Assim que Carlos Daniel entrou no veículo ao lado de Paulina, ela não pode deixar de evitar que um misto de recordações entrassem em sua mente. Lembrou das tantas vezes que ela e Carlos Daniel saíram juntos, assim, com ele dirigindo e ela ao seu lado. Lembrou da tantas vezes que ele a levou para jantar e preparou uma noite perfeita para os dois. Lembrou de quando contou a ele que estava grávida de Paulinha, e da noite mágica e apaixonada que tiveram no hotel dourado. Lembrou da surpresa de esperar Gabriel. Lembrou de quando acordou no meio da madrugada com dor e sangrava, quase perdendo seu pequeno... Tudo passou em sua mente.

–Você está bem? –Perguntou ele baixinho dissipando o silêncio no interior do veículo.

–Estou. –Falou Baixinho. O Silêncio tomou o interior do carro outra vez.

Carlos Daniel moveu-se no banco de couro do veículo pegando seu celular no bolso. Paulina perguntava-se em silêncio o que ele iria fazer, e como em um piscar de olhos, ele respondeu a pergunta não dita dela.

–Ligarei para Manuela. –A olhou com um sorriso perfeito. Paulina acenou em concordância e poucos minutos depois, Carlos Daniel pôde ouvir a voz de Manu.

–Manuela? –Perguntou ele.

–Onde vocês estão, nem vão conversar, vai ser direto pra cama? –Gargalhou.

–Se fosse fácil assim. –Riu ele olhando Paulina com o cenho franzido. –Bem, nos resolvemos conversar, Levarei Paulina para casa. Tem algum problema?

–Oh Meu Deus, como conseguiste esse feito histórico? –Perguntou boquiaberta.

–Apenas fui sincero, mas conversaremos ao longo dos dias, tudo bem?

–Claro, e ah, pega leve com ela... quero que saiba que conheci Lina um mês depois do aborto, e só eu sei o quão foi sofrido tudo aquilo, tanto pelo bebê, quanto o que havia causado o aborto. –Falou paciente.

–Eu imagino Manuela, imagino. Sabes que eu não sabia de nada, não é mesmo? Eu só quero o bem dela, sempre irei querer o bem dela. Tudo aquilo foi um horrível pesadelo planejado por uma pessoa que pensei ser de confiança. –Olhou Para Paulina que olhava pela janela. –Eu a amo e cuidarei dela, nem que demore o resto dos meus dias para conquistar seu perdão.

–Uau. –Murmurou Manuela encantada com as palavras dele. –Bem, acho que você esta dirigindo, e cuide mesmo dela, ela precisa de você tanto quanto você precisa dela. E pelo que ouço, ela não ligou o rádio, não é mesmo?

–É verdade.

–Abra o porta Cd’s entre os bancos. Encontrará um Cd Da Malú, Coloque-o pra tocar e selecione música Por una vez. Quando Paulina se abriu comigo e contou-me sobre como casou-se contigo e de como doía o divorcio, tocava essa música. Ao longo desses dois anos, Ela chorou inúmeras vezes trancada em seu escritório escutando essa canção.

–Ok. –Murmurou ele chocado com tantas informações. –Obrigado Manuela. –agradeceu com um meio sorriso.

–Como disse, Faça por merecer. –Sorriu ela do outro lado da linha enquanto fazia um brigadeiro de Panela. –Uma ótima noite, e quando sair da casa da Lina, não importa a hora que for, me ligue. Também preocupo-me com ela. –Pediu.

–Ligo sim. Boa noite para você também

Carlos Daniel desligou o celular e o deixou sobre o painel luminoso do carro. Ele a olhou e ela permanecia mirando o exterior do carro. Abrindo o porta Cd, pegou o CD indicado por Manuela e colocou a musica indicada pra tocar. O Som da voz apaixonante de Malú, ecoou no veiculo fazendo Paulina ficar com o coração acelerado.

–Eu ainda mato a Manuela. –Murmurou ela.

–Ela quer apenas o seu bem. –Falou ele no mesmo tom dela.

Carlos Daniel parou em frente ao estacionamento do condomínio enquanto Paulina se identificava para o porteiro. Ele quando a viu no banco do carona, sorriu e abriu os portões.

–Repetindo, tens uma bela casa. –Falou ele procurando pela vaga de Paulina.

–Obrigada. E é a 2B.

–Ah? –perguntou confuso. Paulina teve de segurar um sorriso.

–Obrigada por gostar da minha casa, e a minha vaga é a 2B. –Explicou.

–Oh sim. –Riu. –É o mesmo numero da minha na fábrica. –Falou ele cauteloso.

–É... –murmurou ela. –Eu sei. Ironias. –Desviou o olhar.

Carlos Daniel estacionou o carro e desligou os motores. Nesse instante viu Paulina curvar-se para o banco de trás, pegando seus saltos sobre o banco traseiro. Quando ela virou-se para voltar ao seu assento, sentiu a mão de Carlos Daniel em sua cintura. Rapidamente tentou voltar para seu lugar, mas foi impossível. Seu coração acelerou-se de uma maneira desenfreada. Todo seu corpo que repousava, despertou com o toque quente dele. Quando seu rosto virou para encará-lo , seus olhares se chocaram e Carlos Daniel mirou aqueles lábios que tanto desejava. Sua boca aproximou-se dela quando com um impulso, Paulina voltou ao seu lugar.

–T-temos que conversar. –Falou ela com a voz temblando enquanto colocava seu salto e guardava a rasteirinha embaixo do banco.

Carlos Daniel saiu do carro segurando a bolsa dela, fez a volta no veículo e abriu a porta para ela que guardava o CD.

–Obrigada. –Agradeceu saindo do carro. Seus olhares se fixaram um ao outro. O som de um alarme sendo acionado, tirou o casal de seus devaneios.

Carlos Daniel afastou-se dando passagem a ela. Paulina baixando o olhar, caminhou a passos largos até a entrada de sua casa. Ele a seguia admirando cada detalhe dela. Ele nunca cansaria de admira-la. Com um pouco de dificuldade, Paulina conseguiu abrir a porta. Ela entrou e afastou-se para que ele pudesse entrar. Carlos Daniel passou por Paulina fazendo-a temblar sobre os saltos.

–Bem, o que temos que conversar? –Perguntou ela caminhando até ele que a olhava distante, próximo ao sofá.

–Tantas coisas. –Falou ele amenizando a voz, largando a paletó sobre o sofá e caminhando até ela.

–Por onde começar? –desviou seu corpo do dele sentando-se ao sofá.

–Posso sentar-me contigo? –Perguntou baixinho.

Paulina sentiu seu coração acelerar e o olhou. Seu coração parecia gritar por ele.

–Sente-se. –Foi só o que saiu de seus lábios.

Carlos Daniel sentou-se e tocando as mãos dela, a virou de frente. Paulina trancou a respiração quando seus dedos se tocaram.

–Paulina, hoje sei tudo o que aconteceu, sei toda a verdade. –A olhou nos olhos- Sei que o que fiz, de dar-te um tapa foi algo sem medidas, sei que jamais me perdoará por isso. Te entendo. Sei que jamais me perdoará por eu ter voltado a beber naquela noite, mas aconteceu tudo tão rápido... você desapareceu, me negava amor tantas noites, deixando-me angustiado, aflito, perdido. E ai quando abri aquela porta... Eu não consegui raciocinar. –Sua voz era quase um sussurro.

–Dói muito Ainda. Entenda-me. –Pediu.

–Eu sei amor meu, eu sei. Não sabe como me senti quando descobri toda a verdade. No dia que Ouvi Carlinhos e Lizete, ela contou-me que sangras-te até o hospital. Quando acordei-me na noite após aquela tragédia, fui para Cancun. Eu não podia ficar naquela casa onde passamos tantos anos juntos. Mas ir Para Cancun foi um enorme erro. Acabei comprando uma barraca e várias garrafas de uísque. Aluguei um carro e fui para a nossa Cachoeira. Fiquei lá por 4 dias. Eu não sabia o que fazer. Quando consegui regressar, fiquei trancado na casa. Tentei não beber, mas foi impossível. Quando bebia acabava dormindo e desligava-me de você. Eu...

–Carlos Daniel... –Interrompeu ela levantando-se. –Onde quer chegar? –Perguntou não suportando mais ouvir tudo o que ele também havia passado. Paulina por um instante pensou que não havia sido apenas ela que chorou com a separação.

–Quero que saibas que Te amo, que preciso de ti. –Levantou-se. -Me Perdoa Paulina, pelo amor de Deus, me perdoa. –Suplicou frente a ela.

–Carlos Daniel, eu... –Ela fechou os olhos e respirou profundamente. –Não estou em uma boa fase de minha vida. Compreenda. Eu estava bem, Paulinha e Gabriel não choravam mais tanto por nossa vinda para Miami; Meu trabalho não tinha como estar melhor; Eu estava bem. Mas ai você apareceu, e remoeu todas as minhas dores, tocou em minhas feridas. Isso não está sendo fácil. –Foi sincera.

–Conheceu um novo alguém, não é mesmo? –murmurou ele sentando-se.

–Como assim? –Perguntou ela tentando raciocinar a pergunta dele.

–Quem era o homem que te levou para Jantar ontem à noite? –Foi direto.