As leves brisas de veraneio adentravam o quarto de forma suave, fazendo as cortinas balançar de um lado para o outro, aos poucos Belle abria os olhos, sentiu uma mão sobre sua cintura, um calafrio percorreu-lhe toda a espinha.

Ao se virar, pôde observar Kevin em um sono tranqüilo enquanto um pequeno sorriso desenhava-se em seus lábios. Sentia-se segura com ele, a jovem ajeitou-se no travesseiro ficando na mesma altura, face a face com ele.

Kevin sentiu a respiração da jovem em seu rosto, sorriu.

– Bom dia! - disse pegando-a de surpresa.

Belle não conteve uma pequena risada.

– Bom dia! - respondeu.

Ele abriu os olhos de forma lenta, e lá estava ela encarando-o como se pudesse ler seu pensamento mais intimo, aqueles olhos azuis turquesas tinham um pequeno brilho.

– Espero que não tenha se incomodado com meu ronco. - disse de forma brincalhona.

Belle virou-se para encarar o teto pousando suas mãos sobre a barriga.

– Ronco? Mas você não faz nem um barulho. - questionou virando-se novamente na direção dele.

Kevin sorriu.

– Espero que tenha descansado um pouco. - disse se referindo ao pesadelo que ela tivera. - Você até parecia um anjo dormindo.

Belle passou a mão sobre a face dele, pegando-o de surpresa com aquele gesto.

Eram tão diferentes, mas não poderia negar que sentia algo quando estava perto dela.

– Acho melhor eu ir preparar algo para comer. - anunciou enquanto sentava sobre a beirada da cama.

A jovem permaneceu encarando-o.

Kevin encolheu os ombros e desviou o olhar por um momento, o sorriso ainda lhe repuxando um dos cantos da boca. Ele nunca conhecera uma pessoa depois da partida de Lana, ou melhor, nunca esteve com outra mulher em sua casa.

Estava sendo um bom samaritano, mas ainda podia sentir algo dentro de si que o puxava para a superfície.

– Kevin! - chamou de forma suave fazendo-o se virar para encará-la -Não tenho palavras por tudo que esta fazendo, deve me achar uma maluca de ter aceitado seu pedido sem ao menos conhecê-lo, mas sinto-me segura ao seu lado.

Sem perceber ele continha um sorriso estampado no rosto.

– Não é maluca, isso nunca me passou pela mente. - respondeu.

Belle retribuiu o gesto, em questão de segundos ele desapareceu pela porta. A jovem virou-se na direção da janela semi-aberta, perdia-se em lembranças.

– Devemos ser fortes, sempre!– aquelas vozes em seu subconsciente a deixavam atordoada, mas sentia-se cada vez mais forte.

– Não irei fraquejar. - balbuciou enquanto se perdia nas lembranças.

Nunca imaginara que algum dia de sua vida estaria em uma situação daquela, não podia evitar o choro, mas iria prosseguir mesmo quando perdia se naquele transe profundo.

– Aqui está. - anunciou Kevin adentrando ao quarto com a bandeja de café da manha.

Belle sorriu.

– Não acredito que se deu a esse trabalho todo- ela disse boquiaberta.

Ele mostrou um largo sorriso, aproximou-se da cama e estendeu a bandeja sobre as pernas de Belle.

– Tirando que não lembrava muito onde estavam as coisas, mesmo morando nessa imensa casa. - disse enquanto sentava-se aos pés da cama - Não tive trabalho nenhum.

A jovem encarou-o por alguns segundos, Kevin era um enigma aos seus olhos, sempre tão adorável e gentil, mas carregava consigo uma dor imensa e um olhar tristonho em certos momentos.

Belle saboreou aquele café da manhã enquanto Kevin a observava calado.

– Esses coockies estão ótimos. - disse ao terminar de comer o ultimo.

Ele sorriu.

– Receita caseira da minha mãe. - respondeu - Ela sempre nos servia todas as manhas. Lana não aprovava muito meus dotes culinários, ficava reclamando de como o café estava doce demais.

Belle franziu o cenho, não resistiu a uma risada.

– Está falando serio? - perguntou, Kevin fez um gesto de cabeça afirmando - Ela deve ser de outro planeta.

Ele desviou seus olhos para a janela e respirou fundo.

– Ainda me lembro como a conheci. - disse com um olhar perdido - Estava de terno e segurava uma maleta pesada, parecia apressada e com um olhar de preocupada. - disse entre suspiros - Ela era arquiteta de uma importante empresa de Nova York, usava um batom vermelho e estava de salto alto. Sempre tão sofisticada e pontual. - pausou virando se na direção da jovem - E você já conheceu alguém? - perguntou.

A jovem desviou seus olhos para um canto.

– Não! Meus pais eram rigorosos quando o assunto era um relacionamento. - disse tentando evitar encará-lo - Diziam que eu deveria arrumar alguém da mesma religião que a minha e de classe social igual. - ela pausou erguendo seus olhos na direção dos dele - Sempre esperei a chegada de um príncipe encantado, mas depois dos quatorze anos comecei a me desiludir.

Kevin aproximou-se da jovem e segurou sua mão direita.

– Não deve desistir talvez algum dia ele chegue. - disse.

A jovem retirou sua mão de entre as dele, antes que pudesse responder-lhe algo, Kevin retirou a bandeja e a levou para a cozinha.

Não podia ser, mas sentia algo estranho quando ele estava perto.

"-Quando a gente ama alguém, sente borboletas no estomago."

Lembrou-se do que uma amiga sempre lhe dizia, mas tentou desfazer aquele pensamento bobo, nunca um homem do nível de Kevin Carter iria olhar para ela com os olhos diferentes a não serem os de piedade.

– Aliás, marquei algumas cessões de fisioterapia com um velho amigo meu, para ajudar com os movimentos das pernas. - anunciou parado na porta.

A jovem assentiu.

– Preciso tomar um banho estou grudando.

Kevin encarou-a por alguns segundos, mas logo ajudou-a carregando-a até da imensa banheira que tinha no quarto de hóspedes, aquele cheiro suave que exalava das roupas dele a deixava atordoada.

– Quando terminar é só me chamar. - disse colocando-a, dentro da banheira e deixando a toalha próxima a borda.

A jovem agradeceu, ele saiu fechando a porta atrás de si.

Aquelas águas mornas ajudavam a relaxar todo o corpo, encostou -se na borda da banheira e fechou seus olhos.

"Não seja imatura ele nunca ira olhar pra você com desejo, apenas de forma triste."

Sua mente parecia lhe trair de forma cruel, respirou fundo.

Pegou a toalha e cobriu seu corpo, sem delongas, chamou-o. Kevin havia trocado de roupa, não parecia um médico, mas alguém normal.

Ele carregou-a para o quarto novamente.

Simplesmente, permaneceram parados, olhando um para o outro.

Por fim, Belle se equilibrou na borda da cama e tocou-lhe o braço impedindo-o de sair, sua respiração estava nervosa, o puxou em sua direção fazendo-o ficar frente a frente e ele se apoiou no colchão para não cair sobre ela e por fim o beijou de modo intenso e abrasador. Não demorou para que ele se afastasse.

O beijo eletrizou Kevin, o confundiu.

"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio."- Oswaldo Montenegro