Capítulo 17 - Finalmente.

CHARLIE

Não havia mais nada do que fazer. Eu sabia que aquela era a hora decisiva, onde ou eu finalmente enfrentava o destino que eu esperava desde o dia que saí da Caçada, ou eu burlava toda a profecia e simplesmente seguia minha vida adiante, como se Nico nunca tivesse sido o motivo da minha desistência. Mas eu não podia considerar a segunda opção. Não conseguia nem mesmo me vendo fazendo existir esta segunda opção. Porque aquelas Caçadoras imbecis tinham razão. Eu desistira da minha vida imortal porque me apaixonara. E não era agora, depois de tudo que eu enfrentara por isso, que eu desistiria e daria com o pé atrás.

– Charlie, o que foi aquilo?! - Nico perguntou quando eu o puxara para se afastar do grupo maior. Eu sabia que Lua tomava a mesma decisão que eu naquele instante.

– Não foi nada, Nico. - eu disse, repentinamente receosa de dizer a ele que ele fora o motivo pelo qual eu desistira da vida que levei durante cinco longos anos. Então eu simplesmente continuei andando pela areia da praia, com Nico ao meu encalce.

Alguns minutos, porém, senti ele segurando meu pulso e obrigando-me a parar. Eu sentia as ondas do mar quebrando levemente sobre meus pés e eu me senti repentinamente relaxada com isso.

– Aqui é longe o suficiente para qualquer uma delas ouvir. - ele disse, sentando na areia e me puxando para me sentar ao seu lado, com a água ainda batendo levemente em nosso calcanhares. Olhei rapidamente para o lado e percebi que ele tinha razão; estávamos há vários metros do grupo das minhas antigas colegas. - Agora pode me contar tudo desde o início, desde quando entrou na Caçada.

– Mas você já sabe! - insisti.

– Ouvir atrás da porta não é a mesma coisa do que você contar diretamente a mim. - ele disse e eu recontei toda a história de Will quase me violentando.

– Eu fiquei com tanto ódio de garotos que nem mesmo pensei na possibilidade de haver um Acampamento para meio-sangues, eu simplesmente vi na Caçada um modo de me libertar disso! - eu dizia amargamente. - Will e eu somos da mesma idade, mas eu tinha dezesseis quando entrei na Caçada. Foram os cinco anos mais longos da minhas vida.

– Uma vida imortal bem pequena. - Nico disse e eu acenei em concordância. Era agora que vinha a pior parte. - E o que aquela garota disse sobre desistir da Caçada por um amor. O que ela quis dizer?

Suspirei, sabendo que não havia mais volta. Eu ainda precisava testar a primeira opção de simplesmente seguir o destino que a profecia me impôs e ser feliz a partir disso.

– Dia oito de setembro houve um alinhamento entre a Lua e o planeta Vênus. - eu disse e Nico me olhou com uma sobrancelha arqueada em questionamento. - Deixe-me terminar!

Ele levantou os braços em forma de rendição.

– Ártemis e Afrodite tinham um trato nas raras ocasiões em que havia esse alinhamento. - eu continuei, olhando as ondas se quebrando aos nossos pés. - Ártemis liberava suas Caçadoras que estavam apaixonadas para passar o dia com os amados e, no fim dia, deveriam retornar com uma resposta. Continuar na Caçada e esquecer esse amor, ou sair e ir atrás dele.

– E você desistiu porque se apaixonou. - Nico disse de maneira tão cansada e amarga que eu me obriguei a olhá-lo, mas ele não olhava para mim. Ele olhava para o mar.

– Hey! - chamei sua atenção, tocando em seu braço. Meu coração se apertou quando me olhou com um brilho tristonho e sofrido. Sorri fracamente, juntando toda a coragem que eu conseguia. - Eu tinha medo de entrar naquele iate com você porque eu não queria que você gostasse de mim por causa de um feitiço caprichoso ou por uma droga de profecia! Queria que você gostasse de mim pelo que eu sou!

Nico sorriu abertamente, com um brilho repentinamente brilhando em seu olhar. - Como eu disse, eu amava você antes mesmo de pisar naquele iate.

E então aconteceu.

Nico se inclinou e uniu nossos lábios em meu primeiro beijo. Não sei bem como descrevê-lo, pois sentia-me entorpecida demais com todas as sensações para pensar em qualquer coisa que fosse. Porém, Nico separou nossos lábios antes mesmo que eu conseguisse pensar racionalmente.

– Espera. - ele sussurrou sobre meus lábios e eu quase tive certeza de que vinha merda por aí. - Você disse profecia?

– Aquela profecia que você citou no dia em que nos conhecemos. - eu respondi a contragosto. - Falava sobre nós. A forja e a sombra são você e Leo, e vocês realmente foram importantes na decisão que eu e Lua tomaríamos alguns meses depois. A Imortalidade final Decidida no alinhamento astral. Era a decisão de continuar ou não na Caçada.

Nico sorriu sobre meus lábios e eu tive certeza então de que jamais me arrependeria de ter aberto o jogo para ele. - Nunca fiquei tão feliz em participar de uma profecia.

Ele juntou nossos lábios novamente e, se no primeiro beijo eu não tive a descrição do que eu sentira, agora eu tinha um contexto completamente diferente. De repente, nenhum daqueles romances literários fez jus ao sentimento. Não havia nada daquelas bobajadas românticas que se lia dia a dia, onde a menina levantava a perna inconscientemente e todos aqueles sintomas de um beijo apaixonado e sincero, como se fosse a primeira vez que se beijavam. Eu podia ficar tempos e tempos aqui, descrevendo as reações que sentia a cada toque, a cada mínima separação em busca de ar, a cada provocação.

Sintomas eram apenas sintomas, como se isso que eu sentia fosse uma doença que tomara todo o meu organismo, sem cura, sem vacina e sem remediação. E por mais vulgar que fosse esse conceito, eu sentia que era um dos mais verdadeiros; e nenhum dos autores já havia visto esse sentimento desse ponto de vida. Pois nenhum deles retratava o real sentimento que me impelia a ser de Nico, pois não havia como colocar tudo o que sentia em palavras. Era um sentimento único que somente quem experimentava sabia seus efeitos e somente uma única palavra nos uniam permanentemente, para atravessar o mundo juntos.

Amor.