A Porta e o Que Há do Lado de Lá escrita por Chibieska


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Nota: Não sou de publicar originais, então espero que esteja boa.

Nota 2: É um onsehot porque não tenho o menor talento para escrever textos muito longos.

Boa leitura!



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A PORTA E O QUE HÁ DO LADO DE LÁ

Estava entediada em seu quarto brincando com as bonecas, sua mãe lhe colocara o melhor vestido, mas ela não podia sair para brincar, pois iria se sujar. Se fosse adulta, poderia fazer o que bem entendesse, inclusive rolar nas folhas secas acumuladas nas calçadas por causa do outono trajando um vestido novo. Foi quando passou a mão pelo pingente que ganhara do avô. “Vai realizar os seus desejos”, repetiu as palavras do avô e uma porta magicamente apareceu no meio do cômodo.

Espiou-a por todos os lados, desconfiada e então decidiu abrir. Girou a maçaneta e empurrou a porta. O lugar era brilhante e colorido, havia luzes estranhas e o chão parecia feito de algodão doce.

Avançou incerta, deixou que a porta fechasse atrás de si e deu uma analisada no lugar para ter certeza de onde a porta ficava caso precisasse voltar com urgência.

As paredes eram cobertas por um papel de parede claro, que reluzia com as mais estranhas figuras desenhadas. Pelicanos roxos, bolotas alaranjadas que pareciam feitas de gás e pirulitos de todas as cores e tamanhos pipocavam entre as ilustrações. A luz não vinha de velas ou lâmpadas, parecia projetada do chão, fazendo estranhas sombras no teto, como se o mundo estivesse de cabeça pra baixo.

No que julgou ser o centro do quarto, havia uma mulher. Sentada, longas madeixas caídas no chão, manchadas de cores estranhas, assim como os dedos, as roupas e o rosto. A menina se aproximou, viu que a mulher desenhava no chão com as pontas dos dedos. Pequenos frascos de tinta estavam amontoados perto de seus joelhos e ela desenhava algo que lembrava um elefante, mas ele era lilás com longos marfins azuis.

À menina, as feições da artista lhe pareciam familiares. Olhos escuros, cabelos claros, rosto redondo. A mulher levantou o rosto da pintura e encarou a menina parada diante de si e com um delicado sorriso, similar ao que as professoras lançam as crianças no primeiro dia de aula, recebeu-a. “Seja bem vinda”.

“Você fez todos esses desenhos?” perguntou tomada pela curiosidade.

“Sim, você gosta?” respondeu a mulher, limpando as mãos nas roupas.

“Sim” respondeu a menina animada, se aproximando de um carvalho alaranjado desenhado numa parede próxima. “Eu também gosto de desenhar” disse entretida com a figura.

“Então talvez queira me ajudar?” propôs a mulher, empurrando um frasquinho de tinta em direção à menina.

A menina foi ao seu encontro, saltitando alegre. Raramente os adultos a deixavam ajudar em algo, sempre diziam que era muito pequena. Sentou-se ao lado da mulher, molhou o dedo na tinta marrom e pôs-se a rabiscar o chão. Não sabia muito bem o que desenhar, mas depois de uma rápida olhada pelo salão, concluiu que animais semelhantes ao da artista seria bom.

Levou um bom tempo rabiscando, misturando cores e sujando o vestido novo com tinta. Quando terminou fitou o hipopótamo marrom e azul que havia feito, era diferente, mas estava bem bonito. Espiou então o que a mulher desenhava e ficou surpresa ao constatar que esta também fizera um hipopótamo azul e marrom, exatamente igual ao seu, até mesmo o erro que fizera pintando a orelha estava lá.

A menina encarou a mulher que a encarou de volta. Não era possível que ela tivesse copiado seu desenho, estavam sentada uma de costas para outra.

“Por que você também desenhou um hipopótamo?”

“Porque você desenhou” respondeu a mulher, encarando o colar que a menina usava.

Só então a menina reparou que a mulher trazia o mesmo pingente pendurado ao pescoço e entendeu porque suas feições lhe pareciam tão familiares.

“Você...”

“Você desejou ser adulta” interrompeu a mulher.

“Então eu vou ser pintora?” constatou maravilhada. “Você é famosa?” perguntou curiosa, sabia um pouco de arte e conhecia muitos nomes de pintores famosos.

“Ahn... não muito. As pessoas atualmente não gostam muito de arte” respondeu a mulher conformada. O silêncio se instalou entre elas, mas não durou muito, a menina lembrou-se de algo que parecia muito importante de ser perguntado.

“August Avery... é seu namorado?” parecia ansiosa, olhinhos brilhando.

“Quem?” perguntou a mulher.

A menina deu um muxoxo desanimado. August era o coleguinha de classe de quem ela gostava, e sonhava que um dia se casariam e seriam muito felizes. Mas aparentemente, seu eu do futuro mal se lembrava da existência dele.

“Você tem namorado?” perguntou curiosa, queria saber como seria sua vida.

“Não é o tipo de relação que talvez você entenda” disse com aquele sorriso afável que nunca a abandonava.

“Por que não?”

“Porque nem mesmo eu a entendo” disse fitando a mão esquerda, provavelmente encarando um anel que nunca estivera lá.

O silêncio se instalou sobre elas. A menina ficou olhando as figuras pintadas nas paredes e apesar de gostar dos desenhos, percebeu que não eram tão bonitos assim. Concluiu que não era uma pintora muito boa, afinal.

“Por que quer ser adulta tão rápido?” perguntou a mulher, quebrando o silêncio.

“Eu quero ser independente logo. Estou cansada da mamãe me mandar cedo pra cama e não comprar os brinquedos que eu gosto. Ela quer que eu coma vegetais (fez uma careta e percebeu que seu eu adulto fizera a mesma careta) e não me deixa brincar antes de terminar as lições. Hoje ela nem me deixou brincar no jardim, porque o titio virá nos visitar e ela não queria que eu sujasse meu vestido novo” desabafou, fazendo um bico enorme, como geralmente as crianças fazem.

“Realmente ela se importava muito com a minha aparência” disse a mulher num vagar de lembrança.

A garota percebeu que a mulher assumiu uma expressão ligeiramente triste, então ousou perguntar:

“Ela ainda está viva?”

“Sim, sim. Nós só não nos falamos muito” respondeu com o mesmo sorriso afável apesar de lágrimas nos olhos.

“Vocês brigaram?” perguntou, abraçando os joelhos.

“Ela não gostou muito da carreira que eu segui. Ela não aprovou a maioria das minhas decisões” falou num misto de tristeza e raiva, que tentou esconder de sua versão infantil.

“Ela quer que eu seja médica” disse a menina.

“Mas eu tenho medo de sangue” complementou a mais velha, e as duas riram gostosamente.

“Betty e eu ainda somos amigas? Quer dizer você e a...” perguntou a menina, ao lembrar-se da melhor amiga.

“Ainda temos contato. Mas ela tem uma família bem grande para cuidar agora. Cinco filhos” respondeu dando de ombro, como se aceitasse ser deixada de lado. A menina apenas olhou-a boquiaberta, cinco filhos eram mesmo muita coisa.

“E você tem filhos?” sempre quisera uma menina, para colocar laços e fitas no cabelo dela.

“Não” respondeu simplesmente, embora a menina percebesse que ficara faltando algo naquela resposta. Algo que a mulher não quisera lhe contar. Será que não poderia ter filhos?

Olhou para si mesma, adulta. Tornara-se uma mulher bonita, mas nada muito especial, talvez um tanto apagada. Tinha certeza que os homens não faziam fila para namorá-la. Tinha uma profissão interessante, mas não era bem sucedida. Não falava com a mãe e os amigos mal tinham tempo para ela. Não tinha constituído família, os ornitorrincos e girafas pareciam ser suas únicas companhias.

“Você não parece feliz” concluiu sabiamente.

A mulher encarou sua versão menor, o sorriso ainda estava lá, mas os olhos estavam molhados, e a mulher se esforçava para refrear as lágrimas. Ela apenas confirmou com a cabeça.

“O que deu errado?” perguntou aflita.

“Quando sai de casa, ainda não estava pronta” disse a mulher abraçando os próprios joelhos.

“E por que você não voltou?”

“Eu voltei, mas eu já não era mais a criança ousada e irresponsável, era a adulta fracassada” os olhos estavam ainda mais brilhantes, mas ela não se permitiria chorar.

“Mas mamãe nunca deixaria nada ruim acontecer a você” disse com urgência, apesar de brava e um tanto implicante, a mãe sempre se sacrificara pelo bem da filha.

“Ela não poderia corrigir meus erros para sempre, ninguém poderia, nem mesmo eu.”

A menina abriu a boca, mas não conseguiu formular nenhuma pergunta. Tinha vontade de sacudi-la pelos ombros, de questioná-la como arruinara tudo, mas no fundo ela sabia. Ela não era uma criança muito responsável, nunca se importava com as consequências, sempre achava que as coisas se resolveriam no final. Pelo jeito, ela nunca se tornou verdadeiramente responsável e quando achou que as coisas se resolveriam, obviamente não foi isso que aconteceu.

Olhou para a mulher que agora chorava em silêncio, pensou em algo a dizer ou o que fazer, mas não era boa para lidar com gente chorando, mesmo que fosse sua versão adulta. Levantou-se, ajeitou a roupa e disse que precisava voltar para casa, alegando estar muito tarde.

A mulher secou as lágrimas e sorriu, aquele sorriso afável de sempre, que treinara tanto e fingia tão bem.

“Adeus então”, mas continuou sentada, abraçada aos joelhos, em meio a frascos de tinta pela metade e desenhos que não pareciam mais tão vivos ou surpreendentes.

A menina partiu, caminhando em direção a porta, triste e pensativa. Nunca ninguém imagina para si um futuro sombrio.

“Por que você não desejou ser criança novamente?” perguntou a menina voltando-se para a mulher, a meio caminho da porta.

“Eu desejei” disse encarando a menina. “Mas o amuleto já não funciona mais comigo”, apertou o pingente na mão.

A menina passou a mão pelo pingente, apertando com mais força do que o normal e desejou que nunca se esquecesse daquele encontro. Mas o amuleto não realizava todos os desejos e provavelmente ela iria se esquecer.


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Notas finais do capítulo

Como eu disse anteriormente, não sou de postar originais. Ficou bom? Ruim? Dá pra melhorar? Reviews são sempre bem-vindos.



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