Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 61
Capítulo 61 (depois edito o título)




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/449742/chapter/61

—Eu não quero saber onde vocês estavam! Mas chegaram faltando trinta segundos para fecharem as portas! – Alicia estava uma fera, estaria gritando se pudesse, mas tem que sussurrar pois os testes estão acontecendo e eu acho que posso ver a poça de suor se formando no palco medida que aquele grupo de cinco violinistas tocavam.

—Mas chegamos a tempo! – lembrei num sussurro baixo e discreto, fingindo estar prestando atenção no grupo, e não na minha amiga estressada do meu lado. Acho que nem Steve está conseguindo aguentar Alicia muito bem, sorte do Andrew que se sentou longe dela.

—Faltando pouco para não chegar! – ela lembrou num sussurro bravo e se sentou finalmente direito na cadeira. Bufei e escorreguei na cadeira sentindo os carinhos de Steve na minha mão, que por causa do frio doía um pouco, principalmente porque minha pele que secou.

—Eu adorei ver você tocando – ele sussurrou no meu ouvido, fazendo cocegas e arrancando um riso abafado e tímido meu. Respirei fundo e beijei sua bochecha com carinho também.

—Ainda vou tocar só para você ouvir – aviso num sussurro e num sorriso feliz, ele correspondeu com um beijo na minha mão.

—Vou adorar – sussurrou bem baixinho, ainda mais perto, o que me fez rir e tampar a minha boca. Minhas orelhas são o meu ponto fraco, minha mãe descobriu isso primeiro quando ia me acordar para ir à escola. Me balançar não adianta, mas soprar minhas orelhas? Tiro e queda.

—Será que Mel ainda vai vir? – perguntou Andrew nervoso e olhando para o relógio ainda mais nervoso e ansioso. Mel havia avisado que viria, mas não tinha a certeza se chegaria a tempo. Tinha que gravar uma reportagem do outro lado da cidade cobrindo o trânsito durante o feriado. Repórter parece que nem em feriado tem descanso.

—Eu não sei, mas apenas relaxa – peço com carinho e compreensão, já estive no lugar dele, por isso sei o que ele está passando. Mas ficar ansioso prestes a fazer uma coisa importante como a que estamos prestes a fazer? Nunca dá certo – E nem pense em mandar uma mensagem ou ligar para ela – aviso apontando o dedo e depois me sentando direito.

—Eu só queria que ela estivesse aqui para assistir, só isso – ele justifica, e sei muito bem disso. Steve esteve duas das minhas três audições, e essa única fez falta porque segundo meus amigos foi a melhor de todas. Mas só de lembrar disso... Já me faz triste.

Não há nada que eu possa fazer para ajuda-lo, nada mesmo. Esse tipo de saudade é inevitável, descontrolada e catastrófica. Ele vai ficar olhando para a porta e para o relógio, quando nada disso vai faze-la chegar mais cedo ou sequer chegar.

Mas agora preciso de foco. Isso, foco! Esse grupo está sendo fortemente avaliado pelo diretor, e sei que o maestro está aqui, Alicia comentou isso enquanto nos dava a bronca. Sei que para me sair bem, preciso demonstrar confiança, e confesso que não estou nada confiante.

Os efeitos da minha loucura vinte minutos atrás ainda me faz sorrir e me faz feliz, porém não sei se é o motivador certo. Digo, toquei para muitas pessoas e adorei fazer isso, porém aqui é nível profissional, onde não há erros e deslizes. E confesso que deslizei várias vezes lá fora.

Treinei muito pouco, o teste ser adiantado tanto assim complicou para mim ter uma chance de passar, e posso dizer que aconteceu a mesma coisa para Alicia e Andrew, não estão nada confiantes que isso vai dar certo. Mas precisamos tentar, não é?

O grupo atual terminou, ninguém aplaudiu (o que não me surpreende), desceram as escadas e se dirigiram para a saída. Me deu um pouco de medo e de pena deles, pois eles saíram tão arrasados e derrotados que foram com o rabo entre as pernas e andando rápido. Isso me fez imaginar fazendo o mesmo, não quero ter motivos para isso.

E o tempo passou, grupos de duas pessoas a sete se apresentaram para o diretor, sua assistente e o possível maestro, todos sentados no mesmo lugar das outras vezes, bem no meio da fileira horizontal mais distante do palco, quase não dava para vê-los por causa da distância e das luzes que iluminavam o palco que saíram logo acima deles.

Alicia se acomodava cada vez mais desconfortável na cadeira ao meu lado, totalmente nervosa e aterrorizada. A gente devia ter escutado ela e ter treinado mais ontem, mas do que adiantaria se estivéssemos cansados agora?

Steve estava quieto do meu lado, mas tentava acalmar Andrew toda vez que ele perguntava para o loiro que horas eram. Andrew poderia olhar para seu próprio relógio de pulso, mas ele entregou para Steve a pedido dele mesmo para que não ficasse olhando a cada segundo. Acho que não adiantou muita coisa.

Não sei o que mais eu posso fazer? Mas acho que não há nada. Minhas unhas estão todas ruídas, meus lábios quase sangrando de tanto puxar pele ressecada pelo vento e o tornozelo doendo de tanto balançar a perna. Eu estava nervosa, e nem Steve também tentando me acalmar funcionava.

Ele dizia para eu me acalmar, que vai dar tudo certo, que eu vou me sair bem e que vamos todos passar para a fase final, mas era exatamente isso que me apavorava, a iminência de mais uma vez disso tudo. De medo de estragar um sonho, de nervosismo para algo que está prestes a acontecer, de ansiedade para terminar logo.

Estou no meio de uma tempestade de sentimentos que não consigo sair. Ou eu quero sair desse teatro e correr para os braços da minha mãe ou quero ficar e rezar para terminar logo. E quando eu estava prestes a sussurrar um pedido de socorro para a minha mãe a milhares de quilômetros daqui, minhas preces que nem fiz foram atendidas.

—Alicia Wonder, Andrew Levine e Laura Teixeira – a assistente os nossos nomes e nem pude evitar o susto. A primeira coisa que fiz não foi pegar o violino, mas olhar para o Steve e sussurrar bem baixinho um pedido de socorro, era para ser para a minha mãe, mas Steve está mais perto.

—Vai dar tudo certo – ele sussurrou bem baixinho também ao ver o meu olhar aterrorizado, e por isso tentou ser o mais confiante possível em tão pouco tempo. Não tínhamos tempo para conversas e frases motivadoras, o tempo para isso já se foi, agora tem que ser no tranco. Ele sorriu antes de se levantar para deixar Alicia e eu passarmos.

Andrew foi na frente com o violino em mãos, estava nervoso e limpou a mão esquerda na calça jeans. Senti a minha mão suando frio também, mas respirei fundo e tratei de me acalmar, por mais que fosse inútil. E Alicia respirava profundamente e mantinha a cabeça em pé. Eu deveria estar tentando o mesmo.

Com o coração seguindo o caminho totalmente errado e chegando na boca, coloquei o pé no palco sentindo o calor daquelas luzes apenas piorar a minha situação nervosa. Eu suava e agora tremo na perspectiva do que vem a seguir.

Tirei o meu violino da capa sabendo que o diretor nos assistia atentos e impaciente, ele já viu muitas outras audições antes e somos quase os últimos, deve estar de saco cheio. E só de lembrar disso, posso acrescentar na minha lista considerável de coisas para me preocupar em apenas dois minutos.

Já estou com o violino em posição, Andrew está colocando o arco nas cordas e Alicia espera por ele. Olho para o maestro, todos nós olhamos. Ele que deve dizer para irmos, fiz a mesma coisa no teste passado e não me arrependo.

Não sei se ele confirmou, é difícil de ver, mas acho que sim. Por isso, Alicia começa a tocar, devagar e delicadamente, com notas suaves e gentis. Eu vou em seguida, acompanhando suas notas e servindo de apoio para que Andrew entre em seguida. Somos cuidadosos com a delicadeza, Lago dos Cisnes pede isso.

Posso dizer que o som que saí aqui é bem melhor do que lá fora, afinal, aqui tem acústica para isso, é um teatro que serviu para inúmeras peças e concertos. Mas acho que não há metade da energia e entusiasmo que eu vi acontecer lá fora acontecendo aqui. Tento meter na cabeça que é profissionalismo que eles pedem, não uma brincadeira como foi lá.

—Ok, podem parar – ouço um homem pedir por isso, não é Steve, mas sim o próprio diretor sentado no seu mesmo lugar, de forma que nem consigo ver o seu rosto.

Medo, ele não gostou. Muito pior do que isso, ele odiou! E lá se vai a minha chance de conseguir uma carreira com isso, terei que ser secretária de Jhones pelo resto da minha vida ou até quando ele ainda aturar a minha cara. Consigo ver o desapontamento dos meus pais escutando a notícia vinda de mim que eu não consegui e estou fora de algo que lutaram para me colocar dentro.

Olho para Alicia antes de olhar para ele. Vejo o mesmo pânico nela, e sei que está em Andrew também. Não sei o que fazer, mas quero gritar para Alicia dizer alguma coisa e perguntar o porquê, afinal, ela não disse que conhecia ele? Peço isso silenciosamente e por meio de um olhar, mas ela não corresponde e deve estar com tanto medo quanto eu.

—Lago dos Cisnes? Jura? – ele é irônico e agora sei que a escolha foi péssima, horrível. Ele deixa isso bem claro pela expressão de nojo no tom que ele fala – Crianças de seis anos aprendem isso. Vamos, eu quero outra coisa – exigente é isso que ele é, e esperto, pois sabe que não tínhamos nenhuma outra música treinada além daquela.

Isso apenas prova da minha teoria que ele só quer os melhores que treinam todos os dias e não esquecem do instrumento como eu e Andrew. Ele quer os melhores que se esforçam e querem de verdade. Nós não queremos, a gente só treinou uma música e deu a desculpa que estava cansado demais para treinar outras. É assim que a gente quer?

Olho para Alicia e depois para Andrew. Os dois estão perdidos e desesperados. Sei que estão pensando em qualquer partitura que eles saibam de cabeça, desesperados. Também estou, mas ele quer alguma coisa e para agora. A gente precisa pensar em algo, agora. Ele quer ouvir alguma coisa boa saindo de gente tão preguiçosa. Quer ser surpreendido. E por isso, surpreendo a mim mesma.

Faço pizzicatos baixos e tímidos, começando uma música que nem existe na minha cabeça. Puxo as cordas com o dedão e deixando o arco de lado. Faço isso várias vezes até perceber na improvisação desesperada e ferrada, que não há jeito de escaparmos de um silêncio perturbador.

Olho para Alicia e Andrew implorando por ajuda. Já fiz muito mais do que é comum em músicas clássicas. Todo mundo sabe que estou enrolando aqui. Alicia está surpresa e Andrew surpreendido, mas começa a tocar em seguida. Notas baixas e simples, mas que aos poucos que se torna uma música improvisada na pior hora possível.

Continuo beliscando as cordas, cada vez mais baixo e termino de vez quando Alicia entra também. Dessa vez com notas agudas e vários vibratos. Ela se esforça e fecha os olhos provando da música, deixando ela a levar para uma coisa que nunca testamos antes. Confesso que improvisei muitas poucas vezes na vida.

Sigo acompanhando Andrew e deixando que Alicia brilhe com notas longas e quase que dramáticas. É linda a maneira como ela toca, puramente e de maneira tão delicada que imagino que sua professora era uma fada. Sorrio e deixo a música me levar junto.

A música é cheia de mistérios e surpresas, surpreendendo até a gente que está tocando. Andrew e eu revezamos no fundo para quem se destacava mais. Mas Alicia deixamos que ela brilhasse com todo o seu poder. E estava funcionando.

A música não estava ruim, mas não estava o nível dos grandes mestres, mas para uma improvisação de violinistas inexperientes no assunto, estava excelente. Toquei com orgulho, com um sorriso no rosto e sentindo uma sensação gostosa de estar fazendo alguma coisa certa e eu ter começado isso. Salvei a gente.

Terminamos e nem quero olhar para eles, mas olho. Não espero suas aprovações, sei que fui bem, surpreendemos a todos, até a mim mesma, me orgulho disso. Descemos as escadas e Steve esperava comigo no corredor, mas Mel também. Abraçou o moreno e seguiu a gente para o lado de fora.

Respirei o ar frio, seco e poluído dessa cidade. Não faço ideia do que eu acabei de fazer, mas só sei que estou louca para contar aos meus pais. Aperto as minhas mãos e lembro do Steve do meu lado a segurando. Ele vê o sorriso enorme no meu rosto e me abraça tão apertado que fico sem fôlego.

—Tudo bem, tudo bem – Alicia começa e rio dela enquanto eu deixava o abraço do loiro com carinho –O que foi aquilo? – ela perguntou sem acreditar e apontando para a porta do teatro. Rimos e eu ainda sentia o meu coração batendo com taquicardia aguda.

—Aquilo foi Laura nos salvando – Andrew respondeu e vejo no seu olhar a gratidão enquanto abraçava a cintura de Mel, com sua roupa formal e estranha, já que eu nunca a vi tão arrumada –Obrigado.

—Também digo a mesma coisa, Laura – Alicia sorri e vejo a sinceridade nela. Sorrio ainda sem conseguir acreditar no que eu fiz. Esse sorriso estupido não saí do meu rosto, e dói.

—Eu estava pensando em agradecer a mim mesma também, porque nem eu acredito que comecei a tocar do nada daquele jeito – conto e todos riem achando graça de mim. Steve deixa um beijo no topo da minha cabeça enquanto ria.

—Eu levei um susto quando ele pediu para vocês pararem de tocar – Steve conta e sei como ele se sente, só que comigo foi pior, obviamente – Mas aí você começou a tocar do nada e eu já sabia que nem tudo estava perdido – ele comenta e sorrio em graça. Agora sei como é ser o centro das atenções. Confesso que estou gostando, mas só um pouquinho.

—Acho que isso merece uma comemoração – comenta Mel e sei o que ela se refere. Vamos sair para comemorar a nossa óbvia carta nos convidando a participar da última fase do teste da orquestra sinfônica de Nova Iorque!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Love Story" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.