The Women's Revolution escrita por mrsbriel


Capítulo 12
Capítulo 12




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Meu nome é Tessa Stolpeen. Tenho quinze anos. Já sou a principal referência para a revolução masculina. Sou intensamente odiada, tanto por homens, quanto por mulheres, em especial por uma, Bailee Mason, governadora do Continente Feminino. Bailee matou Derek. E agora, eu vou matá-la.

Tenho que fazer essa mesma redação de consciência para que eu me mantenha viva diversas vezes ao dia. Me mantenha nos eixos da minha quase sanidade mental. Aposto que eu não tenho quase nenhuma sanidade e que logo após minha fase selvagem, eles vão me encaminhar novamente para a ala hospitalar. Mas dessa vez, não porque fui baleada. Porque estou morta.

O guarda roupa de nosso Compartimento na cidade subterrânea parece o suficiente para que eu permaneça dentro dele por mais de uma semana. Eu não como. Eu não bebo. Eu pouco limito-me a respirar e exalar o cheiro ligeiramente doce, ligeiramente amadeirado das camisetas dele.

Dylan não veio me ver. George tampouco. Ou Jake. Ou até mesmo Wes. Penso se isso é consequência de eu ter rosnado para eles. Para todos eles.

Também não quero que eles venham. Quero ficar sozinha. Eu, eu mesma e as camisetas de Derek.

Eventualmente, Jamie deita-se na cama em que o pai dormia e chora baixinho, na tentativa frustrada de que George não o escute chorando. E eu sei que George escuta, pois na semana em que estou dentro do guarda roupa, ele passa no nosso Compartimento, com a cabeça encostada em um dos lados da porta do guarda roupa.
Ele também não parece comer. Nem beber. Eu sempre consigo ver seu cabelo escuro teimando em entrar por entre os interstícios do móvel em que estou aninhada.

Não ligo para o fato de Clover chorar deitada na cama de Derek. Não ligo pois agora ela está desfrutando do mesmo sentimento de perda que eu. Me sinto tão culpada em pensar que ela merece isso e mais culpada ainda quando ela abre a porta direita do guarda roupa, o lado oposto onde a cabeça de um George que dorme profundamente está descansada, e puxa-me para perto de si.

Ela envolve meus ombros, e eu não rosno para ela.

Quando me dou conta do que está acontecendo, estou tomando um pouco de sopa de cebola, cada colherada vinda de um pote amarelado que está no colo de uma Clover soluçante.

– Morrer de fome não o trará de volta, queridinha. - Ela sussurra. Eu sei que ela tem razão, mas cuspo a sopa no chão e volto para o meu guarda roupa. Eu a odeio por ela lembrar-me de que ele se foi. A sentença "o trará de volta" me parece uma coisa vaga.

Dois dias depois de tomar um pouco de sopa, Jake aparece. Rosno para ele, mas dessa vez não é algo intencional, então peço desculpas.

Ele sorri e senta-se ao meu lado no guarda roupa, fechando as portas.

– Tenho boas notícias.

Eu o espero continuar, até perceber que ele está aguardando o momento em que eu falo para que ele continue. Ele quer ouvir minha voz, possivelmente. Está me testando.

– E qual é? - Me assusto com o som de minha voz. Quando foi a última vez que eu disse algo que não fossem rosnados?

Ele sorri de novo, mas dessa vez deixa os dentes perfeitamente alinhados à mostra.

– Derek não está morto. - Ele diz, sem mais nem menos.

– Jake. Eu. O. Vi. Morto. - Digo pausadamente, tentando não me assustar com a voz dessa estranha. A falta da fala me trouxe algo aparentemente bom. Minha voz tem uma tonalidade mais acentuada. Quase sensual. Mas nesse momento não é algo de muita importância.

– Bom, você sabe que trouxeram o corpo dele de volta, não sabe? George ajudou. Jamie. Menos você, que veio carregada. Não a culpo, já que sabemos que Derek é e sempre foi o seu ponto máximo de força.

– Sim. Eu. Me. Lembro. Vagamente.

– Bom, os doutores daqui são muito bons. Ele ainda não tinha morrido quando chegou aqui, Tess. Estava quase morrendo, sim, mas mantiveram o estado dele em completo sigilo, até hoje. Hoje, depois de alguns medicamentos fortíssimos nas veias dele e tudo mais, bom, os batimentos cardíacos dele retornaram de forma correta. Ele ainda não despertou, mas há mais ou menos um dia, Clover foi até a ala hospitalar e pegou em sua mão. Ele retribuiu ao aperto de mão dela, o que informa aos doutores que ele reconhece o toque.

– Estão. Drogando. Ele? - Exclamo.

– É um mal necessário. - Jake responde simplesmente.

Essa é uma notícia ótima finalmente.

Saio do guarda roupa, fazendo com que George desperte e que seus olhos azuis procurem pelos meus.

– Ei. - Digo.

– Então...Jake conseguiu, hein?

Jake lança mais um de seus sorrisos estonteantes.

– Eu não, George. - Ele diz, calmo. - Derek conseguiu. Sabíamos que se ele não sobrevivesse ela provavelmente ficaria tantos dias sem se alimentar ou se movimentar, que perderia o movimento dos membros ou morreria de falta de alimentação.

– Você. Não. Sabe. - Eu digo.

– Olhe para você, meu amor. Tão frágil e tão delicada quanto...eu não sei. Eu jamais vi algo tão frágil e delicado quanto a garota que se enroscava nas camisetas do pai e que até perdeu a capacidade de falar sem ser pausadamente. Nem parece a garota que ameaçou mais de duzentos homens na noite em que chegou ao subterrâneo.

– Espere. Você. Disse. Pai...

– Ah, então você não sabe? - Diz ele.

– Jake. Derek queria contá-la pessoalmente. - George censura.

– George. Deixe. Ele. Continuar.

George concorda com a cabeça, um pouco contrariado.

– Sabe por que Bailee sempre teve completa desconfiança de sua mãe? Bom, primeiramente porque ela tratava Derek como...como é mesmo a palavra?

– Marido. - Responde George.

– Sim. Isso. Prosseguindo, Bailee sempre desconfiou de sua mãe por tratar Derek como um marido e não como um escravo. E depois, e principalmente, porque...sua mãe ficou grávida antes dos vinte. Antes de receber a inseminação artificial. Ela nunca recebeu o que toda mulher recebe ao completar vinte. E ninguém sabia disso, exceto, veja só, Bailee. Como uma mulher fica grávida sem que passe pelo processo de inseminação que foi imposto pelo governo feminino? É impossível. - Diz Jake. - A não ser que...a mulher tenha algum relacionamento amoroso e sexual com um homem. E sua mãe, Tess, ela apaixonou-se por Derek desde o momento em que ele colocou os pés em sua casa. Apaixonou-se por ele da mesma maneira em que você é apaixonada atualmente, só que são amores diferentes. Você o ama...bem, pelo que ele realmente é. Você o ama como seu pai. Ela o amava da forma como você ama Dylan.

– Não. Amo. Dylan. - Respondo, irritadiça.

– Ah, sim, desculpe pelo meu erro. Só queria manipular isso de uma forma que você entenda. - Ele diz. Um início de sorriso forma-se em seu rosto e penso que na realidade ele usou isso para ter certeza de que não sinto mais nada por Dylan. E para ser sincera, não sei se sinto algo. Eu não sentia nada, a não ser tristeza, por nove dias. Sem contar os dias em que vi Katy e Dylan, abusadamente felizes.

Mas esse não é o ponto. O ponto é que Derek está vivo. O ponto é que...meu pai...está vivo.

Agora entendo toda a raiva de Bailee para com minha mãe. Toda a perseguição. Ela nunca recebeu o processo de inseminação. Eu sou filha biológica de Derek. Meu pai. As palavras demoram a me deixar familiarizada, já que apenas Jamie tinha tal privilégio. Eu nunca pude nem mesmo questionar sobre meu pai, já que a maioria das garotas não sabe quem é o seu próprio pai. Mas eu sei. Eu sei e eu sempre, por toda a minha vida desde que fui estudando a real situação masculina, amei meu próprio pai sem saber disso.

Jamie dorme comigo na cama de nosso pai esta noite. Pelo que vejo, eu era a única que não sabia disso. Jamie sabia, o tempo todo.

Clover junta-se a nós no Compartimento. Ela voltará para o seu próprio, assim que Derek for liberado na ala hospitalar. Enquanto olho para Jamie, pouco antes de ele dormir, eu o invejo por seus olhos serem da cor dos de meu pai e os meus serem os mesmos de minha mãe. É intimidante olhar no espelho e lembrar-se da pessoa que você possivelmente matou.

Antes que eu durma, vou dar uma volta pela cidade que depois de todo meu estado de espírito agudamente selvagem, eu desconheço.

Encontro alguns homens que me parecem familiares e que acenam para mim com alegria. Não sei se é porque estou na cidade novamente ou porque sabem do estado de Derek e querem compartilhar a euforia com uma pessoa que provavelmente estava próxima da morte proporcionada por si própria.

Jake me arrasta até a ala hospitalar assim que trombo com ele, e eu o agradeço por isso.
Sento-me na beira da cama de Derek, como fiz com Dylan quando era ele o hospitalizado. Pego em sua mão e sorrio, com Jake nos observando atentamente e especialmente calado.

– Oi. Pai. - Digo. Um arrepio percorre pelo braço de Derek, eriçando os pelos de seu braço. Ele aperta minha mão de volta e a envolve protetoramente sobre a dele. - Consegue. Me. Ouvir? Se. Conseguir. Aperte. Minha. Mão.

Ele a aperta. Jake nos deixa sozinhos e fica do outro lado do vidro no fim da ala hospitalar. Observando.

– Queria. Ver. Seus. Olhos. - Digo.

Sua boca se retorce no que imagino ser uma tentativa de sorriso. Ele abre os olhos e de repente parece que toda a luz da ala hospitalar, está apagada. Só o que ilumina, são os olhos verdes que estão em minha frente.

– Ei. - Eu digo. - Só. Não. Me. Cegue.

Ele tenta sorrir de novo.

– O que houve com a sua fala? - Ele pergunta, como se não tivesse levado um tiro quase fatal.

–O. Que. Houve. Com. A. Sua. É. A. Pergunta.

– Eu estou bem. Juro. Eu só estava com dificuldades na fala por causa das drogas que eles aplicaram em minhas veias. Sabia que eles estavam me dopando, Tess?

– Bom. Eu. Prefiro. Você. Dopado. Do. Que. Morto.

Eu me ajoelho para ficar mais perto de seu rosto.

– E. Então...Pai.

– Os boatos correm solto no subterrâneo enquanto eu durmo sem aviso prévio. Ótimo.

– Ele diz, esforçando-se novamente para sorrir. - Aliás, caso eu deixe você falando sozinha, é efeito do...Venha aqui, deixe eu te abraçar antes que eu desmaie.

Deito ao seu lado e me sinto em casa, finalmente, depois de nove dias de completo luto.

– Eu amo você, Rainha do Desastre. - Ele sussurra. - Mais do que qualquer outra coisa no mundo, espero que saiba disso. E espero que recupere sua fala até a próxima visita que me fizer.

E é claro que eu vou recuperar. Farei isso por ele.

– Eu. Amo. Você. - Limito-me a dizer. E como se estivéssemos os dois sobre efeitos de drogas, dormimos.

Acordo quando estou nos braços de alguém. Olho para cima. Jake. Fecho meus olhos novamente porque sei que ele está me levando para o meu Compartimento. Mas estou errada. Ele passa pelo meu Compartimento e para em uns três ou quarto Compartimentos para frente. É o seu Compartimento.

Ele me deita em sua cama, mas estou cansada demais para tentar resistir. Lembro-me vagamente de que a droga dada na ala hospitalar, é inalada ao invés de injetada. Eu devo tê-la exalado e agora estou sob total custódia de Jake.

Ele se deita ao meu lado e me observa. Depois, simplesmente começa a acariciar meu rosto e meus cabelos. E continua me observando. É constrangedor observá-lo me observar. Mas ele não para de me olhar como se me admirasse. Como se gostasse de mim pelo que eu sou. Como se não houvesse outra garota no mundo além de mim. E é exatamente esse tipo de coisa que preciso para aliviar meu lado depressivo que restou da desilusão amorosa.

Abro os olhos lentamente, tentando não espantá-lo e nem rosnar para ele.

– Ei. Pode voltar a dormir. Não vou devorar você. - Ele sorri. Os olhos azuis fixos nos meus.

Um fogo estranho percorre por todo meu corpo e me aninho nos braços dele. Eu não tenho nada a perder. Provavelmente, ele nunca beijou ninguém. Eu já. Tenho uma vantagem. Estamos sozinhos. Não vejo mal nenhum.

– Eu bem que. Gostaria que. Fizesse. - Sussurro. Dessa vez, minha voz sai mais sensual do que o planejado. Eu sabia que ela estava nesses níveis, mas não assim. Não desse modo.

Por sorte, o efeito que causa em Jake é o que eu desejo que cause. Ele me quer, porque aceita que eu permaneça aninhada junto ao seu corpo. E além disso, seu rosto está a centímetros do meu.

– Por que não me beija? - Digo, em tom de desafio. Minha fala se desenvolvendo o mais rápido possível. Ótimo.

Ele para seu rosto mais em frente ao meu do que se é possível.

– Acha que eu sou seu escravo para que me mande fazer as coisas? - Diz ele, aceitando o desafio que eu propus.

– Por que não mudamos um pouco as coisas? Agora, eu sou sua escrava. Me diga o que fazer.

Ele sorri. O mesmo tipo de sorriso que diversas vezes me deixou tonta.

– Me beije. Agora. - Ele dá a palavra final. E eu, por fim, faço o que ele manda, me sentindo finalmente viva.


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