou autorizado a religar a luz no recinto. – Ele anunciou, e Mags soltou um gritinho empolgado. Annie fechou os olhos com força para tentar conter o guincho empolgado que ameaçou sair por seus lábios, mas não obteve muito sucesso. – Me deem licença, preciso mexer nos fios do quadro de luz para reativar a energia.

 Todos esperaram respeitosamente Thresh sair para manter a postura de profissionais ofendidos com o constrangimento que foram obrigados a passar, mas, assim que o senhor alto e negro saiu do campo de visão, Annie não foi capaz de se conter. Ela soltou um guincho esganiçado e abraçou Mags com força, tateando o ambiente em volta para agarrar Johanna na primeira oportunidade que tivesse e agradecer de joelhos a amiga, que montara aquela confusão para ganhar tempo e permitir que ela, Plutarch e Cato chegassem com as provas.

— Conseguimos, tia. – Annie disse, com a voz embargada de felicidade. A escuridão infelizmente escondia sua expressão de felicidade extrema, com os olhos brilhantes prestes a derramar lágrimas de alívio e o sorriso escancarado nos lábios.

Mas não por muito tempo. Surpreendendo pela rapidez e fazendo todos espremerem os olhos com a claridade súbita, a luz voltou, primeiro apenas nas lâmpadas do teto e depois nos globos de luz que decoravam o salão. O som permanecia desligado, e Mags logo sentiu o nervosismo voltar achando que o corte súbito na energia danificara os equipamentos, mas imediatamente pensou que o técnico de som devia ter desligado todos os aparelhos justamente para protege-los de danos caso a luz voltasse tão de surpresa quanto se fora. Annie se desprendeu dos braços da tia e correu até Johanna, apertando a amiga com força em seus braços magros.

— Eu te amo para caralho. – Ela sussurrou no ouvido da morena, que riu abertamente e beijou com cuidado o rosto da amiga. – Muito, muito, pra caralho mesmo.

— Eu sei que você faria o mesmo por mim. – Johanna respondeu, soltando a amiga e segurando as mãos geladas de Annie.

— Só se eu fosse uma advogada incrível e corajosa feito você. – Annie disse, olhando fundo nos olhos da amiga e sorrindo.

Johanna alargou o sorriso.

— Hoje é tudo nosso, bebê. – Ela respondeu, daquele jeito adoravelmente presunçoso que assumia sempre que alcançava alguma conquista com seu trabalho.

Naquele momento, Annie notou Mags caminhando na direção das duas, provavelmente na intenção de beijar os pés de Johanna, ou algo assim. Mas foi impedida, porque a imprensa se apressou para fazer exatamente o que todos esperavam que ela fizesse: correr até Mags e bombardeá-la de novas perguntas. A empresária sacudiu a cabeça e acenou para as duas com uma expressão de desculpas no rosto, e Johanna assentiu, entendendo. A festa precisava continuar. Elas teriam muito tempo para agradecimentos depois.

Mags sorria educadamente e pedia licença, alegando que daria uma única declaração no palco, agora com microfone funcionando, mas os jornalistas continuavam a segui-la.

— Vamos lá para frente. – Ela disse, dirigindo-se a todos os amigos. – Daqui a pouco começa o desfile.

Todos se entreolharam significativamente, porque sabiam exatamente o que estava planejado para o desfile. O evento consistia em uma recepção (que tinha sido radicalmente arruinada pela confusão com a luz), o desfile, e uma after-party. Com toda a confusão, estavam perto da hora marcada para o desfile das peças da coleção, e Annie imaginou que a tia fosse subir ao palco justamente para convidar os presentes a ocuparem seus lugares diante da passarela. O grande plano estava mais próximo de acontecer do que nunca.

— Boa noite mais uma vez! – Mags saudou, empolgada. Fez uma pausa e olhou a multidão. – É muito bom poder ver vocês enquanto falo. – Ela comentou, e a plateia riu discretamente. – Peço desculpas novamente pelo transtorno, mas prometi que resolveríamos a questão e que haveria festa, e sou uma mulher de palavra. – Ela disse, e fez questão de procurar Coin na multidão para poder fixar bem os olhos nela enquanto dizia essa frase. – Acho que ficou bastante claro que fomos vítimas que um mal entendido, mas agora que está tudo resolvido gostaria imensamente de convidar a todos para tomarem seus lugares na passarela, porque está quase na hora do desfile. – Ela anunciou, sorridente. – Eu, minha filha Annie e nossa incrível colaboradora Alma Coin estamos ansiosíssimas para mostrar para o mundo as criações que passamos os últimos meses fazendo com tanto carinho. Espero que gostem, meus caros, e se preparem, porque chegou a hora do show! – Ela exclamou, recebendo uma salva de palmas como resposta e descendo do palco como a verdadeira rainha que era.

— Hora do show. – Annie repetiu para si mesma, mordendo o lábio de ansiedade. Sentiu seu estômago revirar e subitamente um formigamento violento atacou seu peito, tornando-a extra consciente de cada espaço dentro de si onde cabia algum sentimento. Parecia que cada cantinho estava preenchido de tensão até o limite.

Sentiu mãos delicadas tocando seus ombros retesados, e logo a voz de Katniss alcançou seus ouvidos por trás.

— Respira. – Katniss sugeriu, e Annie seguiu o conselho, tentando colocar o máximo de ar para dentro. – É agora ou nunca.

Annie fechou os olhos e assentiu, repetindo mais uma vez a frase em sua cabeça como um mantra.

“Chegou a hora do show”

~~

Quando começou a participar da criação das peças, Annie logo percebeu que seus dias na primeira fila dos desfiles da Cherry estavam contados. Se envolvendo na criação dos modelos, Annie entendeu que automaticamente ganhava a obrigação de estar nos bastidores do desfile, orientando as modelos e se envolvendo no caos que era o camarim lotado de meninas trocando de roupa e retocando a maquiagem em espaços inumanamente pequenos de tempo.

E era lá que ela estava naquele momento, passando os dedos nervosos pelas peças penduradas em araras separadas por modelos e ordem de entrada. Em sua visão periférica, via sua tia andando apressada de um lado para o outro e exclamando últimas orientações para as modelos e seus maquiadores.

Viu também um conhecido vestido nude aparecer sorrateiramente, movendo-se de maneira calma demais para o clima de rapidez e tensão que revestiam o local. É claro que Coin não ia perder a oportunidade.

— Nervosa? – A voz suave perguntou em algum ponto acima de sua cabeça.

Annie nem se virou para responder.

— Não. – Ela continuou verificando os modelos pendurados. – Só estou procurando as peças que ajudei a desenhar. E você?

— Também não. – Ela viu Coin dar de ombros pelo canto do olho. – Prometi que não iria dar pitaco em nada. Sou apenas a colaboradora.

— Então por que não fica na plateia? – Annie perguntou, e rapidamente percebeu que seu tom soara cortante demais. – Seria ótimo ter você lá, um olho da Cherry nos informando da visão do desfile do ponto de vista da audiência. – Tentou suavizar.

Coin ficou em silêncio por tanto tempo que Annie sentiu-se obrigada a virar de frente para ela para acompanhar sua reação.

— É uma excelente ideia. – Ela assentiu, os cabelos grisalhos partidos no meio balançando com o movimento, as pontas cuidadosamente escovadas para dentro cutucando seu queixo. – Acho que é o melhor que posso fazer.

Annie assentiu e sorriu falsamente, voltando a atenção para as roupas. Ouviu os saltos dos sapatos de Coin batendo contra o chão enquanto ela deixava o camarim e suspirou mais aliviada, só para sentir seu coração apertar de novo ao ouvir a tia gritar:

— Trinta segundos para o desfile começar! Trinta segundos para o desfile começar!

Annie viu a luz da passarela mudar pela porta do camarim, uma combinação de tons quentes criando uma atmosfera excitante e poderosa para que o look do primeiro signo entrasse em cena. Áries abriria o desfile assim como abria o Zodíaco: com toda a sua força, brilho e explosão. Ouviu a música especialmente selecionada por ela arriscar os primeiros acordes e sentiu seu coração acelerar com tanta rapidez que quase foi capaz de sentir o sangue latejando na ponta do dedo do pé.

“Tonight... I just wanna take you higher...” Bruno Mars cantava a primeira frase de seu mais novo hit, 24k Magic e Annie se sentiu à beira de um ataque nervoso, ao mesmo tempo que a felicidade crescia em seu peito quando se dava conta que estava a um passo de viver o momento que esperara por meses. Aquela alegria que se misturava na dose certa com a tensão, fazendo com que Annie sentisse cada célula de seu corpo mais viva do que nunca.

“Throw your hands up in the sky...” A música ainda continuava tímida, com acordes misteriosos, preparando a plateia para uma explosão. “Let’s set this party off right...”

“Players! Put your pinky rings up to the moon!” Bruno Mars convocou e a música explodiu, a primeira modelo colocando os pés na passarela e desaparecendo do campo de visão de Annie, que correu para um pequeno corredor estrategicamente posicionado para permitir uma vista parcial do que acontecia no desfile.

“Girls, what y’all trying to do?” A música continuava enquanto a modelo pisava seguramente, seus passos acompanhando com precisão a batida da canção. Annie nem se deu conta que começara a balançar o corpo no ritmo da música, abandonando completamente a intenção de permanecer nos bastidores ajudando a tia a botar ordem na bagunça.

Novas modelos iam entrando na passarela com uma sincronia invejável, sem deixar o caminhar se perder da música por nenhum momento. Annie ia contando mentalmente os signos a medida que suas produções iam aparecendo para o público, atenta para cada momento que a música ia se metamorfoseando em outra para acompanhar a energia que cada combinação diferente parecia emanar. Ia reconhecendo cada uma de suas contribuições para aquele momento, vendo cada uma das ideias que dera materializada diante de seus olhos.

Infelizmente, viveu aquele momento sozinha. A tia passara por incontáveis desfiles da Cherry sem vê-los ao vivo, então estava acostumada a deixar de ver o resultado de seu trabalho, porque era impossível controlar o camarim e ver a passarela ao mesmo tempo. Mas Annie, não, e não conseguia imaginar-se sem assistir o resultado final de seu esforço. Seus olhos brilhavam, hipnotizados, e por alguns instantes ela esqueceu completamente tudo que estava planejado para acontecer dali a pouco tempo, sendo inundada pelo sentimento de orgulho e felicidade plena. Aquilo que ela via naquele momento, as modelos confiantes caminhando de um lado para o outro de um lado em contraste com o caos do barulho de secadores, gritos, ordens e passos nos bastidores de outro eram, cada um a sua maneira, a materialização de todo o seu percurso até estar onde estava.

E então se deu conta. Ela era forte para caralho. Passara por coisas para caralho para estar ali, e finalmente tinha encontrado o seu lugar, e, naquele momento, nada nem ninguém seria capaz de tirá-la de onde ela descobrira pertencer.

Ela estava exatamente onde queria estar e, acima de tudo, onde precisava estar. E não havia felicidade no mundo mais genuína do que a oriunda dessa certeza.

Ela sentiu-se transbordar de dentro para fora, lágrimas grossas de empolgação vazando de seus olhos para aliviar a pressão da felicidade que ameaçava explodi-la. E foi exatamente enquanto ela era completamente arrebatada por aquela onda de sentimentos que uma voz mais do que conhecida atingiu seus ouvidos, fazendo-a virar-se imediatamente para a origem do som só para destruir sua certeza de que seu coração já tinha alcançado a frequência cardíaca máxima.

— Surpresa. – Finnick sussurrou simplesmente, um sorriso radiante iluminando o rosto perfeito.

Annie, que tinha virado apenas o rosto para identificar sua companhia, arregalou os olhos e ergueu as sobrancelhas quando seus olhos tocaram o rosto de Finnick. Ela se virou completamente de frente para ele, dando as costas para o desfile, a boca completamente aberta e parecendo incapaz de emitir nenhum som.

— Vai entrar uma mosca. – Finnick riu e tocou o queixo da namorada, que uniu os lábios novamente, mas não abandonou a expressão de incredulidade.

Annie tocou seu rosto enquanto seus olhos percorriam furiosamente o rosto do namorado, ainda sem dizer nenhuma palavra. Ele estava com um blazer azul marinho, uma gravata vinho, calças combinando e um sapato social. O cabelo irremediavelmente bagunçado cutucava a testa e encobria as sobrancelhas, que emolduravam os olhos gloriosos e brilhantes. Seu olhar percorreu o nariz reto até sua ponta e depois desceu para a boca, os lábios cheios e meio esticados em um sorriso de diversão pela reação dela.

— Eu... – Ela balbuciou, agora completamente alheia ao desfile atrás de si. – Eu... Eu achei que você não vinha. – Ela justificou a reação, ainda olhando fundo em seus olhos.

E, de fato, eles haviam combinado de abrir mão da presença de Finnick no evento (não sem ter que lidar com inúmeras reclamações de Annie), porque concordaram que seria arriscado demais Coin vê-lo antes de ser desmascarada. Poderia fazê-la desconfiar de algo ou até mesmo deixa-la com ainda mais raiva e disposta a armar mais alguma confusão para impedir o evento.

Mas até parece que ele ia levar isso a sério.

— Eu entrei pelos fundos. – Ele explicou. – Sua tia me contrabandeou para dentro.

— Então vocês estavam armando pelas minhas costas? – Annie perguntou, mas ainda estava tão em choque que sua voz ficou livre que qualquer tom reprobatório.

— É que agora viramos especialistas em armações. – Ele explicou. – É um vício.

Os olhos, até então incrédulos, se suavizaram e um sorriso meigo irrompeu pelos lábios de Annie. Ela desceu as mãos do rosto para o pescoço de Finnick e o abraçou com toda a força que conseguiu.

— Ei. – Ele riu enquanto ela o apertava em seus braços. – Não vai querer perder o finzinho do desfile, vai?

Ela não se moveu um milímetro, aspirando o cheiro do perfume que se misturava tão bem em seu pescoço, daquele jeito que ela nunca tinha sentido em mais ninguém.

— Não acredito que não posso te beijar agora. – Ela reclamou. – Eu vou ter que subir ali e fazer um discurso em menos de cinco minutos e não posso aparecer em público toda borrada.

Ele riu e os corpos unidos tremeram em conjunto.

— Temos tempo para isso depois. – Ele respondeu. – Aliás, temos a noite toda, se você não tiver outros planos. – Ele anunciou, enigmaticamente.

Ela se desprendeu dele rapidamente para olhá-lo com cara de interrogação.

— Quero te levar para um lugar depois daqui, mas não sei se você quer ficar com a sua tia ou tem alguma outra festa que precise estar... – Ele se interrompeu, cauteloso.

— Eu vou com você para onde você quiser me levar. – Ela respondeu daquele jeito que para quem não a conhecesse o bastante soaria ríspido, mas que Finnick sabia que não significava nada além de excesso de determinação.

Ele sorriu.

— Então está combinado. Eu volto para te buscar no fim da festa.

— Você vai embora? – Ela perguntou, a decepção tangível na voz.

— Não. – Ele respondeu, ainda sorrindo. – Só vou ter que ficar escondido aqui até a hora que você achar que eu posso aparecer. – Ele fez uma pausa para olhá-la longamente, seus olhos descendo voluptuosamente pelo corpo coberto pelo magnífico vestido. – Eu namoro a mulher mais linda do mundo. – Ele disse, seus olhos perdidos em cada detalhe do vestido de alta costura e em como ele vestia perfeitamente o corpo de Annie. - Como isso foi acontecer, hein?

— Ah, sim, claro, porque você é horroroso. – Ela ironizou. – Eu bem acho que vou ser obrigada a te deixar trancado nesse camarim até o fim da festa, porque se você sair todas as mulheres e homens gays no recinto vão enlouquecer.

Ele gargalhou.

— Você podia só dizer “obrigada”, sabia? – Ele falou.

— Você sabe muito bem que eu nunca digo só “obrigada”. – Ela rebateu, as sobrancelhas se erguendo e armando uma expressão arrogante.

Ele assentiu, concordando. Com um timing perfeito, Mags apareceu bem na divisória entre o corredor secreto que Annie estava e o camarim. Seus olhos escorregaram rapidamente para Finnick e ela sorriu maliciosamente.

— Gostou da surpresa? – Ela perguntou e Annie se aninhou com mais força nos braços de Finnick, assentindo. Ele riu e apertou os braços em volta dela. – Precisamos ir, a última rodada de modelos vai sair agora e precisamos aparecer para fazer o discurso.

A realidade atingiu Annie como uma pedrada na cabeça. Depois dos minutos de felicidade extrema, precisava preparar-se para ocupar seu lugar na guerra que estava prestes a ter início.

— Está tudo certo? – Ela perguntou.

— Peeta e Katniss já estão com o DJ e o técnico de projeção. Eles disseram que está tudo no esquema.

Annie assentiu e ergueu a cabeça para fitar Finnick, seus olhos ansiosos. Ele beijou sua testa.

— Vai lá. Você precisa terminar o que começou. – Ele disse, e ela assentiu. Soltou-se dos braços aconchegantes e imediatamente foi envolvida pelo ar que agora parecia frio e rude demais. Colocou um pé na frente do outro e caminhou decidida.

— Vamos, vamos, vamos! – Um homem agitado gritou para as duas quando elas se colocaram atrás da última modelo. Elas mal chegaram e a fila já começou a caminhar, indicando que a primeira modelo já havia entrado na passarela. - É a última rodada meninas, quero cabeças erguidas e olhar fatal! Mostrem a eles tudo que não mostraram até agora! – O homem berrou, mas Annie mal escutava, porque estava cada vez mais perto da passarela e, muito antes do que esperava, deu o passo que atravessou a divisa entre o camarim e o piso escuro e elegante da plataforma. Os aplausos ensurdecedores a avisaram que o público já as via, então Annie ergueu a cabeça e, de mãos dadas com a tia, acenou graciosamente para a plateia endinheirada, jogando beijos e agradecendo fervorosamente a recepção entusiasmada.

— Obrigada! – Mags exclamou no microfone que lhe ofereceram após ela e Annie darem uma volta completa pela passarela. – Obrigada! – Ela repetiu, aguardando os aplausos perderem força para poder prosseguir o discurso. Annie sentia seu coração bater violentamente contra as costelas. – Eu não tenho nada a fazer além de agradecer. São muitos anos dedicados à moda, anos que só obtiveram algum sucesso graças às pessoas maravilhosas que me acompanharam até aqui. Plutarch e a Xeque, sempre tomando conta das minhas finanças e me trazendo de volta para a realidade quando meus planos eram estratosféricos demais. – Ela disse, olhando com carinho para o diretor, sentado em um lugar da primeira fila. – Família Everdeen, que se tornaram minha família também, sempre nos orientando sobre a melhor maneira de mostrar todas as minhas ideias para o público. Toda equipe de criação e produção da Cherry, eu tenho certeza que tenho ao meu lado as pessoas mais talentosas e dedicadas que a moda brasileira podia me oferecer. – Ela fez uma pausa e sorriu. - E agora vou deixar minha filha Annie falar, porque já disse coisas demais e tenho certeza que ela tem muito a falar para vocês.

Ela entregou o microfone para Annie, que o segurou com força. Seus dedos ficaram brancos, contrastando com o esmalte escuro que cobria as unhas compridas e ovais.

— Obrigada. – Ela começou, sua voz saindo mais trêmula do que ela esperava. Afastou o microfone da boca e pigarreou discretamente para limpar as cordas vocais. – Não posso começar esse discurso de outra maneira. Por muito tempo, eu não soube o que esperar da minha vida. Fui adotada por uma das empresárias mais influentes da moda nessa cidade, mas, até agora, nunca tinha parado para pensar no quanto isso significava. – Ela suspirou, deixando escapar um pouco da pressão que sentia no peito. Ela tinha muitas coisas a dizer, mas ao mesmo tempo queria acabar logo para finalizar tudo que havia de ser feito. – Eu nunca me envolvi em nada no que diz respeito à criação da Cherry, apesar de admirar o exemplo de mulher bem sucedida, forte e determinada que minha tia sempre me deu.

Ela olhou para a tia, suas mãos ainda unidas, e sorriu.

— E, aos poucos, fui me dando conta do que eu queria. Eu queria ser como ela. Encontrar minha paixão e me dedicar a ela com tanto amor e coragem que meu trabalho fosse o melhor de todos, como o dela sempre foi. Eu conheci algumas pessoas – Ela procurou os amigos na plateia e focalizou os olhos neles ao acha-lo, suas íris varrendo calmamente a sequência de cadeiras ocupada pelas pessoas que ela escolhera amar e ter por perto para sempre. Katniss sentada ao lado de Peeta, as mãos dos dois entrelaçadas. Gale, Johanna, Prim; e depois voltou os olhos na direção do camarim por um momento, desejando que seu olhar fosse capaz de atravessar todas aquelas paredes e atingir em cheio o amor de sua vida, que a assistia escondido naquele momento. – que me fizeram enxergar que para descobrir o que vale a pena na vida, é preciso que a gente se jogue no mundo. Eu tinha alguns planos, é claro, mas eles eram tão pouco comparados com tudo que eu podia ser, e foram justamente eles que me mostraram isso. Essas pessoas, e uma delas em especial, que me fez descobrir o que é o amor, me provaram que o mundo tem coisas muito boas a oferecer para aqueles que se abrem para ele, e se eu cresci alguma coisa ao longo do último ano, eu devo isso inteiramente a elas, que me fizeram apreciar toda a força que eu tenho dentro de mim. Se eu decidi sair da minha zona de conforto e botar a cara a tapa para trabalhar duro como minha tia sempre trabalhou, eu agradeço a cada uma delas, especialmente a uma delas que eu ganhei de presente do destino, de Deus, dos céus, não sei como vocês chamam isso. E, além disso, se eu finalmente descobri quem eu sou e onde eu quero estar, também devo isso a elas e a todo o amor que a minha tia me ofereceu em todos esses anos. – Sua fala foi interrompida por aplausos emocionados, que ela agradeceu com um sorriso sereno. Quando as palmas cessaram, ela continuou. – Mas eu preciso falar com vocês sobre outra coisa. – Seu tom ficou sério, nenhum resquício da emoção do discurso anterior restava em seu semblante. Ela sentiu Mags se retesar ao seu lado, e, então, soltou a mão da tia, andando um pouco sobre a passarela para aliviar o nervosismo.

Aquele era um passo que era precisava dar sozinha. Mentalizou a imagem de Finnick escondido no camarim para dar-lhe forças e continuou.

— Trabalhar nessa indústria é complicado. – Ela continuou. – Eu estou no ramo há poucos meses e já percebi que é preciso ter muito cuidado com quem você mantém por perto, porque o que não falta são pessoas sem escrúpulos para conseguir o que querem. Pessoas dispostas a te destruir de todas as maneiras se isso for vantajoso para elas. – Ela focalizou o olhar em Coin e deixou toda a raiva que vinha segurando inspirar suas palavras seguintes. – Eu e minha tia infelizmente tivemos uma dessas por perto tempo demais até perceber que a cobra fantasiada de estilista famosa e preocupada com o nosso sucesso só estava por perto porque queria ficar ainda mais rica lançando o meu namorado como modelo internacional. – Ela jogou a bomba, e a plateia permaneceu muda de surpresa, sem entender exatamente a que ela se referia. – Alma Coin, a respeitada empresária da moda é, na verdade, uma chantagista mau caráter que ameaçou destruir a Cherry se o agora queridinho modelo de vocês, Finnick Odair, não aceitasse começar uma carreira de modelo agenciado por ela. – Annie expos, sentindo o ódio tremer-lhe a mão que segurava o microfone. – E, antes de mostrar a todos vocês as provas do que eu estou falando, eu quero dizer que a Cherry não vai vender uma única peça que tenha alguma colaboração dessa bandida. – Annie afastou o microfone da boca e andou até chegar perto da cadeira onde Coin assistia tudo com uma expressão absoluta incredulidade no rosto. A passarela era levemente acima do nível das cadeiras, de modo que Annie precisou abaixar-se para dar seu recado – Eu vou acabar com você, sua desgraçada. 

As luzes se apagaram e, no fundo da passarela, a parede branca imensa serviu como projetor do vídeo que Finnick gravara com sua minúscula câmera da última vez que esteve na casa de Coin.

O vídeo começava cortado, mas o áudio era bastante claro. A imagem tinha uma qualidade um pouco inferior e câmera parecia levemente desfocada devido ao local precário onde foi presa, mas logo foi possível ver Coin de costas, seus inconfundíveis cabelos lisos e grisalhos entregando sua identidade.

Pode falar, então” Sua voz parecia um pouco distorcida, mas ainda reconhecível. “Ou quer ouvir as propostas primeiro?”

“Não precisa se dar ao trabalho.” Era possível ver a metade do corpo de Finnick, sua cabeça balançando de um lado para o outro. “Eu estou parando por aqui, Coin. Chega. Estou fora.”

Coin se mexeu discretamente. “Do que você está falando exatamente?” Ouvimos sua voz indagar.

“Da carreira de modelo. Eu não quero mais.”

Annie não se deu ao trabalho de olhar para Coin, mas suspeitou de sua aparente falta de reação. Por que ela ainda não tinha invadido a passarela tentando arrancar o microfone de suas mãos para se defender? Será que estava chocada demais ou simplesmente não sabia o que dizer?

“De novo não, Finnick. Eu não quero ter essa conversa com você de novo. Você sabe exatamente tudo que está em jogo e porque você está aqui, e eu não estou com paciência para repetir tudo o que você já sabe para te convencer que você não tem outra opção a não ser estar aqui.”

“Eu tenho outra opção, sim, e é não estar aqui.” Ele se mexeu, saindo do campo de registro da câmera. “Você não precisa repetir o que vai acontecer se eu sair por aquela porta sem aceitar esses trabalhos se não quiser. Eu sei que tudo vai voltar para a Cherry e não duvido nem por um segundo que você tem poder para fazer tudo que vem me ameaçando há meses, mas eu não aguento mais. Eu fui até onde pude, mas você sabe que ser modelo não tem nada a ver comigo e eu não vou poder sustentar a Cherry nas costas para sempre.”

Ela se mexeu, contornando a mesa e saindo do foco também. Por um instante, a câmera exibia apenas a mesa e a parede do escritório onde a conversa ocorrera. 

A plateia estava absolutamente silenciosa, a falta de reação evidenciando a incredulidade dos presentes tanto na informação exposta quanto na decisão de Annie de expô-la durante o evento.

“Você poderia, se quisesse. A Cherry ia ficar perfeitamente bem se você cumprisse a sua parte no nosso trato.” Ela se moveu, e seu braço esquerdo apareceu na imagem. “Eu só queria entender a mudança repentina, porque achei que estivesse disposto a fazer tudo ao seu alcance para proteger a Annie. O que houve? Deixou de amá-la? Ou acha que perder a principal fonte de todo aquele dinheiro que ela ama gastar vai ser bom para ela aprender a ser mais humilde?”

“É justamente esse o ponto, Coin. Eu nunca vou deixar de amá-la e é esse o problema. Enquanto eu amá-la, você vai ter o que usar para me chantagear. E eu decidi me libertar disso.” Ele respondeu, e moveu-se de modo que voltou a aparecer na imagem. 

“Mesmo que isso signifique que ela e a tia vão perder tudo que vem trabalhando há anos e a culpa vai ser inteiramente sua?” Ela perguntou.

“Não vai ser minha. Vai ser sua. É você quem vai sujar as mãos para afundar a Cherry. Sabe-se lá quem você vai manipular e o que você vai armar, mas quem vai fazer isso é você.” Finnick acusou, e só agora, vendo a filmagem, ele pode perceber o discreto sorriso irônico que seus lábios formaram enquanto ele dizia isso.

“Porque você não está me deixando nenhuma alternativa. Você sabe do que eu sou capaz, Finnick, e escolheu um péssimo momento para fazer isso. A festa da Cherry é amanhã, e eu posso fazer muito estrago em 24 horas.”

A cena foi cortada, mas o vídeo não parou. Agora, o pedaço da conversa exposto era outro.

“Imagina só explicar para todos esses caras que o seu melhor modelo simplesmente meteu o pé.” Apenas parte do corpo de Finnick estava visível, ainda, mas agora Coin estava de perfil para a câmera, seu rosto mas exposto.

“Imagina só explicar para a mulher que você ama que você é culpado pela sarjeta da família dela.” Ela rebateu, no mesmo tom.

“Se eu não fosse tão importante, você não se arriscaria tanto para me manter no seu jogo.”

Eu não estou arriscando nada.” Era possível ver sua bochecha erguida devido ao sorriso irônico que seu rosto exibia. “Ou você realmente acha que eu vou deixar pistas?”

“Imagino que não. Não deve ser a primeira vez que você faz isso. Não me interessa. Pode ligar para todos eles e manda-los escolher outra pessoa.”

A imagem ficou escura, indicando que o vídeo tinha acabado. As luzes se acenderam e Annie voltou para o meio da plataforma, o microfone ainda em mãos. O ambiente estava morbidamente silencioso.

— Decidimos expor isso dessa maneira porque acreditamos que vocês que estão nessa festa precisavam saber disso. – Ela explicou. – Aqui estão as pessoas mais importantes para a Cherry e para a indústria da moda nacional, e nós não podíamos deixar todos seguirem acreditando que ter Alma Coin por perto é uma grande conquista. Como ela mesma disse, não deixa pistas. Ela causou muito sofrimento para mim, para o Finnick e provavelmente para muitas outras pessoas que foram obrigadas a se calar porque foram subjugadas por todo o poder que ela tem. Isso não é apenas pela Cherry, é por toda a indústria da moda brasileira e internacional.

— A festa vai continuar. – Annie prosseguiu. – Porque hoje é um dia de comemoração. Antes disso, quero apenas deixar aqui o espaço para que Alma Coin suba ao palco e se explique, se quiser. – Annie calou-se e aguardou, e, de repente, toda a plateia olhava em volta à procura da grisalha. Annie voltou o olhar para o lugar onde Coin estava sentada, mas a única coisa que encontrou foi um assento vazio, então concluiu que ela devia ter se mandado durante a exibição do vídeo, quando a iluminação estava mais fraca. Ela esperou mais alguns segundos antes de continuar. – O lugar onde ela estava agora está vazio. – Annie apontou para a cadeira. – Ao que tudo indica, ela fugiu. – Deu de ombros. – Não temos mais nada a dizer além de convidar a todos para digerir e conversar sobre essa informação no after-party. Mais uma vez, obrigada pela atenção.

As luzes fizeram um floreio, passando rapidamente pelo degradê do azul ao violeta, e uma animada música pop começou a tocar, indicando que todos deveriam se dirigir ao salão reservado para a continuação da noite. Annie correu até Mags e envolveu a tia com os braços com força, soluços secos irrompendo de seu peito agora que toda a tensão finalmente havia se esvaído. Estava feito. Pronto. O que ia acontecer agora não importava: eles foram bem sucedidos, a reputação de Coin estava acabada e, não importava como ela tentasse se defender, a suspeita continuaria rondando e sua imagem nunca mais seria a mesma.

Depois de passar longos instantes abraçada a Mags, Annie abriu os olhos, seu corpo ainda grudado ao da tia. A configuração da plateia mudara completamente; as pessoas levantavam e andavam na direção do salão, mas uma pequena comoção no chão abaixo da passarela chamou sua atenção. Eram os amigos comemorando o sucesso do plano, pulando e gritando como loucos. Annie riu e fungou, notando só naquele momento que umas poucas lágrimas escorreram por suas bochechas. Ela limpou a trilha molhada rapidamente, agradecendo a Deus pela maquiagem superpoderosa à prova d’água que escolhera especialmente porque sabia que aquele seria um dia cheio de emoções.

Soltou-se da tia e acenou para os amigos, dirigindo-se para o camarim para poder dar a volta e descer até eles. Ela podia simplesmente pular a pequena altura da passarela para o chão, mas não queria arriscar quebrar os saltos delicados.

É lógico que um certo loiro de olhos verdes interrompeu seu caminho. Ele não seria capaz de esperar pacientemente até que Annie lhe dissesse que já era seguro aparecer. E é lógico que Annie não foi capaz de fazer nada além de atirar-se em seus braços e procurar avidamente seus lábios para matar a saudade.

— Pelo amor de Deus, se beijem aqui embaixo! – Katniss gritou, fazendo com que os dois rissem durante o beijo e o interrompessem. – Temos uma after party nos esperando agora.

Os dois se olharam, o riso da felicidade da paz brincando em ambos os lábios.

— Eu te amo. – Ele sussurrou, beijando seu rosto uma última vez.

— Eu também te amo. – Ela respondeu, encostando a testa na dele. – Mais que tudo no mundo.

Entrelaçou os dedos nos dele com o máximo de firmeza que pode, e puxou o namorado na direção do camarim para que pudessem chegar até os amigos.

~~

— Alguém ouviu falar do demônio depois da confusão? – Gale perguntou quando todos estavam juntos em uma roda em um canto qualquer do salão, movendo os pés ao som da música que o DJ escolhera para animar a pista.

— Evaporou. – Prim respondeu, levando a taça cheia de champagne que segurava aos lábios e bebendo os últimos dois dedos do líquido. – Quero só ver o que ela vai querer fazer para se vingar agora que está com a reputação no lixo.

— Ela deve tentar abrir um processo por calúnia e difamação, mas isso não é muito inteligente, porque vai começar uma investigação e vai ser fácil de provar que é tudo verdade. – Johanna deu de ombros, a meio caminho de colocar o braço no ombro de Gale, mas refreou-se a tempo quando lembrou-se que ainda mantinha o relacionamento em segredo.

— Eu nem acredito que deu tudo certo. – Katniss admitiu. – Conseguimos nosso final feliz, gente.

— A gente bem merece. – Peeta respondeu, sorrindo. – Não foi fácil, galera.

— Nunca é. – Katniss respondeu. – Sempre vai ter alguma coisa para resolver. A vida é assim mesmo.

— Ai, não, Katniss, pelo amor de Deus, não começa a filosofar a essa hora. – Prim pediu e todos gargalharam. – Vamos dançar e aproveitar que tudo acabou e que agora todas as pessoas do mundo estão morrendo de medo de aprontar qualquer uma conosco, porque viram do que somos capazes.

— Olá, família. – Finnick e Annie, que tinham evaporado por alguns breves minutos, surgiram novamente na roda. Finnick carregava uma bandeja de taças de champagne, oferecendo uma para cada um dos amigos como um garçom. – Precisamos fazer um brinde.

Por um instante, todos apenas emitiram sons de satisfação com a nova rodada de bebidas. Annie colocou sua taça mais no alto e começou o primeiro discurso completamente livre de tensão que faria naquela noite.

— Tudo bem, vamos lá. Em primeiro lugar, parabéns para nós! – Ela exclamou. – O plano mais arriscado já feito na história da humanidade deu certo! – Todos soltaram pequenos gritinhos de comemoração. – Eu quero agradecer a cada um de vocês por estarem aqui hoje. Vocês sabem que eu não teria segurado essa barra sozinha, aliás, eu quase não segurei. – Ela disse, lembrando-se do pânico que sentiu quando descobriu tudo. – Eu não tenho como explicar o quanto vocês foram fundamentais para que tudo desse certo hoje e, mais do que isso, o quanto vocês mudaram a minha vida. Eu já tinha as melhores amigas do mundo, – Ela olhou ternamente para Johanna e Katniss. – mas conhecer você – Ela cutucou o ombro de Finnick – colocou ainda mais gente incrível na minha vida, por mais que eu tenha brigado bastante com alguns até perceber isso. – Ela olhou debochada para Peeta, que abriu um sorriso largo em resposta. – Mas isso não se trata só de mim ou do Finnick. Tudo bem, pode ter sido que o nosso namoro tenha juntado o que antes eram dois trios de amigos inseparáveis, mas eu acredito que o que temos vai além disso. Eu podia não ter conhecido o Finnick naquela boate naquele dia, mas vocês – Ela apontou para Katniss e Peeta. – se conheceriam no ônibus no dia seguinte, e a Johanna e o Gale com certeza também dariam outro jeito de se encontrar, porque precisávamos nos encontrar. De alguma forma, entraríamos na vida uns dos outros, porque, e agora que eu tenho vocês por perto e nós passamos por tudo isso juntos eu tenho ainda mais certeza disso, somos exatamente o que precisamos uns para os outros. Eu tenho muito orgulho do que me tornei com vocês do meu lado, tenho muito orgulho do que somos e de como nos tornamos parte da vida uns dos outros com todas as partes boas e ruins. Obrigada por me mostrarem o melhor de mim e também me ajudarem a lidar com o meu pior. Eu amo vocês e saúde! – Ela ergueu a taça bem no alto e logo foi possível ouvir o barulho brilhante do cristal tilintando, que parecia a trilha sonora perfeita para a alegria cintilante que envolvia aquele grupo.

Annie sentiu os braços de Finnick a envolverem pela cintura enquanto observava os amigos comemorando, as taças que ainda não haviam se tocado emitindo os últimos “tins-tins” do brinde. Sua cabeça viajou por tudo que aquele grupo havia passado desde que se encontraram, e de repente ela se sentiu arrebatada pela enormidade do que eram. Seres humanos com qualidades, defeitos, contradições e inúmeros desafios superados e ainda por superar, mas, acima de tudo, vontade de entregar uns aos outros o melhor que poderiam ser.

Existem muitas definições e maneiras diferentes de sentir o amor, e ninguém nunca será capaz de eleger uma única como a correta, mas o que Annie sentiu naquele momento foi tão puro e genuíno que ela teve a sensação que chegara muito perto. Inúmeras formas de amor entre aquelas sete pessoinhas dispostas a dividir tudo que a vida desejasse atirar-lhes pelo caminho. É ilusão pensar que o amor só traz à tona nossa melhor versão; somos humanos, e o melhor de nós sempre vem misturado com um monte de coisas das quais não nos orgulhamos de sentir ou pensar, mas amar de verdade (e Annie só aprendeu isso depois que Finnick entrou na sua vida) significa ver com clareza o que o outro é e estar disposto a estar lá por ele mesmo assim. Amar é um compromisso de tentar a todo o custo dar o seu melhor e, ao mesmo tempo, entender que nem sempre será possível ter o melhor do outro em troca, e que mesmo assim não devemos desistir. Amar é acreditar, apoiar, brigar, compreender, discutir e, acima de tudo, crescer junto. Foi isso que Annie conheceu com aquelas pessoas em sua vida.

E uma delas em especial, que abriu caminho por todas as certezas distorcidas que ela tinha desde que se entendia por gente, só para mostrar-lhe que a vida podia significar muito mais do que passar a juventude planejando qual partido milionário fisgar. Ela nunca sentiria a completude que sentia naquele momento se não tivesse se permitido aprender a esperar mais da vida além de um casamento rico. Além do mais, descobrira que todo o luxo e riqueza podiam ser obstáculos muito cruéis na busca da felicidade verdadeira. Mas agora que a guerra tinha chegado ao seu fim e as coisas pareciam ter voltado aos seus lugares, ela podia afirmar que nada nem ninguém se colocaria entre ela e as coisas que realmente importavam.

Não entenda mal, é lógico que o dinheiro ainda fazia Annie sorrir de orelha a orelha. Ela foi criada assim e não se sentia na obrigação de abandonar esse traço de sua personalidade, mas ter Finnick em sua vida a fez passar por inúmeras coisas que ela jamais acreditou que enfrentaria, além de coloca-la em contato com uma força interior que ela não fazia ideia que existia. Ela não o amava apenas porque ele era bonito, inteligente, engraçado ou por sua bondade; ela o amava porque sabia que era ao lado dele que ela queria enfrentar o mundo. Era ao lado dele que ela queria descobrir cada vez mais aspectos bons e surpreendentes sobre si mesma, era ao lado dele que ela sabia que a vida ofereceria todas as belezas que revelam porque vale tão a pena estar aqui.

Viver não é nada fácil, mas, do lado das pessoas certas, dá pra não tornar o tempo aqui um completo desperdício. E Annie não conseguia pensar em pessoas melhores com quem passar por tudo isso além das que brindavam o sucesso daquela festa com ela naquele momento.

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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaAAaaaaAAaAaAaAaaaaaAaAAAA
Nunca em todos os dois anos, onze meses e 9 dias dessa fanfic a frase "estou roendo o pé da cama de ansiedade pelos comentários de vocês" foi tão VERDADEIRA.
Qual foi a parte preferida de vocês???????????? A minha foi a Johanna peitando o Thresh kkkkkkkkkkkkk e o Finnick brotando ai :') que OTPZÃO DA P*RRA
O que eu mais queria aqui era que vocês pudessem apreciar o crescimento dos personagens. Como a história foi muito longa, eu também fui mudando ao longo dos capítulos, então acabei acrescentando muitas coisas que jamais cogitei no início, e isso mudou tudo. Esses personagens cresceram porque eu também cresci, e essa história é muito especial para mim justamente por isso. Foram muitos, muitos altos e baixos, momentos que eu quis desistir e momentos de muita felicidade, enfim, mas acima de tudo sei que essa história me melhorou imensamente como escritora, como pessoa, além de me apresentar leitores e escritores incríveis, que se tornaram meus amigos.
Não vou falar muito além disso porque, como eu já disse, vou fazer um texto especial de agradecimento depois do último bônus. O primeiro deve sair no final de semana que vem, porque só vou poder começar a escrevê-lo na quarta. Os outros eu ainda não sei, vai depender do ritmo que eu escrever esse. A medida que for postando, vou avisando.
É isso, gente. Acabou, mas não acabou, porque eu volto com mais um pouquinho de MMHS pra vocês.
Até muito breve. Obrigada por tudo.