O Desaparecido escrita por Coelhos do Sol


Capítulo 15
Sobre o Sol ou Sobre a Lua


Notas iniciais do capítulo

Feito por Mellyne Saboia
Roteiro por Mellyne Saboia
Agradecimentos: Hanna Sakamoto, Beatriz Viera, Sophia Vasconcelos e Yasmin Hollerbach.
Um Oferecimento: TV Hefesto, tudo que você e sua família merece. Canais em alta revolução, reality shows com os deuses e altar risadas com Afrodite e Ares.



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Sobre o Sol ou sobre a Lua

Te espero na cama, nua.

Por Apolo

Quando Hanna apareceu com seu pégaso, o alívio tomou o pulmão de Nádia, enquanto ela se permitia cair num sono profundo. A luta com Roxana tinha sido rápida, porém dolorosa, esgotado quase todas as suas energias. E ainda tinha o seu desgaste emocional. Enquanto sonhava com qualquer coisa relativa com o Sol e as estrelas, Hanna sobrevoava o Acampamento Meio-Sangue, trazendo a amiga.

Era meio de tarde, todos os campistas estavam em plena suas atividades normais. Hanna teve de manobrar o pégaso para conseguir pousar perto da Casa Grande, em um local onde a quadra de vôlei não estava sendo usada.

Ao descer do cavalo-pássaro, percebeu que teria de usar um pouco de sua força e de sua vontade. Nádia tinha dormido a viagem inteira e agora teria de ser carregada. Respirando fundo e tentando ignorar o súbito desejo de dormir ali mesmo, Hanna pegou Nádia nos braços e a levou cuidadosamente para a Casa Grande, onde Elizabeth já a esperava, pronta para cuidar de todos os seus ferimentos.

º º º

Acordou quando o Sol já tinha ido embora, e a Lua brilhava. Embora estivesse achando que tinha acordado na noite daquele mesmo dia, se enganou. O calendário afirmava ser terça-feita da segunda semana. A mesma terça-feira em que Nádia tinha saído em missão. Então ali confirmava: Uma semana de viagem. Tinha ficado apagada por dois dias e agora que se levantava, se sentia muito melhor. Conseguia mover as pernas e os braços sem reclamar de dor. Porém o pulso que tinha quebrado não obedecia tanto assim aos seus comandos, ele não conseguia se mover por completo. Mas era melhor do que nada.

Se sentia muito bem disposta e limpa, incrivelmente limpa. Os cabelos estavam soltos sobre o travesseiro, mas cheiravam a melão, a pele estava macia e cheirosa, e um vestido tipicamente grego a esperava na ponta da cama. Quando o vestiu, sentiu que estava linda. Colocou os braceletes de ouro e as sandálias que também tinha na cama.

– Olá, Nádia Hana. – ouviu da porta, e quando se virou, jurou ver o reflexo de Hanna. Logo depois, a menina parecia totalmente diferente, com cabelos loiros e cacheados, olhos prateados e a pele tão branca quanto a Lua. – Sou Milena, do chalé 10. Vim te deixar maravilhosa, mas vejo que já estava conseguindo fazer isso sozinha...

A menina sorriu, muito simpática, e aquilo tornou sua face ainda mais bonita. Que mistério, pensou Nádia. Milena se sentou na cama de Nádia, pedindo para que a menina se sentasse a sua frente. Com cuidado, Milena trançou o cabelo de Nádia, com ouro e mel. Para você que não sabe, esse é o típico visual grego de uma musa. Vestido branco caindo em várias camadas finas e quase transparentes, até os joelhos, um cinto de ouro cheio de desenhos contado a sua história, braceletes de ouro, sandálias, cabelo trançado com ouro e mel.

– Perfeita. – Milena disse, não exclamando, nem sussurrando, mas num tom normal, o que para Nádia foi muito agradável. Sentia a verdade batendo ali. – É Solstício de Verão, todos iremos para o Olimpo. Na verdade já foram. Somente alguns ficaram.

– Ah, sim... – Nádia concordou – E-Espera, você ficou por minha causa?

Milena sorriu e então piscou. Os olhos prateados tomaram uma cor amarelada, de segredo.

Mais tarde, naquela mesma noite, Hanna apareceu com o pégaso Crina para levar Nádia até o Olimpo, onde todos já a esperavam. Embora Nádia odiasse entradas triunfais, foi isso que Hanna fez, fazendo o pégaso dar giros de 360º no ar e pousar bem a frente de Zeus. Quando ela terminou sua exibição de “Perfeita montaria”, como Senha M teria chamado, ela se ajoelhou e então saiu de perto do centro do salão, se juntando ao seus dois irmãos e a pequena Lucy.

Nádia desceu do pégaso, acariciando gentilmente seu lombo. Quando terminou, Crina relinchou, como se lhe desejasse boa sorte, e então voou para o alto, e para o nada. Desapareceu no breu da noite.


O Olimpo brilhava em exuberância. Era o edifício mais bonito de todos os tempos. Com as tochas queimando em tons de vermelho e laranja, tornava os pilares de mármore espelhos que refletiam as chamas. O chão tinha o desenho de quase todos os heróis da história, em suas jornadas e suas vitórias. E no céu, perto das estrelas, os nomes de todos os semideuses já mortos, desde os primórdios, brilhava, voando e lembrando que eles tinham se doado para salvar alguma coisa. Quem fez aquilo realmente não queria ser esquecido.

– Nádia Hana. – chamo a voz de trovão, que era a de Zeus. – Como ousa não se curvar na minha presença?

Nádia ficou vermelha como um pimentão em dia de feira, se curvando desajeitadamente. Alguns dos outros deuses riram, e os campistas também. Zeus conseguiu soltar uma risada fraca, mudando de posição em seu trono.

– Não precisa se abaixar tanto, Nádia, eu sou somente o rei do Olimpo, o maior entre todos os outros. Etc, etc... – Zeus bufou. – Agora chega de piadas. Você está aqui, como a estrela da noite, pois salvou a vida de Dionísio. O décimo segundo entre os Doze.

Os deuses sentados ao lado do trono de Zeus levantaram as mãos, com somente três dedos em pé, e com a outra mão no peito.

– Chega de tanta encenação! – Zeus parecia irritado. – Olhe só isso, esses mortais andam escrevendo coisas tão absurdamente boas que até Atena resolveu aderir ao título de “Tributo”.

Atena soltou uma risada gostosa de se ouvir. Não parecia a deusa intelectual e muito ereta que Nádia imaginou. Era o mesmo que Hécate, muito jovial, descontraída e risonha. Mas algo no vestido avermelhado de Atena mostrava que ela já tinha sido diferente.

– Nádia, você fez um favor grandioso para com o Olimpo, e maior ainda, para comigo. Sou muito grato por isso. Representando todos os outros deuses, inclusive os que não puderam estar presentes aqui, te ofereço a imortalidade.

A imortalidade... a voz de Zeus ecoava por sua mente. E quanto um minuto em silêncio se passou, Zeus tomou a se sentar no trono e soprou sobre o corpo pequenino de Nádia, fazendo-a brilhar em dourado. Mas não foi algo triunfal, como sua entrada no Olimpo, foi algo mais... Normal. Ela parecia a mesma, não sentia nenhuma mudança, mas mesmo assim conseguia sentir o sangue dourado que agora corria por suas veias.

– Bem vinda ao Olimpo, deusa Nádia, deusa da coragem e da fidelidade. Braço direito de Nêmeses, aprendiz de Bia. Guerreira das linhas da frente do exército do Olimpo.

Uma chuva de aplausos vieram a tona entre os campistas, mas mesmo assim Nádia não conseguia se mover. Estava atônita. Encarava o chão, enquanto Zeus encerrava a reunião do Solstício e permitia que as ninfas e musas servissem o banquete para os convidados. Os deuses se tornaram pequenos, como os mortais, e vieram conversar com Senhora M e Dionísio, que tinham escolhido ficar ao lado de seus campistas.

Hanna foi a primeira pessoa a vir lhe dar um grande abraço, parabenizando-a.

– Ah, nossa, nem acredito que minha melhor amiga é uma deusa!

– Melhor amiga? – Nádia a encarou.

– Nossa, Nádia, fala sério. Eu me arrisque levando-a até o encontro da Ovelha Negra de Dionísio e depois não sou sua amiga?

Nádia sorriu, puxando Hanna para um abraço grande.

Bebeu, riu e comeu. Mas mesmo assim sentia um vazio grande, sentia que estava esquecendo de alguma coisa. E só quando olhou para o canto do salão, e viu o corpo solitário e de olhar vidrado, que entendeu o que faltava. Deixou todos que estavam conversando com ela naquele momento e correu para Sebastian, que não a viu, mas que brincava animadamente com os cadarços do tênis que tinha tirado.

– Oi, meu bebê. – Nádia sorriu, beijando a testa do menino.

– Mãe? – Sebastian ergueu os olhos, quase que esperançoso.

– Não, não sou sua mãe...

– Ah. – Sebastian voltou a enrolar dos dedos no cadarço.

Ele a ignorou durante mais cinco minutos, até que se irritasse com os cadarços e os jogasse longe. Bufando, ele cruzou os braços.

– Agora não tenho nada para brincar. – ele resmungou.

Nádia soltou um riso fraco e se sentou ao lado de Sebastian. Ele não reclamou, mas também não expressou mais nada.

– Quem é o meu pai? – disse por fim, olhando para os lados.

– Você não sabe?

– Me disseram que papai estaria aqui. – ele olhou para ela – Você é o meu pai?

– Não. Aquele ali – Nádia apontou para Zeus.

– Mas ele é feio. Ele não é o meu pai.

Nádia soltou uma risada gostosa, enquanto deixava Sebastian com um sorriso no rosto.

– Você está feliz. – ele notou – Sua risada é divertida.

– Divertida?

– Parece um porquinho. – ele parecia maravilhado.

– Eu pareço um porquinho?

– Sim. – Sebastian segurou a mão direita de Nádia – Um porquinho-da-índia.

Nádia fixou os olhos no rosto indecifrável de Sebastian. Oh... Meu querido... Olhe para você... Uma criança... Nádia sorriu e apertou a mão de Sebastian, enquanto se aproximava lentamente. No começo ele estranhou, mas depois deixou, e ela o beijou. Foram seis segundos, mas o suficiente para que todos no salão olhassem. Nádia corou bruscamente, enquanto Sebastian começava a rir que nem um idiota. Talvez agora ele fosse um idiota.

– Sua boca é áspera. – ele disse, depois que tudo voltou ao normal.

– A é? – Nádia encolheu os olhos.

– É como andar num deserto. Muito áspera.

– D-Desculpe.

– Mas é quente. – ele piscou algumas vezes – Quente como... Você me aquece.

Te aqueço...

Nádia sorriu.

Você me aquece, Sebastian.

Nádia chorou.

A festa rolou, mas Nádia só pode ficar ao lado de Sebastian, enquanto ele falava sobre coisas sem nexo. Descobriu que sua cor preferida era o verde-musgo, e que ele adoravas seus olhos enjoados.

Eu digo que os olhos de Nádia são enjoadas pois simplesmente me parecem enjoados. Eles são verdes-musgo e enevoados, como eu já disse anteriormente. E isso me enoja. Parece vômito ou algo do tipo. Mas raramente, ou melhor, os humanos, acham isso muito legal e bonito. No caso de Nádia, Ciclopes e Idiotas gostam.

Nádia voltou para casa, ou melhor, para sua antiga casa. O Acampamento Meio-Sangue. Lá eles cantaram no Anfiteatro, músicas para Apolo, Ártemis e Atena. Contaram história como as de Perseu, os Argonautas e as Amazonas. Mas o especial do fim de noite, quando o amanhecer já despontava, foi a história de Nádia, contada pela boca de Elizabeth, que estranhamente sabia de tudo. Os filhos de Apolo tinham um dom especial para a música, mas eram extraordinários contadores de histórias. Elizabeth conseguiu tornar a missão de Nádia muito mais gloriosa e formal do que ela mesma tinha pensado que seria.


Nádia descobriu como Arthur morrera, já que não tinha estado perto dele no momento em que ocorrera, e logo uma súbita raiva de Roxana surgiu, mas se lembrou que ela já o tinha matado. Dionísio agradeceu formalmente Nádia por ter salvado sua vida, e disse que ela poderia ser uma deusa muito lembrada, caso, é claro, se se enturmasse com ele.

No final da noite, porém, foi convidada a dormir em um novo local. Um chalé de número 29 (NN), o mais novo chalé. E, para sua surpresa, não era o chalé de Bia, mas sim o de Nádia. O primeiro pensamento que passou por sua mente foi: Eles querem que eu tenha filhos. Mas depois notou que não era bem isso, mas sim que eles estavam lhe dando um chalé só seu, sem ter de dividi-lo com mais ninguém. Jurou pelo Estige se tornar uma deusa virgem.

E quando jurou, uma aura vermelha lhe envolveu, e o rosto de Atena, Ártemis e Héstia. Apareceram diante dela, e lhe desejaram uma boa vida como deusa virgem. Agora, Nádia sabia, Sebastian não poderia mais fazer parte e sua vida. Mas... E se ela pudesse fazer parte da dele? Mas Sebastian, o Sebastian que ela conhecia, não estava mais em vida. Ele estava no Mundo Inferior. Vagando. Se ela pudesse fazê-lo mergulhas no rio Lete (o rio do esquecimento) talvez ele se sentisse melhor nos Campos de Asfódelos. Ah, que ela estava querendo enganar? Nádia queria tirar Sebastian do Mundo Inferior. E foi isso que decidiu fazer naquela noite.

Usando seus novos poderes de deusa, desejou estar no Mundo Inferior, ao lado da alma de Sebastian. E foi lá que apareceu. Sebastian estava sentado sobre uma pedra, queixo nas mãos, olhar triste sobre as outras almas mortas de pessoas normais, que não fizeram nada de especial no mundo. Eram muitas, e elas se amontoavam. Porém ninguém se aproximava dele.

– Sabia que estou começando a gostar de Orfeu?

Sebastian se virou, surpreso por ouvir a voz de sua adorada Nádia.

– Nádia! – ele quase caiu em seus próprios pés, enquanto a ia abraçar.

Ficaram lá, abraçados, por um longo tempo. Quando, por fim, Sebastian e beijou, erguendo sua cabeça com as mãos em meio a seus cabelos, Nádia sentiu como se seu cérebro estivesse derretendo para o resto de seu corpo.

– Você veio me buscar. – Sebastian sussurrou.

– Sim. – ela sorriu. – Sou a deusa Nádia, agora. Vou livrá-lo disso.

Sebastian sorriu, e então enterrou a cabeça nos seios de Nádia, como normalmente fazia quando queria dormir.

– Você cometeu um erro. – ele começou. – Fui amaldiçoado e, quando você viesse me salvar, ficaria presa aqui comigo. Mesmo sendo uma deusa... Você... Não pode mais voltar. Somente se for sem mim. Eu não posso sair daqui nunca. Estou proibido de ver a luz do Sol, ou o brilho da Lua.

Nádia sorriu, como se aquilo não fosse nada.

– Não em importo. Bia é muito amiga de Hades, creio que ele me permitirá morar aqui.

Sebastian piscou.

– E o Acampamento?

– Não preciso mais dele, sou uma deusa.

– E o Olimpo?

– Sou uma deusa menor, não estou entre os Doze.

– E os seus amigos?

– Estão todos aqui. Todos os que eu preciso. – Nádia sorriu. – Podemos fazer algumas visitar para Arthur e eu posso convidar Victoria para vir morar aqui conosco. Acho que ela preferiria do que passar a vida inteira num Cassino. Ah, e claro, como poderia esquecer... A Hanna adora conversar por Mensagens de Íris. Basta em criar um arco-íris.

– No escuro?

– Posso usar uma lanterna. – Nádia deu de ombros. – Você sabe que não vou desistir.

– Sim, eu sei.

Os dois sorriram e então se uniram a mais um beijo. Desta vez era mais profundo.

E assim acaba a história de Nádia. Espero que tenha gostado.

Mas preciso dizer mais uma coisa antes de me ir embora: Por favor, não esqueça de mim. Em sue quarto, na sala de jantar... Eu não sei. Me invoque, me traga a vida. Eu preciso de um emprego, e rápido! Normalmente sou esquecido, quem é que lembra de um narrador? Mas se lembre de mim, por favor? Creio que posso te chamar de amigo, certo? Passamos quinze dias muito felizes e confortáveis juntos.

Um beijo para as minhas fãs.

Um beijo para a minha adorada M.

E um beijo para a autora que me permitiu narrar.


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Notas finais do capítulo

Obrigada ^^
Até logo, Senhora M.



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