Clichê escrita por Rosalie Potter


Capítulo 22
Capítulo 22: Antes de Tudo Isso


Notas iniciais do capítulo

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ESTOU TÃO FELIZ



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A festa começou a decorrer bem. Eu não voltei para a pista de dança porque confesso que todos aqueles olhares me deixavam um pouco desconfortáveis. Mas eu sentia que de vez em quando me encaravam. Era entendível. Ninguém imaginava que eu, a “santinha” iria fazer como minhas antigas amigas, principalmente dançando daquele jeito. Mas ninguém imaginava muita coisa de mim e se era algo que eu gostava é surpreender as pessoas.

Mas não estava me importando muito. Fiquei na minha, conversando com Caleb enquanto ouvia o som alto e via as pessoas dançando. Achei estranho porque não vi Raquel dançando nenhuma vez e eu sabia que ela amava tudo aquilo, não era á toa que era conhecida como a “Rainha da pista”. Porque ela arrasava como ninguém, a pista parava quando ela resolvia que iria dançar.

–Eu falei que seria bom você vir. Admita, está sendo bem melhor do que você estar debaixo das cobertas assistindo seriado. –Ele falou e eu ri com isso. Era verdade que eu estaria exatamente assim se não tivesse ali. Estaria de meias, coque frouxo, debaixo das minhas cobertas com um notebook aberto assistindo série comendo bolo de caneca e bebendo Coca-Cola. Eu podia até visualizar a cena se fechasse os olhos.

–Não sei não, The Walking Dead me parece extremamente sedutor.

Ele riu com isso. De repente ele se inclinou levemente e meu coração falhou uma batida. Mas tudo que o moreno fez foi limpar levemente abaixo do meu olho. A maquiagem estava começando a borrar, eu presumi. A respiração estava estranha e eu mordi o lábio com isso, sem entender a razão daquilo.

–Está começando a borrar não é? Vou retocar. Já volto. –Sorri pra ele de forma gentil e praticamente corri até o banheiro. Estávamos num salão alugado pela Marina, a garota riquinha do colégio. Sempre era ela quem dava as festas da escola. Porque ela tinha dinheiro e amava mostrar que tinha.

O banheiro do salão era um pouco mais afastado o que fazia o barulho diminuir, fato que os meus ouvidos muito agradeceram. Entrei no banheiro e limpei levemente o começo do borrão que começava á se formar debaixo dos olhos. Retoquei a maquiagem ali com cuidado e repassei o batom. Sorri para o meu reflexo no espelho. Eu parecia tão impecável, tão íntegra... Ninguém perceberia que parte de mim doía como nunca.

Destranquei a porta e saí. Batendo de frente com Raquel e Leonardo. Pisquei várias vezes antes de fazer menção á sair dali, mas Raquel parou na minha frente:

–Não. Não Lexi, você não vai sair daqui antes de me ouvir. Antes de nos ouvir. Pelo menos essa chance você precisa nos dar.

–Eu não preciso. Vocês não têm o direito de exigir nada de mim. –Falei e fiz menção de sair novamente, mas Leonardo ficou na minha frente. Fechei os olhos e respirei fundo lutando para não empurrar o rapaz e sair dali.

–Começou com uma aposta sim. –Ele disse me olhando nos olhos enquanto eu bufava. –Nós confessamos e isso foi um erro. Começou com uma aposta, mas depois... Nós começamos á gostar de você. Começamos á gostar de você de verdade, você se tornou tão membro do grupo quanto qualquer outro e então nós desistimos dessa história de aposta. Porque não era mais uma competição pra gente. Levamos aquela caixa para o nosso passeio para botar fogo naquilo e esquecer tudo.

Eu sabia que ele não estava mentindo. E estranhamente aquilo não tirou minha mágoa. Minha mente só conseguia pensar então por quanto tempo eles brincaram comigo? O que foi sério e o que não foi? O que foi real e o que não foi? A minha mágoa continuava ali, do mesmo jeito. Eles queriam esquecer? Queriam enterrar, queimar e fingir que não fizeram? Pretendiam me deixar enganada do mesmo jeito?

–Mesmo se isso for verdade... –Comecei olhando para os dois, alternando entre os olhos dos dois. –Não muda absolutamente nada. Não pra mim.

Desviei de Leonardo e saí dali. Só então senti as lágrimas brotando nos meus olhos sem serem convidadas. Será que eles pensaram que era simplesmente fácil assim? Eu tinha sido extremamente magoada. Não dava para simplesmente esquecer. Funguei levemente piscando para espantar as lágrimas. Eles me afetavam ainda, infelizmente. Afetavam-me e muito.

Assim que cheguei perto de Caleb ele viu meus olhos brilhando e já entendeu tudo:

–O que ele fez?

–Eu vou embora Cal. Estou bem, de verdade. Só estou cansada, não estou acostumada com tudo isso. –Beijei o rosto dele e fiz menção de sair, quando ele segurou firmemente minha cintura.

–Eu sei que não está e eu vou com você.

~X~

Pegamos um táxi e Caleb pediu para ele parar á uma quadra da minha casa justamente pra irmos andando e sermos obrigados á conversar. Perto de onde eu morava tinha um ponto de táxi onde daria para ele pegar outro e ir para a casa dele, por mais que eu tenha oferecido pra ele dormir na minha casa e ir para a dele pela manhã.

Começamos á andar lado á lado num silêncio um pouco constrangedor, quando o moreno fez a gentileza de o quebrar:

–O que aconteceu?

–Raquel e Leonardo vieram falar comigo. –Em meio á rua deserta e escura a frase pareceu ter um impacto muito maior do que realmente tinha. –Confessaram que a aposta era verídica o que todos nós sabíamos. Mas falaram que só durou um tempo, depois eles se apegaram a mim de verdade. Disseram que levaram a caixa para o passeio com o intuito de queimar. E sabe qual é a melhor parte? Eu sei que eles estavam falando a verdade. E isso não fez com que parasse de doer. Eu não consigo parar de pensar por quanto tempo a aposta estava rolando pra valer e não consigo parar de imaginar e pensar no que foi real e no que não foi. E sabe o que mais? Eu gosto muito deles... Eu e Leo ainda temos... Esse clima. Eu sei que se ele chegar perto demais e se ele me tocar, eu serei afetada. Não sou hipócrita, eu sei por que ainda sou apaixonada por aquele cretino. –Tomei fôlego para continuar a falar. –E isso também não muda o fato de eu estar terrivelmente magoada. E eu só queria esquecer Cal, que um dia eles fizeram parte da minha vida. Só que isso parece impossível. As lembranças estão aqui á todos instante.

Caleb parou de andar e me abraçou. Enterrei minha cabeça em seu peito e ficamos assim por uns cinco minutos. Éramos dois malucos por estarmos numa rua deserta á àquela hora da noite sozinhos, mas o que é a vida sem um pouco de maluquice?

Quando nos afastamos, ele voltou á andar e eu ao seu lado enquanto o ouvia começar á falar:

–Lexye... Eles foram seus melhores amigos. Leonardo foi o seu primeiro amor. Você não vai esquecer eles assim tão facilmente. Não dá, é impossível. Mas pra que eles comecem á virar lembranças distantes você não pode se prender numa casca e se isolar. Você precisa fazer novos amigos, ler, escrever, cantar, sair, rir... Você precisa exatamente seguir com a vida. Arrumar novas melhores amigas, arrumar outra pessoa para se apaixonar. Qual é? Você sabe que aquela escola toda daria muito para uma chance de ter amizade com você e quem dirá para ser sua nova paixão.

Já estávamos em frente a minha casa. Olhei pra ele, nos olhos e suspirei levemente. Eu sabia daquilo, sabia de tudo que ele estava me falando. Só que eu tinha minhas inseguranças.

–Como eu vou substituir Caleb? Eu quero ter comigo pessoas em quem eu confie, pessoas que... Quer dizer, talvez realmente tenha muita gente naquela escola que queira minha amizade ou o meu coração, mas isso só aconteceu depois de eu entrar para o grupo dos famosinhos e depois de toda a transformação de aparência. Antes disso eu não era ninguém, antes disso ninguém me via. Ninguém me notava antes deles!

E antes que eu pudesse protestar ou fazer qualquer coisa Caleb me puxou pela cintura e colou os lábios nos meus. Não pude deixar de me surpreender e o que aconteceu á seguir foi uma surpresa maior ainda. Porque eu fechei os olhos enquanto ele me enlaçava pela cintura e me puxava para mais perto, enquanto gentilmente me beijava sem forçar entrada, deixando com que eu me abrisse se assim quisesse. E de repente eu me toquei que queria. Entreabri os lábios e ele se infiltrou ali com paciência e doçura. Lentamente fomos descobrindo o interior da boca um do outro, com cuidado e carinho.

E quando enfim nos afastamos ele não deixou que eu saísse. Colou nossas testas e fechou os olhos:

–Eu notava. Eu te notei muito antes de tudo isso. Eu te notei desde o instante que eu entrei na Liderando Gigantes na nossa cidade passada, no terceiro ano. Eu te amei desde sempre, desde antes, desde quando você era só Lexye, minha Lexye. Te amei quando você não usava maquiagem e nem roupas provocantes, te amei quando você usava duas tranças no cabelo. E eu continuo te amando então não diga que não há ninguém.

Pisquei várias vezes simplesmente estupefata por aquela revelação. Eles estavam certos então, quando diziam que Caleb sentia algo por mim. Tudo pareceu se encaixar com uma precisão incrível, as coisas começaram á fazer sentido. Olhei-o sem conseguir acreditar que mesmo sendo apaixonado por mim ele me ajudou como conseguiu com o Leonardo e olhando para aquele rapaz incrível eu só conseguia me perguntar o que ele tinha visto em mim.

–Vá pra casa Lexye. Você precisa dormir. Conversamos depois. –Ele beijou minha testa, mas eu não podia deixar que ele saísse assim, não depois de tudo aquilo. Segurei sua mão e me coloquei na ponta dos pés para lhe dar um selinho breve.

–Boa noite Caleb.

E segui para dentro de casa com o coração aos pulos e vendo que aquela seria um noite longa e cheia de pensamentos.


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