Accomplices escrita por larysavilela


Capítulo 5
Fights


Notas iniciais do capítulo

Aaai mds me desculpem pela demora. Meu pc resolveu não ligar eu tive teste e depois viajei no carnaval então estava suuuper enrolada. Mil desculpas. Ta ai o nono capítulo, espero que gostem pq eu amei !! :D



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Pov Anne

Depois do susto de descobrir que o Brendon era primo da Jully, as coisas ficaram mais calmas.

Ela me disse que era a dona da festa de ontem – a mesma que em que Daniel foi.

Conversamos um pouco sobre a festa. Estava me dando bem com ela e o pensamento de que eu tinha acabado de achar uma nova amiga me deixou muito feliz. Ela era realmente parecida comigo, até no modo de pensar.

Estava distraída, até que alguém parou na minha frente do outro lado da mesa. Subi meu olhar pelo corpo do garoto.

Ele usava calça jeans, uma blusa azul colada que realçava os músculos do abdômen e do braço. Era loiro e tinha olhos azuis que me encaravam intensamente.

Eu nunca tinha o visto por ali. Ele me estudava e observava cada parte do meu corpo a mostra. Tinha um sorrisinho convencido e eu não entendi bem o porque.

Talvez se achasse muito bonito. O que era totalmente verdade.

Ele continuava me olhando, eu não gostei de toda aquela atenção.

Eu o cumprimentei no momento em que Jully se aproximou de mim e disse algo em meu ouvido.

– Esse é o meu primo Brendon.

Meus olhos se arregalaram e imediatamente tudo o que ele tinha de lindo se transformou em idiotice.

Brendon, o babaca que tinha me ligado e me ofendido. Realmente aquele sorrisinho combinava perfeitamente com ele.

Fiz menção de levantar e nesse exato momento Daniel chegou até a minha mesa. Eu o olhei confusa mas ele não notou já que estava muito ocupado encarando Brendon, ele o olhava como se fosse arrancar os olhos dele fora.

Brendon também encarava meu melhor amigo com um ar de superioridade. O sorriso que antes era lindo, agora estava completamente detestável.

Eles pareciam estar disputando para ver quem levantava mais a cabeça.

Foi Brendon quem começou a falar.

– Então Daniel, se divertiu com o diretor?

Diretor?

Daniel o ignorou, se virando para Jully.

– Podemos conversar?

Eu não consegui identificar qual era a sua expressão, mas ele não estava mais sorrindo.

– Não to afim agora. Talvez mais tarde ok?

Ela se virou e saiu, deixando para tras pessoas bem confusas.

Minha atenção se voltou para os dois meninos que agora estavam sentados a minha frente. Esperei até que alguém abrisse a boca e começasse a me explicar o que estava rolando.

– Vocês se conhecem? – eu pensei alto.

– Infelizmente.

Respondeu Daniel com desprezo.

– Por que ta fazendo essa cara meu filho? Você deveria estar grato por me conhecer. Muitas pessoas fazem de tudo para ouvir pelo menos uma palavra minha.

– Pessoas surdas não vale.

– Sinto te informar que o seu senso de humor é uma bosta. – disse Brendon.

– Só sei que eu pego bastante mulher com esse meu senso de humor.

– Pega sim. Pega tanto que nem a Jully te quis.

– Por que não cala a merda da sua boca? – rebateu Daniel.

– Por que eu não to com vontade.

– Você não cansa de bancar o idiota não? – Daniel perguntou e apertou os olhos.

– Idiota? Não fui eu quem foi parar na diretoria. – Brendon provocou.

– Claro que não foi. E nós dois sabemos bem o por que.

– Por que o único débil mental aqui é você.

– Ah moleque vai se…

– Chega! – eu gritei e os dois pararam para me encarar com os olhos arregalados. Provavelmente nem lembravam que eu ainda estava li.

– Vocês parecem duas crianças, que merda!

Eu bufei irritada. Toda aquela provocação entre eles estava me deixando extremamente emputecida. Eles pareciam duas crianças mimadas brigando por causa de um brinquedo. E o pior era que todos do refeitório já tinham percebido que alguma coisa estava acontecendo.

Eu levantei e a cada passo parecia que eu ia quebrar o chão. Sempre odiei quando Daniel bancava um crianção e odeio ainda mais não saber que merda esta acontecendo.

Segurei a orelha de Daniel e a puxei com força.

– Você vem comigo!

Sai o arrastando pelo refeitório enquanto ele se debatia e gritava me mandando solta-lo.

Cheguei até a porta de trás do refeitório que dava para uma parte arborizada e o soltei.

Estávamos sozinhos naquele lugar. Eu cruzei os braços e esperei ele se recuperar da dor.

– Porra Anne, você sabe o quanto a minha orelha é sensível. – ele tinha um bico e acariciava o local que estava super vermelho.

– Eu não to nem ai para a sensibilidade da sua orelha. Quero que me explique tudo. Agora!

– Explicar o que sua louca?

– Desde quando você conhece Brendon?

– Aquele loiro babaca? Desde de hoje de manhã na aula de educação física.

Meu queixo caiu totalmente. Não tinha nem cinco horas que ele conhecia o cara e já queria mata-lo? O que acontece com esses meninos? De onde vem essa violência toda?

– Você mandou eu te explicar e fica ai viajando. Acorda garota! – ele estalava os dedos na minha frente como se fosse para me acordar do transe.

– O que você tava falando mesmo?

Daniel voltou a falar mas o som da sua voz foi interrompido pelo sinal indicando que deveríamos voltar as salas.

Fiquei decepcionada. Ainda não tinha conseguido nenhuma informação que preste, a não ser a de que o Daniel é retardado.

Minutos depois eu já estava na minha sala novamente. A última aula seria de história geral. Eu achei que veria Jully, mas ela não apareceu.

_______________

O professor irritante de história geral já tinha saído da sala junto com todos os outros alunos. Eu era a última, já que fiquei procurando a porcaria da minha caneta que resolveu ter vida própria e fugir de mim.

Já tinha desistido.

Peguei minha mochila e estava pronta para sair da sala quando algo acertou minha cabeça.

Era minha caneta.

Mas quem foi o idiota que…

Olhei para o indivíduo que tinha jogado a caneta em cima de mim. Automaticamente meus olhos se reviraram.

Brendon estava apoiado na porta com um sorriso maroto no rosto.

Resolvi ignora-lo e passei pela porta ao lado dele. Mas é claro que ele precisava complicar tudo.

Ele me segurou e me puxou para dentro da sala de novo.

– Me solta garoto. Você já me irritou de mais por hoje.

Ele me largou e levantou as mãos se rendendo.

– Me desculpa. Não quero brigar, é sério. – Brendon parecia estar falando sério.

– Então o que é que você quer, além de me atacar com uma caneta?

Ele deu risada.

– Me desculpa por isso também. Eu não queria acertar você.

– É claro que não queria. – eu disse ironicamente.

– Ei, baixa um pouco a guarda esquentadinha.

– Olha só, se for começar a me ofender como fez…

– Não! – ele me interrompeu rapidamente. Respirou fundo e continuou. – Olha, a gente começou errado. Não queria que tivesse essa impressão de mim, não quis te ofender.

– Tudo bem Brendon, eu já entendi. Posso saber o que está querendo aqui além de mostrar que é um bom garoto?

– Te chamar para sair.

Eu já estava começando a balançar minha cabeça dizendo que não.

– Por favor. Eu prometo que não faço besteira e me comporto super bem. Só queria ter a chance de te mostrar que não sou tão mal assim.

– Não te acho mal, te acho babaca. – falei como a coisa mais óbvia do mundo.

– E é por isso mesmo que eu quero que aceite sair comigo. Só um sorvete. – ele fez um bico. – Por favor, não me diga não.

Eu bufei.

– Se eu aceitar você vai parar de me perturbar?

– Isso é um sim? – ele perguntou com um sorriso enorme.

– Tenho uma condição. Vai responder com sinceridade a todas as perguntas que eu te fizer.

– Feito.

_____________________

Exausta era pouco para definir como eu me sentia nesse momento.

Minhas mãos estavam doloridas, minhas pernas latejavam e eu podia acabar com a seca do mundo todo com a quantidade de suor que escorria do meu corpo.

Eu estava deitada no sofá da sala com preguiça até de respirar.

Assim que cheguei do colégio tive que ensinar a Denis seus exercícios de casa, e como meu irmãozinho é uma verdadeira peste ambulante ele tinha que dificultar ainda mais.

Se tem uma coisa que me irrita é uma pessoa que sabe de algo mas fingi não saber. Assim como ele fez com a porra da matéria. Quase dei nele com o livro de biologia.

Depois de quase assassinar meu irmão mais novo, eu tive que pegar a vassoura e arrumar toda a casa.

Cada pedaço, cada cantinho miserável dessa casa. E foi assim que cheguei a esse meu estado de glória.

Peguei o celular e só deu tempo de ver a hora antes dele desligar. Ótimo, a bateria tinha acabado.

Já eram três da tarde e eu tinha marcado de sair com Brendon as quatro.

Eu ainda não sabia por que tinha aceitado sair com aquele maluco. Acho que eu estava muito bêbada na hora, não é possível.

Levantei e fui me arrumar. Coloquei um vestido simples. Não queria que ele pensasse que estava me arrumando para vê-lo.

Usei toda a minha habilidade para parecer casual.

O vestido branco dava um ar informal e bonito. A sapatilha contribuía com o look de menininha.

Gostei.

Meu olhar encontrou o relógio e me assustei. Já eram quatro e vinte.

Porra, to atrasada!

Sai correndo, passei pela porta do quarto de Denis e como sempre ele jogava vídeo game.

– Vou sair, pirralho. Cuida da casa, eu não demoro.

Não esperei ele responder, logo estava abrindo meu portão.

Me deparei com um loiro na frente da minha casa. Ele estava distraído olhando o celular. Como ele sabe onde eu moro?

– Brendon?

Ele se virou assustado, me reconheceu e então abriu um sorriso enorme.

– Nossa oi. Você me assustou.

– Você está na porta da minha casa e se assusta quando eu apareço?

Ele sorriu.

– Adoro o fato de você ter sempre uma resposta pronta.

– Tenho certeza que adora. Podemos ir agora? – eu perguntei.

Sabia que estava sendo rude, mas não é por que ele foi legal alguns minutos que eu vou dar o braço a torcer assim tão fácil.

Ele terá que mostrar que realmente merece que eu seja legal.

Andávamos juntos e em silêncio. Eu preferi começar o meu interrogatório na sorveteria e não estava nem um pouco incomodada com o silêncio entre nós. Pra falar a verdade era um alívio não ter que ouvir ele falando besteira.

Já ele, parecia estar se esforçando para encontrar algum assunto.

chegamos até a sorveteria e sentamos em uma mesa afastada.

O garçom veio até nós e perguntou o que iriamos querer.

– Eu to afim de um sorvete de Banana com Goiaba.

Brendon disse e eu fiz uma careta. Ai que parada nojenta.

– Que nojo. – pensei alto, como sempre.

Brendon deu risada.

– Por que nojo? Você não gosta de goiaba não?

– Bom.. sim.

– E de banana? – ele me olhou maliciosamente e eu dei risada.

– Ah fala sério. Você não presta. – eu disse ainda rindo.

– Você gosta, viu. Ta até rindo. – ele ria junto comigo.

– Eu to rindo, por que sua piadinha é tão tosca que chega a ser engraçada.

Voltamos a rir ainda mais. Só paramos quando o garçom pigarreou.

– Me perdoem mas, a senhorita vai querer alguma coisa?

– Oh sim. Um sorvete de napolitano com castanha por favor.

O garçom saiu e Brendon fez uma careta.

– Você é tão sem graça.

– Eu? Por que?

Napolitano com castanha por favor. – ele falou com uma voz fina tentando me imitar.

– Eu não falo assim. – dei língua pra ele. – E além do mas, napolitano é o melhor sorvete que existe no mundo.

– Nha, você não sabe aproveitar o lado bom da vida.

– Você que é estranho.

– É de família. – ele deu de ombros.

O garçom voltou com os potes de sorvete e cada um pegou o seu.

– Você disse que ia me fazer perguntas. Eu to curioso.

Disse Brendon.

Finalmente era a hora da explicação. Ele estava distraído olhando seu sorvete como se tivesse um tesouro em mãos.

– Brendon, como conseguiu meu telefone?

Ele olhou para mim.

– O que?

– Meu telefone. – expliquei. – Como você conseguiu?

– Eu roubei da sua ficha escolar.

– Como é que é?

Aquilo me pegou de surpresa. Ele disse como se fosse algo super normal enquanto eu quase engasguei com o sorvete.

– Você queria saber como eu consegui e eu já respondi. Qual a próxima pergunta? – ele queria mudar de assunto.

– Por que eu? Por que logo a minha fixa? – continuei depois de ver a cara de confusão dele. – Não tinha nenhuma mais interessante?

– Já que você pediu sinceridade, sim, tinha várias interessantes e é claro que eu peguei o número delas também.

Não consegui esconder a minha cara de insatisfação. Foi como acordar de um sonho. Achei que ele fosse realmente legal e estava começando a pensar que tinha o julgado mal. Mas depois dessa eu percebi que ele era exatamente o que eu pensava. Um grande babaca.

– Por que essa carinha de raiva? – ele me perguntou.

– Por que estou com raiva de mim, por te dar uma chance. – comecei a levantar da cadeira e no mesmo segundo ele também se levantou e segurou meu braço.

– Meu Deus, você é complicada de mais. Você pediu para eu ser sincero porra, estou sendo.

Soltei meu braço.

– Sincero e babaca.

Ele deu de ombros.

– Sou eu.

– Você quer mesmo me chamar para sair dizendo que fez o mesmo com várias outras garotas?

Ele suspirou.

– Anne senta, por favor.

Eu ia começar a protestar quando ele segurou meus ombros e me sentou a força.

– Aai seu grosso.

– Por que não para de fazer seu showzinho e presta a porra da atenção em mim?

– Fala logo o que você quer antes que eu perca o resto da paciência que eu ainda tenho.

Ele suspirou e tentou se acalmar.

– Me desculpa.

– Você não acha que ta pedindo desculpas de mais por hoje? – eu disse.

– Não é isso que você quer? – ele ficou confuso.

– Eu quero que não precise pedir desculpas.

Ele grunhiu.

– Meu Deus, você confundi muito a minha cabeça.

– Você quem não sabe lidar com mulheres. Onde já se viu mandar aquele papo torto, ainda mais por telefone?

– Papo torto?

Eu sou Brendon Savhan, O que acha de sair comigo amanhã? – fiz uma imitação escrota da voz dele a deixando fina e chata.

– Ah para que eu até fui simpático.

– Ah foi? E por acaso conseguiu alguma coisa com toda essa sua simpatia? – eu disse ironicamente.

– Você ta aqui comigo, não ta?

Brendon sorriu debochado e confiante, automaticamente eu quis dar na cara dele.

– Por que não pega os contatos interessantes junta com a sua simpatia e enfia no seu cu?

Levantei com raiva e sai batendo o pé de la. Não olhei para trás e não faço ideia de qual foi a reação dele.

Eu devia estar louca quando aceitei dar uma chance para esse doente. Eu não deveria estar aqui e muito menos com Brendon.

O vento frio da rua vinha contra mim o que me deixou com mais raiva ainda de não ter trago um casaco e ainda por cima de estar com vestido.

Eu tinha que me revezar entre segurar minha bolsa, não deixar meu vestido subir e me proteger do frio. O que estava se mostrando uma tarefa quase impossível.

Dei mais uma puxada para baixo no vestido e com a outra mão segurei a bolsa que mais uma vez ameaçou cair.

Parei para atravessar a rua mas não conseguia ver direito já que o vento forte estava jogando todo o meu cabelo no meu rosto.

Eu não conseguia ver a rua e isso me deixou nervosa.

Depois de atravessar, sem nenhuma lesão. Para minha sorte, o vento ficou um pouco mais fraco o que me ajudou a chegar bem rápido em casa.

Entrei na sala e o ar aquecido me acolheu de bom grado.

Fui direto para o meu quarto, troquei o vestido por uma regata branca e calça de pijama. Passei por Denis na escada. Ele estava subindo e eu descendo.

– Onde você vai? – eu não estava exatamente interessada na resposta. Perguntei por perguntar.

– Jogar.

Revirei os olhos.

– Sabia que isso faz mal? Deveria sair um pouco.

– Está mesmo me sugerindo sair nessa tempestade?

Eu não sabia o que responder por dois motivos: era realmente uma estupidez o que eu tinha acabado de dizer e tinha momentos em que o meu irmão parecia mais velho que eu.

Balancei a cabeça e desci a escada de uma vez. Cheguei a tempo de ouvir o telefone tocar.

– Alô.

– O que aconteceu? Eu pensei que fosse te levar pra casa hoje, te procurei o dia todo, você sumiu. E por que não atendeu a porra do seu telefone?

Daniel falava tudo muito rápido, um sinal de que estava com raiva. Coloquei a mão na testa. Tinha esquecido completamente que pedira uma carona a ele.

– Meu celular descarregou e eu esqueci que tinha pedido uma carona a você. Foi mal mesmo.

– Existe uma tecnologia nova e muito eficiente que normalmente vem na caixinha junto com o celular. Chama-se carregador, conhece?

– Dan.

Pronunciei seu nome devagar como um novo pedido de desculpas que ele pareceu aceitar já que suspirou depois de um momento de silêncio.

– Tudo bem, não precisa apelar.

Sorri. Já não tinha rastro de chateação em sua voz.

– Não foi só por isso que eu liguei. Quero te chamar pra sair.

– Claro. Quando? – perguntei.

– Hoje.

– O que? – eu disse com um sorriso no rosto. Estava esperando que ele dissesse que era brincadeira. Mas meu sorriso desapareceu depois que ele ficou quieto. Olhei para a janela e estremeci. Uma tempestade de neve e chuva havia se formado la fora e só a ideia de sair de casa me fez tremer de frio. – Você deve estar me zuando.

– Não, não queridinha. Pode levantar essa sua bunda do sofá, colocar um casaco bem quentinho e vir me encontrar. Já estou a caminho, em dois minutos chego ai.

– Daniel Ryan!

Meu tom de voz estava dizendo “eu não acredito que esta mesmo fazendo isso!” . Queria matar Daniel. Ele não me faria sair de casa com aquele tempo! De jeito nenhum! Não mesmo!

_____________________

Dez minutos depois lá estava eu sentada no banco do carona de uma caminhonete preta. Meus braços estavam cruzados no peito e a cara emburrada.

– Deixa de ser fresca. O que tem de mais em uma chuvinha de nada?

– Chuvinha de nada? – falei com a voz fina. Estava com raiva dele, principalmente por ter me tirado do quentinho da minha casa. – Estamos no meio de uma tempestade, você sabe o que é isso?

– Chuva, neve, vento. Acho que sei do que se trata. – ele disse com um sorrisinho enquanto virava o volante em uma curva fechada da estrada.

– Pessoas normais estão trancadas entre quatro paredes nesse momento.

– E é por isso que estamos na rua. – ele piscou para mim.

– Para onde estamos indo? – eu tentava identificar o lugar onde estávamos mas a neve na janela não estava ajudando nem um pouco.

– Você vai ver.

Ah não. Odeio quando ele faz isso.

– Você me arrastou de casa contra a minha vontade, acho que mereço saber para onde está me levando.

– Relaxa, baby. Você vai gostar.

– Ou não. – completei.

Algum tempo depois, Daniel estacionou o carro em uma vaga apertada na frente de um restaurante pequeno e sujo. O letreiro de neon tinha algumas letras apagadas. Tinha sacos de lixo espalhados por todos os lados e muitos moradores de rua deitados no chão. Sai do carro e percebi que a chuva tinha dado uma trégua. Olhei em volta. Não tinha ninguém na rua, as casas bonitas e grandes deram lugar a apartamentos sujos e mal cuidados. Ali com certeza não era um dos melhores lugares de Manhattan.

Daniel empurrava minhas costas levemente, me encorajando a continuar andando.

– Daniel – sussurrei. – Acho que deveríamos voltar para o carro.

– Não seja tão malvada assim, o lugar até que é legal. Lembra o Jenk’s. – ele se referia ao restaurante.

– É exatamente por isso que eu não acho que seja uma boa ideia entrarmos.

– Relaxa amor, você ta comigo. E além do mas aqui só morreu duas pessoas nessa semana.

O olhei incrédula.

– Realmente isso me fez sentir muito melhor, obrigada.

Ele deu de ombros.

Entramos no restaurante e um cheiro forte de bebida me pegou de surpresa. Ali dentro, com as portas fechadas e a luz baixa, nem dava para perceber que ainda estava claro. Não tinha muitas pessoas lá dentro e o pouco que tinha estava no bar bebendo.

Daniel me guiou até uma mesa afastada e se sentou na minha frente, logo depois uma garçonete alta e muito magra veio nos atender.

– O que vão querer? – a mulher disse com uma voz baixa e tedioza. Ela era curvada e se limitava a olhar apenas para o caderninho que tinha em mãos.

– Tacos com bastante pimenta e molho especial.

– Bebida?

– Coca, por favor.

Ela escreveu algo no caderno e saiu silenciosamente da mesma maneira que chegou.

– Ela parecia cansada. – eu ainda olhava para onde a mulher tinha ido.

– Eu também estaria se tivesse que aturar um bando de bêbados pedindo pinga o dia inteiro.

Eu dei novamente uma olhada no local. Ela me parecia ser a única garçonete, pelo menos naquele período. Para a alegria dela, não tinha muitos clientes ali naquele momento, o que me fez pensar novamente por que Daniel me levou até la.

– Tacos? – era o meu palpite.

– Os melhores da cidade.

– Não acredito em você.

Ele deu de ombros.

– Você tem duas opções: ou acredita que aqui tem o melhor taco de toda Nova York ou que eu precisava conversar com você já que estava muito nervosinha hoje.

Estreitei os olhos.

– A segunda opção.

Ele sorriu.

– Eu te conheço, você não parece ta nada bem hoje.

– E não estou.

– O que aconteceu? – ele estava preocupado.

– Primeiro, teve a nossa briga de manhã. Depois, o Brendon e todo aquele show que vocês deram no refeitório. A jully também sumiu e ainda teve o meu encontro horrível.

Daniel parecia ter recebido informações de mais, podia ouvir as engrenagens do cérebro funcionando.

– Encontro?

Nesse momento eu percebi que tinha falado de mais e me xinguei mentalmente por esquecer um detalhe tão importante: Brendon e Daniel se odiavam.

– Por que odeia tanto o Brendon?

Fechei os olhos. Eu realmente precisava parar de dizer o que penso. Abri e me assustei, Daniel estava vermelho, seus olhos pareciam estar pegando fogo e uma veia de seu pescoço pulsou.

– Você teve um encontro com Brendon?

Engoli um nó que se formou em minha garganta.

– Não foi bem um encontro. – tentei contornar.

– Você disse que foi. – ele insistia.

– Dan, não aconteceu nada..

– Eu não acredito que fez isso Anne – ele massageava as têmporas. – Você sabe que odeio esse moleque e em vez de ficar do meu lado você confraterniza com o inimigo? – ele me encarou, os olhos transmitiam acusação e uma leve magoa.

– Olha, acho que está levando isso muito a sério. Não estou defendendo Brendon até por que isso é a última coisa que eu faria. Mas você não pode ter arranjado um inimigo em apenas um dia.

– Não tente mudar o foco da conversa para mim. estamos falando de você e do seu encontro.

– Não se preocupe com isso. Brendon já se ocupou em estragar qualquer possibilidade de existir algum relacionamento entre nós.

– E você por acaso queria que tivesse algum?

Revirei os olhos.

– Agora é minha vez de dizer. Não sou sua namorada, pare de pedir explicações sobre tudo.

Ele não gostou nem um pouco da resposta mas em vez de continuar a briga como ele sempre fez. Suspirou e se levantou. Um pânico repentino tomou conta de mim. Ele não podia ir embora e me deixar ali naquele lugar sozinha.

Para o meu alívio ele foi na direção do banheiro. Esperei até que tivesse saído do meu campo de visão e também fui até o banheiro feminino.

Lavei o rosto e suspirei. Hoje estava sendo um dia complicado. Briguei três vezes com Daniel e também com brendon. Minha cabeça estava começando a doer e eu lembrei que estava sem meu celular, já que não tinha tido tempo de por para carregar. Denis estava sozinho em casa – como já tinha ficado várias vezes – jogando video game. Ele não iria sentir minha falta, mas seria um problema se Vincet descobrisse que não estou por la.

Joguei mais água gelada no rosto e me apoiei no balcão. Odiava brigar com Daniel. Sempre me sentia mal e deprimida.

Voltei para a mesa determinada a fazer o clima entre nós melhorar. Passei pelo bar e chamei a garçonete magrela.

– Aqui tem sinuca?

– Sim, lá em baixo. – ela apontou para uma portinha pequena a esquerda do salão.

– Obrigada. – eu disse mas ela não estava mais me dando atenção.

Voltei para a minha mesa e Daniel estava la comendo os tacos. Lancei-lhe um sorriso mostrando todos os dentes. Ele levantou as sobrancelhas.

– Sabia que você é bipolar?

Dei risada e sentei ao seu lado. Ficamos espremidos no banco e então o abracei. Me aconcheguei em seus braços e relaxei.

– Odeio brigar com você. É como se uma parte de mim fosse embora, é horrível. – fiz biquinho. – Me desculpa? Prometo não esconder mais nada de você.

Ele me abraçou ainda mais forte. Me sentia protegida ali. Não importava o lugar, nem em que situação eu estivesse. Aquele abraço sempre me traz paz e esse pensamento me fez sorrir. Ele acariciava meu cabelos.

– Adoro quando deixa o orgulho de lado e pede desculpas, é uma coisa tão rara. – eu conseguia perceber o sorriso que ele tinha.

Bati de leve em seu peito. Realmente era raro eu esquecer do meu orgulho. Muito muito raro mesmo. Mas naquele momento não queria pensar nisso, só de estar ali com meu melhor amigo me protegendo como o irmão que sempre foi estava feliz.

Muito feliz.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D prometo não demorar tanto para postar. beeeeijokas
Anne -sorveteria- : http://www.polyvore.com/anne_accomplices/set?id=81061249
Anne -restaurante com Daniel- : http://www.polyvore.com/cgi/set?id=115530578&.locale=pt-br
Brendon: http://www.polyvore.com/brendon_accomplices/set?id=110354255
Daniel: http://www.polyvore.com/daniel_accomplices/set?id=107626099



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