Forksford escrita por KiaraBe


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bons sustos e boa leitura!



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Katherine Realms abriu a porta de seu apartamento e se jogou no sofá. Nunca esteve tão cansada como agora. Contudo, sentia-se realizada. Conseguira terminar um roteiro completo de uma história de terror da qual acompanhara todo o processo de filmagens.

De fato, Kat Realms é uma renomada roteirista, consagrada com diversos prêmios e sempre muito bem vista pela crítica. Uma produção cinematográfica como aquela não era tão necessária assim em sua vida. Mas o diretor foi bastante insistente, além de ter oferecido uma ótima porcentagem de seus lucros.

Além de talentosa, Katherine era também muito bonita. Sua presença sempre era notada nos eventos pelas repórteres que perguntavam enlouquecidas quem fora seu cabeleleiro ou estilista. Os cabelos castanhos desciam até as costas, levemente ondulados, mas que eram constantemente deixados lisos, por preferência da escritora. Seus olhos, castanhos e adoráveis, contrastavam com seu belo e sensual corpo. Ainda que tímida à primeira vista, ela era divertida e muito comunicativa. Assim, por sua beleza e personalidade, não era difícil para a morena se relacionar com as pessoas.

Após tirar um cochilo no sofá, Kat foi tomar um banho e arrumar suas coisas. Estava ansiosa para viajar e poder, enfim, relaxar com seus amigos da equipe de filmagem. Discutiram bastante sobre o destino, até que optaram por Forksford, uma cidade interiorana, próxima a um enorme lago, onde um deles possuía uma cabana.
Assim que terminou de aprontar as malas, Kat pegou seu celular e mandou mensagem para seus amigos avisando que estava pronta. Menos de uma hora depois, uma van buzinou e seu celular tocou. Estava na hora. Saiu do apartamento, pegou o elevador e abriu um enorme sorriso ao ver seus amigos falantes e divertidos como sempre.

– Chegou rápido! Isso tudo é saudade da minha pessoa? – disse Finn, o primeiro motorista da viagem, saindo do carro e indo cumprimentá-la.

Finn era um moreno alto e forte, resultado de muitos anos como atleta. Era extremamente divertido, exceto quando se irritava ou quando deixava seu ego falar alto demais. Estava sempre à caça, mas também tinha bom coração, o que fazia dele um galã de primeira.

– Aham... Convencido é sempre pouco pra você, não é? – respondeu Kat, dando um leve tapa no braço do amigo e o abraçando, depois de ajudá-la com as malas.

– Ainda não se acostumou com o Mister Músculo, anta lerda? – perguntou Cloe, saindo do carro.

Direta, sincera e divertida, assim era Cloe. Um pouco oferecida, mas nada além do que a maioria das mulheres da atualidade é. Obviamente, por ter um corpo escultural, não é tão difícil assim pra morena conseguir companhia masculina. Era uma das pessoas que Kat mais tinha afinidade.

– É força do hábito, baleia encalhada! – respondeu Kat, rindo – Gente, cadê o Max e a Tif? Eles não vinham com vocês?

– Pois é, mas sabendo do seu enorme nível de organização, Max foi mais cedo que nós pra arrumar as coisas lá na cabana. Deve imaginar o estado do lugar... A Tif foi de bônus pra dar uma “ajudinha”... – respondeu Finn, arrancando gargalhadas de todos.

– É, imagino... Vamos, então?

– Vamos, mas antes me dá meu abraço! – gritou Kevin saindo do carro.

– Ai, Senhor, dai-me forças... - suspirou Cloe, impaciente. - Ficar sem um abraço não o mataria, Sr. Carência. Quero chegar logo! Kevin ignorou o comentário e foi cumprimentar Kat.

– Claro, Carente! – riu Kat, indo na direção do moreno de braços abertos.

Kevin era o mais novo do grupo e tão maduro quanto todos que estavam ali, o que não era grande coisa. Sabia como seduzir uma mulher tão bem quanto Finn, mas se apegava a ela muito rápido. Devido ao seu lado carinhoso, o moreno era continuamente chamado de Carente.

– Pronto, carência matada, podemos partir! – disse Kevin depois de dar um abraço e um beijo na bochecha da amiga.

*********

A viagem fora tranquila e calma. Os quatro revezaram a direção, pois todos ainda estavam cansados depois de tanto tempo trabalhando intensamente. Depois de algumas horas, e de terem errado o caminho mais de uma vez, eles chegaram à entrada da cidade.

Kat olhou o portal antigo e descascado em que estava escrito o nome da cidade. Os fortes ventos e as chuvas frequentes fizeram com que o portal tomasse um aspecto macabro e desagradável. Não havia movimento nas ruas e tudo parecia estar deserto. Kat ouviu um rangido de madeira velha, mas não conseguiu identificar de onde viera tal som. Arrepiou por um instante e foi tirada de seus devaneios por uma Cloe impaciente:

– Sério que a gente vai ficar um tempo nessa cidade? – perguntou Cloe – Já vi que vou ter que me virar com as unhas!

– Ah, sim, todo mundo vai ficar chocado se você não fizer as unhas enquanto estivermos aqui... – disse Kevin, ironicamente, enquanto revirava os olhos.

Todos riram da expressão enfurecida de Cloe, que não durou nem cinco minutos para voltar ao normal.

Kat voltou a seus devaneios, mas foi logo novamente trazida à realidade pela visão de um homem de calça jeans e blusa xadrez sentado com as pernas cruzadas em um posto de gasolina.

– Finn, acho que devemos parar no posto e perguntar onde fica a cabana do Max... Já estamos rodando há mais de meia hora! – disse Kat, preocupada.

– Tudo bem. – respondeu Finn.

Ao pararem no posto, Finn baixou o vidro e perguntou ao frentista onde ficava a tal cabana. Era a única cabana da região e todos na cidade, segundo dissera Max, sabiam onde ela ficava. Mal encarado e sujo, o homem respondeu com uma voz grave e arrepiante:

– A cabana não está longe daqui. – o sujeito fez uma pausa para cuspir no chão e deixar Kevin e Cloe com cara de nojo – Vocês deveriam ter pegado um mapa antes de saírem por aí perturbando a vida dos outros, seus idiotas! – rosnou o frentista e logo em seguida explicando o caminho.

– Obrigada por sua atenção. – respondeu Finn, com nojo e repúdio do sujeito.

– Não agradeça, seu almofadinha! Não fiz por educação! – gritou. Ao terminar de falar, o sujeito riu desdenhosamente, roncando como um porco.

Irritado, Finn voltou a dirigir e resmungava palavrões e maldições.

Ao finalmente chegarem à cabana, o rapaz buzinou freneticamente até o ruivo e Tif saírem para recebê-los.

– Porra Max, vê se nos dá um mapa na próxima! – xingou Finn, saindo do carro.

– Do jeito que você é burro, Finn, seria capaz de se perder do mesmo jeito. – debochou Max, indo ajudar Kevin com as malas.

Max era bagunceiro como qualquer outra pessoa, contudo, sabia a hora de parar e arrumar tudo. Ruivo de corpo definido, era divertido, inteligente e sempre animado. Sabia dar uma festa e criar efeitos especiais no computador como ninguém. Havia herdado a cabana de um tio querido e fazia questão de cuidar do lugar, em homenagem a ele.

– Isso é verdade, amor. – disse Tif, rindo- Não negue sua burrice, Finn!

Tifanny, mais conhecida como Tif, era ruiva, tal como Max era. Tinha o corpo muito bem definido, cada coisa em seu lugar. Simpática e singela, Tif também sabia ser grossa e estúpida. Conheceu Max quando entrou para a equipe de filmagem, e logo se apaixonou por ele. Ele também não tirou os olhos dela desde o primeiro momento que ela pisou no estúdio. Depois de alguns meses, o casal ruivo assumiu o compromisso.

– Muito engraçadinhos... Que tal irem para o inferno verem se eu estou lá? – perguntou Finn – Já basta o porco rabugento que encontramos no caminho!

– O cara do posto de gasolina? Normal, ele sempre foi assim. Nunca gostou de forasteiros e não trata muito melhor os habitantes. Vai entender... – disse Max.

A cabana era feita de toras de madeira e próxima a um lago de águas tão escuras que quase nada era possível ser visto, mesmo perto da superfície. Possuía vários quartos, apenas um com suíte. Havia uma cozinha relativamente grande para um local no meio do nada, e uma sala de estar aconchegante e moderna, com cabeças de animais empalhados penduradas nas paredes. Havia um número de quartos suficiente para que cada um dormisse sozinho, mas alguns provavelmente continuariam vazios.

Depois das malas terem sido colocadas todas em um único quarto, todos se reuniram na sala, para enfim começarem a relaxar, com exceção de Finn e Kat, que estavam tomando banho em banheiros separados. Tif e Max já haviam separado copos em cima da mesa e diversas garrafas de bebida já estavam abertas, prontas para o consumo.

Finn saiu do banheiro enrolado em sua toalha e foi para o quarto ao lado do de Kat. Depois que fechou a porta, ele começou a observar os quadros que estavam no aposento. Um deles, grande e largo, que ficava de frente para a cama de casal, chamou sua atenção, não pelo tamanho, mas por seu conteúdo. O quadro mostrava uma cena que se assemelhava ao Apocalipse: demônios esqueléticos com chifres, alguns com asas, atacavam mulheres que gritavam, em desespero, enquanto tentavam proteger suas crianças que choravam ao verem os demônios devorarem os homens, que agonizavam entre os afiados dentes das bestas. Perplexo e incomodado, ele tirou o quadro e o colocou atrás do armário, de forma que não pudesse ser visto por nenhum ângulo.
Quando voltou seu olhar para onde o quadro estava, Finn ficou boquiaberto. Ele não apenas viu um espelho, como conseguiu ver o que estava do outro lado: uma Kat, magnificamente seminua, utilizando roupas íntimas vermelhas de renda. Desviou o olhar envergonhado, pois ela estava olhando diretamente para ele.

– Kat-at, me desculpa! Eu vou sair e espe-erar lá fora, tu-tudo bem? - Finn gaguejava e estava vermelho de vergonha - Kat? Está me ouvindo?

Por mais que falasse, ela parecia não ouvir nem ver nada. Apenas ele podia vê-la. Ao perceber isso, perdeu o embaraço aos poucos e passou a admirar o corpo escultural da garota, agora vestida com uma saia justa e uma blusa de alças. Finn sentiu sua antiga vontade incontrolável crescer dentro de si, a mesma que ele reprimia toda vez que encontrava a escritora e ficava a sós com ela. Colocou uma bermuda rapidamente e foi para a sala beber dois copos de uma bebida qualquer. Com o álcool nas veias, a coragem crescendo e o desejo maior do que nunca, Finn saiu da sala, deixando os outros bebendo, e partiu rumo ao quarto, decidido.

Kat havia terminado de arrumar o cabelo e estava calçando as sandálias, quando ele entrou em seu quarto, vestido apenas com uma bermuda cinza, e fechou a porta atrás de si, sem tirar os olhos dela. Ela não sabia se ficava perplexa com a invasão ou se admirava o corpo do atleta.

– O que está fazendo aqui, Finn? – perguntou mesmo já tendo ideia da resposta.

– Decidi fazer uma coisa que estou querendo fazer a muito tempo...

Dito isso, o rapaz foi em direção a Kat, que ainda estava sentada na cama com a mão nas sandálias, segurou seu rosto com as mãos e deu-lhe um longo beijo. Finn parou por um instante enquanto olhava nos olhos dela, como se esperasse uma resposta. Kat ficou imóvel de início, não sabia exatamente o que fazer. Quando se deu conta, já o havia puxado para seus braços, retribuindo o beijo. Cada beijo, cada toque, cada sensação era diferente. De alguma forma, aquele rapaz mexia com os sentimentos da morena.

– Não sabia que era tão bom assim, Don Juan – comentou em meio a suspiros.

– Você ainda não viu nada. Meu tratamento de verdade mal começou – disse Finn e ambos sorriram maliciosamente.

O desejo de ambos era nítido. Seus corpos entrelaçados clamavam para se encontrar e sentir um ao outro.

O barulho de um vidro quebrando chama a atenção dos dois. Uma pedra havia sido jogada para dentro do quarto. Kat levantou assustada, derrubando Finn da cama.

– Mas quem será o filho de uma égua no cio que jogou isso? – perguntou Kat, decepcionada por ter seu tratamento interrompido e amaldiçoando o culpado.

– Não faço ideia - disse Finn, massageando a cabeça com a mão após bater com ela no chão - Não vejo ninguém. – disse indo em direção à janela e olhando em volta. Pegou a pedra e a jogou de volta.

– Que loucura... – suspirou a moça, mas não baixo o suficiente para que Finn não escutasse.

– Foi uma loucura mesmo. Acho que te devo desculpas por entrar daquele jeito no seu quarto.

– Eu... Não sei bem o que deu em mim - disse Kat em pé se vestindo, envergonhada - Acho melhor irmos para a sala.

– Vamos. - concordou Finn, confuso com tudo o que ocorrera.

Ambos se recompuseram e foram para a sala. Os outros já estavam bem alegres e vários copos já estavam vazios.

– Foram se agarrar e esqueceram-se de nós aqui, não é mesmo? – perguntou Cloe.

– Não enche, perua! – respondeu Kat, ficando vermelha. Cloe sempre sabia quando uma amiga sentia algo por um homem. Apesar de confiar muito na amiga, Kat preferiu não confirmar o que ocorrera.

Algumas garrafas já estavam abertas, mas apenas uma estava vazia. A noite estava apenas começando.

A escritora e o atleta, apesar do embaraço, acabaram sentando juntos. Cloe já estava ao lado de Kevin, tal como Tif estava de Max, e não havia outros lugares para sentar além do sofá de couro em frente à lareira.

Uma música tocava descontraída, como a situação pedia. Risadas e vozes preenchiam o ambiente e os ânimos já estavam se exaltando. O casal ruivo estava entretido em uma conversa particular; Cloe ria escandalosamente das tímidas piadas de Kevin enquanto Kat e Finn, por mais que tentassem evitar, não conseguiam separar seus sentimentos de seus pensamentos sobre o que acabara de acontecer no quarto.

De repente, a luzes apagaram e a música parou.

Alguém soltou um grito. Provavelmente Tif, que sempre ficava nervosa e agitada na escuridão. Kat respira ofegante, assustada e alerta a qualquer coisa, enquanto procurava Finn ao seu lado e se aninhava a ele.

Um vidro é quebrado, algo cai no chão de madeira da sala. Outro grito.

As luzes retornam e a música volta a tocar. Todos olham em volta para checar se estavam bem, até que focalizam a pedra jogada no meio da sala. Kevin a pega.

–Tem algo escrito aqui... “Segundo aviso”, mas o que é isso? – perguntou Kevin, pensativo.

– Deve ser só mais um moleque à toa. Tem muitos deles por aqui. – disse Max tranquilo – Vamos galera, vamos encerrar por hoje. Talvez a música esteja incomodando alguém.

– Tudo bem, acho melhor encerrarmos mesmo. Amanhã vamos ao lago, então não demorem a acordar ok? Boa noite, galera. Vamos, amor. – E assim Tif saiu da sala, puxando Max para o quarto. Ela ainda estava assustada, nitidamente.

Como previsto, sobraram quartos. Finn preferiu não contar sobre o espelho dupla face de seu quarto, então sugeriu a Kat que fossem dormir no quarto de Kevin. Finn não se sentiria bem dormindo em um quarto em que alguém poderia estar observando-o sem ele saber.

–Pode ser. Kevin vai dormir com a Cloe mesmo. – aceitou Kat – Aconteceu alguma coisa, Finn?

– Não, está tudo bem. Só acho que a cama dele é maior do que as nossas. – respondeu Finn. Ele estava preocupado. Kat estava um pouco pálida e gelada, ele não queria deixá-la sozinha nessa condição.

Todos conferiram a segurança da casa e só se retiraram depois de tudo devidamente fechado. Finn deixou Kat se arrumar primeiro e ficou sentado na cama, de costas para a porta do banheiro, esperando. Assim que ela terminou, foi tomar um banho e tentar não pensar no que viu. Kat, mesmo levemente alcoolizada, ficou intrigada com os acontecimentos do dia. Sentia que alguma coisa estava errada.

Estava mergulhada em seus pensamentos quando Finn deitou-se ao seu lado. Nenhum dos dois queria falar sobre o dia. O rapaz então a abraçou, e ela aninhou-se a ele.

Respirando fundo, Kat tentou se acalmar e afastar qualquer pensamento ruim, assim como Finn.

Estou aqui para me divertir, não para escrever outro terror, pensou.


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Notas finais do capítulo

E então? Curiosos? Adoraram? Detestaram? Querem mais um capítulo? Ideias? Mandem review, please! Estou louca para saber a opinião de vocês!Becitos!