O Senhor de Gondor escrita por Will Snork


Capítulo 18
Capítulo 5 - O Medo dos Homens




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Eu estava sendo levado do salão, enquanto as portas se fechavam e eu observava Eithor se envolver em uma luz negra enquanto os orcs me arrastavam como um animal. E então um grande clarão de luz passou por nós. Não pude saber o que era, ele sumiu ao céu como uma estrela, indo em direção ao norte. O que era aquela luz? Eu não sei, mas algo me dizia que aquilo teria um papel muito importante em um futuro próximo.

Ora, enquanto eu estava sendo levado, uma flecha foi lançada em direção a um dos orcs, acertando-o em sua cabeça, e o outro teve a garganta cortada por alguém. Se tratava de um resgate, feito por Barad e Hildwyn. Logo me levantaram e perguntaram se eu estava bem.

— Sim, eu estou bem. – disse a eles. – Vocês sabem onde está Aratus? - perguntei

— Sim. – respondeu Hildwyn. – Ele foi levado até a praça principal, onde pretendem executá-lo perante todas as pessoas da cidade.

Me desesperei, e disse a eles que precisávamos ir até lá salvá-lo.

— Acalme-se, Wallor. – disse Barad segurando meu braço. – Com certeza iremos salvá-lo. Tentamos nos aproximar antes, mas havia muitos orcs ao redor, e agora provavelmente deve haver também, e ele está acorrentado no meio de uma praça. Por enquanto precisamos pensar em algum plano.

Decidimos ir até a praça para observar, vestimos capuzes cinzentos e nos dirigimos até lá.

A praça era quase toda feita de pedra, e ela estava imunda, com sujeira dos orcs para todos os lados, porém era bela, pois o por do sol refletia nas pedras brancas, e davam um tom amarelado ao local. A praça estava lotada de pessoas, porém elas não estavam animadas com aquilo, pois estavam sendo obrigadas a assistir, ou seriam punidas por desacatarem ordens diretas de Eithor. Entramos ao meio da multidão e então após alguns empurrões conseguimos chegar até a frente, o mais próximo possível de Aratus.

Aratus tinha suas mãos acorrentadas, ele estava sob uma espécie de palco feito de madeira, onde provavelmente já havia sido utilizado para outras execuções, e havia um corda presa em seu pescoço. Ao seu lado estava um grande homem vestido de preto, que seria o carrasco, e logo atrás havia vários orcs, cerca de trinta ou cinquenta. Um dos orcs dizia para a multidão que Aratus seria enforcado em praça pública para ensinar aos outros o que acontece com quem desafia Eithor.

Logo Aratus conseguiu nos ver, eu estava com a mão posicionada na bainha de minha espada, preparado para pegá-la e atacar aquele carrasco a qualquer momento. Então Aratus olhou dentro de meus olhos e fez um sinal de “não” com sua cabeça. Mas com certeza eu não iria abandoná-lo naquele momento para morrer por uma causa tão inútil que foi nossa missão.

Algum tempo passou, e enquanto a noite caia, uma chuva começou, eu não conseguiria perder Aratus aquele momento, e estava disposto a arriscar tudo para salvá-lo. Então o carrasco se dirigiu até a alavanca de execução.

Eu já havia planejado tudo, quando ele puxasse a alavanca eu iria até Aratus e cortaria a corda rapidamente antes que ele se enforcasse, e então atacaríamos os Orcs e o carrasco. Mas isso não foi preciso.

Quando o carrasco puxou a alavanca, uma flecha foi atirada na engrenagem que abria o alçapão onde Aratus seria enforcado. Ele quase se enforcou, mas conseguia se segurar pelas pontas de seus pés, lutando para não ser sufocado pela corda. E então os orcs ficaram em alerta, e eu mesmo procurava de onde havia vindo àquela flecha, pois Hildwyn e Barad estavam ao meu lado.

De cima de uma casa, pude perceber uma mulher usando um capuz cinzento, molhado pela chuva, e em sua mão havia um arco. Meu dever era distrair os orcs antes que a encontrassem, então corri até Aratus e cortei a sua corda. Os orcs vieram em minha direção me atacar, mas Hildwyn e Barad me ajudaram, e não somente eles, mas a população que estava lá começou a apedrejar os oorcs. Aquilo logo virou uma bagunça, e os orcs enfurecidos começaram a atacar as pessoas, e elas corriam em pânico para as suas casas.

Aproveitei o momento e ajudei Aratus, o segurei pelo braço e o fiz correr. Nós quatro juntos corremos entre a multidão de pessoas para tentar despistar os orcs enquanto procuravam especificamente por nós, corremos juntos com elas entre os becos, e assim conseguimos nos misturar. De dentro de uma casa, a mesma mulher encapuzada que atirou a flecha abriu uma porta.

— Por aqui. – disse ela.

Entramos dentro da casa, e então ela retirou o seu capuz, assim soltando seus longos cabelos negros, e mostrando seu rosto. Ela era bela, seus olhos eram negros, e seu rosto era dócil, porém sério e perigoso. Ela afastou um tapete azul que estava sob o chão, e de baixo dele havia um alçapão. Ela abriu e disse para entrarmos.

Ao começo hesitamos um pouco, o barulho lá fora era de pânico, pessoas correndo para todos os lados aos gritos, eu queria ajudá-las ao invés de me esconder. Mas nesse mesmo momento orcs começaram a bater na porta, com a intenção de arrombá-la.

Entramos dentro daquele alçapão, e a mulher entrou em seguida fechando o alçapão. Lá dentro havia uma escadaria, mas não conseguíamos enxergar nada, então ela seguiu na frente. No final daquele corredor escuro, havia uma luz amarelada, como se houvesse uma fogueira.

Seguimos até aquela luz, e me surpreendi com o que vi. Havia várias pessoas lá em baixo, entre elas homens mulheres e crianças, com várias caixas cheias de comida.

Então um homem aparentemente velho com cabelos negros e longos chegou até nós. Seus olhos eram negros e ele vestia um grande casaco de pele, seu rosto era sério como o de um homem que viveu inúmeras guerras.

— Aratus. – disse ele. – O que o trás para essa terra amaldiçoada novamente?

— Eu não posso acreditar. – respondeu Aratus com uma expressão de espanto – Huor, você está vivo!

Os dois se cumprimentaram como velhos amigos.

— Mas como? – perguntou Aratus.

— Eu consegui sobreviver aquele dia. – disse o homem – Porém eu me envergonho. Eu me rendi após a queda de Guildor. Fui feito prisioneiro e escravo de Eithor durante anos. Mas agora estou aqui, consegui fugir e me deram como morto. Mas não posso sair deste buraco até que a hora certa chegue.

— Como há tantas pessoas aqui? Quem são elas? – eu perguntei a Huor.

— Sobreviventes como todos. – disse ele. – São pessoas que ainda desejam ser livres e não perderam a esperança. Pessoas que não deixaram as palavras de Guildor morrerem, e em seus peitos carregam a honra de Gondor. Mas para isso temos que viver como ratos em buracos, e essa comida que temos foi arriscada para conseguir, tivemos que roubar dos orcs o que era nosso antes, para assim sobreviver.

Então observei as pessoas, estavam todas magras e aparentemente fracas, e a fome era estampada em seus olhos.

— Porque estão todos tão famintos? Se há várias caixas com comida. – perguntei a ele.

— Essa comida não pertence somente a nós – respondeu Huor. – Sempre que conseguimos levamos alimento para as pessoas lá em cima, porém nunca é o suficiente para todos. Nos alimentamos apenas uma vez ao dia, para poupar alimento.

Então pude compreender. Aquele era mais um grupo de sobreviventes de Gondor, como os do acampamento, porém este era impedido de viver lá fora, pois Eithor os impedia de sair de Minas Tirith.

— E vocês que são? - Perguntou Huor.

— Eu sou Wallor, filho de Guildor. – eu disse a eles.

Então todas as pessoas se espantaram, e Aratus abriu um sorriso no rosto. Elas se levantaram e vieram em minha direção.

— Isso é verdade? – perguntou Huor espantado.

— Sim. - respondeu Aratus.

Então as pessoas estavam se curvando, mas antes disso eu gritei a eles.

— Não se curvem! Eu ainda não sou o rei de vocês. Não quero que ninguém se curve a mim até que Eithor seja derrotado, até lá quero que me tratem como um igual de vocês. Hoje eu não sou Wallor, filho de Guildor, eu sou Wallor, Filho de Karick, apenas um Gondoriano.

As pessoas não entenderam muito bem minhas palavras, mas me obedeceram e não se curvaram.

— Karick? – perguntou Huor.

— Sim. – eu respondi - Foi o homem que me criou e que chamei pai por muito tempo. Esses são meus irmãos, Barad e Hildwyn, filhos de Karick.

— Eu conheço esse nome – disse Huor.

— Você conheceu nosso pai? – perguntou Barad.

— Sim, ele era um grande ferreiro. O melhor de todos na verdade, ele me fez essa espada. – disse Huor, retirando uma espada da bainha, uma espada de prata brilhante, muito bem feita, com o cabo revestido a anéis circulares.

— Onde está seu pai agora? – perguntou Huor à Barad.

— Ele caiu. Foi morto por orcs. – disse Barad abaixando a cabeça.

— Eu sinto muito. – disse Huor se lamentando.

Huor tentou mudar o assunto e nos apresentou a mulher que havia salvado Aratus.

— Pois bem, esta é Dyut. Minha filha – disse ele.

Então ela fez uma reverência.

— Obrigado por sua ajuda. – eu disse a ela.

Conversamos por um longo período, e conhecemos várias pessoas. Dyut cuidava de várias crianças órfãs que viviam com eles, dando atenção a eles e tentando dar um pouco de razão para as suas vidas.

Ora, após uma longa conversa, perguntei como sair de Minas Tirith.

— Sair? Isso é impossível. Desde que Eithor virou rei, Minas Tirith virou uma prisão, ninguém sai sem passar por seus olhos. – disse Huor. – Há vários orcs em seus portões. E Bolach o meio-orc gigante é o maior problema, ele fica em frente ao portão principal, mantendo guarda com seu enorme machado.

— Conhecemos uma saída. – eu respondi.

— Não tem jeito. – disse Aratus. – Não há como fazer todos passarem por aquele buraco escuro, e na pior das hipóteses eles poderiam se perder lá dentro.

— Mas eu não posso deixar essas pessoas aqui. – eu disse a eles. – Talvez possamos voltar aqui com um exército.

— Não faça isso! – disse Dyut, com seriedade em seu rosto. – Se você chegar com um exército às portas de Eithor, ele fará todas as pessoas como reféns.

Dyut tinha razão, Minas Tirith tornou-se uma fortaleza indestrutível, e mesmo se conseguíssemos um exército dez vezes maior que o de Eithor, eu não conseguiria atacá-lo caso ele usasse as pessoas como reféns. E com toda a certeza ele faria isso, e não hesitaria em matar algumas mulheres e crianças para mostrar que estaria falando sério.

— Bom, de qualquer forma teremos que ir. – eu disse a eles. – Eu escutei Eithor dando ordens aos orcs; eles pretendem atacar Rohan.

Esperamos a noite cair, e seguimos até o mesmo túnel que usamos para entrar. Conosco foram Dyut e Huor. Juntos levaram algumas tochas, assim o caminho foi visível. O túnel estava cheio de musgo e teias de aranhas. Na hora de nos despedirmos, eu olhei para os olhos de Dyut, ela era bela, e como um encanto eu me apaixonei por aqueles olhos, negros e brilhantes, como a noite mais escura sendo iluminada por uma única estrela grandiosa.

— Venham conosco. – Eu disse a ela e Huor. – Vocês conhecem a saída agora, conduzam as pessoas até aqui.

Então ela e Huor se olharam, e ela olhou em meus olhos e respondeu.

— Wallor, você é um tolo. – disse ela sem hesitar – As pessoas que vivem aqui precisam de nós, as crianças de que cuido precisam de mim. Sem nós as pessoas dessa cidade já teriam morrido de fome há muito tempo. Arriscamos nossas vidas até hoje para salvá-las, e não será hoje que iremos fugir como ratos. Só iremos sair daqui, quando todas essas pessoas estiverem livres, pois honramos as palavras de seu pai.

Aquilo quebrou meu coração, mas era a realidade. Dyut e Huor fizeram muito mais por Gondor do que eu, e não teria como levar todas as pessoas de Minas Tirith por aquele túnel sem que algum orc descobrisse.

Assim nos despedimos e partimos as pressas até Rohan, mas antes de me despedir de Duyt, eu jurei a ela que libertaria o nosso povo.


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