Chances de um novo sol escrita por Anne Caroline


Capítulo 1
Capítulo - Cammile


Notas iniciais do capítulo

Começando a postar agora... Espero que gostem da fic!



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Enquanto minha irmã mais velha e única família que me restava penteava meu cabelo, eu observava a antiga campina que costumava ser florida enquanto minha mãe ainda era viva. Agora não restava nada além de um areia que grudava em nossos sapatos medievais.

Quando os vampiros tomaram o poder a muito tempo, obrigaram a fabricação de roupas e objetos de uma época passada, então quando eu nasci eu cresci com aquelas roupas e modos tendo mais fácil aceitação do que outras pessoas. Ali estava eu de frente para o espelho, mais magra do que antes, mas ainda assim bela. Meus cabelos encaracolados e castanhos caiam sobre meus ombros seguindo até minha cintura onde o fecho do vestido todo pomposo me incomodava.

Há mais de quatro meses meus pais haviam falecidos por não seguirem ordens dos civis, mas isso é o que nos dizem, creio que os vampiros com tão pouco sangue humano por aí não desperdiçaria um casal capaz ainda de gerar mais filhos. Agora naquela casa até grande só restava eu e Jade minha irmã mais velha que fazia de tudo para cuidar de mim, mas mesmo assim não era suficiente. Passamos dias sem comer depois que levaram nossos pais, o que só me revoltava e fazia com que armasse um plano de vingança.

Depois de meses trabalhando mais do que aguentávamos conseguimos começar a nos manter. Hoje nos arrumávamos para uma espécie de corte aos governantes. Eu ouvia histórias quando era pequena sobre isso, mas esse seria meu primeiro ano já que só podem participar garotas de 16 anos para cima.

Não eram muitas garotas, por conta de que os humanos era uma raça em minoria. A corte era para a “fabricação” de mais humanos. Casais eram designados para terem filhos e crescer a fonte de alimentação dos nossos “senhores” como eles gostavam de serem chamados.

Jade já havia participado um ano da corte, mas a haviam poupado por terem voluntários na frente, e era isso que me deixava menos apavorada. Mandaram uma van passar nas casas das garotas e lá estava ela na minha porta me levando para o semi palácio onde aconteceria a corte.

Conforme as garotas iam se sentando nos bancos da van, eu podia ver o horror nos olhos delas. Algumas ainda novas outras já mais experientes. Em menos de duas horas chegamos até o local. Eu nunca tinha estado ali, mas me pintavam um local medonho e realmente era.

O chão parecia pintado de carvão, a casa era grande, mas o lodo e a folhagem dominavam as pilastras que erguiam o casarão. Filas e mais filas de garotos e garotas estavam sendo feitas na frente da enorme porta.

O critério de escolhas eram a idade e a saúde. Então antes de serem formados os pares todos passavam por uma bateria de exames e os que não estavam com a saúde muito boa era cortesia para um jantar naquela noite.

O sol ainda não havia nascido o que só deixava aquelas pessoas com mais cara de sofridas. Separo-me de Jade, por conta da nossa idade e entro na fila dos 16 anos. Soou frio conforme a fila anda entrando dentro do palácio. As paredes e os tapetes são vermelhos e nos levam para um grande salão onde tem um pedestal onde está sentado os governantes e seus filhos.

A beleza dos vampiros é incrível, as presas dão um charme impressionante, mas logo lembro dos meus pais sendo arrancados de casa e daquelas pessoas ali prontas para servi-los. Toda a admiração vira desejo de vingança. Posso sentir o gosto do sangue das taças que seguram em minha boca e tenho vontade de vomitar.

Steven toma a palavra e aquela voz medonha ecoa pelo salão lotado.

– Olá, meus queridos! Agradeço pela colaboração por estarem aqui. Como devem saber todos os anos os chamamos para ser a chance do futuro. Em todos os anos há voluntários, mas esse ano pela escassez da raça de vocês, não haverá exceções e todos terão que prestar seus serviços para nosso governo. – ele abriu um sorriso e bebeu mais um pouco do conteúdo da sua taça. – E mais uma novidade, duas moças e dois moços serão privilegiados e servirão a presidência, cada um será designados a um dos meus filhos.

Ele apontou para as duas mulheres loiras e charmosas a sua esquerda e depois para os garotos de cabelos pretos e olhos azuis. Os governantes e seus filhos abriram um sorriso e bateram palmas.

Uma assistente vestida de preto dos pés a cabeça por conta do sol que iria nascer, nos guia para as mesas onde tiravam parte dos nossos sangue. Apenas os governantes e os homens de confiança podiam andar no sol o resto se cobria dos pés a cabeça ou andavam apenas nas áreas cobertas da cidade que eram grande parte dela.

Furaram meu dedo e deixaram o sangue escorrer por um recipiente de vidro que logo foi colocado em uma maquina. A tecnologia não foi banida de forma alguma, era uma das formas que eles usavam para consegui dominar os humanos.

Coloco meu dedo na boca para parar de sangrar e sigo para a fila novamente onde examinam nossos cabelos, unhas e dentes. Uma assistente carimba meu braço com um código de barras curto e logo me manda aguardar por segundas ordens. Enquanto espero que me mandem fazer algo, fico observando os governantes. Um dos filhos de Steven, o mais novo em idade humana não tirava os olhos das garotas de 16. Revirei os olhos e me concentrei no barulho dos papeis caindo dentro de uma urna bem atrás de mim.

A ideia de que eu seria obrigada a ter um filho com 16 anos só me revoltava. Tudo o que eu queria era pegar uma das espadas que enfeitavam o lugar e cortar a garganta de Steven, para ele pagar por todas as pessoas mortas ou exploradas por ele e por todos os vampiros.

Sou interrompida dos meus pensamentos assassinos por um assistente que me agarra pelo braço e me puxo por um dos corredores.

– para onde está me levando? – pareceu um grito pelo eco no corredor.

O assistente nem ousou me responder, mas me jogou dentro de um compartimento bem atrás do pedestal onde estão os governantes. No mesmo compartimento do que eu estão uma garota pela aparência mais velha do que eu, mas ainda assim muito bonita e dois rapazes também belos.

Ouço a voz de Steven novamente e dessa vez anunciando o que eu não queria ouvir.

– os quatro jovens que servirão os meus filhos já foram escolhidos. Recebam os...

Um assistente me guiou até o pedestal. Eu não sabia como agir, minha surpresa era tão grande e meu medo maior ainda. Cruzo os dedos para trás e espero por mais ordens. Uma leve sensação de que isso seria uma coisa boa me passa pela cabeça. Talvez eu encontre meus pais morando no palácio.

Permito-me um leve sorriso pelo plano. A garota ao meu lado parecia feliz com a ideia de morar no palácio, ela sorria como se fosse a melhor coisa do mundo. A cerimonia continuou, mas fomos levados do local e separados.

Sou levada para uma espécie de salão de beleza. Arrumam meu cabelo, depilam minhas pernas, me maquiam e me vestem. Ao olhar para meu reflexo no espelho, muitas horas depois eu vejo um deles. Um vestido de seda vermelho foi colocado e ajustado em meu corpo, meus cabelos cacheados foram arrumados em um lindo penteado, meus olhos verdes realçados com o lápis preto e nos pés um salto alto que por sorte aprendi a usar.

Depois de pronta me levam para o saguão onde tem uma variedade de comidas e os governantes dançam com suas famílias. Sou deixada sozinha pelos assistentes e me sinto perdida. O garoto que também foi escolhido se aproxima de mim. Ele está charmoso e belo.

– suponho que seja Cammile.

Olhei para ele e assenti.

– Sou Ethan. Estou aqui para servir a filha mais nova do presidente.

– meus pêsames, ela parece ser bem temperamental.

O garoto riu e acenou com a cabeça para o filho mais novo de Steven.

– suponho que você o sirva.

– você é sempre cheio de suposições?

Ele levantou as mãos em ato de rendição.

– só com quem chama minha atenção.

Revirei os olhos e seguiu para uma das mesas de comidas. Eu não sabia se eu podia comer, mas que se dane. Eu estava com fome. Peguei um aperitivo, provavelmente feito de peixe, dizendo pelo gosto horrível que tinha. Peguei outro que era mais gostoso e só me dispersei da comida quando alguém me tocou me dando um susto. Mas logo vi o rosto do qual eu teria que ver durante muito tempo.

– Cammile! – ele chamou. – Bela Cammile!

– e você seria quem? – provoquei.

Ele riu e me ofereceu uma taça de alguma coisa, pelo menos não era sangue. Aceitei.

– Caleb Lewis, filho de Steven. Acho que você já sabia disso.

– Não.

Bebi um pouco do conteúdo da taça e até que era bom.

– Champanhe.

Assenti e fingi um sorriso falso. Ele passou a língua por uma de suas presas, por um momento pensei que ele iria me morder, mas ele só pediu para que eu o acompanhasse.

Ele me levou até a sacada que dava visão para o jardim morto. O vento me fez tremer e isso fez ele rir, talvez pela minha fragilidade. Estendi meu pulso na altura de sua cintura e ele abriu um sorrisinho. Ele segurou de leve o meu punho e aos poucos foi trazendo para perto das suas presas. Fechei os olhos para não sentir dor, mas ele não me mordeu, ao invés disso colocou minhas mãos atrás de seu pescoço e as suas mãos pararam em minha cintura. Abri os olhos arqueando minhas sobrancelhas.

– o que te faz pensar que iria te morder?

Fui obrigada a rir dessa vez. Ele começou a me conduzir em uma dança que combinou com a música que emergia por todo o salão.

– Vamos ver. Você é um vampiro, eu fui escolhida para te dar meu sangue. Por que eu pensaria que você iria me morder?

– acabamos de nos conhecer.

Balancei a cabeça e prossegui com a dança. Ele era mais alto e bem mais forte. Mesmo de salto eu parecia um mosquitinho perto dele. Ele usava um habitual uniforme da realeza.

– qual a sua história? – ele perguntou.

– achei que teria apenas que te dar meu sangue e não contar minha vida.

– gosto de conhecer as pessoas antes...

– de mata-las? – o interrompi.

– quase isso.

– isso é estúpido. – disse.

– Como? – disse meio incrédulo.

– conhecer a pessoa e depois mata-la. É mais difícil. Você sabe tudo o que aquela pessoa fez para sobreviver e mesmo assim mata ela? Se não soubesse seria menos doloroso.

– boa teoria.

– se você fosse humano. Mas como é vampiro nada disso importa, sua sede de sangue e maior do que tudo.

– gosto de você.

– mas isso não importa não é mesmo? No final você vai acabar drenando meu sangue e então nomeando outra como sua serva.

Ele sorriu.

– qual é a sua história?

– já que você insiste. Eu nasci aqui em New Orleans, mais para o interior, tenho uma irmã mais velha que ajudou meus pais a me criarem. Ah, meus pais foram mortos por não querer entregar as duas filhas para procriação, mas do que adiantou já que eu estava na corte hoje e minha irmã deve estar sendo obrigada a dormir com alguém que ela nem conhece? Depois de meus pais morrerem passei fome, mas bom estou aqui esperando você beber meu sangue.

Acho que ele sentiu a raiva em minha voz, porque parou de dançar e voltou a olhar o jardim morto.

– Não deveria ter perguntado se não queria saber a resposta.

Ele abriu um sorrisinho meio sarcástico e depois voltou para o salão. Respirei fundo e deixei o vento secar minhas lágrimas. De volta ao salão não vejo mais Caleb, me sento em uma das mesas vazias e fico lá o resto da noite.

Um dos assistentes me pergunta se eu gostaria de me deitar e eu aceito, eles me explicam que enquanto estivermos naquele casarão teria que dividir o quarto com outra serva, mas assim que chegasse ao palácio eu teria um só para mim. Quando entro no quarto que parece maior do que minha casa inteira, me deparo com a serva do filho mais velho de Steven observando a janela. Agradeço ao assistente que é a prova de que vampiros podem ser gentis quando querem, e entro no quarto.

– Cammile, isso né? – a garota perguntou.

– por que todos sabem meu nome e eu não sei o nome de ninguém?

Ela sorriu e se virou para mim.

– sua beleza não passa desapercebida, querida. – ela se aproximou e estendeu a mão que aceitei. – Sou Maya Queen. Sim sou irmã de Ethan, temos sorte.

– sorte?

– sim, sorte. É muito difícil eles escolherem servas aqui em New Orleans.

– ainda não vi a sorte. Eles vão drenas nossos sangues.

Ela riu um pouco e depois se sentou.

– Já prestou atenção nas esposas e mais esposas dos governantes? Então todas eram servas. As que mais agradavam, eram transformadas em vampiras para então passar o resto da vida com eles, mas muitas são mandadas embora do palácio depois que se tornam vampiras, mas a sorte é que estamos lá dentro.

“Mas a sorte é estamos lá dentro.” Essas palavras vagaram minha cabeça por toda a noite, eu poderia encontrar meus pais. Poderia mudar alguma coisa. Inquieta demais para permanecer na cama, me levantei coloquei um Hobbie de seda que nos foram dados e sai do quarto, mesmo não sabendo se era proibido.

Passei por todos os quartos e cheguei ao fundo do lugar que deu a uma grande sacada com vista para um lago morto assim como o jardim e quase tudo que tinham sido tocados por vampiros. Debrucei sobre o mármore gelado e com algumas gotas de chuva e fiquei observando aquele lugar. Meu cabelo já solto voou quando uma brisa forte passou.

O sol parecia que estava com dificuldade para nascer nessa escuridão e apenas dava para se ver um alaranjado bem no fim do horizonte. Eu não sabia a verdadeira historia dos vampiros, como eles haviam dominado as pessoas, como haviam transformado tanta gente ou como comandavam tudo.

Quando eu nasci tudo já era dominado por eles, e a única historia que me contaram foi que eu deveria servi-los. Mas meu pai foi mais além, ele me ensinou a ler e me deu muitos livros e neles eu vivi histórias e conheci muitos mundos, mas não conhecia o meu próprio. Meu pai não me deu apenas livros ele também me ensinou a como matar um vampiro, mostrou as fraquezas, mas tudo isso sempre as escondidas, se alguém descobrisse qualquer coisa a respeito disso, todos seriam mortos.

Mas acontece que eu sei como matar um vampiro. Eu sei como persuadir um, mas sozinha eu nunca conseguiria mudar algo. No mesmo minuto em que um pensamento de revolução passou na minha cabeça, alguém se juntou a mim. Olhei para o lado e vi o belo Ethan debruçado sobre o mármore assim como eu.

– Pensando em que? – perguntou.

– não lhe convém.

– que pena. Parecia ser um plano ótimo contando que você está quase quebrando o mármore.

Olhei para minha mão fincada no mármore e soltei rápido.

– plano?

– não se preocupe. Todo humano que perdeu alguém planeja uma vingança. Não pé a primeira.

Quase dei um tapa na cara dele. Como ele ousava falar daquilo em uma casa cheia de vampiros.

– relaxa. Caso você não comece um levante não se preocuparam com você.

– conheci sua irmã.

– adorável Maya.

– é.

– já está amanhecendo. Logo nos teremos que acompanhar nossos senhores para as viagens por muitos lugares para que ocorram as cortes.

– é.

Ele sorriu e voltou a olhar o horizonte que a cada minuto ficava mais claro. O sol era uma fraqueza nítida dos vampiros, mas isso não era problema para eles já que de alguma forma os mais poderosos podiam andar ao sol. Mas mesmo quem não era poderoso tinha vantagens já que a maioria das cidades espalhadas pelo mundo era cobertas e o sol mal era visto.

Os humanos não frequentavam escolas, tinham a obrigação de doar sangue todos os anos e de participar da corte. Os alimentos tinham que ser plantados ou criados, mas uma vez no ano os vampiros abriam seus mercados para os humanos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Vou postar toda sexta feira...
Até a próxima, bjinhos.



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