Atravessamos a praia e caminhamos discretamente até o pavilhão do refeitório. Estranhei que o acampamento estivesse tão vazio, mas de repente lembrei: era sexta-feira. Dia de caça à bandeira.

– Acho melhor arranjarmos um lugar para espera-los – eu disse, depois de explicar a ausência dos semideuses.

– Acho que devemos procurar Quíron – ela sugeriu – Preciso de alojamento.

– Certo. Quíron – franzi o cenho – Mas Quíron está no Caça.

– Está? Hum. Bem. Esperemos aqui, então.

Assenti. Subitamente, lembrei-me do que Percy havia me contado no Argo II; o que aconteceu quando ele foi pra Ogígia. Aproximei-me de Calipso, acariciando seu rosto.

– Posso te pedir uma coisa?

– Claro – ela respondeu, me olhando ternamente.

– Quando vir Percy... não surte, tá? Por favor. Ele se desgastou muito na missão, está exausto. E, sobre Annabeth...

– Pedirei desculpas, não se preocupe – ela sorriu sem mostrar os dentes – Não precisa ficar com ciúmes.

Tenho certeza de que corei, vermelho que nem um tomate.

– Que ciúmes que nada – sorri para ela, com o rosto ainda quente.

– Eu te amo muito, Leo. Mesmo – ela murmurou, me olhando nos olhos.

– Eu te amo mais – respondi, beijando-a.

Desnecessário dizer que foi nesse exato momento que do bosque brotaram centenas de semideuses arranhados, cansados e suados conversando, rindo, gritando, debochando e, principalmente, parando, perplexos, ao nos verem. Eu e Calipso nos levantamos imediatamente, imóveis por um momento. Todos os meus irmãos de Hefesto, sem exceção, assoviaram e riram ao me verem de mãos dadas com ela. Começamos a caminhar hesitantemente na direção do grupo que parecia nos esperar.

Então Percy saiu do bosque.

Estava de mãos dadas com Annabeth, rindo com ela apesar dos diversos arranhões visíveis em seu pescoço e braços. Parou imediatamente ao avistar-nos. Pude ver, com o rabo do olho, Calipso esboçando um sorriso sem jeito, parecendo envergonhada.

Andamos até o casal, atravessando a multidão de semideuses em cochichos.

– Percy – Calipso cumprimentou, ao pararmos na frente deles.

– Calipso – ele assentiu.

– Oi, caras – esbocei um sorriso, ao qual Annabeth devolveu, embora parecesse nervosa.

– Eu... – Percy começou, sendo interrompido por Calipso.

– Me desculpem – ela falou – Leo me contou o que aconteceu com vocês. E, Annabeth – ela virou-se para a filha de Atena – obrigada por ser o que fez Percy sair de Ogígia – Calipso apertou minha mão, deixando a entender que, se não fosse por Annabeth, nunca teríamos nos conhecido.

– Vocês sabem onde está o Quíron? – eu quis saber.

– Ele deve estar vindo – Percy disse – Nós, hm, vamos indo, acho. Tyson vem me visitar amanhã e quero deixar o chalé arrumado.

– Tchau – eu e Calipso dissemos em uníssono.

À medida que Percy e Annabeth se afastavam, os outros campistas se aproximavam. Eu já havia lhes contado a história, mas eles nunca haviam visto Calipso e, sejamos honestos, ela é muito bonita. Piper apareceu com um olhar aprovador, enquanto Jason tentou esconder, sem sucesso, sua surpresa. Hazel e Frank, que estavam passando um tempo no acampamento por motivos diplomáticos do Acampamento Júpiter, também pareciam impressionados. Meus irmãos e irmãs simplesmente não conseguiam evitar de fazer piadinhas sobre amor e ilhas. Os outros campistas olharam estranho para Calipso, acho que sem se esquecer da história da primeira guerra dos titãs e, especialmente, de seu pai, Atlas. Pelo que Percy me contou, ele realmente não era um cara legal, muito menos com sua filha.

– Leo! – ouvi uma voz retumbante me chamar – Leo Valdez, o que...

– Quíron! – virei-me para ver o centauro cavalgando em nossa direção.

– Você trouxe a filha de Atlas para o acampamento – observou ele. Eu não consegui identificar nenhum sentimento realmente preocupante na sua expressão.

– Não fala assim dela – pedi, apertando sua mão levemente.

– Ah. Bem, certo. Desculpe, criança. O que faz aqui?

– Vim morar com o Leo – Calipso respondeu simplesmente.

– O quê? Mas... como...

– Esperei que o senhor pudesse dar-lhe alojamento, sabe, um dos quartos da Casa Grande – falei.

– Na Casa... sim! Claro, claro. Ótimo. Venha comigo, Calipso.

Nós dois seguimos Quíron através do acampamento, passando pelos chalés, quadras, semideuses... eu apontava e contava tudo sobre o Acampamento Meio-Sangue para Calipso, ainda de mãos dadas com ela.

Ao chegarmos na Casa Grande, fomos recebidos pelo Sr. D, que não ligou muito para nossa presença. Acenou desinteressadamente para Calipso, trocou algumas palavras com Quíron e me ignorou completamente. Eu sei que deveria estar acostumado, mas, droga, eu havia ajudado a salvar o Olimpo, o mundo e a pele dele. Quando encontramos um quarto para Calipso, Quíron, parecendo sem-jeito pela primeira vez na vida, nos deixou sozinhos.

Suspiramos, exaustos, e nos sentamos na cama.

– Bem. – ela começou.

– Bem, esses foram dias longos.

– Sim. Devemos descansar.

Ela apertou a minha mão e me lançou um olhar carinhoso ao qual eu retribuí.

– Muito obrigada, Leo. Por ter cumprido a sua promessa.

– Por ter explodido sua mesa de jantar também, claro – lembrei. Ela riu. E foi lindo. Eu a havia feito rir, e queria guardar aquele momento por toda a eternidade, assim como todas as outras vezes em que tal coisa aconteceu.

Ainda sorríamos um para o outro quando nos beijamos. Naquele momento, eu soube que, com ela, minha vida é completa. Eu soube que tudo ia ficar bem e que viveríamos, se é que posso dizer isso, felizes, por muito tempo.

E eu estava certo, claro.