I'm Happy Just To Dance With You

Como sempre, sozinha. Sozinha na mesa, sozinha ao beber, sozinha e perdida em sua mente atolada de pensamentos. Talvez Julia só precisasse de um bom porre para esquecer a vergonha que estava sentindo do vampiro que residia naquela casa.

"Sexo oral? Realmente, Julia!" ela se repreendia. Não se sentia capaz de encará-lo novamente, não do mesmo jeito, pelo menos. Elizabeth insistira que ela fosse ao baile e ali estava ela. Arrumada, elegante, linda e murcha. Não sentia vontade de fazer nada. Dançar, comer, levantar e fumar um cigarro lá fora...Nada lhe era atraente o bastante. Quando a médica voltou para o mundo real, milhões de casais dançavam na pista de dança e ela apenas sentia nojo de tudo aquilo. 'Amor' era uma coisa que Julia havia aprendido a detestar, mas que não havia parado de sentir. Barnabas tinha despertado o amor nela, mas Julia não alimentava qualquer esperança para com ele. Geralmente, a presença dele já a alegrava. Ela não precisavade muito para sorrir perto dele - geralmente um mísero 'Bom Dia' já lhe era satisfatório - e se sentia bem com isso. Talvez os dois virassem bons amigos, ela teria a intimidade de lhe fazer perguntas e de lhe tocar algumas vezes. Talvez até tivessem um pequeno romance - essa possibilidade era absurda na mente de Julia, mas ela gostava de se imaginar coberta com o corpo do homem - ou talvez Julia estragasse tudo, como fez na ultima sessão de transfusão, apresentando-lhe o conceito de confidencialidade entre médico e paciente. Ela suspirou pesadamente. As consequências foram as piores, mas Julia bem lembrava da maravilhosa sensação de ter Barnabas gemendo seu nome baixinho. Ela sorriu levemente e bebeu do copo em sua mão. Ela encarou o salão e viu um par de olhos lhe devolvendo o olhar, caminhando em sua direção. Ela engasgou e tentou ajeitar o vestido o máximo que pôde ao se levantar.Barnabas sustentava um olhar calmo e se aproximou de Julia.

- Posso ter a honra de lhe tirar para dançar, Madame?

A médica encarou a mão estendida dele e depois seus olhos. Ele parecia não se importar com o que aconteceu e isso fez Julia relaxar um pouco. Ela posou sua mão em cima da dele e Barnabas a puxou para a pista. Traçando o caminho de uma das mãos para a cintura dela, Barnabas observou a mulher lhe colocar a mão sobre o ombro e morder o lábio. Os dois balançaram juntos lentamente, acompanhando o ritmo da música. Embora o amasse - ela já não tinha mais dúvidas quanto a isso. Amava Barnabas e ponto final - Julia não tinha vontade de lhe beijar, pelo menos não naquele momento. Ali, ela estava feliz apenas por dançar com ele. Os dois pares de olhos castanhos de encaravam, num silêncio incômodo. Julia pensou várias vezes sobre iniciar uma conversa, mas ela ainda estava curtindo a sensação de dançar com ele.

- Barnabas, eu tenho que lhe pedir desculpas. Sabe, sobre o que aconteceuem nossa última sessão.

- Sem problemas.

- Puxa, eu estou com tanta vergonha - ela desviou os olhos dos dele - Não precisa ter, Doutora. Está tudo bem.

Os dois se encararam novamente e Julia sorriu. Barnabas nunca tinha tido a oportunidade de ver o sorriso verdadeiro dela, até agora. Aos poucos, Julia começou a relaxar e envolveu o pescoço do vampiro com os braços. Ele puxou a cintura dela e ambos os corpos se arrepiaram com tamanha proximidade. Uma, duas, três músicas... Barnabas e Julia passaram a noite dançando, sem falar muito, apenas sentindo. Sentindo o que há muito tinha ficado claro na mente dele. Ela o amava, embora não exigisse dele absolutamente nada, apenas sua presença. E, embora ele não correspondesse do mesmo jeito, ele sabia que algo na Dra. Hoffman o atraía. Talvez fosse o fato de ela lhe ser completamente devotada e não se importar se ele iria ou não corresponder. Como na dança. Ela não tentou beijá-lo, nem seduzi-lo, muito menos fora a causadora da proximidade deles.Barnabas quis que ela ficasse com ele a noite inteira, apenas lhe fazendo companhia. "Sim" ele pensou "Talvez eu pudesse me apaixonar por ela, também. Não vejo porquê não." Julia era uma moça bonita, culta, educada na medida do possível, quieta quando sabia que não deveria falar, devotada e ela lhe amava. Será que tê-la em sua vida seria tão ruim? Barnabas concluiu que não. A festa já estava no fim, pessoas tinham ido embora e a banda acabara de parar de tocar. Os dois se separaram e o rosto dela se entristeceu. Esquecendo Victoria, Barnabas puxou a médica para fora da pista e lhe arrastou até uma das passagens secretas que ele tanto adorava. Era um quarto pequeno, apenas com um sofá, uma estante e uma vitrola velha. Julia tremeu ao perceber que a porta da passagem havia se fechado. Ele se aproximou dela.

- Quer continuar nossa dança? Ela acenou com a cabeça e Barnabas pegou um disco qualquer que achou na estante. Quando a música começou a tocar, Julia reconheceu imediatamente.The Beatles. Here Comes The Sun. Ele se aproximou dela lentamente e enlaçou sua cintura. Barnabas esperou que ela dançasse com o rosto colado ao seu peito, mas ela não o fez. Envolveu seu pescoço e permaneceu com o olhar nele. Dançando juntos pelo quarto, Julia percebeu que os braços dele estavam cada vez mais apertados em sua cintura e, consequentemente, estava mais perto dele. A médica não podia se iludir. Achar que poderia ser o par que Barnabas ansiava seria se alimentar de um sonho infantil. Ao ver no primeiro dia da estadia de Barnabas seu encontro com Victoria, ela sabia que não tinha chance. Já no final da música, ele deslizou uma das mãos para o rosto dela, acariciando a pele macia e trazendo-a para perto. Ele fechou os olhos e inclinou-se para beijá-la. Julia virou o rosto e, ao invés de encontrar sua boca, Barnabas beijou a bochecha dela. Ele abriu os olhos e a encarou, atordoado.

- Mas eu pensei...

- Eu estou feliz apenas em dançar com você, Barnabas.Não preciso de mais nada. E você não precisa fingir que corresponde ao meu sentimento.

- Mas, Julia...

- Escute. Está tudo bem. Seu coração não me pertence, infelizmente. Eu te amo e vou amar até o final dos meus dias, mas você não é meu, nunca foi. E eu não posso enganar a mim mesma. Eu estou feliz só em dançar com você esta noite. E, acredite, você foi a melhor coisa que já me aconteceu.

Barnabas sorriu tristemente e abraçou Julia. Ela retribuiu o abraço, se agarrando à ele e enterrando a cabeça em seu peito. Barnabas envolveu seu corpo pequeno firmemente, sem querer soltá-la. Quando se separaram novamente, a música ainda tocava.

- Me desculpe - ele sussurrou

- Não há porque se desculpar, querido. Não se pode mandar no coração.

Ele pôde identificar a voz falha e rouca que ela falou, assemelhada à tristeza. Ela sorriu lentamente para ele e se virou para sair.

- Julia, nos encontramos amanhã para nossa transfusão?

- Claro - ela respondeu sem olhar para ele

- Posso lhe pedir mais uma coisa?

Ela se virou para ele.

- Sim?

- Uma última dança.

Na vitrola, I'm Happy Just To Dance With You. Ela não conseguiu negar o pedido dele e logo estava em seus braços novamente.

- Última dança?

- Sim, só mais essa.

Desta vez, eles dançaram sem se encarar, apenas querendo que aquele momento nunca acabasse. Sentindo as generosas curvas do corpo dela com as mãos, Barnabas beijou o topo da cabeça dela e a encarou. Ao acariciar seu rosto, ele sentiu Julia tentar se soltar dele.

- Shii, espere. Última dança, lembra? Podemos finalizá-la bem? Sem futuro, sem depois. Agora, estamos falando do agora.

Julia estava relutante, mas aceitou. Aproximando seu rosto do dele lentamente, Julia fechou os olhos e selou os lábios com os dele. Calma e delicadamente. Foi dessa maneira que eles se beijaram por um longo tempo. Se separando, Julia abaixou a cabeça e se soltou dele. Corando violentamente, ela acenou a cabeça e saiu do quarto pela passagem.Naqueles segundos que Julia foi embora, ele se descobriu apaixonado por ela. Mas não havia mais jeito. Eles já haviam dançado sua última dança.

If somebody tries( Se alguém tentar )

To take my place, ( Tomar o meu lugar )

Let's pretend we ( Vamos fingir )

Just can't see his face. ( Que não podemos ver seu rosto )

In this world, there's nothing ( Neste mundo não há algo )

I would rather do. ( Que preferia fazer )

I discovered I'm in ( Eu descobri que estou )

Love with you. ( Apaixonado por você )

'Cause I'm happy just to ( Porque estou tão feliz apenas em )

Dance with you. ( Dançar com você )