• Matthew Michaelson

Matthew acordou sobressaltado aquela manhã. Tinha ouvido mais um canhão explodir. Diz a lenda, que no passado, há algumas centenas de anos atrás, era sempre possível ouvir um canhão explodir no Acampamento Meio-Sangue, mas geralmente era uma bugiganga do chalé de Hefesto que não dera certo. Matthew queria poder viver nesse tempo. Agora, sempre que um som como aquele vibrava pelo Acampamento significava que alguém irritara Quíron, e, agora, estava morto.

É, faz parte de outra lenda, em qual dizem que Quíron já fora um centauro pacífico e atencioso, que se preocupava com os semideuses e seu bem estar. Piada! Quíron, pelo menos agora, é um dos piores seres que já pisaram na Terra. Alguns dizem que ele foi possuído por um pedaço de seu pai, Cronos, logo após o mesmo ter caído diante aos semideuses, e que por isso, tornou-se tão destrutivo, cínico, bruto, bélico e assustadoramente sádico como ele.

Matthew tinha até medo de pensar nessas coisas. Do jeito que Quíron é louco, era bem provável que ele tenha colocado todos os Mentalistas de Psiquê vivos monitorando as mentes dos semideuses. O filho de Hermes olhou para trás e curvou os ombros com descaso. Que ouçam! Nada demais podiam fazer além de me matar, mas os Jogos já fariam isso para eles. Outra grande lenda: uma era sem os Jogos! Mas Matthew não tivera tempo de pensar nisso, logo um de seus meio-irmãos subira em sua barriga e, dando pulos frenéticos sobre ela, gritara:

▬ Hey, Matt, acorda, temos corrida em volta do Acampamento, hoje!

O garotinho não deveria ter mais que oito anos, mas, mesmo assim, treinava tão arduamente quanto todos os outros semideuses mais velhos. Matthew não podia dizer nada. Quanto mais cedo começasse a treinar, maiores seriam as chances de ele sobreviver aos Jogos. Matthew tinha um pouco de pena de seu irmão, mas não o suficiente para avisá-lo sobre o chão falso na beirada da porta. O menininho ficou enterrado até os joelhos, adornando a entrada do chalé. Todos riram, inclusive ele.

▬ Desculpe, Jhon, não resisti ▬ disse, entre vários risos.

Por um instante, Matthew ficou ali, absorvendo cada detalhe daquela cena. Momentos como aquele são tão raros quanto ambrosia; deveria saboreá-la de pouquinho em pouquinho. Resfolegou-se, concentrado para não rir mais. Bateu palma alto, para que todos ouvissem.

▬ Então, galerinha do chalé mais lindo do Acampamento ▬ disse, fazendo todo rirem mais um pouco. ▬ Tenham um bom dia, todos. E, lembrem-se, tentem não irritar muito Quíron, eu acho que vocês ouviram, não é? ▬ disse, se referindo ao canhão. Sua expressão estava séria, agora. ▬ De qualquer forma, tentem não morrer agora, os Jogos estão aí pra nos fazer esse grande favor: matarem-nos.

Todos pareciam tristes, mas uma tristeza quase que comum. Era sempre isso. Todos deviam treinar durante todo o ano e, no meio dele, haveria a seleção para os Jogos e, a partir daí, começava o massacre, onde um deveria matar os outros até restar apenas um, o qual seria o vencedor. Por serem semideuses, esses Jogos parecem ser mais divertidos, porque, como por exemplo, o ano anterior, os dois últimos jogadores quase destruíram metade dos Estados Unidos. Quíron e Sr.D pareciam gostar muito.

Sr.D era outro grande idiota. O deus do vinho e da curtição, nunca se importara muito com os semideuses. Quando os titãs conseguiram dominar a superfície por um tempo, ele foi um dos primeiros deuses a dizer sim e se bandear para seu lado. E agora, como responsável por entreter os titãs e manter os semideuses controlados, Dionísio criou esses Jogos e obriga a todos a participar. Caso não faça... Bem, ninguém nunca voltou do Tártaro, mas não parece ser um bom lugar para se passar o resto da vida.

Matthew já estava se aquecendo quando o gongo soou, avisando a todos que era hora de treinarem. Como sempre faziam, os megafones espalhados por todo o Acampamento, começaram a cantar as regras e frases de incentivo para os semideuses. Matt odiava aquilo. Como eles eram irônicos e sarcásticos quando os incentivavam a matarem uns aos outros. Mas nada ele podia fazer. Pelo menos não em curto prazo. Nem em longo. Quem seria louco de enfrentar os líderes do Acampamento?

Todos do chalé 11, incluindo alguns de outros chalés que se consideravam tão rápidos quanto os filhos de Hermes, posicionaram-se diante à partida, enquanto aguardavam o inicio da corrida. Eles não tinham chance, obviamente. Ninguém é mais rápido que alguma cria de Hermes. Matt deu uma olhada ao redor. Os seus concorrentes de outros chalés tinham olhos multicoloridos e cabelos de cores vibrantes, eram tão magros quanto os seus meio-irmãos. Filhos de Íris, supôs. A outra deusa mensageira, também deusa do arco íris, o que explicava os cabelos e olhos coloridos.

Um tiro surdo vindo de sabe-se lá onde deu inicio a corrida. Matthew voou. Seus pés foram tão rápidos que fizeram seus concorrentes comerem poeira. Literalmente. Um fina camada de poeira flutuou sobre os pés do semideus e aumentava a cada passo. Matt não olhou para trás. Tinha uma ótima visão periférica. Conseguiu ver quem estava ao seu lado, e até um pouco atrás: um filho de Íris, e dois de Hermes, Fred e Greg, quase gêmeos.

A linha havia se aproximado, estava a alguns passos. O suor escorreu pela lateral do seu corpo. O sol brilhou mais forte. Matthew sentiu seu corpo formigar e sabia que algo ruim ia acontecer. Semideuses e seus outros sentidos. E então tudo estava prestes a dar errado. Uma forma grande, rápida e redonda surgiu em frente a Matthew.