– O Wade vai me matar. – comentou Vince deitado no meu colo.

– Quem é Wade? – perguntei distraída mexendo no seu cabelo.

– Meu patrão. Ele que decide quando acontecem as corridas, quem corre e tudo mais. – explicou.

– Por que não liga para ele?

– Meu celular está descarregado. – disse.

– Pode usar o do John ou do Dane. – sugeri.

– Claro, claro, depois eu vejo. – bocejo. – Se você continuar mexendo no meu cabelo vou acabar dormindo. – outro bocejo.

E ele realmente dormiu. Era a segunda vez que eu o via dormindo, e a segunda vez que eu o via relaxado de verdade, como se nada de ruim pudesse afetá-lo enquanto dormia.

Por um momento, quando olhei sua boca, tive uma vontade louca de beijá-lo, mas afastei esse pensamento. Voltei a me concentrar em mexer em seu cabelo, mas meu olhar acabava sempre se desviando para sua boca. Até que, em determinado momento, não consegui mais resistir, me inclinei e beijei-o.

Ele reagiu de imediato, correspondendo o beijo. A princípio um beijo lento e suave, mas depois foi ficando urgente e voraz. Paramos de nos beijar só enquanto ele levantava do meu colo e se inclinava sobre mim, fazendo-me deitar e recomeçando o beijo.

Sua boca abandonou a minha e começou a passear pelo meu queixo, maxilar, descendo até meu ombro. Eu me senti febril e ofegante.

Puxei sua camisa para cima, a fim de tirá-la. Ele interrompeu os beijos e terminou de tirar a camisa, expondo seu corpo definido. Assim que nossos lábios se encontraram de novo, alguém bateu na porta.

Vince afastou-se de mim, levantando da cama. Pegou sua camisa e recolocou-a. Sentei-me, ainda ofegante, tentando me recompor. Vince foi atender a porta.

– Desculpa vir aqui a essa hora, eu sei que está tarde, mas eu preciso falar com a Megan. – disse Liz.

– Tudo bem, fica à vontade. – disse Vince abrindo passagem para Liz. – Vou deixar vocês conversarem a sós. – ele piscou para mim e saiu, fechando a porta atrás de si.

– Você está bem? – perguntou-me Liz.

– Sim, sim, só preciso de um pouco de ar. – disse-lhe indo até a janela. – O que foi? O que precisa falar comigo?

– É sobre o John.

– O que tem ele? – virei-me para Liz.

– Eu sei por que ele desistiu de morar com você, e voltou a morar com seus pais. – disse ela cabisbaixa.

– Então me conta. – pedi.

– Foi por minha causa.

– O que? Como assim? – voltei para cama e sentei-me de frente para Liz.

– Ele... ele me beijou. – contou. - Dois ou três meses depois de o John ir morar com você e o Dane, as coisas começaram a mudar. Eu e John nos falávamos todo dia, ficávamos trocando mensagem até de madrugada, nós estávamos sempre juntos. Aí, um dia ele me beijou. Mas eu não esperava por isso, fiquei confusa. Não conseguia entender o que eu sentia por ele. Eu precisava de um tempo para pensar e acabei me distanciando um pouco dele. Mas ele entendeu tudo errado, achou que eu não gostava dele, que não queria nada com ele. E então resolveu voltar para cá.

– Por que você nunca me contou isso?

– Porque eu achei que não faria diferença, te contar ou não.

– Então por que resolveu contar isso agora? – perguntei, confusa.

– Porque vir aqui, passar esse tempo com o John de novo me fez pensar se eu fiz a coisa certa.

– Como assim, Liz?

– Quando o John decidiu voltar para cá, eu deixei, não fiz nada para impedir. E depois, mesmo ainda gostando dele, comecei a namorar o Davis.

– Resumindo: você gostava do John, mas por um mal entendido ele achou que você não gostava, decidiu vir embora e você deixou; aí você começa a namorar o Davis mesmo gostando do John, e agora que você o reencontrou descobriu que ainda gosta dele e que esse namoro com o Davis é uma porcaria. É isso? – sugeri.

– É, mais ou menos. – concordou. – O que eu faço agora, Megan?

– Acho que você devia conversar com o John, dizer o que você sente.

– Mas e o Davis? – perguntou ela. Eu nunca tinha visto a Liz tão confusa e angustiada antes.

– Você não gosta dele. Eu nem sei por que você está com ele. Acho que a melhor opção é terminar o namoro. – propus.

– Eu me sinto perdida em um mar de sentimentos. – concluiu Liz com um sorriso triste.

– Já está tarde. Vamos dormir e amanha você decide o que fazer. – abracei-a. Nós duas levantamos e saímos do quarto. Do lado de fora, Dane e Vince estavam sentados na escada, conversando aos sussurros. Eles pararam de falar assim que nos viram.

– Está tudo bem? – perguntei-lhes.

– Tudo ótimo. – assegurou Vince, forçando um sorriso.

– Eu já vou indo para o quarto. – disse-me Liz.

– Tá, eu vou daqui a pouco. – observei Liz passar entre o Dane e o Vince.

– Achei que você fosse passar a noite no quarto de hóspede. – disse Dane com um sorriso malicioso.

– Não é uma boa ideia. – falei, olhando para o Vince, que abriu um meio sorriso indecente.

– A Liz parecia meio abatida. Ela está bem? – perguntou Dane.

– Está. Ela só está um pouco cansada. – menti. – Eu também estou com sono. Boa noite rapazes.

Vince levantou da escada para me dar passagem. Mas quando eu ia passando, ele me puxou e me beijou. Dane pigarreou, mas Vince ignorou-o, mantendo o beijo por mais alguns segundos. Quando me soltou, abriu um sorriso cafajeste e piscou para mim.

Achei melhor não prestar muita atenção nele para não cair em tentação e beijá-lo de novo, e de novo, e de novo. Subi as escadas apressadamente e fui para o meu quarto.

Liz estava deitada na sua cama improvisada no chão, de olhos fechados. Sabia que ela não estava dormindo mas deitei sem fazer barulho. Fiquei rolando na cama sem conseguir dormis por um bom tempo. Meus pensamentos oscilavam entre tentar achar um jeito de ajudar a Liz, e o Vince. Aos poucos o cansaço foi tomando conta de mim e eu peguei no sono.

Na manhã seguinte, acordei com o sol fraco invadindo o quarto. Eram pouco mais de nove horas. Liz já não estava no quarto. Levantei, abri mais a janela e arrumei a cama. Peguei uma muda de roupa e fui para o banheiro. Quando acabei de me arrumar passei pelo quarto de hóspede. Vazio. Nem Vince nem Dane estavam lá. Quando cheguei na cozinha Liz estava sentada à mesa mexendo no celular.

– Bom dia. – cumprimentei-a. – Cadê o Dane e o Vince?

– Bom dia. – respondeu ela sem ânimo. – Eles saíram. Foram comprar alguma coisa para o carro do John. Não leu o bilhete que estava em cima da escrivaninha?

– Não, não li.

– Foram os três. John, Vince e Dane.

– o John também? – estranhei.

– É o que diz o bilhete. – ela deu de ombros.

– E você já decidiu o que vai fazer com relação ao Davis e ao John? – perguntei-lhe.

– Já. – respondeu ela levantando. – Vem comigo?

– Claro. – levantei e segui-a. – Aonde vamos?

– Vamos desfazer o passado e buscar o futuro. – disse ela.

Nós saímos de casa e fomos para o carro da Liz, que na verdade era do Davis, namorado dela. Ela dirigiu até uma pracinha atrás de uma lanchonete, perto da estrada principal. Nós descemos do carro e ficamos esperando. Eu queria saber o que estávamos esperando, mas achei melhor não perguntar.

Quinze minutos depois uma picape azul , Suzuki Equator, com os vidros escuros parou a alguns metros de nós. Davis desceu do carro e começou a vir até a gente,

– Davis? O que ele faz aqui? – perguntei surpresa e confusa.

– Ele veio porque eu pedi. Veio para eu terminar o namoro.

– Liz! Estava com saudade. – disse Davis abrindo os braços para abraçar a Liz.

– Não te chamei aqui porque estava com saudade. – disse-lhe ela, afastando-o.

– Então, para quê? – perguntou ele confuso.

– Para terminar. – respondeu ela, séria.