Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 1
"As pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem" - Lilian Tonet


Notas iniciais do capítulo

Oi! Ah muito tempo, eu tive ideia de escrever essa fic, mas só agora tive a coragem de postar, kkkkk A história ainda não tem uma capa pois não sou boa nisso, se alguém for e tiver a bondade de fazer uma para mim, eu agradeço eternamente!Espero que gostem da fic, e não esqueça de comentar, viu? Não quero começar a fic com leitores fantasmas, kkkkkkkkObrigada! Beijos!



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–Mãe, pai, calma, são só dois anos, fiquem calmos – eu dizia quase pela milésima vez naquela semana.

–Eu sei minha querida, é que... Você nunca ficou tanto tempo longe da gente – dizia minha mãe chorosa e com a mão no meu rosto carinhosamente.

Meu pai, eu e minha mãe estávamos no aeroporto nos despedindo pela última vez. Lágrimas e abraços transbordavam nossos corações. A saudade dava um aperto cada vez maior no coração medida que o horário do meu voo chegava.

–Pai... – eu o chamei, já que ele não disse uma única palavra do caminho de casa para cá – Eu vou sentir saudade – eu disse o forçando a dizer alguma coisa, qualquer coisa.

Meu pai é um cara durão. Passou por maus bocados para colocar dinheiro dentro de casa, claro que sempre da maneira mais correta possível.

–Também vou sentir – ele disse me puxando para um abraço bem forte. Retribui ao abraço surpresa pelo fato dele me puxar para um abraço e mais surpresa pelo fato que sua voz denunciava que ele se segurava para não chorar. Eu nunca havia visto ele chorar, nem uma única vez.

Olhei para a minha mãe que enxugava as lágrimas de seu rosto vermelho de tanto chorar.

Atenção, voo 6-4-6. Chamada para o centro de embarque – dizia a funcionária pelos alto-falantes chamando a atenção de todos.

–Hora de ir – ele disse me soltando e encarando meus olhos que com certeza estavam aguados – Toma cuidado lá. Não seja rude com ninguém, mesmo que mereça. Toque com o seu coração e lembre-se que no dia de estreia, nós estaremos lá – meu pai disse me segurando pelos ombros.

–Pode deixar pai – eu confirmei o encarando nos olhos.

–Nós te amamos muito filha, muito, muito e muito – ele disse me abraçando novamente.

Minha mãe se juntos a nós num abraço em família.

Assim que nos separamos, encarei os dois rostos chorosos dos meus pais.

–Obrigada pai, obrigada mãe. Por me criar e por cuidar de mim com amor e carinho. Sou imensamente grata – eu disse com as lágrimas caindo sobre meu rosto.

Eles sorriram.

Última chamada para o voo 6-4-6- Por favor, se dirigir a plataforma de embarque. Obrigada – dizia a tripulante novamente.

–Te levamos até lá – diz minha mãe limpando o rosto novamente com um lenço em mãos.

–Obrigada – eu disse acenando com a cabeça.

Meu pai envolveu meus ombros enquanto andávamos.

Assim que chegamos lá, nos despedimos pela última vez com lágrimas escorrendo e com vários abraços apertados.

Entrei pelo estreito corredor, me segurando para não voltar correndo dizendo que não conseguia. Sou forte, eu consigo. Olhei para trás mais uma vez e os dois acenaram para mim, retribui e respirei fundo, e continuei a andar até chegar no avião sem olhar para trás. Sentei-me no lugar onde me foi designado perto da janela. Fechei os olhos querendo que o voo passe rápido para que a felicidade invada o meu corpo e a tristeza vá embora na expectativa de um sonho realizado.

Olhei pela janela com a saudade fazendo meu coração palpitar e a ansiedade transbordar o meu coração.

Como eu queria que uma orquestra do Brasil mesmo me convidasse para tocar em vez de uma a milhares de quilômetros de distância.

Fechei os olhos novamente e jogando minha cabeça para trás. Respirei fundo ignorando as aeromoças de como se coloca o cinto. Apenas coloquei e pronto, não tinha motivos de explicar passo-a-passo de como colocar um cinto.

O piloto avisou que eles estavam para decolar e tal, mas nem dei ouvidos também.

Peguei na minha bolsa meu celular com o meu fone de ouvido, escolhi a música e relaxei na tentativa de dormir um pouco.

17 horas e meia depois...

O avião tinha acabado de pousar. Retirei o cinto e espreguicei o meu corpo com pressa para que as outras pessoas também pudessem passar, já que eu estava ocupando espaço no estreito corredor.

Andei seguindo os passos das outras pessoas até a porta do avião por onde entrei. O voo foi cansativo, exaustivo e chato. Tudo o que fiz foi: ouvir música, dormir, ler, trocar de roupa, dormir, ouvir música e dormir novamente. Sim, eu sei, dormi muito, mas o que se faz em um voo de mais de dezessete horas?

Andei até o centro de desembarque e peguei as minhas coisas com um pouco de dificuldade. Duas malas grandes e o meu violino, claro que tomei mais cuidado com o meu violino do que com as malas.

Com muito sacrifício, peguei o táxi e com o meu inglês cheio de sotaque, falei o endereço de onde planejei morar por dois anos, um pequeno apartamento de um quarto no Brooklyn. Bairro simpático na minha opinião, com comércio perto e o índice de crimes baixo comparado a outros bairros vizinhos. Barato e mobiliado, perfeito para mim. O único lado ruim é que fica um pouco longe de ir a pé para o teatro onde vou tocar e ensaiar.

O caminho foi lotado de carros buzinando com motoristas xingando e gritando para sair da frente, não muito diferente do Brasil, nós só somos um pouco mais... Educados.

–Então, você é de onde? – o motorista perguntou enquanto dirigia pelas movimentadas ruas de Nova Iorque.

–Sou do Brasil – eu disse simpaticamente. O motorista não devia ter mais que trinta anos de idade, morenos e com dreds no cabelo, me parecia simpático.

–Legal, o país do futebol. Minha tia já foi para lá, foi assaltada e roubaram quase tudo dela – ele disse. Legal... Quando falam do Brasil só lembram do futebol e da violência, coisa que não é muito diferente dos Estados Unidos.

Minha vontade era de falar que o meu país não era só aquilo e que tinha muito mais do que ele disse, mas me lembrei do que o meu pai disse: – Não seja rude com ninguém, mesmo que mereça- Isso eu vou levar para o resto da vida. Respirei fundo e escolhi bem as palavras.

–Uma pena – eu disse fingindo e segurando a raiva, nesse ponto, sou muito patriota – Ela conseguiu recuperar? – perguntei.

–Não – ele disse e olhou para mim pelo espelho retrovisor – Isso nunca aconteceu com você?

–Não, nunca. Quando a gente mora num lugar por muito tempo, nos adaptamos e tomamos cuidados que sabemos que sem eles, podemos ser roubados, não é? Sua tia pode ter mostrado seus pertences que chamou a atenção indevida. Eu posso ser roubada se eu não tomar cuidado não é?

–Claro. Pensei que os assaltos no Brasil fossem mais frequentes.

–E são, mas na maioria das vezes não são nada demais, só roubam pequenas coisas. Chamamos esses ladrões de pé de chinelo – eu disse tentando falar o mais claramente e sem sotaque.

Ele riu.

–Bom nome, vai que pega aqui também? – ele perguntou com um sorriso no rosto.

–Isso que é globalização – eu disse e rimos ainda mais juntos.

O caminho foi cheio de conversas descontraídas e com risos por todos os lados. Falei mais sobre o meu país, sobre meus pais e sobre a expectativa de morar aqui. Ele me disse para não criar grandes expectativas sobre morar aqui, Nova Iorque ás vezes pode ser um pouco solitária. Me recomendou que eu conhecesse os meus vizinhos e que conversasse com ele ás vezes.

Agradeci pelos conselhos assim que chegamos ao meu destino, eu lhe disse que seriam muito úteis. O paguei e ele agradeceu pela generosa gorjeta que lhe dei. Peguei minhas malas e meu violino e me despedi do motorista simpático e entrei na minha nova casa.

Assim que cheguei na portaria, não havia porteiro, não havia ninguém, muito estranho. Outra coisa estranha, não tinha elevador. Como vou levar essas malas pesadas para o quatro andar? Fiquei em pé esperando por quem quer que seja o porteiro na expectativa dele pelo menos me entregar a chave.

–Oi – alguém me disse na escada de costas para mim.

Me virei e encarei o loiro, alto, forte com uma camisa xadrez azul e branca com uma jaqueta de couro pendurada no seu braço.

–Oi – respondi simpaticamente pela segunda vez hoje.

–Se você está procurando pelo porteiro, o Carlos, ele foi embora e outro volta em... – ele olhou em seu relógio – Em trinta minutos. Você é nova aqui, não é? – ele perguntou.

Nãooooo! Sou velha aqui! Moro aqui a mais tempo que você, só que eu passei algumas temporadas fora e tal... Mas aqui estou! Morar aqui de novo! Minha vontade era de falar isso mesmo, mas como o meu pai disse: – Não seja rude com ninguém, mesmo que mereça- Irei cumprir.

–Sim, eu sou – eu disse sorrindo.

–Sou Steve – ele disse erguendo a mão para eu apertá-la.

–Laura – eu disse apertando sua mão.

–Prazer em conhecê-la.

–O prazer é meu – eu disse.

–Bom, bem-vinda. Se me permite perguntar, você é de onde? – já é a segunda vez que me perguntam isso.

–Do Brasil – eu disse – E por causa do sotaque, não é? – adivinhei e ele riu.

–Também, mas as malas ajudam muito. Você toca? – ele perguntou apontando para a caixa com o violino.

–Sim, sou violinista. Eu vim aqui para tocar numa grande companhia – contei e ele me olhou surpreso.

–Nossa. Bom, boa sorte – desejou.

–Obrigada – eu disse sorrindo – Que horas o porteiro irá chegar?

–Daqui a meia hora.

–Tudo bem, obrigada – eu disse pegando as malas e as deixando perto do pequeno sofá velho no canto da portaria.

–Boa sorte, de novo.

–Obrigada – agradeci pensando que ire precisar.

–Tchau.

–Tchau – eu disse o vendo sair pela portaria me dando um sorriso.

Assim que ele saiu, suspirei. Que cara é esse? Gente... Deus! Fecha a porta! Os anjos estão saindo! Ri do meu próprio comentário mental enquanto eu me sentava no sofá e o ouvindo ranger com o meu peso.

Passei quarenta minutos nesse sofá e já havia acabado com o meu livro e o suor já estava me fazendo fundir no sofá de tanto ficar sentada aqui. Minha paciência já se esgotou á vinte minutos atrás e nada do porteiro aparecer.

Me levantei ouvindo a roupa descolar do material do sofá, o sofá ranger, minha coluna estalar e meu grunhido de dor escapuliu da boca.

Andei pela portaria observando os velhos quadros empoeirados que não tinham nada de interessante, apenas pinturas mal feitas de alguma paisagem que o pintor achou interessante, nada de artístico, mas que eram uma boa distração.

–Ele ainda não apareceu? – perguntou a voz familiar para mim no vão da porta.

–Não, ainda não – eu disse chateada.

–Fica calma, ele vai aparecer. Ele sempre atrasa.

–Sempre? – perguntei com uma sobrancelha erguida e com os olhos arregalados.

–Pois é. Ele é novo aqui, acho que é por isso. Você ficou aqui o tempo todo? – perguntou curioso e complacente a minha situação, afirmei com a cabeça.

–Fiquei. Quase me fundi com aquele sofá de tanto ficar nele – eu disse ele riu.

–Qual é o seu apartamento? – perguntou.

–405 – respondi e ele me olhou surpreso.

–O meu é 404.

–Coincidência – falei sorrindo.

–Concordo. Você não quer... Deixar suas coisas no meu apartamento enquanto esperamos pelo porteiro? – ele disse um pouco nervoso e coçando sua nuca.

–Claro – eu disse sorrindo e aliviada por não ter que ficar aqui.

–Deixa que eu levo essas malas – ele se ofereceu indo pegar as malas.

–Não precisa, eu levo.

–Eu faço questão – ele disse com as duas malas já em mãos.

–Bom, obrigada – agradeci pegando apenas o meu violino.

–Vamos? – ele perguntou apontando com o queixo a escada.

–Claro – concordei enquanto ele subia na frente.

Após um silêncio desconfortável, decidi quebrar um pouco o gelo.

–Sua esposa... Não vai reclamar não? – perguntei receosa e um pouco tímida.

–Na verdade, não sou casado – respondeu e respirei aliviada.

–Ata – concordei com a cabeça.

–E você? – ele perguntou.

–O que tem eu?

–Você é... Casada? – perguntou nervoso.

–Não, não sou – respondi com um sorriso de lado.

Corei levemente e respirei fundo.

Com mais alguns degraus, finalmente chegamos ao quarto andar.

–Seu apartamento é aquele ali – ele disse apontando para a porta branca com um 405.

–Obrigada.

–E o meu é esse aqui – ele disse colocando as malas com cuidado no chão e procurando as chaves no seu bolso. Abriu a porta enquanto eu pegava uma das malas pelo carrinho. Me deu espaço para entrar e eu agradeci.

–Os apartamentos são iguais aqui não é? – perguntei curiosa.

–Acho que sim. Porque? Você não sabe como é o seu apartamento? – ele perguntou pegando a última mala.

–Na verdade, sei sim, só que pela internet é uma coisa, agora, ao vivo, já é outra – respondi e ele concordou com o meu pensamento.

–Ao vivo? Não entendi – ele perguntou claramente confuso.

–Ao vivo. Sabe, você estando ali, pessoalmente. Você nunca tinha visto ao vivo no cantinho da televisão? – perguntei.

–Na verdade, nem tenho televisão – ele disse apontando para o lugar que geralmente tem uma televisão, na frente do sofá, só que não tinha, somente alguns livros e outros objetos.

–De que mundo você veio? – perguntei abismada e ele riu.

–Não gosto – ele disse indo até a cozinha – Quer alguma coisa? – ofereceu.

–Uma água seria ótimo, obrigada – eu disse.

Me sentei no sofá enquanto ele pegava a água que eu pedi, observei seu apartamento, pequeno, confortável, organizado e arrumado, geralmente o contrário de homens que moram sozinhos.

Ele tinha vários livros, na verdade, muitos livros de vários tipos e tamanhos. Não havia porta-retratos e nem aparelhos de grande tecnologia, como computadores e celulares, na verdade, não havia nem ventilador.

Assim que ele voltou, me entregou um copo com água, agradeci e ele se sentou no sofá ao lado.

–Como você consegue sobreviver? – perguntei bebendo um gole da água.

–Como assim?

–Sem televisão, sem computador, sem telefone, nem ventilador. Me diga, como você consegue sobreviver? – perguntei curiosa e ele riu novamente.

–Não sinto necessidade de nada disso, apenas vivo sem essas coisas – respondeu simplesmente cruzando as pernas.

–Nem carro?

–Tenho uma moto – revelou e algo se encaixou na minha cabeça.

–Você é ecológico? – perguntei ainda mais curiosa do que antes.

–O quê? – vi a confusão em seu rosto novamente.

–Ecológico, que recicla e que cuida do planeta e tal – respondi.

–Não – ele negou com a cabeça e deu de ombros.

–Uau! – eu disse surpresa e bebendo mais da água – Nunca vi isso antes.

–Várias pessoas desse prédio são idosas, quase não usam do que você acabou de dizer.

–Bom, então o consumo de energia é muito baixo aqui, não é? – adivinhei.

–Provavelmente – ele disse sorrindo.

Bebi o resto de sua água e o entreguei e agradeci.

Ele levou o copo até a cozinha e voltou mais rápido do que antes.

–De onde você veio mesmo? – ele perguntou sentando no mesmo lugar de antes.

–Do Brasil, mais precisamente, Santa Carina, no sul do Brasil – respondi orgulhosa, eu adorava de onde eu tinha vindo.

–E como é lá? – ele perguntou curioso.

–Frio, muito frio, um pouco diferente daqui agora.

–Estamos em julho, no verão, por isso que está um pouco quente – explicou e assenti com a cabeça.

–Isso no Brasil é gelado em algumas regiões, mas para mim que na maior parte do tempo passo frio, isso é quente, muito quente – eu disse e ele riu.

–Então você vai gostar do inverno, é muita neve.

–Vou me sentir em casa – então nós dois rimos.

–Você já foi para algum outro lugar? – ele perguntou.

–Não, só fui uma vez para o Rio de Janeiro – respondi.

–Também fica no Brasil?

–Sim, fica. Um lugar três vezes mais quente do que aqui – contei e ele me olhou surpreso.

–Nossa – ele disse espantado com os olhos arregalados.

–Pois é. Mas e você? Já foi para algum outro lugar?

–Já fui para a Inglaterra e a Alemanha – contou e fiquei surpresa. Eu sempre desejei viajar para vários lugares, e ele poderia me dizer como é lá então.

–Uau! A turismo? – perguntei curiosa.

–Não.

–Trabalho? – tentei adivinhar.

–Mais ou menos.

–E como foi?

–Para a Inglaterra, espero voltar um dia, agora, para a Alemanha, guardo lembranças um pouco ruins de lá – respondeu um pouco receoso.

–Porque? – perguntei curiosa e triste ao mesmo tempo por ele. Porém, eu sabia que deveria estar mexendo em uma ferida, ou algo parecido.

–Estória antiga – ele respondeu se levantando e indo até a janela, o acompanhei com o olhar.

–As histórias antigas na maioria das vezes são as melhores – o incentivei mesmo sabendo que era o errado.

–O meu melhor amigo morreu lá – ele respondeu olhando pela janela com um olhar significativo. Suspirei triste. Fiz besteira, de novo.

–Eu sinto muito. Qual era o nome dele?

–Bucky. James Bucky.

–O que aconteceu?

–Ele caiu de um trem – ele disse se virando para mim – Tudo por causa de um erro meu.

–Seja lá o que for que tenha acontecido, não foi culpa sua.

–Mas você nem sabe o que aconteceu – justifica e assinto com a cabeça concordando com ele. Eu tinha que fazer alguma coisa para recompensar o “estrago” que eu havia feito.

–Minha mãe ela trabalha num centro de apoio a parentes de vítimas no trânsito, elas sempre dizem que se não fizessem alguma coisa, mesmo que insignificante como não mandar a pessoa ir no supermercado, ou fazê-la ir mais cedo ao trabalho, não teriam morrido. Você não teve culpa Steve, mesmo que você tenha envolvimento nisso, não foi culpa sua – eu disse ressaltando bem a última frase.

–Obrigado – ele disse acenando com a cabeça quase que insignificante.

–Bom, eu vou ver se o porteiro chegou – eu disse me levantando e batendo nas coxas sentindo meus músculos reclamarem um pouco pelo tempo que ficaram parados na portaria.

–Eu vou com você – se ofereceu mas neguei

–Não precisa, pode ficar aí.

–Preciso falar com esse porteiro – respondeu fechando as cortinas da janela, e eu apenas confirmei com a cabeça.

–Você é o síndico daqui? – perguntei adivinhando, pois poxa, parecia, sabia das coisas que aqui aconteciam e tal.

–Não, apenas represento as pessoas daqui, porque, como eu te falei, a maioria é idosa e depende de mim para reclamar, sabe? – respondeu e abriu a porta para mim.

–Entendo – concordei com a cabeça.

Descemos rapidamente as escadas e logo vimos o sindico sentado, com as pernas apoiadas no balcão assistindo a pequena televisão.

Eu fui primeiro a ir conversar com ele, já que o meu problema é mais importante.

–Oi – eu disse timidamente. Ele nem se moveu, parece que ele nem viu – Oi – eu disse um pouco mais forte tentando chamar a sua atenção.

Steve um pouco impaciente, bateu no balcão fazendo barulho o suficiente para chamar a sua atenção.

–O que foi? – ele perguntou mal-humorado por ser incomodado.

–Pelo menos levanta daí e vem falar com a gente – disse Steve.

Ele resmungou e se levantou da sua pequena cama improvisada.

–O que querem? – ele perguntou transbordando má disposição e mal humor.

–Primeiro: mais respeito. Segundo: porque você chegou atrasado? – perguntou Steve com um pouco de raiva.

–Tive problemas – ele disse dando de ombros.

–Teve problemas? A minha amiga ficou esperando por você por quase uma hora! Tive que levá-la até o meu apartamento, se não fosse por isso, ela ficaria mofando aqui enquanto você resolvia seus problemas – disse Steve ‘’ rodando a baiana’’.

Enquanto Steve falava, o porteiro levou o olho até mim, que estava ao lado do Steve e sorriu, claro que passei a encarar minhas próprias mãos e algum outro lugar.

–Tá, tá bom, desculpa... – ele disse me incentivando a dar o meu nome.

–Laura.

–Laura, me desculpe – ele disse com a mão sobre o peito – Me dê o seu número que ligarei confirmando que horas tenho que ligar.

Tá bom, isso foi escroto, muito escroto, e bizarro também. Que raio de cantada é essa? Cantada de pedreiro, só pode, só que nesse caso, porteiro.

–Não, obrigada – eu disse fazendo uma careta.

–Tá de brincadeira, não é? – perguntou Steve com o rosto vermelho – Vai dar em cima dela na minha frente?

–Ela é sua amiga não é? Então, não vejo problema nenhum.

–Mas eu sim – eu disse.

–Maltrata que eu gosto – ele disse com um sorriso sacana no rosto.

Antes que eu pesasse em alguma coisa, minha mão foi até o seu rosto em um toque que resultou em um contorno da minha mão no seu rosto, um barulho estalado e o seu rosto vermelho.

–Não se fala assim com uma dama – disse Steve quase dando um soco no coitado, coitado nada, do desgraçado.

–Era só uma brincadeira – ele disse com a mão no rosto – Eita povinho sem senso de humor – resmungou para si mesmo baixinho.

–Você tem um problema cerebral? Só pode né? Dar em cima de alguém que você nem conhece? Fala sério – falei.

–O quê que tem? Meus pais se conheceram assim? E vai me dizer que o fortão aí não tentou nada? – ele disse com uma das sobrancelhas erguidas.

–Claro que não – disse Steve – Eu não como você.

–Porque em vez de ficar discutindo sobre isso, você não me dá a minha chave logo? – eu disse um pouco sem paciência sobre o rumo da conversa.

–Vai morar aqui? – ele perguntou.

–Sim, eu vou – minha vontade era fazer ironia, mas decidi que era melhor não.

–Qual o número? – ele perguntou mexendo embaixo do balcão.

–405 – eu disse.

–Já tenho um novo número favorito – ele disse.

–Quer levar outro tapa? – perguntei pegando a chave de sua mão.

–Bate que eu gosto – ele disse oferecendo o rosto.

Apenas neguei com a cabeça sem paciência para tamanha idiotice.

Dei as costas e parei em frente ás escadas.

–Você não vem Steve? – perguntei olhando para a possível briga que irá se formar daqui a pouco se eu não fizer algo.

Os dois se encaravam com fumaça saindo pelas narinas de tanta raiva os dois sentiam.

–Isso não irá ficar assim – ele disse apontando o dedo para o porteiro.

–Vem quente que estou fervendo – disse o porteiro mexendo os ombros e fazendo piadinha.

Steve bufou e subiu as escadas comigo.

–Que cara abusado! – disse Steve assim que subimos um andar.

–Nem fale – eu disse já um pouco cansada.

–Eu não vou deixar assim, ele vai ser demitido.

–Com certeza, e vou apoiar.

–Obrigado.

–Ele pediu o meu telefone – eu disse ainda sem acreditar – E onde raios ‘’ Me dê o seu número que ligarei confirmando que horas tenho que ligar’’ é cantada? Isso no Brasil é cantada de pedreiro.

–Ah, belo tapa – elogiou Steve.

–Obrigada. Por incrível que pareça, já estou até acostumada com isso, os garotos com quem convivi, seja na escola, faculdade, eram assim, com piadinhas sem graça e grosseiras.

–Então não é a primeira vez que você dá um tapa daqueles?

–Na verdade, terceira vez. Sei lá, o meu sangue subiu, não pensei em mais nada. Quando eu vi, ele já tinha virado a cara e com a mão no rosto.

–Quase que avancei sobre ele também. Ele faltou com total respeito com você, isso é uma coisa que eu não admito.

–Bom, obrigada por me defender – falei assim que chegamos ao nosso andar.

–A seu dispor – ele disse fazendo uma pequena revência.

–Obrigada – fiz outra reverencia, dessa vez, nós dois rimos.

Peguei a chave e a coloquei na porta, entrou, virei a maçaneta, não funcionou, tentei de novo, não deu certo.

–Não está funcionando – eu disse.

–Deixa eu tentar – disse Steve pegando a chave e tentando ele mesmo – está emperrada.

–Mais essa – eu disse descontente com a minha sorte hoje.

Steve empurrou com os ombros como se fosse arrombar e a porta rangeu e se moveu centímetros. Ele tentou novamente e abriu.

–Obrigada – eu disse entrando após ele no meu mais novo apartamento.

–De nada. Para entrar aqui, você tem duas opções. Ou chama um marceneiro ou empurra com bastante força.

–Por enquanto vou fazer força – eu disse sorrindo.

O apartamento estava todo empoeirado. Lençóis cobriam todos os móveis, janelas estavam fechadas e provavelmente, emperradas também. Liguei a luz, mas não funcionou.

–Agora mais essa para entrar na minha coleção.

–Calma, deve ser só a lâmpada – ele disse mexendo na lâmpada, ela logo acendeu, fracamente, mas acendeu.

–Obrigada – eu disse.

–Não precisa agradecer. Ah! Suas malas, eu vou buscar – ele disse indo até a porta.

–Eu ajudo.

Nós fomos até o apartamento ao lado e pegamos minhas coisas e as deixei no canto.

–Amanhã, vou ter um trabalhão limpando isso aqui – eu disse deixando o violino e a bolsa em cima da mesa.

–Se você quiser...

–Não, não, de jeito nenhum. Você já me ajudou muito hoje, não vou ter como pagar os favores que você fez por mim.

–Não precisa pagar.

–Mas vou estar em débito com você.

–Não fiz nada demais.

–Nada demais que me ajudou para caramba, de novo, obrigada – eu disse dando um beijo em sua bochecha.

–De... Nada – disse ele um pouco atordoado. Um fofo, tímido.

Sorri enquanto ele saia do meu apartamento. Fechou a porta sem antes me dar um último sorriso.

Suspirei e comecei a explorar meu apartamento.

''As pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem''

Lilian Tonet


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Colocarei sempre uma frase relacionada ao capítulo no final dele. Espero que gostem das frases assim como eu. Beijos e ate o próximo!



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