O dia seguinte chegou. Quase não consigo dormir pensando como o meu melhor amigo me enganou. Mas tudo bem, eu sempre sou enganada mesmo. Não iria mudar com ele.

Lavei meu rosto e desci para tomar meu café. Meu pai já havia viajado novamente. Porém, notei alguém na sala.

– Megan, como você está grande!

– Tia! – corri e pulei para abraçá-la –

– Como você está?

– As coisas não estão fáceis, mas estou tentando né tia. E você? Como anda na Flórida?

– Super bem. Conheci um cara maravilhoso. Ele é tudo de bom. – disse se abanando e sorrindo –

– Sempre né tia. – gargalhei – Por quanto tempo você fica?

– Vou ficar só um mês...

– Sério? – disse pulando de alegria –

– É pouco.

– Para mim é muito. Você nunca fica mais de uma semana... Bem, pelo menos não vou ficar sozinha. – disse a abraçando novamente –

– Você tem aula hoje?

– Tenho.

– Então vá se arrumar, se não você vai se atrasar querida. Suba para se arrumar que eu preparo seu lanche.

– Obrigada.

Megan olhou em seu relógio e viu que estava quase atrasada. Nem havia percebido que acordou tão tarde.

Assim que terminei de me arrumar, desci para a cozinha e lá estava sua tia Bianca terminando de preparar o meu lanche.

– Aqui está.

– Obrigada tia. – disse pegando e dando um beijo em sua bochecha – Tenho que ir, até mais tarde.

– Até. Boa aula, querida.

Chegando à escola, já conseguia avistar o Chris. Ele encontrou meu olhar e logo surgiu um sorriso no rosto dele na minha frente, eu logo desviei o olhar. Como meu melhor amigo pôde mentir para mim? Eu sempre confiei nele, o que ele achou que eu faria ou diria ao saber sobre ele e a Melissa?

– Oi. – ele veio até mim com um sorriso enorme no rosto –

– Oi. – simplesmente falei e fui em direção á entrada –

– Você está bem? – ele disse me virando –

– Claro, por que não estaria? – respondi seco –

– Porque você não olhou nos meus olhos desde a hora que eu disse “oi”. – ele já estava sério –

– Eu estou ótima. Melhor impossível ok? – eu olhei para ele com o sorriso torto –

– Ok, vamos para aula então.

Logo vi o olhar raivoso de Melissa sobre nós, olhei novamente para o Chris.

– Não, vá você, eu vou depois.

– O que você vai fazer? – ele pareceu bem curioso –

Eu não sabia o que falar, eu só não queria ir com o Chris depois de tudo. Então vi Steve ali nos encarando também.

– Vou com o Steve. – logo respondi –

E então Chris o encarou como se quisesse matá-lo com o olhar. Não havia entendido, mas não me importei.

– Isso não pode ser sério. – ele disse voltando o olhar furioso sobre mim –

– Por que não seria? Qual o problema? – respondi surpresa –

Ele simplesmente se virou o foi em direção à entrada.

– Chris. – gritei –

Ele nem olhou para trás, e logo avistei Melissa indo atrás dele, revirei os olhos e me virei para ir para entrada e esbarrei em alguém.

– Me desculpa. – falei de cabeça baixa –

– Tudo bem Megan.

– Steve. – falei levantando a cabeça – Eu lamento ter quase te derrubado.

– Você está bem? – ele disse me encarando –

– Sim. – disse desviando o olhar – E você?

– Estou bem. – ele sorriu – Obrigado. E então, vamos entrar?

– Claro. – falei timidamente, sentia minha pele queimar, com certeza eu estava como um tomate –

– E então Megan, agente nunca parou para conversar direito. – ele disse enquanto caminhávamos para a nossa sala – Conte-me sobre você.

– Não tem muito que contar... – falei meio distraída – Perdi minha mãe com 13 anos, meu pai sempre foi muito ausente, viaja muito. Acabei de perder meu melhor amigo, sempre estou sozinha e acho que é só isso.

– Lamento pela sua mãe.

E então percebi que havia falado sobre meus problemas, eu estava tão distraída que não havia percebido isso, e então corei.

– Você não gosta de falar sobre isso, não é? – ele me parou e começou a me encarar –

– Por que acha isso? – falei sem jeito –

– Porque você está chorando. – ele disse secando minhas lágrimas –

– Não pode ser, de novo não. – eu disse secando todas as lágrimas já em desespero. – Eu não posso ir pra sala assim, eles já me zoam sempre que podem e agora eles vão ter mais motivos.

– Ei, calma. – disse me abraçando –

Eu então comecei a chorar mais, porque sempre que eu me lembrava da minha mãe e da falta que ela me faz, e como ela me fazia bem e estava sempre comigo, me batia uma dor no peito, tão forte.

– Me desculpe. – disse saindo do seu abraço – Agente nem se fala e... – respirei fundo – Eu lamento.

Eu ia saindo para ir para sala, mas ele me puxou pelo braço.

– Não fique assim. – Ele sorriu, e isso de algum jeito me confortou. – Deve ser duro perder alguém que você ama. Você tem sido bem forte então. E eu a admiro por isso.

– Obrigada. – Sorri meio sem jeito e olhei para os lados, só nós estávamos no corredor. Se a diretora nos pegasse ia dar em encrenca. – Agente não vai conseguir entrar na nossa sala, se a diretora nos pegar agente vai acabar em uma fria.

– Eu sei o que fazer. – tinha um sorriso enorme no rosto dele – Vem comigo.

Ele me puxou pelo braço e levou até uma sala perto do refeitório, no qual nunca havia reparado, nós entramos de mansinho para não despertar ninguém por perto. Era uma sala escura, cheia de pó, parecia que ninguém entrava ali por anos.

– O que é esse lugar? – disse me sentando em uma mesa que havia por lá –

– Eu não sei exatamente, mas acho que alguém dormia aqui, como se fosse uma casa... De um cômodo só. – ele disse e se aproximou de mim –

– Como descobriu esse lugar?

– Bom... – ele olhou em volta – Eu estava andando, com meus amigos, e agente encostou do lado dessa porta, e um dos meus amigos me empurrou por brincadeira, e eu abri essa porta, então agente começou a ficar bastante aqui...

– Matando aula. – completei e então o fitei –

– Sim, trazendo bebidas, jogos...

– Garotas.

– Pare de completar minhas frases.

– Ok. – disse levantando minhas mãos e então sorri e ele sorriu em seguida –

– Você está bem?

– Estou. Obrigada por tudo, mesmo, apesar de ser uma péssima ideia matar aula, obrigada.

– Por nada. – ele foi se aproximando, cada vez mais e começou a me encarar diferente das outras vezes –

– O que foi? – disse sorrindo –

– Você é muito bonita. – ele deu um sorriso de orelha a orelha –

– Obrigada. – estava envergonhada –

– Por nada. – ele sussurrou e se aproximou ainda mais –

E então eu senti sua mão em minha coxa, e nossos rostos já estavam quase colados, nossas respirações já estavam se misturando nossos lábios se encostaram e então a porta abriu e nos separamos.

– Ora, ora Steve, nova no grupo?

– Não Aaron. – Steve disse sorrindo – Essa é a Megan, uma colega de sala.

Aaron. Eu me lembro dele, devo ter estudado com ele na 6ª série. As atitudes dele eram ridículas, sempre arrumava brigas, e sempre, sempre, sempre ele colocava culpa em outra pessoa, sempre foi covarde para poder se defender. Eu nunca gostei muito dele.

– Ah, claro, Megan. – ele sorriu e se aproximou – Me lembro de você na...

– Mais ou menos 6ª série. – eu completei –

– Isso. – ele deu um enorme sorriso – Esses são Matthew – era o loiro, de cabelo bagunçado de olhos castanhos escuros – E esse é...

– Adam, prazer Megan. – ele disse com o sorriso delicado dele –

Eu já havia esbarrado em Adam, sem querer, como sempre. Adam era o tipo de garoto “fofo” que toda garota se apaixonava, mas ele sempre foi muito metido, só as mais bonitas da escola ele dava atenção. Agora dá pra entender porque ele nunca se aproximou de mim.

– Olá Adam. – disse friamente –

– O que aconteceu pra vocês estarem aqui? – disse Steve para seus amigos –

– O professor expulsou agente da sala... De novo. – respondeu Aaron calmamente –

– De novo. – repetiu Adam enquanto se sentava do meu lado em outra mesa –

Eu já estava meio tímida ali com o Steve, imagina agora com o Aaron, Adam e o Matthew?

– E você Megan, o que faz aqui? Você sempre foi uma pessoa tão quieta, não creio que tenha sido expulsa da sala. – Disse Matthew me encarando.

– Na verdade...

– É uma longa história – Steve me interrompeu –

– Ah, então você é uma dessas garotas que o Steve trás aqui para ficar. – disse Aaron sorrindo ironicamente –

– O que? – eu disse surpresa –

– Aaron, por favor. – Steve estava sério, com um olhar frio –

– O que foi Steve? Porque não conta a verdade para ela?

– Para Aaron.

– Chega pra mim, isso basta. – eu disse me levantando – Eu não sou um brinquedo para ninguém.

– Espera Megan, não fica assim. – Adam disse me puxando –

– Me solta. – eu gritei – Vir para cá foi um erro. – disse encarando Steve, e então saí –

Assim que sai daquela maldita sala esbarrei em duas pessoas, me derrubando.

– Que droga. – levantei a cabeça para pedir desculpas, mas então me surpreendi –

Era Chris e Melissa, de mãos dadas.

Era só o que me faltava. – eu gritei – Desculpa por interromper o amor de vocês. – falei ironicamente e saí correndo para o banheiro e então me enfiei em qualquer um e comecei a chorar –

Eu não podia acreditar que meu dia nessa escola pôde começar tão ruim. Como isso é possível? Deveria ter adivinhado que Steve me levou para aquela sala por interesse, ele tentou me beijar, só para depois falar de mim para aqueles amigos nojentos e idiotas dele. E o Chris... Ele só me decepciona. Melissa e ele de mãos dadas, queria acabar com ele, bagunçar aquela cara de idiota que ele tem.

– Megan? Eu sei que você está aqui.

– Olívia. – sai do banheiro para abraça-la, comecei a chorar ainda mais –

– Calma Megan, o que houve? Eu vi o que aconteceu com o Chris. Só não entendi.

– Olívia, meu dia está sendo péssimo. – eu disse ainda chorando –

– Ei, olha pra mim. – ela subiu meu rosto – Fique calma ok? Conte-me o que aconteceu para você estar assim, não é a primeira vez que você esbarra em alguém, porque fica assim agora? Ainda com o Chris, seu melhor amigo e...

– Ele não é meu melhor amigo, melhores amigos não mentem, nunca mentem. – eu disse secando minhas lágrimas e então nos sentamos ali no chão do banheiro mesmo, quase ninguém entrava lá –

– Não acredito que Steve Harris, o garoto mais popular da escola ia te beijar. – Olívia disse com um sorriso tão grande no rosto, mas ainda surpresa depois de ter contato tudo o que aconteceu naquele dia –

– Olívia, isso é sério, ele só queria me usar como um brinquedo, só para ganhar ainda mais fama de pegador. – eu disse totalmente séria –

Não havia percebido que Kaitlyn estava ali nos escutando. Saímos do banheiro depois que lavei meu rosto, peguei minhas coisas e então Kaitlyn nos barrou.

– Você acha mesmo querida que alguém como Steve Harris terá olhos para você? – ela disse dando uma pequena gargalhada – Ele nunca vai querer alguém como você, uma pessoa tão sem graça.

– E você é muito palhaça para ter graça em Kaitlyn. Poupe-me dos seus comentários. Eu não quero o Steve, para sua informação. – falei friamente, e simplesmente sai com Olívia –

Dei de cara com o Steve, e ele parecia triste, ou eu não sei, talvez estivesse constrangido pelo o que aconteceu naquela sala. Eu não queria falar com ele, nem com ninguém, simplesmente desviei dele e continuei andando com a Olívia para sala.

– Ei, não, espera. Você não pode ir pra sala agora. – Olívia disse me parando –

– Por que não?

– Ainda não acabou a aula, você não pode entrar.

– Droga. E eu vou ficar onde? A diretora não pode me pegar nos corredores.

– Eu não sei Megan, eu preciso voltar para sala logo. Você precisa achar um bom lugar para ela não te pegar aqui. – Olívia me deu um abraço forte, e saiu – Cuide-se.

– Olívia, não sei para onde ir. – falei, mas ela já havia saído da minha visão – Pra onde eu vou? Ainda faltam 20 minutos para acabar a aula. – disse baixinho comigo mesma –

– Eu te ajudo. – uma voz soou atrás de mim –

Então me virei e era Matthew, um dos amigos de Aaron e Adam.

– Fique longe de mim. – falei me afastando –

– Espera não se preocupe, não precisa fugir de mim. – ele disse me acalmando –

– Claro que preciso você é amigo do Aaron, Adam... Steve. – suspirei –

– Mas não sou como eles, acredite. – ele parou na minha frente com um sorriso doce – Agora venha comigo antes que a diretora nos pegue aqui, por que irá ferrar para nós dois. – ele pegou na minha mão e me puxou –

Passamos do refeitório e da sala no qual eu achei que ele me levaria novamente. Havia outra sala perto da quadra, sempre achei que fosse a sala do professor de educação física, mas eu estava enganada, era outra sala vaga.

– Quantas salas abandonadas têm nessa escola afinal? – falei olhando em volta –

– Eu não sei, eu só conheço essas duas. – ele disse trazendo uma mesa para eu sentar –

– Eu não quero estar aqui, seus amigos podem chegar e eu realmente não quero isso. – falei indo em direção à porta, mas o Matthew pegou na minha mão, e então me virei para ele –

– Eles não sabem desse lugar, eu te prometo que aqui ninguém vai entrar ok? – ele sorriu –

– Porque me trouxe aqui? – soltei da mão dele –

Ele respirou fundo e me conduziu até a mesa para eu sentar.

– Eu te conheço muito pouco Megan, mas sei que você é bem solitária. E eu já fui assim antes de conhecer...

– Aaron e Adam. – suspirei –

– Isso. – concordou – Eles não são tão ruins quanto parecem...

– Sei. Já ouvi isso antes.