Terrestre escrita por Gabi Araujo


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um, pá pá pá quero bis pá pá pá...



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– Susana! – berrou a professora desgostosa tirando Susana de seus pensamentos.

Ela sobressaltou-se e voltou o olhar para a mulher gordinha com cara de que havia chupado limão.

– Oi, professora. – respondeu incerta do que deveria falar.

A mulher passou o peso do corpo de um pé para o outro. Ela parecia nervosa.

– O que tem nessa parede que não pode prestar atenção em mim?

Ela não tinha percebido que olhava para a parede, aparentemente, tão fixamente. Susana não sabia para onde seus pensamentos a levaram.

– Nada. – respondeu de forma automática, ela falava a verdade. Não entendeu o que estava acontecendo.

Quase imediatamente ela sentiu uma coisa, aquela sensação que a fez cruzar os braços em cima da barriga e voltou a procurar pelas paredes que davam para o corredor. A classe explodiu em uma risada, fazendo a garota perceber que acabou de deixar a professora com cara de tonta. Ela suspirou bem demoradamente. Sabia que não devia ter feito isso.

– A aula não está interessante, não é? Quer dar uma voltinha? Então vai dar uma voltinha na sala da coordenação. – a professora estava vermelha e apontava para a porta.

Susana foi. Ela queria ver o que tinha naqueles corredores. Eles estavam escuros e vazios, nenhum sinal de alguém. O eco dos seus passos a levaram para a realidade, Susana sabia que ia se arrepender desse dia para sempre, mas seus atos foram mais fortes do que ela.

A sala da coordenação ficava logo à frente, destacada do corredor monótono com a impecável cor branca. Não tinha ideia do que ia dizer, o medo começou a pega-la desprevenida.

Ela andava de vagar quase parando, brigava internamente com seu cérebro por permiti-la fazer algo tão estranho. Foi então que ela viu.

Um segundo foi o tempo exato. Uma pequena luz brilhante em tons mais escuros envolvendo, nada mais nada menos, que uma garota. Ela sumiu da mesma forma que apareceu deixando uma trilha de ar rarefeito por onde passou. Susana se lembrou de respirar, mas o que estava acontecendo com ela hoje?

Ficou estarrecida, grudada no chão como se seu sapato de borracha tivesse derretido. Sentiu medo, espanto e não sabia mais o que. Talvez fosse só seu cérebro empatando a discussão. Ela não ousou olhar para trás, não queria, mas a curiosidade sempre lhe vence, é um defeito de nascença.

Apertou as mãos e olhou, para sua surpresa e alegria indecifrável, não havia nada lá trás a não ser o sombrio corredor depois do sinal. Ela suspirou novamente, dessa vez foi alívio. Talvez Susana não fosse tão estranha assim.

Bem perto dela, a tal garota explodiu em uma bomba silenciosa, porém graciosa e se tornou visível, visível mesmo. Apareceu encostada com um pé na parede e bem relaxada.

Susana espantou-se e um grito escapou de sua garganta sem que ela percebesse. A garota engoliu o chiclete com o susto e olhou para Susana enquanto tossia.

– Qual é o seu problema?- perguntou com a voz falha. Tossia muito buscando ar.

– Como... como... – ela não sabia se aquilo deveria sair da sua boca. Não era nem da sua conta, mas... curiosidade. Buscou coragem e ajeitou a postura. Em um tom um pouco mais baixo, quase sussurrando perguntou. – O que foi aquilo?

Os olhos da garota a encararam indecifráveis, Susana deu um passo para trás, por precaução. Ela estava encostada na parede ainda ofegante. Quase dava para ouvir as engrenagens do seu cérebro trabalhando. A garota franziu a testa e com um impulso deu um passo para frente.

– Fiz o que, exatamente? – ela não sabia o que era aquele tom na voz da garota. Parecia uma ameaça, excitação, medo, uma mistura dos três?

Assim de perto, a garota era bem mais alta do que Susana, a curiosidade às vezes nos levam para caminhos perigosos. Ela deixou isso bem anotado na sua memória.

– Você surgiu no ar com essas luzes em volta... – após dizer isso Susana sentiu-se bastante ridícula.

A garota não piscava, observava Susana como uma águia observa a presa. Ela sentiu-se estranha por um momento. A garota chegou mais perto, perto demais.

– Adotada? – perguntou afirmando. Não era o que ela esperava que a garota falasse, longe disso.

– O que isso tem haver? – quis saber.

Ela não gostava de falar desse assunto, lembrava de uma fase complicada da sua vida.

A garota sorriu, não, na verdade ela sorriu alegremente.

– Então você foi mesmo adotada. – ela literalmente deu pulinhos de alegria e bateu palmas – Ual, foi mais fácil do que pensei.

Susana queria sair correndo, mas manteve os pés grudados no chão.

– Estou procurando vocês há muito tempo. Tenho que dar crédito aos superiores, eles são bons mesmo em esconder coisas. – falava gesticulando, a alegria na sua voz era inegável - E vocês são muito bons em se esconderem. – falou por fim colocando a mão na cintura.

–Não faço ideia do que você está falando.

–Claro que não. – ela sorriu – É por isso que eu estou aqui. – apontou para ela mesma.

Acontece que agora Susana queria que ela não estivesse ali, queria ter passado direto e seguido com a vida, mas não, tinha que parar e perguntar.

A coordenadora saiu de sua sala colocando os óculos, ela deu uma boa olhada em Susana e chamou-a.

– Venha mocinha, preciso falar com você. – sua voz não estava nada amigável.

Susana reparou que a garota tinha sumido. Ela suspirou e limpou a testa.

– Ainda estou aqui. – cantarolou a voz melódica da garota.

Ela ainda não sabia o que pensar, nesse caso era melhor não pensar.

Como esperado Susana levou uma advertência para casa.

Ela remexia a comida no prato, não que a mãe cozinhasse mal, longe disso, fazia com maestria, mas ficava pensando no que aconteceu aquela manhã.

A mãe a observava comer. Sabia que tinha alguma coisa errada.

– Como foi na escola hoje? – perguntou sondando as beiradas, era seu jeito de saber o queria.

– Foi bom. – a resposta pareceu não convencer a mãe. Ela ficou olhando até que completasse a história. – conheci uma garota estranha que some no ar e levei uma advertência.

– O que disse? Levou uma advertência? – bravejou.

A mãe só escuta o que quer. Também, quem acreditaria nela? Pensou em contar para a coordenadora, mas ela ia chamar o psiquiatra, o que seria bem coerente.

– Susana, Susana, desse jeito vai acabar morando sozinha com dez gatos. –Susana continuava mexendo na comida – Chega, você me irritou, vai pro seu quarto. – ela tomou o prato e apontou para cima.

Susana sentia-se mentalmente exausta e não queria discutir, por isso seguiu a ordem da mãe. Jogou-se em sua cama e cobriu o rosto. Ela queria gritar para a garota que não sabia do que ela estava falando, que era apenas uma garota comum como todo mundo. O problema é que ela não se sente assim há muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Suusanaaaa eu te amei como jamais um outro alguém vai te amar, antes que o sol venha acordar eu te amei susanaaaaaa.

Preciso comentar que sou uma pessoa extremamente normal.



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