New Start, Looking For Stars escrita por Mary


Capítulo 1
Um novo começo, contando as estrelas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Único
Seria legal ler enquanto ouve uma das duas músicas:

Couting Stars - One Republic (http://www.youtube.com/watch?v=hT_nvWreIhg)

Brand New Start - Little Joy (http://www.youtube.com/watch?v=vRgrMby-XUE)



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Saio do táxi e entro apressada no prédio, tomo o elevador no último segundo e enquanto luto para voltar minha respiração ao normal, noto que tem outra pessoa comigo ali dentro. Dou um aceno de cabeça, mas acho que ele não vê. Está ocupado dormindo em pé.

O elevador parece assustadoramente lento, justo hoje que preciso chegar logo em casa! A chuva lá fora está muito forte e sei que subir de elevador seria arriscado para mim. Sim, porque com a sorte que tenho essa caixa metálica vai cometer suicídio comigo aqui dentro... E ainda vai levar o senhor dorminhoco aqui junto.

De repente o elevador dá uma guinada e fica tudo escuro. O pânico me invade e começo a bater nas paredes.

- Ai meu Deus, eu vou morrer, vou morrer!

Sinto uma mão em meu ombro e não evito um grito de pavor.

- Ei moça, se acalma. Você não vai morrer.

O medo é tão grande que mal percebo que outro grito passou da minha garganta... Pensei que, como na maioria das vezes, apenas tivesse ecoado em minhas entranhas.

- Eu odeio elevadores! Justamente hoje, ele resolve quebrar!

- Calma, vou ligar para a minha... Amiga que mora aqui e pedir para ela avisar alguém.

Não posso ver seu rosto... Ele pode muito bem ser algum tipo de tarado psicopata... Me controlo sabendo que esse tipo de suposição não vai me levar a lugar algum. Literalmente.

- Ok.

Tenho um vislumbre de seu rosto quando a luz do seu celular o clareia, mas não é nada que faça diferença então só o observo discar o número e por o telefone no ouvido.

- Ei... Eu... O que?

Ele vira o rosto pra mim e com a luz posso ver seu olhar confuso.

- O que aconteceu?

- Ela me mandou pro inferno e desligou.

- Ai a gente vai morrer!

Passo as mão no rosto totalmente desesperada. Vou morrer aqui! Vou morrer aqui dentro com alguém que nem conheço!

- Moça, calma! Ninguém morre em elevador.

Sento-me no chão e ele liga o celular novamente para me procurar. Me encontra encolhida no canto.

- Certo. Você está assustada mesmo não é?

Balanço a cabeça mesmo sabendo que, com essa luz, ele com certeza só consegue ver um monte de cabelo sacudindo. Ele se senta ao meu lado, os braços apoiados nos joelhos e nossos ombros se tocando.

- Vamos conversar assim você se acalma.

- Sobre o que?

- Ah, sei lá. Como é seu nome?

- Ellie.

Não consigo ver nada então não posso ver sua expressão, mas sinto que ele sorri.

- Sou Dave.

- Prazer Dave.

- Hm, então Ellie, porque está tão apressada para chegar em casa?

Como vou dizer isso a ele? E porque ele disse meu nome desse jeito? Entoando cada sílaba ao máximo. E-lli-e.

- Meu... Meu namorado que mora em outro estado... Hm, marcamos para conversar online.

- Sério?

- Uhum.

Ele dá uma gargalhada e me sinto desconfortável por, de novo, não poder ver seu rosto.

- Quantos anos você tem Ellie?

- 19, por quê?

Mais uma gargalhada.

- Dave, qual o seu problema?

- Des-desculpa... É que essa geração está mesmo perdida.

- Ah é? E quantos anos o senhor tem? 60?

- Tenho 27.

É minha vez de rir. Como assim esse cara acha que está acima de mim só porque tem oito anos a mais? Fazemos parte da mesma edição! Livros da mesma remessa!

- Ah, nossa! E existe muita diferença entre nós não é?

- Não acredito em internet.

- Você tem um I-phone e me diz que não acredita em internet? Sério? Quanta hipocrisia.

- Você sabe o que significa a palavra hipocrisia?

- Eu conheço o significado de muitas palavras, Dave. Inclusive da palavra “fugindo”.

- Como é? Fugindo?

- Sim. Fugindo do assunto! Porque não acredita em internet?

- Internet é uma ferramenta útil transformada em algo banal.

- Então você tem um I-phone apenas para usar as coisas úteis? Sem Facebook, Instagram ou algo do tipo?

- Exatamente.

- Uau.

Fico calada, concentrada em dar nós em meus dedos. Desisto e sem querer digo em voz alta:

- Vou terminar com ele.

- Sério? Por quê?

- Ele é um idiota.

- Aprecio essa capacidade que as garotas têm de nos chamar de idiota sem termos feito nada.

- Ah, e o que você considera algo digno de ser coroado com o titulo de idiota?

- Hm, vamos ver... Um cara é idiota quando trai uma garota, quando não dá atenção a ela, quando não confia...

- Quando bebe e grava um vídeo de sexo com outra garota e posta na internet, quando fica com outra garota tira foto e posta no Facebook, quando...

- Tá bom! Já entendi. Ele é mesmo um idiota.

- É.

- Porque demorou tanto pra acabar com isso?

- Não quero conversar sobre minha vida amorosa com alguém que teve o telefone desligado na cara pela “amiga”.

Ele não responde e começo a me sentir culpada... Vai ver era amiga mesmo, ou quem sabe é uma amiga que ele queria mais que o normal. Sabe algo meio que friendzone.

- Foi mal...

- Não, tudo bem. É que eu fui um idiota com ela.

- O que? Você também gravou um vídeo de sexo?

- O que? Está louca? Não fiz isso... Eu só... Não dei a atenção que ela merecia.

- Mas você parece do tipo que se importa com essas coisas.

- Só me importei depois que perdi. Eu sou um péssimo namorado.

- A gente nunca sabe o que é ruim, até encontrar algo melhor. Em minha opinião, se você consegue ver onde errou, é infinitas vezes melhor do que meu namorado.

- Ex-namorado.

- Isso ai. Quer dizer, como dizia Douglas Adams: planeta certo, universo errado.

- O que você quer dizer?

- Quero dizer que você é um planeta certo, tentando de qualquer jeito se ajustar no universo errado.

- Acho que não foi isso que ele quis dizer quando escreveu Ellie.

Eu gostaria muito, muito mesmo de poder metralhá-lo com o olhar, mas mesmo que eu o encontre nessa escuridão ele não pode me ver.

- Ele disse isso e eu apenas queria fazer você se sentir melhor.

- Obrigado.

Quando vou responder a altura uma voz metálica ecoa pelo elevador. “Já estamos ligando o gerador de emergência, por favor, não entrem em pânico”.

- Eu acho que é um pouco tarde para manter a calma.

Eu tento rir, mas essa maldita voz me fez lembrar de que ainda posso morrer aqui dentro.

- Ei, Ellie, você não está com medo ainda, está?

- Um pouco.

- Fica calma. Eles vão ligar o gerador e você vai poder subir e terminar com aquele babaca.

- Você não assiste à televisão também, não é?

- O que você viu na televisão?

- Quando eles ligam o gerador sua força é suficiente apenas para nos fazer voltar ao primeiro andar.

- O que? Estamos no quinto... E se estivéssemos no último andar?

- Ficaríamos presos em algo entre o décimo ou o quinto.

- Que droga.

- Então eu ficaria com esses chifres por mais algumas horas.

- Relaxa, quase não dá pra ver.

Meus olhos ainda não se acostumaram por completo com a escuridão, mas já consigo ver a silhueta de Dave ao meu lado e de repente fico ciente do contato entre nossos ombros, do cheiro de xampoo e... Preciso distrair minha mente com qualquer outra coisa.

- Dave, o que você faz?

- O que? Tipo um emprego?

- É.

- Eu, bem, estou lançando um livro.

- Sério? Fala sobre o que?

- Ah, tem comédia e romance, um pouco, muito, de ficção... E você teria que ler pra entender...

- Você poderia me dar um o que acha? Da primeira impressão e com uma dedicatória!

Começo a ficar animada com a ideia de ter algo escrito num livro especialmente para mim. Ser importante para alguém...

- Claro! Algo como: Para minha amiga de elevador. Por favor, suba apenas pelas escadas.

- Legal, gostei.

- E você? Do que trabalha?

Suspiro e penso em como minha vida ainda não está perfeita.

- Trabalho numa revista, sou meio que a “Garota do Blog”, cuido de tudo: postagem, cronograma, imagem, entrevistas... Esse tipo de coisa banal.

- Entendi que você não gosta muito... Porque faz isso?

- Preciso pagar a faculdade... E tem certo glamour... Mentira, não tem não. Não nasci para uma vida glamorosa.

- Faculdade de que?

- Astronomia.

- Ah, agora posso entender esse fanatismo por Douglas Adams.

Não consigo evitar ser uma nerd total, viciada em ficção científica e em estrelas... E esse “amor todo” só me arranjou problemas, e até hoje o maior de todos foi meu ex-namorado maluco.

- É.

- Tudo bem, também sou fã dele.

Dou um sorriso bobo e um pensamento estranho se passa pela minha cabeça: e se eu namorasse esse cara, o Dave? As coisas seriam bem mais simples para nós dois.

Quando vou contar minha ideia para ele as luzes se acendem e começamos a descer. Fico de pé, com um sorriso enorme na cara.

- Dave, estamos descendo!

Viro-me para ele e poder finalmente ver seu rosto na luz me atordoa. Acho que ele também está assustado com a minha aparência e não é pra menos, meu cabelo preto curto está todo espatifado e as olheiras são resultado das horas a fio estudando astronomia.

- Que foi?

- Se eu soubesse que você era assim...

- Assim como? Desgrenhada?

Observo seu rosto, a barba por fazer, os olhos miúdos e o cabelo castanho tão bagunçado quanto o meu...

- Tão bonita.

O elevador para e as portas se abrem, o síndico está parado ali e não para de perguntar se estamos bem, mas nenhum dos dois consegue responder, estamos hipnotizados.

- Ei Ellie, se eu soubesse que era você lá em cima teria os mandado agilizarem.

- Tudo bem Tom, estou bem.

Saio do elevador e vou em direção as escadas, não ligo de ter que subir até o sétimo andar... Exercícios!

- Ellie! Espere!

Começo a subir o mais rápido que posso, mas como já era de se prever, ele me alcança e me segura pelo cotovelo.

- Que foi Dave?

- Ellie, o deixe esperar... Manda uma mensagem, marca ele no Facebook... Sei lá. Mas vem comigo.

- Com você? Ficou louco? Nos conhecemos num elevador, no escuro!

Ele dá um sorriso de lado, marcando as covinhas em suas bochechas, me deixando desconcertada... Nunca tinha visto um sorriso assim antes e o seu é extremamente sexy.

- E acho que é justamente por isso que me interessei por você.

- Ok.

- Estou falando sério... Vamos tomar um café, eu te empresto meu celular e você liga pra ele. – Ele diz isso e me encara, depois seus olhos descem até minha boca e voltam aos meus olhos, finjo não perceber.

- Dave...

- Cara, você não acha que nós dois merecemos uma segunda chance? E se com você meu planeta finalmente estiver no universo certo? Se você não aceitar corre o risco de nunca saber. E eu quero muito saber no que isso var dar. E...

Seu olhar é tão esperançoso... Parece um cachorrinho. Segura minhas duas mãos, apertando os dedos para que eu não fuja.

- Tá legal! Eu já entendi!

Ele me olha de um jeito que mesmo que eu estivesse cogitando dizer não mudaria de ideia na hora. Faço um sim com a cabeça e sorrio.

- Claro, por que não?

Dave solta uma das minhas mãos e entrelaça os seus dedos nos meus, descemos as escadas juntos.

- Então vai mesmo me emprestar seu I-phone?

- Vou.

- E usaria o Facebook por mim?

- Acho que sim, porque não?

Sorrio ao perceber que ele usa minha frase de propósito.

- E criaria um Instagram pra tirar foto do nosso café?

- Ellie, você está pedindo demais.

Coloca o braço no meu ombro e me empurra para fora do prédio. Recebo o infinito da chuva de braços abertos, quando o elevador quase me engoliu em seu buraco negro.


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Notas finais do capítulo

Isso ai! Comentem certo? Gosto quando dizem que gostam, ajuda a manter o ânimo para escrever.

Outras fics:
Cigarrete Smoke (historia/425961/Cigarette_Smoke/)
Pessoa Certa (historia/325351/Pessoa_Certa/)
Um Jeito de Amar ( historia/317368/Um_Jeito_De_Amar/)



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