Cheguei em casa passado mal por causa do ônibus, desde que entendo por gente eu fico enjoada quando estou dentro de algo com 4 rodas, não sei por quê, nasci com essa frescura a mais. Mas não estava enjoada só pelo ônibus, estava passando mal do estomago, era como se tivesse inúmeras borboletas dentro de mim e elas simplesmente não param de voar.

Fui direto para meu quarto e nem passei pela cozinha, e nisso acabei me lembrando que meu pai e minha madrasta estariam em casa. Entrei no meu quarto, tranquei a porta e comecei a trocar, coloquei minha blusa do Jack Daniel’s , uma calça jeans e o meu All-Star de cano médio preto. Quando abri a porta meu pai estava na frente:

–Tá tudo bem, Mackenzie? –Perguntou meu pai com aquela cara de mal natural que ele tem.

–Sim, estou bem. –Olhando seriamente.

–Ah bom... Vamos comer.

–Ahn, eu não estou com vontade de comer. Não estou me sentindo muito bem do estômago... Ah, hoje a tarde tem uma reunião do grêmio estudantil na escola e me convidaram, posso ir?

–Você não vai sem comer. –Disse meu pai, sério. –Ficar sem comer só vai piorar, vamos almoçar. –Ele se virou e eu fiz uma careta e me enfiei no banheiro.

Me olhei no espelho e senti vontade de vomitar pelo que vi. Meu cabelo estava oleoso e nojento de tão sujo, eu tinha pelo menos três espinhas pequenas espalhadas pelo rosto e não estava com um bom hálito. Mas eu toquei o “dane-se”, passei um perfume e desci para comer.

Estava me sentando na mesa, enquanto viaja na maionese (maionese mais conhecida como Peter) e minha madrasta me olha e me pergunta:

–No que está tão concentrada, Mackenzie? –Pergunta ela, com aquele ar de “quero cuidar da sua vida mesmo que eu não tenha nada a ver com ela”.

– Ahn... -Eu disse ainda tentando voltar a realidade. –Nada não.

– Por que está com dor de barriga? – As notícias correm nessa casa.

– Eu não sei.- Digo.

– O que comeu no colégio?

– Não comi.

– Por que não comeu?

– Eu não quis.

– É por isso que está com dor de barriga, o suco gástrico está corroendo as paredes musculares do seu estômago, eu vi isso quando estava na 5ª série... –Parei de prestar a atenção nessa parte enquanto eu tentava engolir aquela comida, eu não aguento essa mulher falando, ela sempre, sempre quer estar certa e ter o que explicar pra se pagar de intelectual na frente do meu pai. Como eu detesto isso. Mas enfim, eu estava aqui pensando como será quando eu cumprimentar o Peter, que cara ele fará, o que ele irá dizer, será que vai notar meu perfume? Ou será que ele gostará de mim com roupas diferentes do que aquele uniforme ridículo da escola? Será que ele vai notar? Deixa eu voltar a fingir que estou prestando atenção na Sra. Certa:

–Bom, eu já estou satisfeita e a dor já passou.- Eu menti. – Vou indo. – Dizia enquanto me levantava e dava um beijo no meu pai.

–Que horas você volta?- Ele pergunta-me.

–Antes de escurecer, estarei aqui. Tchau.

Saio correndo descendo as escadas e indo correndo ao ponto, não estou com pressa mas isso me dá a sensação de liberdade daquela casa. Ainda não entendo por quê digo que sou feliz aqui, acho que minto a mim mesma e nem percebo. O ônibus chega rápido e eu vou escutando música no caminho. Estava escutando Give Me Love do Ed Sheeran, desde as férias estou viciada nessa música, simplesmente eu não enjoo dela. É nessas horas que eu deixo a música falar por mim, ou pelo menos para mim, já que eu continuo em silêncio.

Depois que desço vou andando até a escola, é uma pequena caminhada e continuo ouvindo música e de repente encontro com Johny no caminho:

–Ei, Mack! Como vai? – Pergunta ele correndo até mim e me cumprimentando com um beijo no rosto.

–Vou bem... –Digo suspirando.- E você, vai bem?

–Vou bem também- Diz ele mexendo no novo celular, um Windowns Phone. – Tô tentando ficar com essa mina aqui. – Ele me mostra a foto da menina e começa a falar dela e várias coisas, mas eu estou meio dispersa do planeta Terra, como sempre. Até avistar Peter. Ele está acompanhado do seu skate, ele para e nos olha com um sorriso. Cumprimenta Johny com um “high Five” e depois ele pega na minha cintura para me cumprimentar com um beijo no rosto, um arrepio agudo sobre pela minha espinha e me seguro para não me contorcer. Ele me olha com aquele olhar de que sabe que acabou de aprontar e eu nem quero imaginar o tipo de cara que estou agora.

–Vamos indo. – Digo indo até a secretária. Eles me seguem e nós chegamos até um dos funcionários da escola e perguntamos sobre o grêmio. E ele não sabia nada sobre.

–Como assim? Disseram para virmos aqui e iam nos dizer aonde ir. Olha, eu não gastei dinheiro da passagem pra vir aqui à toa, moço. –Digo, eu já estava bem irritada.

–Calma, Mack, olha moço eu sei que tem alguém aqui que sabe disso tudo. Por acaso a diretora não está ai? –Diz Peter enquanto colocava a mão em meu ombro e eu só pensava em que ele me chamou pelo meu apelido, em que nível de intimidades nós estamos?

–Ok, vou chamar a diretora e vocês conversem com ela.

–Graças a Deus! –Digo com uma certa ironia na voz, tenho que parar de ser assim.

Peter começa a dar risadinhas e cruza os braços enquanto me olha e diz:

–Você fica engraçada irritada.

–Muito legal ver alguém irritada, ainda dizer a ela que está engraçada quando está irritada! – Digo olhando pra ele fazendo cara de desprezo.

–Relaxa, é um engraçado bonitinho.

Olho pra ele e me viro para ler o mural de avisos da escola, e tento não sorrir ao que acabou de acontecer.

A diretora aparece e fala com a gente, ela diz para procurarmos por Rose, a tal garota do segundo ano.

–Ela está em alguma sala com um professor de história, Carlos, procurem por eles.

–Vamos lá? Diz Johny olhando pra mim e para Peter.

–Vamos. - Dizemos juntos e vamos atrás da Rose e do Professor Carlos.

O que será que vou conseguir vindo aqui a tarde com ele? Talvez só uma pequena aproximação... Que confusão, minha cabeça está à mil, gostar desse menino me dá dor de cabeça.