Ao abrir meu olhos percebi que era a primeira vez que eu tinha feito após cair no sono, ou seja, não acordei no meio da noite com os pesadelos. Eu sabia o por que disso, Peeta tinha passado a noite comigo, ele me trouxe a segurança de novo. Levantei decidida, eu sabia o que tinha que fazer e o que eu queria, então me arrumei logo e fui para a cozinha.

Greasy estava lá, mas Peeta não, ela me disse que ele foi organizar as coisas para a construção da padaria e só passou aqui rapidinho para deixar o café da manha. Fiquei um pouco triste pois queria falar com ele, mas eu poderia esperar algumas horas a mais. Comi rapidamente e fui para a janela da sala observar quando Peeta chegasse.

Mas ele não chegava nunca, eu já estava lá a 2 horas andando de um lado para o outro e vendo a janela a cada 5 minutos e ele nunca aparecia. Greasy notou a minha ansiosidade, mas decidiu nem comentar nada. Eu não conseguia ficar parada levantava, sentava, andava, ia para fora, voltava... Já era hora do almoço e nada. Almocei e voltei para o meu ponto de observação, e assim passei a tarde inteira.

Quando já estava a ponto de desistir, vi passar na janela os seus conhecidos cabelos loiros. Não pude conter a empolgação que me dominou, mas esperei um pouco em casa para pelo menos dar tempo de ele entrar na dele, e assim que ele entrou eu corri em direção a ela. Já cheguei batendo na porta e me balançando em meus pés para frente e para trás, o meu nervosismo era aparente. Ele mal tinha aberto a porta e eu já comecei a falar:

– Oi Peeta! Então eu passei aqui por que eu queria falar com você, eu não to te atrapalhando né?! Porque se eu estiver, venho em outra hora. Mas eu só queria falar com você mesmo, não aqui, queria te levar para um lugar especial. Desculpa, eu não deveria ter vindo agora, esquece a gente fala depois quando voc...

– Katniss! Calma, para de falar um pouco - Ele me interrompeu da minha tagarelice, e devo dizer que fiquei grata

– Você não está atrapalhando, eu posso ir conversar no seu lugar especial. Relaxa, ta bom?! - Aquilo foi o alivio da minha tarde, então sorri para ele, peguei sua mão e começamos a caminhar.

Encaminhei Peeta até a campina, que apesar de toda a destruição que sofreu na guerra agora tinha flores crescendo e estava ficando linda novamente. Nós fomos para debaixo de uma arvore que tinha lá e sentamos, ficamos um tempo um olhando para o outro enquanto eu procurava uma maneira de começar o assunto, e então finalmente falei.

– Peeta, eu queria fazer um pedido. Imagino que você já deve ter percebido como eu fico melhor quando estou com você, como meus pesadelos somem e eu posso dizer que sou feliz em sua companhia. Eu queria te pedir uma coisa bem simples, queria que você dormisse todo dia comigo... Eu não aguentaria mais voltar a dormir sozinha. Eu quero você comigo. Eu preciso.

Quando terminar de falar fiquei observando sua reação, seus olhos brilhavam e imediatamente ele abriu um sorriso enorme.

– Você pensou mesmo que eu recusaria esse pedido? Katniss, eu não poderia pensar em outra coisa que me deixasse mais feliz, do que saber que eu sou seu conforto, sua segurança. É claro que eu aceito.

E então as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, lágrimas de alívio, alegria. Abracei Peeta escondendo meu rosto em seu peito enquanto chorava descontroladamente, as lágrimas escorrendo compulsivamente pelo rosto, fiquei assim por um bom tempo, Peeta ficou afagando meu braço e tentando me acalmar.

Consegui me acalmar mais ou menos 1 hora depois, continuei abraçada a Peeta, mas as lágrimas já haviam secado e sentia um alívio enorme.

– Kat, acho que você gostaria de ver isso. - Ele disse, me puxando levemente.

Levantei a cabeça e admirei o por do sol mais lindo que poderia ter. O céu estava coberto pelo tom de laranja que Peeta dizia ser sua cor favorita, a luz emergia atrás das arvores e cobria toda a campina. Era maravilhoso.

Ficamos colados um no outro em silencio, observando a beleza do céu. Só acordamos para a realidade quando o céu foi tomado pelas estrelas e decidimos que era a hora de voltar. Caminhamos de volta para casa ainda abraçados um no outro, meu braço em sua cintura e o seu em meus ombros.

Ele foi direto para casa, e após comermos e nos arrumarmos. Cai em um sono sem pesadelos, em total paz.

E a semana se seguiu assim, agora eu tinha uma rotina: Acordar, café da manha, ficar com Peeta ou com Greasy e dormir sem pesadelos. Era uma rotina agradável, tranquila, de um jeito que eu nunca tive em minha vida e eu me sentia completa e feliz.

Aquela manhã acordei mais cedo que Peeta, tentei sair levemente da cama, mas um movimento um pouco mais brusco e ele abriu seus olhos imediatamente.

– Olá - ele me disse com a voz rouca de sono

– Olá, me desculpe por te acordar.

– Acho que já era a hora de levantar mesmo. - Ele me respondeu já levantando da cama. Eu gostava de admirar ele após acordar, seus cabelos bagunçados, a cara amassada de sono e seus olhos azuis brilhando mais que o normal. Ele era lindo.

Antes que ficasse estranho o tanto que eu observava ele, sai logo da cama e fui para o banho. Fui para a cozinha e encontrei Peeta e Greasy já tomando o café da manha. Peguei as correspondências que estavam em cima da mesa e comecei a ver elas, nada de interessante, até que eu vi uma carta com o símbolo da Capital estampado. Congelei na hora, mas tentei manter a calma e abri a carta. Li e reli ela várias vezes, como se toda vez que eu lesse fosse mudar alguma coisa.

Peeta percebeu a minha expressão e veio em minha direção

– Katniss, o que que aconteceu? - Ele me perguntou preocupado.

– E-eles que-erem que volt-emos para a Capital - Respondi em um sussurro quase inaudível.

Ele enrijeceu na hora e agarrou a balcão. Voltar para a Capital já era horrível para mim, imagina para ele. Retornar para o local de tortura, o local aonde vivenciamos nossos piores pesadelos, aonde perdemos pessoas amadas. Só de pensar eu já comecei a estremer.

Só então percebi o quanto Peeta estava agarrado ao balcão, ele estava de cabeça abaixada e tremendo levemente. Apenas de mencionar a Capital, seus flashes já voltaram, imagina quando formos para lá. Fiquei parada sem saber como reagir, até que Greasy começou a me afastar dele, como se quisesse me proteger, mas não era isso que eu queria fazer. Puxei meus braços de sua mão e abracei Peeta pelas costas enquanto sussurrava repetidas vezes "Não é real.", seus tremores aumentaram no início, mas após um tempo senti seus músculos relaxando e me virei para seu rosto.

Seus olhos estavam no tom azul de sempre, ele tinha voltado ao normal. Pude ver pela sua expressão que ele se sentia culpado e chateado.

– Peeta, não aconteceu nada. Você se controlou, não foi nada. Está tudo bem!

– Mas foi por pouco Katniss, por muito pouco. - Seus olhos estavam vazios, ele estava realmente triste

– Mas não aconteceu nada! Não é sua culpa, ninguém te culpa por isso. Por favor, acredite! Está tudo bem.

Ele ergueu os cantos da boca em um breve sorriso, deu um beijo na minha testa e saiu de casa. Fiquei parada pensando em o que a Capital queria, ela já tinha feito tanta coisa para nós, e mesmo quando estávamos em paz, acabaram com isso. Queriam que nós voltássemos para a comemoração de abertura dos Jogos Vorazes da Capital, ao qual eu tinha votado para que acontecesse. Eu ainda queria fazer pela Prim, mas no momento eu me arrependia um pouco do meu voto.

Passei a tarde lembrando de todas as pessoas que eu amava e tinha sido mortas pela Capital: Rue, Prim, Finnick, Cinna... a lista era enorme. Fiquei a tarde inteira me remoendo e aguardando pela noite, quando Peeta voltaria.