Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 30
Cracks in Mr. Perfect


Notas iniciais do capítulo

!!!!!!AEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!
VOLTEI!!!!!!
Nossa, eu não tenho nem cara para começar essas notas. Mais de um mês dessa vez. Mas posso me defender alegando que: EU TENTEI. Tentei mesmo, gente, cumprir a minha meta de postar outro capítulo ainda durante as férias e deixar vocês felizes. Mas não rolou. Para os que me acompanham na famigerada rede social de 140 caracteres (twitter) (marca lá: @ifimoonshine), viram que minha última semana de férias acabou virando a PIOR SEMANA DO ANO. Vocês sabem que eu só tive duas semanas de folga, uma eu realmente fiquei quieta em casa relaxando, e na outra eu tive que resolver aproximadamente 88 BILHÕES de pendências da escola e do cursinho. Eu tive inclusive inúmeras crises nervosas nesse último mês (agosto mês do desgosto) (pior mês) (inferno astral), porque eu tava vendo tudo escorrer pelas minhas mãos, e eu ainda tinha prova logo na volta às aulas e não tava conseguindo fazer nada PORQUE A MINHA CABEÇA NAO FUNCIONAVA. Enfim, breve panorama do meu momento de crise, mas agora eu estou aqui com capítulo novinho e fresquinho para vocês!!!! Acho que, apesar do início meio turbulento, vocês vão gostar. Eu tava com saudades do amorzinho Fannie e resgatei ele com força aqui. Leiam e tirem suas próprias conclusões.
Música do título: "Cracks in Mr. Perfect" do Ne-Yo (rei do RnB) (rei da minha pré adolescência) e música do capítulo "Mad", também do Ne-Yo (aliás, eu nunca superei esse clipe) (spoiler alert: ele morre para salvar uma criancinha de ser atropelada).
VEJO VOCÊS NAS FINAIS!!!!!!



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“Baby, I know sometime it’s gonna rain

But, baby, can we make up now?

‘Cause I can’t sleep through the pain

Girl, I don’t wanna go to bed mad at you

And I don’t want you to go to bed mad at me

Oh, no, no”

Annie não havia conseguido pregar os olhos desde que chegara do Señorita. Finnick, ao contrário, parecia morto a seu lado, e, salvo os suaves movimentos de seu peito a medida que ele respirava, Annie talvez tivesse de se preocupar em levantar dali e assinar o atestado de óbito do namorado.

Annie costumava mesmo ser a última a dormir depois de uma noitada. Ela sempre ficava com muita coisa na cabeça, e sempre demorava a desacelerar a mente. Mas, naquele momento, uma lembrança específica cutucava seu cérebro e ela não sabia dizer ao certo porque estava tão incomodada com aquilo.

O encontro com Clove. Não tinha acontecido nada demais, mas ao mesmo tempo Annie sabia que tinha, sim. Annie não sabia disso, mas eu e você sabemos muito bem que era isso que Clove fazia de melhor: enlouquecer as pessoas. Ela nunca era verbalmente clara sobre suas intenções, mas sempre dava seu jeito de ser mais sincera do que uma explicação falada jamais seria. Mas, ao mesmo tempo, ainda deixava uma série de pontos de interrogação da cabeça de quem estava ao seu redor. Era sempre assim. Era o que ela gostava de fazer. Mas Annie ainda não sabia disso. Ela só sabia que havia algo errado, mas ao mesmo tempo tinha medo de estar ficando paranoica agora que tinha Finnick de volta. Excesso de cuidado. Medo de fazer uma burrada novamente e perde-lo mais uma vez. Annie não sabia se estava tendo uma crise de preocupação, uma reação exagerada, ou se realmente estava certa em desconfiar de algo estranho no ar.

Annie tentou pensar racionalmente. Antes de decidir se estava mesmo perdendo a mão nos pensamentos catastróficos, ela precisava entender o que estava motivando todo o seu incômodo. O que seria esse “algo estranho no ar” perturbando-a, porque aí sim ela poderia avaliar com mais clareza se estava tendo uma crise nervosa pelos motivos certos.

A primeira possibilidade, e a mais óbvia – e a mais certa, mas Annie ainda não sabia disso. - era a de que Clove e Finnick já tiveram algo. Não era impossível. Ela era bonita, sexy, atraente. Finnick também. Os dois estavam solteiros, pelo que Annie sabia. Finnick com um coração partido no peito, coração partido por ela própria. Era a combinação perfeita. E agora que ela pensava na possibilidade, Annie podia sentir sua intuição gritando e arranhando-a de dentro para fora, dizendo-lhe que ela estava certa. O que a levava a um segundo ponto: Por que ele não falara nada?

“Pelo mesmo motivo que você não contou sobre o Cato.” Uma vozinha maliciosa sussurrou em seu ouvido, e ela sentiu como se tivesse levado um tapa imaginário na cara. Ela sabia que não podia cobrar de Finnick sinceridade a respeito do tempo que eles passaram separados se ela mesma não tinha sido sincera com ele. E não fora por maldade. Era só que... eles estavam tão bem, e tudo estava fluindo tão facilmente que ela nem se lembrava de tudo que acontecera antes. Ela nem se lembrava que houve um tempo em que ela e Finnick não estavam juntos. Parecia tão certo estar com ele que ela nem se incomodava em pensar em uma realidade onde isso não era verdade. Era perda de tempo. Eles não iam se separar mais. Na verdade, nem quando estiveram longe um do outro eles haviam se separado de fato.

Annie levantou, tomando cuidado para não acordar Finnick – não que isso fosse realmente acontecer, independente do quão brusco o movimento de Annie fosse. – e sentiu os pés nus tocarem o chão frio do único quarto da casa de Finnick. Eles estavam sozinhos, porque Peeta tinha ido dormir com Katniss Deus sabe onde. Não que isso fizesse diferença, porque no estado de semi morte no qual Finnick se encontrava, eles jamais conseguiriam se aproveitar da casa vazia.

Annie cambaleou até a porta e empurrou a maçaneta para baixo, dando de cara com o curto corredor que ligava o banheiro à sala. Ela andou até o banheiro e acendeu a luz, apertando os olhos assim que a claridade encheu o cômodo. Ela se encarou no espelho, parecendo decepcionada com as leves olheiras que ameaçavam aparecer e o cabelo desgrenhado. A testa estava franzida e as sobrancelhas unidas acima dos estonteantes olhos verdes, a expressão de preocupação tencionando o lindo rosto. Tinha algo errado, tinha algo errado, tinha algo errado! Ela esfregou o rosto nas mãos e sentiu uma agitação formigar em seu peito, migrar para os membros até que ficar parada se tornou insuportável. Ela abriu a porta com um pouco mais de força do que necessário e caminhou pelo corredor, prestando mais atenção que o necessário a seus passos na tentativa de controlar o fluxo de irritação que tentava veemente convencê-la de que a melhor reação seria atirar alguma coisa na parede.

Ela chegou na sala, mas continuou andando até a cozinha, pensando que a melhor maneira de descontar sua frustração era comendo alguma coisa. Pelo menos assim ela se manteria ocupada. Annie abriu o armário do lado da minúscula bancada da pia procurando alguma coisa semi pronta para fazer e achou o típico prato da dispensa dos universitários: miojo.

Quanto a isso, Annie era fresca. Ela detestava miojo; o tempero e aquela água nojenta que sempre sobrava no prato depois que você termina de comer o macarrão. Ela empurrou a porta do armário, a raiva agora dobrada diante das escassas opções de comida, mas imediatamente se arrependeu devido ao barulho que o impacto causara. A última coisa que ela queria naquele momento era que Finnick acordasse e a pegasse naquela situação lamentável. Ela não estava preparada para as perguntas que ele faria, e também não sabia se seria capaz de mentir ou disfarçar seu incômodo quando ele as fizesse.

Ela abriu a geladeira e achou uns restos de comida congelada dentro de uns potes plásticos. Ela abriu os potes cuidadosamente. Arroz, feijão e peito de frango – e ela tinha certeza que isso era de Peeta, que recentemente havia entrado em um projeto maromba. Só faltava a batata doce -. Annie tirou a comida e montou um prato, perfeitamente ciente que aquele provavelmente seria o almoço do dia seguinte, mas sem se importar nem um pouco com essa perspectiva. Ah, ela podia levar Finnick para almoçar fora no dia seguinte. Ela podia mandar entregar um carregamento de peito de frango, batata doce e Whey Protein caso Peeta reclamasse de ela ter comido seu almoço. Ela só precisava mastigar alguma coisa.

– Amor? – Ela ouviu uma voz rouca de sono chama-la e quase derrubou toda a comida no chão tamanho o susto que levou. – Está tudo bem?

– Ai, meu Deus, Finnick. – Ela disse, colocando a mão no peito e respirando fundo algumas vezes para estabilizar a respiração. – Que susto.

– Annie? – Finnick estreitou os olhos e parecia estar contendo um sorriso. – É impressão minha ou eu acabei de te pegar assaltando a geladeira?

Annie lançou um olhar para seu prato feito pela metade e para os potes de comida abertos que repousavam inocentemente a bancada da pia.

– Não! – Ela negou. – Não é bem um assalto. – Ela tentou se justificar. – Essa comida não é do Peeta, é?

– Era nossa. – Ele disse sorrindo e se aproximando dela. – Mas pode comer, se quiser.

Annie encarou os potes, subitamente perdendo a vontade de engolir toda a comida do mundo que ela ostentava trinta segundos atrás.

– Amor? Está tudo bem? – Ele repetiu, diante do silêncio da namorada. Finnick tocou seu rosto e puxou-a mais para perto. Logicamente, Annie não resistiu, e se deixou ser engolida pelo abraço do loiro. Ele tinha um cheiro tão bom. Tão, tão bom.

– Não sei. – Ela respondeu, sincera. A madrugada costuma ter um efeito semelhante ao da bebida nas pessoas.

– O que houve?

– Eu não queria ter te acordado. – Ela murmurou contra o ombro de Finnick, ainda com o pescoço enterrado na curva de seu pescoço. Annie intensificou o aperto contra as costas nuas dele. – Volta a dormir. Você está cansado.

Ele se soltou do abraço e segurou o rosto dela entre as mãos, parecendo preocupado.

– Fala comigo. – Ele pediu, e se ela já não estava planejando resistir por muito tempo, sua negação iria durar ainda menos com Finnick a encarando daquele jeito.

Ela segurou a mão dele em seu rosto. De repente, se viu tão necessitada da presença dele, de seu toque. De estar perto dele. Não no sentido sexual, nem mesmo um beijo. Só saber que ele estava ali. Com ela.

– Não aconteceu nada. – Ela tratou de tranquiliza-lo, e se soltou dele, andando na direção da comida para terminar de montar seu prato e recuperando a compostura. Talvez fosse a hora de tentar arrancar alguma coisa de Finnick, então ela tratou de se recompor e pensar na melhor maneira de iniciar o assunto. – Eu conheci a Clove hoje.

Então tinha acontecido tudo, Finnick pensou.

Ele esperou que ela continuasse e ela esperou que ele dissesse alguma coisa. Os dois se encararam por um instante, e o silêncio desconfortável que surgiu quando o nome de Clove foi citado já disse tudo sobre as desconfianças que rondavam a cabeça de Annie.

Clove certamente ficaria extremamente orgulhosa se soubesse que a simples menção de seu nome gerava tanta comoção.

– Ela foi legal comigo... – Annie acrescentou, enfiando o prato pronto no micro-ondas e programando-o para tocar em dois minutos. – Mas ela é... – Annie mordeu o lábio, procurando a palavra certa. – esquisita. – Claramente aquele não era o termo ideal, mas Annie não conseguiu pensar em nenhum melhor.

– Ela não é muito de falar abertamente sobre as coisas. – Finnick respondeu, cuidadoso.

– Tem alguma coisa que ela deveria falar abertamente para mim? – Annie rebateu, cruzando os braços na frente do corpo e encarando o loiro.

Finnick desistiu. Eram cinco e quarenta e três da manhã e já era possível ver os primeiros indícios do amanhecer no fundo do horizonte. O ar já cheirava diferente e o azul profundo da madrugada já começava a se abrir nos cantos do céu. Ele estava cansado e sabia que já devia ter sido honesto com Annie sobre o tempo que eles passaram separados há muito tempo. Ele sabia que ter levado Annie ao Señorita sem ter lhe contado sobre tudo fora um erro colossal, uma tremenda falta de sensibilidade. E ele sabia que a possibilidade de a merda espirrar no ventilador era enorme. E aconteceu. Era a hora de ele lidar com isso como um homem adulto.

– Não. Não ela. Eu, sim. – Ele respondeu, e Annie encarou o teto, se preparando para ouvir o que já sabia ser verdade.

– Você já ficou com ela. – Ela completou, facilitando para ele.

– A gente não estava mais junto. Eu e você. – Ele disse.

– Eu sei. – Ela respondeu e suspirou. – Por que ela foi tão simpática comigo? Parece que ela fez questão de puxar assunto depois que eu me apresentei.

Finnick não conseguiu conter um sorriso.

– Ela é assim mesmo... – Ele começou

– E por que você está sorrindo? – Ela perguntou, entre dentes.

A clara demonstração de cíumes de Annie fez Finnick querer sorrir ainda mais, mas ele decidiu não provocar. Eles estavam tendo uma conversa séria, no fim das contas.

– Porque eu fui um idiota. Eu devia ter te dito, principalmente se eu pretendia te levar para o mesmo lugar onde ela estaria. E principalmente porque eu conheço a Clove e sabia que ela não ia perder a oportunidade de brincar um pouquinho com você.

– Ah, e aí você me deixa fazer papel de idiota na frente da garota que você beijou enquanto não estava comigo? – Ela elevou o tom de voz, a raiva latejando em seu peito.

Finnick ficou calado. Não tinha o que dizer sobre aquilo, na verdade.

– Você sabe que a garota ia querer pisar em mim e você mesmo assim não me diz nada? – Ela perguntou, os olhos faiscando. – Você vai me levar pro mesmo lugar em que ela está, você conhece ela o suficiente para saber que ela vai querer rir da minha cara e mesmo assim você não abre a porra da boca?

– Desculpa. – Ele disse, porque sabia que essa era a única coisa cabível a ser dita no momento. – Desculpa, eu fui idiota, eu vacilei, eu não dei a importância que isso realmente tinha.

– O meu problema não é você ter ficado com ela. – Annie continuou. – Na verdade é, sim, mas eu não tenho o direito de me irritar com você por isso. Mas você nem ligou pro que podia acontecer hoje.

– E o que você pretendia fazer se soubesse? – Finnick perguntou.

– Não sei. Nada, na verdade. Só ia ter me poupado muito estresse. Ia ter me poupado uma noite sem dormir pensando no que o jeito e as coisas que ela me disse significavam. Você acha que eu sou idiota, Finnick? Eu percebi que tinha alguma coisa errada desde que ela esticou assunto comigo. Se eu soubesse do que aconteceu entre vocês, pelo menos eu não ia ter ficado esse tempo todo pensando no que diabos estava acontecendo. Ah, e podia também ter me poupado uma cara de tacho na frente dela, o que não ia doer nenhum pouco, se você quer saber a verdade. – Annie disse, num fôlego só. Ela respirou fundo, e de repente parecia que o ar na sala não era suficiente para encher seus pulmões satisfatoriamente.

Annie sempre teve uma visão muito distorcida sobre seu relacionamento com Finnick. Às vezes ela esquecia que ele era tão de carne e osso quanto ela, e tão passível de cometer erros quanto ela era. Mas como tinha sido ela quem errou primeiro e quase pôs tudo entre eles a perder, ela ainda tinha aquela ideia de que Finnick era o santo da relação e ela era a viciada em recuperação que podia meter os pés pelas mãos a qualquer momento novamente.

Era quase como se ela se policiasse o tempo todo para tentar ser tão perfeita como ele sempre fora, agora que estava tendo a segunda chance para fazer tudo funcionar direito. Exceto pelo fato de que Finnick não era perfeito.

Estava bem perto disso, mas ainda não havia chegado lá.

Ele sacudiu os ombros.

– Eu não posso te dizer nada além de te pedir desculpas, e não acho que isso vai te deixar com menos raiva agora. Eu só quero que você saiba que a última coisa que eu queria era te magoar. Eu só fui um cabeça de vento mesmo.

Ela tentava se convencer de que já havia feito coisa pior, e mesmo assim ele a perdoara. Mas, pela primeira vez, esse pensamento não conseguiu aplacar a pontada de raiva que insistia em golpear seu peito quando ela pensava no que Finnick tinha feito. Não era como se eles fossem terminar por conta disso, mas ela precisava de alguns minutos sozinha até estabilizar seus sentimentos novamente.

– Quer ficar sozinha agora, não quer? – Ele perguntou, dando alguns passos para trás.

Silêncio. Annie encarou os braços cruzados na frente do corpo. Soltou os membros lentamente, sentindo uma ligeira dor nos músculos por ter mantido a posição contraída durante tanto tempo. Encarou a camisa de Finnick que cobria suas coxas até a metade, pensando em como aquilo representava o mais perfeito clichê do casal feliz. Ela usando a camisa dele. Aquela imagem não combinava em nada com o cenário da discussão que os dois acabaram de ter.

– Vai deitar. – Ela disse. – Daqui a pouco eu vou pra cama também.

Finnick entendeu o recado. Aquele era o “sim” de Annie para sua pergunta anterior.

Ele assentiu e saiu da cozinha, porque sabia que não havia nenhuma outra coisa que pudesse fazer no momento. Ele conhecia Annie o bastante para saber que ela não era muito do tipo que resolvia os problemas com muita conversa. Depois que o que precisava ser dito era dito, não havia mais o que fazer além de esperar que ela colocasse os sentimentos no lugar.

Annie pegou seu prato e começou a comer, sentindo um vazio por dentro. Ela ainda estava irritada, mas queria perdoar Finnick logo porque a perspectiva de ficar chateada com ele lhe cansava só de pensar. Ela não se sentia disposta a gastar energia guardando rancor, mas ao mesmo tempo não queria facilitar as coisas para ele. Ele tinha vacilado e ela não queria que ele pensasse que podia fazer qualquer coisa porque ela o perdoaria.

Por outro lado, ela pensou como seria se ele não tivesse facilitado as coisas para ela. Apesar de não querer agir como se devesse algo a Finncik, ela não conseguia deixar de pensar que ela havia feito muito pior e mesmo assim ele a aceitara de volta. Porque ele a amava. Não era como se coisas assim fossem virar rotina. Ela conhecia Finnick o bastante para saber que ele não ia se esconder atrás do fato de que ela errara primeiro para justificar seus próprios erros (que, para ser sincera, quase nunca aconteciam.).

Ela terminou de comer, meio sem vontade, sentindo que não havia jeito de escapar do que sentia. Ela podia até querer se fingir de brava por mais tempo para manter a moral, mas Finnick tinha o irritante costume de despertar sentimentos intensos demais em Annie para que ela pudesse agir racionalmente. Como já passava das seis da manhã, ela decidiu que não valia mais a pena manter a compostura.

Por Finnick, valia a pena ser trouxa de vez em quando.

Ela caminhou até o quarto e abriu a porta, encontrando-o virado de costas para a porta, encarando a parede. Ela não podia ver seu rosto, mas sabia que ele estava acordado. Na verdade, do jeito que ele conseguia ser teimoso quando queria, ela desconfiava que ele seria capaz de ficar acordado até ela voltar e dizer-lhe que estava tudo bem.

Pelo menos ela não planejava mantê-lo de olhos abertos por mais muito tempo.

Ela se enfiou na cama e o abraçou por trás, esticando o lençol sobre o corpo dos dois. Annie sentiu o peito de Finnick subir e descer devido a respiração pesada que ele acabava de soltar ao se dar conta de sua presença e sorriu. No fim das contas, ela ainda queria ele por perto. O mais perto possível.

– Eu costumava ser durona e rancorosa, mas você me transformou na maior das otárias.

Ela sentiu o peito dele se mover abruptamente com uma risada.

– Isso significa que eu estou perdoado? – Ela ainda não conseguia ver seu rosto, mas o sorriso no rosto de Finnick parecia evaporado para o estado gasoso e contagiado o ar que ocupava o quarto. Annie podia senti-lo enquanto respirava.

– Infelizmente, sim. Eu queria mesmo te assustar e ficar com raiva por mais tempo, mas eu estava doida para voltar para cá para dormir com você.

Finnick se moveu, girando o corpo até ficar de frente para Annie, seu rostos o mais próximo possível sem que os narizes se tocassem. Mesmo no escuro, os olhos de ambos pareciam brilhar. Era quase como se as íris verdes dos dois, se encarando em um profundo estado de contemplação, fossem as únicas coisas capazes de se manter coloridas na falta de iluminação.

– Eu amo você. Me desculpa. – Ele disse, segurando o rosto dela entre as mãos.

– Eu também te amo. Está tudo bem. – Ela colou seus lábios nos dele por um segundo. – Agora a gente pode dormir, por favor? Discutir com você me deixa muito cansada.

– A maioria dos casais comemora reconciliação com sexo. – Finnick disse, sorrindo sugestivamente.

– Sem condições, Finnick Odair. – Annie respondeu, fechando os olhos impacientemente, mas, no fundo, tentando conter um sorriso.

Esse era um dos motivos pelos quais ela o amava, afinal.

– A gente já esgotou nossa cota de sexo de reconciliação naquela área de serviço. – Ela continuou. – Só Deus sabe o que pode acontecer dessa vez e eu realmente não estou preparada para estripulias a essa hora da madrugada.

Ele riu e beijou a ponta do nariz de Annie.

– Está bem. – Ele concordou, e ela se virou de costas de maneira a se encaixar nos braços de Finnick. Ele apertou os braços em volta da fina cintura de Annie e enterrou o rosto no pescoço da morena, aspirando seu tradicional perfume cítrico. – Boa noite.

– Boa noite, meu amor. – Ela disse, fechando os olhos e já caindo na inconsciência antes mesmo de colocar o ponto final na frase.

~~

– Em nome de Jesus, Primrose Everdeen abaixa esse som! – Katniss gritou, enquanto caminhava apressada pela sala para chegar até a cozinha.

– Quê? – A voz da loirinha respondeu, quase sumida entre os acordes da música que estourava através da porta semi aberta de seu quarto, no corredor da estonteante cobertura dos Everdeen.

– Abaixa esse som! – Katniss berrou mais uma vez, agora com a cara enfiada na esquina do corredor, tentando ser tornar audível no meio dos agudos de Beyoncé na parte final de Love on Top.

A música magicamente diminui seu volume pela metade, e Katniss suspirou com o alívio proporcionado aos ouvidos.

– Desculpa. – A loirinha surgiu no corredor. - Nem sabia que você estava em casa.

– O Peeta está aí também. – Obviamente, Katniss não fazia ideia do efeito que essa frase causava na irmã. Para ela, isso não passava do cumprimento da cláusula do Código de Ética das Pessoas que Dividem uma Casa que determina que você precisa avisar às pessoas quando tem visita em casa para que elas não passem pelo corredor de pijama – ou, em casos extremos, até mesmo peladas - ou reproduzam situações tão vergonhosas quanto.

– Ah, tá. – Prim reagiu, o tom certo de indiferença na voz. – Daqui a pouco eu vou lá falar com ele.

O celular de Katniss apitou em sua mão e ela desbloqueou a tela para abrir a mensagem. Era Annie. A amiga já havia contado brevemente sobre a discussão que tivera com Finnick na madrugada anterior, mas agora mandava uma foto dela com Finnick para mostrar que estava tudo resolvido. Katniss sorriu para a tela do aparelho e virou-o para Prim, que sorriu também. Era meio impossível não se deixar contagiar pela fofura de Finnick e Annie juntos.

A morena correu para a cozinha, onde Peeta estava metido há alguns minutos.

– Vem cá. – Katniss disse, assim que pisou no cômodo e encontrou Peeta fuçando a geladeira.

Peeta a encarou, confuso por um instante. A morena caminhou até ele com o celular na mão, o braço estendido como se fosse tirar uma foto dos dois.

– Vem, tira uma foto comigo. – Katniss pediu, fazendo uma careta para o aparelho. Mesmo confuso, Peeta atendeu o pedido da morena, beijando sua bochecha para que a foto ficasse no melhor estilo “casal”.

– Pra quem é isso? – Ele perguntou, fechando a geladeira com um pote de manteiga na mão.

Katniss virou a tela do celular para Peeta, mostrando a foto de Finnick e Annie. Como em relação a tudo que envolvia o relacionamento do amigo com Annie, Peeta não esboçou reação. Já era uma evolução da tendência que ele tinha de sempre fazer uma careta, mas ultimamente ele vinha tentando ser uma pessoa mais espiritualizada e menos ranzinza. Ele não concordava com a volta de Finnick e Annie desde que ela acontecera, mas sabia que o amigo ficava feliz ao lado de Annie e que ficar longe dela lhe custava muito. Mas ele não concordava. Ele ainda tinha a sensação que ela estava pronta para passa-lo para trás e fazê-lo sofrer de novo. E de novo. E de novo. E mais uma vez. Porque, na cabeça de Peeta, alguém que terminava um namoro pelos motivos que Annie terminara com Finnick não podia realmente amar ninguém.

Katniss guardou o celular e encarou Peeta por um momento. O loiro se abaixou e abriu o armário da dispensa, procurando alguma coisa como se Katniss não tivesse lhe dito nada.

– Você não consegue, né? – Katniss perguntou, sentando-se na bancada de inox mais próxima da dispensa. Sim, eram várias bancadas. A cozinha da casa de Katniss elevava a palavra “enorme” a outro nível.

– Não consigo o quê? – Peeta perguntou num tom de falsa inocência que cutucou as entranhas de Katniss.

– Pelo menos fingir que está feliz pelo Finnick.

– Eu não preciso fingir nada se ele sabe que eu não concordo com isso.

Katniss revirou os olhos.

– Não você quem tem que concordar ou discordar. Eles estão felizes juntos. E não é seu papel fazer cara feia sempre que se menciona algo sobre eles dois. – Ela disse, séria. Um dos pontos que mais a irritava em Peeta era sua infantilidade na maneira de lidar com as situações desconfortáveis, especialmente as pessoas que ele não gostava. Custava agir como um adulto e não ficar revirando os olhos o tempo todo?

– Desculpa. – Ele disse, na defensiva, erguendo o corpo e virando de frente para Katniss, interrompendo a busca do que quer que procurava no armário da dispensa. – Mas ele é meu amigo. Eu não consigo ver meu amigo fazendo merda e ficar totalmente normal quanto a isso.

Katniss bufou numa clara demonstração de impaciência.

– Ele está feliz. Você não vê isso?

– Ele está feliz agora. E quando ela fizer merda de novo?

– Ela não vai. Ela se arrependeu. – Katniss disse, teimosamente, defendendo a amiga. Ela sempre ia a extremos para proteger quem amava, mesmo que quem tivesse no ataque fosse alguém que ela também amava.

Peeta ergueu as sobrancelhas e fechou os olhos, numa expressão que deixava clara sua descrença na modificação sincera das atitudes de Annie.

– De qualquer maneira, não é você quem tem que se preocupar com isso, muito menos nesse momento que está tudo bem entre eles. – Katniss continuou, fincando pé.

Peeta deu de ombros.

– A gente está mesmo brigando por causa da Annie e do Finnick? – Ele perguntou, parecendo impaciente.

Katniss desviou o olhar e colocou o cabelo atrás da orelha. De fato, não fazia muito sentido. Mas ela sentia que precisava falar sobre isso, porque esse era apenas um dos exemplos de como Peeta ficava insuportável quando precisava lidar com qualquer coisa que não fosse de seu agrado.

Ela assentiu.

– Tá. Vamos deixar de besteira. – Ela encerrou o assunto, ainda contrariada, mas desistindo de tomas qualquer atitude mais efetiva. Não que houvesse muito o que fazer. Peeta tinha a personalidade forte, e ela sabia disso desde que os dois começaram a ficar juntos. Aliás, esse fora um dos motivos pelos quais ela se apaixonara por ele. Ele contrastava com seus próprios traços calmos e conciliadores. – O que você estava procurando?

– Leite condensado. – Ele respondeu. – Eu queria fazer beijinho, mas era pra ser surpresa pra você.

Katniss sorriu com a ternura do gesto. Peeta podia ser difícil de lidar. Chato, mandão, cabeça dura. Mas, quando decidia surpreender, podia ser mais romântico do que um príncipe de conto de fadas jamais pensara em ser.

Não que Katniss fosse difícil de agradar. Como podemos testemunhar, um simples prato de seu doce caseiro favorito já conseguia derreter seu coração. Mas isso não significa que Peeta não estivesse disposto a fazer coisas mais elaboradas para deixa-la feliz.

– A gente pode fingir que você não falou nada. Eu fico lá no sofá, vendo TV e quando você aparecer com um prato de beijinho fumegando eu faço cara de surpresa.

Peeta sorriu e se aproximou da morena, que abriu as pernas para encaixá-lo próximo de seu corpo. Ele colou seus lábios nos dela que sorriu durante o discreto selinho que trocaram.

– Hmm, beijinho no café da manhã, eu amo. – Prim anunciou, surgindo na cozinha como se tivesse brotado do chão. – Bom dia, pessoal.

– Sai daqui. – Katniss respondeu, agarrando Peeta mais firme entre suas pernas. – É o meu namorado que vai cozinhar, então a comida é toda minha.

Involuntariamente, Peeta e Prim trocaram um olhar diante da menção da palavra “namorado”. Rápido e rasteiro, mas nenhum dos dois ignorou. Aliás, a única no recinto a ignorar a comunicação silenciosa foi Katniss.

– Você nem aguenta comer um pote de doce inteiro, sua palhaça. O que sobrar fica para mim.

– Você pretendem deixar alguma comida para o cozinheiro? – Peeta perguntou, rindo.

– Meu amigo, essa casa é tipo os Jogos Vorazes. É de quem pegar primeiro. – Prim respondeu, descascando uma banana resgatada da fruteira e encostando-se na parede vermelha do cômodo.

– Vou acabar ficando só com a sobra que grudar na colher de pau. – Ele reclamou.

– Não reclama que lamber a colher é a melhor parte. – Prim disse. – E ninguém mandou falar de comida enquanto eu ainda estava aqui. Agora se virem. E, por favor, me chamem quando a mesa estiver pronta. – A loirinha ordenou, retirando-se da cozinha e deixando o casal sozinho novamente.

– Folgada! – Katniss gritou, rindo. – Acho que se você for bem silencioso, dá pra gente cozinhar e comer tudo antes que ela perceba. – A morena acrescentou, agora com o tom de voz mais baixo.

– Fechado. – Peeta concordou, sussurrando também.

Bom, pelo menos agora ele estavam brigando apenas por comida. Com essa discussão, todos já estavam acostumados.


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Notas finais do capítulo

E AÍ???
Breve historinha: Eu tive muita dificuldade de escolher uma música para esse capítulo, e como sou uma pagodeira de marca maior (vocês sabem), pensei em colocar Insegurança, do Pixote, que também tem tudo a ver com essa situação (Essa noite notei que você demorou pra dormir/ Caminhou pela casa e ligou a TV/ Eu ouvi/ Você sussurrando, chorando baixinho pra não me acordar/ Se estiver precisando de um amigo pra desabafar/ Se for alguma coisa comigo vamos conversar/ Eu não quero correr o perigo de um dia você me deixar). Falei com a minha queria leitora e amiga Thay e ela disse que ia adorar (e eu também), mas acabei achando essa do Ne-Yo, que dava conta melhor do que eu queria dizer. De qualquer maneira, deixo aqui Insegurança como a música alternativa desse capítulo, porque a Thay disse que ia adorar e que mesmo que eu escolhesse outra canção, Insegurança ia ser a oficial desse capítulo para ela. Ouçam (se quiserem, claro) (sei que poucos entendem meu lado pagodeira).
Enfim, voltando ao capítulo, eu queria muito resgatar o amor Fannie, porque estava com uma puta saudade dos momentos fofinhos desses dois desgraçados, mas não sabia como. Aí pensei: O que o povo mais gosta nesse mundão das fanfictions? RECONCILIAÇÃO DE BRIGA DE CASAL!!!!!!!!! Então coloquei um leve atritinho com uma reconciliação fofinha depois. Eu, particularmente, adorei. Eu amo esses dois. Ainda bem que eles estão juntos de novo.
E sobre Peeniss: só digo isto: não digo nada. O que acharam da discussãozinha? Tava na hora de movimentar, né?? Mas também acabei com amor, porque o amor está no ar agora que agosto acabou.
Um beijo enorme e uma mordida na orelha. Vocês são os melhores, sempre!!