Ouvia o ranger da madeira apodrecida da escada que levava ao sótão... Medo... Medo de quem estaria lá... Subindo as escadas naquela hora? Seria Robert? Não... Ele chega só mais tarde...

   A lâmpada do abajur havia queimado... Estava sozinha no breu, na maldita escuridão... O medo tomava seu corpo; a fazia virar de um lado pro outro na cama; tremer, ter espasmos de medo... A tortura do escuro para ela era insuportável... Tinha esse medo desde criança... Nunca dormia sem alguma luz, sempre com algum abajur por perto.

   O barulho se tornava mais alto e audível a cada segundo. Tensão, medo e frio... Fazia muito frio naquela noite, de chuva e trovoadas... Pela janela ela via as gotas que reluziam a luz dos relâmpagos, e que, também, a faziam se assustar, mais e mais.

   Passo a passo, a tensão de Angeline* aumentava. Seu corpo tremia de medo por baixo das quentes e aconchegantes cobertas. Em sua mão, Angeline segurava uma pequena adaga dada por seu avô como recordação dele próprio. Ela tinha medo... Pensava na morte; em sua vil existência; na ojeriza de si mesma; na sua vida, o qual não fazia nada de útil, só dava trabalho para os outros.

   Ela queria acabar com tudo aquilo, rápido... Será que aquilo era realmente a melhor saída? Sim... Era a única saída...

   Angeline se levanta, sobe no parapeito da janela, abre a janela; sente os pingos gelados e o vento lhe darem calafrios... Pegou a adaga, rasgou a linda camisola de seda importada da Inglaterra. Os cabelos loiros e ondulados voavam ao soprar do vento... Sentiu a ponta fria da adaga tocar-lhe o peito... E cravou-a sem pudor em seu busto.

   A porta se abre, e apenas o que Robert vê é sua linda e amada Angeline caindo da janela com a adaga que ganhara de seu avô cravada no seu peito.

   *Se lê “Angelaini”