Never let me go escrita por Florrebeldee


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês gostem, é minha primeira fanfic sobre ''Jogos vorazes'', me desculpem qualquer erro, de verdade... Aproveitem :)



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Olha para a janela a minha frente, tentando me lembrar da sensação de ser eu mesma. Não me lembro, claro que eu não me lembraria, isso seria muito incomum, afinal, 90% da minha vida passei sendo um mero comercial, uma garota do capitol que ia, todos os anos, arrancar jovens de suas famílias e mandar para o matadouro para lutar até morrer, e eu tinha que fazer isso rindo, mostrando que a Capitol... Mostrando que aquilo o que a capitol estava fazendo com os filhos dos outros era normal, e até mesmo bom, pois os dias negros haviam passado e agora eles eram tributos para a diversão de pessoas como eu, vazias... Megeras... Mesquinhas.

Tento falar algo, pra ouvir por mim mesma, a minha voz sem todo aquele sotaque ridículo.

Não consigo.

Olho para minhas mãos, cicatrizes que jamais saíram de minhas peles, para me lembrar que a revolução foi um ato de coragem e libertação de todos. De todos nós e principalmente de mim. Eu havia me libertado, eu podia ser eu mesma agora, mas já não me lembrava de quem um dia eu fui.

Levanto-me da cama para me preparar para as devidas modificações que estou me propondo a fazer.

Depois de mais de quatro meses entre inercia, medo e terror, me levanto, tomo um banho demorado me esfregando ao máximo para tirar qualquer vestígio de tintas coloridas, spray ou brilho do meu corpo. Lavo os meus cabelos, sentindo a sua macies, deixando que meus cabelos se libertem das perucas multicoloridas em que eu usava, me depilo e então me enxugo. Tiro todas as unhas postiças dos meus dedos e faço minhas próprias unhas que estão grandes o bastante, pintando-as de vermelho, abro as portas do meu closet, e procuro entre tantos vestidos, um par de calças que eu sei que existe em algum lugar ali. Antes mesmo de eu me vestir, meu telefone toca.

- Alô? – Minha voz está tão diferente quando eu finalmente consigo falar, mas ainda sim, há um sotaque do capitol nela.

- Por favor, eu gostaria de falar com Effie. – Disse Katniss do outro lado da linha.

- Katniss, querida? Sou eu mesma. – Digo a ela.

- Ow Effie, como você está? – Katniss me pergunta e eu tenho vontade de chorar. Ela não falou nada da minha voz, mas sei que Katniss não o tipo de garota que repara nas coisas.

- Querida eu estou bem e você? – há uma grande pausa para que ela formule uma resposta e eu sei que ela está se segurando para não chorar, por que ela está sofrendo, como eu estou, só que mais, muito mais. E eu me ponho a pensar, Finick, Mags, Rue, Cinna, Portia, e centenas de outros dos quais ela se culpa pela morte e principalmente pela sua irmãzinha Prim que ela se voluntariou, pela morte daquela menina indefesa que só queria ajudar, que só pensava em ser médica e salvar a vida das pessoas e então a também sua mãe, que se foi da primeira vez em que o pai de Ketniss morreu e se foi definitivamente agora que sua filha mais nova também havia morrido e então Katniss estava sozinha. Não completamente sozinha, havia Haymitch, mas ele tão pouco cuidava se si mesmo.

- Peeta voltou. – Ela disse apenas e eu pude ouvir uma conotação em sua voz, algo como alegria... Não, não, felicidade.

- Isso é maravilhoso! Maravilhoso! – Eu digo e ela concorda. – Nós estamos namorando agora. – Ela diz e eu não poderia estar mais feliz por ela. - Nos estamos morando juntos. – Eu percebo que sua voz transborda da felicidade e agora atinge o clímax. E eu estou tão feliz, tão feliz pela minha garota.

- Ow querida, meus parabéns, vocês merecem toda a felicidade do mundo! – Eu digo a ela do fundo do meu coração.

- Obrigada Ef. – Katniss usa o apelido que Haymitch colocou em mim. – Tenho mais uma novidade.

- O que é meu bem? – Pergunto curiosa.

- Haymitch parou de beber – Katniss diz e eu quase posso ver o sorriso que ela dá.

- Nisso eu não consigo acreditar. – Eu digo depois que meus lábios conseguem se fechar e abrir novamente.

- É verdade, faz cerca de... – Ela parece estar pensando.

- Seis meses – Dizemos juntas.

- Isso Ef, como você sabia? – Como devo dizer a Katniss que foi o próprio Haymitch que havia prometido na noite em que nossos corpos se encontraram pela primeira vez, ainda no distrito 13, alguns dias depois que ele me resgatou? Só a lembrança de nossas carícias fez uma lágrima cair dos meus olhos.

- Intuição... – Eu digo apenas. – Você está bem Katniss, Peeta e Haymitch, todos vocês estão bem?

- Agora estou Effie, Peeta está comigo, Haymitch está sóbrio, tudo esta bem... Exceto por uma coisa: Você, Ef, sinto sua falta, Peeta sente sua falta e tenho certeza que Haymitch também sente... Ele sente demais.

- Ah querida, eu prometo fazer-lhes uma visita dentro de alguns meses, promeeeeeto! – Digo, sabendo que dentro de três meses eu estaria apta a fazer isso.

- Estou confiando em você Ef, se você não vier, nós vamos! – Ela diz, e sendo ela quem é, eu não desconfiaria que ela realmente fizesse.

Continuamos conversando por mais alguns minutos até que Haymitch chega a casa de Katniss e ela lhe dizer que ela está falando comigo, não ouço conversa entre ambos, apenas silêncio, que dura apenas alguns segundos e então, eu apenas escuto a voz dele do outro lado da linha e então fico muda e desligo o telefone.

Eu sou tão fraca, uma mulher tão fraca que me sento novamente no sofá tentando apagar as imagens de Haymitch da minha mente, mas não consigo, sinto talta daquele bêbado inútil.

O que eu estou fazendo com minha vida? O que eu estou fazendo com esse bebê que cresce em meu ventre. Minha filha tem o direito de saber quem é o pai e está na hora de eu ser mulher o suficiente em assumir os meus defeitos e responsabilidades. Eu preciso fazer alguma coisa, mas não faço, ao invés disso continuo sentada no sofá olhando para a janela.

Meu telefone volta a tocar durante muitos minutos, mas eu não me mexo. E eu quase consigo ver Haymitch do outro lado da linha praguejando contra mim.

Olhando para a cidade em volta de mim se reerguer, olho para os antigos prédios que agora estão sendo reestruturados, pessoas que estão se ajustando a suas novas vidas, estão aprendendo a reviver com o que sobrou de um império e eles estão sorrindo, eles estão conseguindo, e eu me coloco de pé, eu sou Effie Trinket e eu também consigo.

Caminho até o meu quarto novamente, ele é grande, espaçoso e bonito, com cores vibrantes que ao mesmo tempo me acalmam e me determinam a fazer o que eu estou querendo. Pego uma mala grande de rodinhas de dentro do meu closet e começo a colocar alguns pertences meus, calças, vestidos, roupas intimas, escova de dente, toalhas, meus suprimentos de gestantes que são algumas vitaminas, mais roupas, como pijamas, batas, jaquetas e em menos de uma hora está tudo arrumado. Eu não sei o que estou fazendo, mas na hora em que coloco minhas mãos em minha barriga e minha filha chuta sei que estou agindo certo.

Volto ao banheiro e termino de secar o meu cabelo, e me pego pensando, Haymitch me achará melhor assim, sem tanta maquiagem, ou não gostara do que ver?

Eu me sinto mais bonita assim, ao natural, cabelos cacheados em loiro que acaba em cinco palmas antes do final das minhas costas, meus olhos são de um azul intenso. Meus olhos... Haymitch já havia visto os meus olhos sem qualquer lente de contato colorida, e ele havia dito que combinava comigo, com o meu jeito delicado de ser.

Vesti uma calça jeans clara, justa e com elástico que ficou perfeito em meu corpo, que ficam bem justa na parte de baixo, onde eu calcei meu coturno marrom, vestindo uma blusa azul escura e por cima, uma jaqueta de couro em preto. Passei uma maquiagem clara, tranquei meu apartamento, peguei meu cachecol marrom com detalhes em branco e o coloquei em volta do meu pescoço onde ainda havia marcas da violência que eu havia sofrido e me propus a caminhar em direção à estação de trem.

‘’Em 35 anos da minha existência eu nunca pensei que pudesse me apaixonar por alguém’’. Eu pensava quando já estava dentro do trem sentada em minha poltrona com as minhas protetoras em cima da minha barriga, protegendo minha bebê do frio que estava fazendo.

Exceto talvez nos últimos 2 anos, vendo o quão desesperadamente Peeta lutava contra tudo para manter a vida de Ketniss a salvo. Ver aquelas duas crianças e o amor delas fez algo em meu peito florescer novamente.

Ele sempre esteve ali, ao meu lado, claro, metaforicamente, ano após ano, durante 10 anos, nós vimos nossas crianças morrer na arena, tínhamos apenas nós dois e a tristeza de voltar para lá. Para sermos olhados como dois urubus. Mas ele estava ao meu lado e me apoiava, ou se apoiava na bebida que era o que ele preferia. Tudo bem, contando que eu tivesse a mim mesma e a mascara que eu mesma fiz para mim estava tudo bem.

Essa era a minha escapatória, fingir que tudo era normal, ver a dor nos olhos dos familiares daquelas crianças e simplesmente bater palmas, sorri e guardar toda a monstruosidade para mim mesma, para que me devorasse quando eu estivesse sozinha, em meu quarto para que aquilo me corroesse por dentro, era isso o que se pagava quando se era uma criança do Capitol, a brutalidade nunca acontecia com você. Não com você, mas sempre perto de você, te rondando, te enfraquecendo... Fazendo você se sentir um monstro.

Eu tento esquecer esses pensamentos monstruosos da minha cabeça e então fecho os meus olhos.

Eu havia passado muito mal naquela manhã ainda no distrito 13, haviam se passado tantas semanas desde que eu havia entrado sorrateiramente no quarto dele, e então eu havia desmaiado... Ele não estava lá, claro. Ele estava cuidando de Katniss, ele estava cuidando do futuro de todos.

E então eu fui levada para enfermaria onde uma senhora tirou um pouco de sangue do meu braço e me deixou descansando quando eu havia dito que já estava melhor. Eu realmente estava, mas aquilo tinha que parar... Durante semanas eu vomitava todo o meu café da manhã, meu corpo convulsionava e eu ficava lá, trancada em meu quarto, chorando feito uma criança no baheiro, sem ninguém para me proteger, para cuidar de mim, pensando que ficaria doente para sempre, sabendo que o meu fim estaria próximo, que o meu cativeiro agora era o meu corpo.

E então, depois de poucos minutos a senhora retorna, sorrindo para mim. No meio de tanta desgraça ela ainda sorria para mim. Katniss, Peeta e Finigin desaparecidos, talvez mortos e ela feliz. Fiquei com vontade de bater nela, de gritar que já não existia felicidade, que tudo o que um dia foi bonito havia sido roubado de nós, mas ela não me deixou ficar brava com ela, porque ela havia me dito que eu estava grávida.

Eu estava esperando um filho de Haymitch, eu não conseguia acreditar! Eu não sabia se ficava feliz ou... Ou que? Centenas de mães perderiam seus filhos em seguida, eu tinha que erguer minhas mãos para os céus, eu, mesmo completamente machucada, tirada de mim, estava gerando um bebê.

E então, depois de semanas me permiti um sorriso já colocando minhas mãos em meu ventre liso. Oito semanas, meu filho estava sendo gerado há oito semanas.

Me encaminhei de volta para o meu quarto, não sem antes encontrar novamente a senhora e a pedindo para não comentar isso com absolutamente ninguém e ela concordou. Vaguei durante algum tempo entre as salas, entre pessoas completamente feridas, entre mortos... Vaguei entre vivos, entre crianças que se alimentavam, entre esperança e então eu também tinha uma chance, afinal.

Haymitch... Pensei, ele provavelmente não gostaria da ideia, não sendo ele quem era, não tendo tanta bagagem para carregar, não enquanto os rebeldes estavam finalmente conquistando toda a Panen e então eu soube o que fazer.

Fugir.

Algo me diz que estamos próximos ao distrito 12, não é somente a vegetação que está mudando e pela qual eu sou tão familiarizada, mas é também ao medo que cada vez mais se aproxima de mim.

Desço do trem e fico olhando para a paisagem em minha frente. Várias novas construções estão sendo feitas, coisas bonitas, mesmo com o horror que uma vez ficou aqui. Eu tento lembrar da Capitol e então imagino o distrito 12 mil vezes pior. No centro da cidade há um enorme monumento e eu nem ao menos preciso me aproximar para saber que foi feito para todos que perderam suas vida na guerra, e principalmente aos cidadãos daqui, em que centenas foram mortos pelas bombas.

Sem ao menos perceber estou me arrastando para a vila dos vitoriosos e agradeço aos céus por estar usando luvas agora, e não estar de saltos. Minha mala está um pouco pesada, mas eu não me importo, estou chegando perto, posso até mesmo sentir o cheiro de pães sendo assados. Peeta, Katniss...

Estou batendo em sua porta, está escurecendo e eu rezo aos céus que Haymitch não esteja aqui.

- Effie? – Peeta está de frente a mim agora, seus olhos completamente arregalados, sua expressão completamente abobalhada.

- Está congelando aqui! – Eu digo a ele.

- Effie, é você mesmo? – Peeta ainda não consegue acreditar no que vê e eu demoro alguns segundos para me lembrar da minha nova aparência agora.

- Claro que sim, Peeta! – Eu digo e então ele me abraça depois de alguns segundos que demorou para se recompor. Era disso o que eu precisava, de um abraço forte do meu vencedor.

- Meu Deus Effie, você está tremendo! – Ele diz depois de alguns segundos. – Venha, vamos. – Cavalheiro como sempre, Peeta pega minha mala e a carrega até o centro da sala. – Você está com fome? – Ele pergunta.

Eu estou? Não sei dizer, mas não me lembro de em qualquer momento ter comido algo durante o dia. Eu apenas aceno com a cabeça para ele.

- Certo então, o jantar irá ser servido dentro de alguns minutos, tudo bem? – Ele me pergunta. Ele está parado em minha frente, e só então eu me permito dar uma olhada naquele garoto.

Ele ganhou algum peso, está alegre, seus olhos estão mais azuis que os meus, e as bolsas ao redor de seus olhos sumiram.

- Katniss já vai descer, ela só foi tomar um banho. – Ele diz não sabendo muito bem o que fazer comigo ali. – Quer tirar o casaco, temos aquecedor aqui.

Congelo.

Eu não sei o que fazer, eu simplesmente fico olhando para Peeta, eu estou tão assustada, mas não foi para isso que eu vim? Para contar para Haymitch sobre o bebê?

- Claro. – Eu digo o tirando e então seus olhos recaem sobre minha barriga proeminente. Vejo olhos duplamente arregalados, Katniss está na sala agora e me olha sem entender.

- Mas... Ef... Ef... – Eles não conseguem falar e eu não sei como explicar.

O quarto está escuro e demoro alguns segundos para me certificar que estou no local certo. Caminho até a cama de solteiro a minha frente e fico olhando enquanto Haymitch está dormindo.

- Haymitch? – O chamo.

Ele demora algum tempo para acordar e para ajustar seus olhos para mim. Eu estou um completo desalinho, ainda com o vestido do hospital, com faixas largas entre meus pulsos e meu pescoço, meu cabelo está bem preso, agora que está sem minha peruca rosa, num trança loira. Eu sinto tanto medo.

Ele não fala nada, simplesmente me aproxima dele, me fazendo sentar ao seu lado na cama, ele tira a faca que sempre o acompanha, presente dos jogos vorazes e a coloca ao criado mudo ao seu lado.

- Você não consegue dormir? – Ele me pergunta na voz mais suave que ele já soltou na vida.

Simplesmente balanço a cabeça em sinal de negativa.

- Vem cá. – Ele me abraça junto a si e então as lágrimas caem furtivamente de mim. Toda a dor, todo o sofrimento estão agora em minha garganta e eu não consigo parar de chorar, é angustia demais! Quando eu menos percebo estamos deitados na cama dele e pela primeira vez sinto o seu cheiro sem o inconfundível fedor de álcool. Pinho e hortelã.

Ficamos assim por mais algumas intermináveis horas, horas das quais eu não queria que acabasse. Eu devo ter dormido, mas então eu acordei quando Haymitch tentava me acalmar de novo. Eu, com certeza estive em algum pesadelo.

- Está tudo bem, tudo bem agora... Eu estou cuidando de você! – Ele dizia enquanto passava as mãos por sobre meu rosto, num toque suave. – Tudo bem, tudo bem...

- Você realmente deveria parar de beber. – Eu disse depois de alguns minutos quando já estava mais calma.

- O que?

- Você é tão melhor sem todo aquele álcool em sua veia. – Seus braços ficaram rígidos durante alguns segundos, esses os quais eu queria desfazer tudo o que eu havia falado, mas então ele me responde.

- Você tem razão. – Ele diz apenas.

- O que? Você tem certeza do que está falando? Eu estou certa? – pergunto, fazendo-o soltar uma risadinha e depois um levantar de ombros.

- Em todo o caso eu já estava parando mesmo. – Ele disse.

Certo.

- Que bom. – Eu disse. Eu já estava muito mais calma, e estava realmente melhor agora, talvez fosse hora de me levantar e voltar para minha cama no hospital. Mas quando eu fiz menção de sair dos seus braços ele me disse.

- Não é só você que tem pesadelos Ef. Talvez eu precise de alguém que me acalme também. – Ele disse apenas escondendo seus olhos entre meus cabelos.

- Você deveria ser assim mais vezes. – eu digo.

- Oportunista?

- Sincero. – Eu digo me aconchegando melhor em seu peito.

- Eu não consigo ser sincero comigo mesmo, às vezes Ef. É que a realidade é incrivelmente terrível, mas prometo a você a tentar, se você embarcar comigo nessa jornada. – Ele disse em um sussurro.

E então eu olhei em seus olhos azuis, e me vi neles. Sendo capaz de tudo para esconder quem eu realmente eu sou, eu não posso ser aquela fútil de perucas rosas que sorri de tudo, falando sempre coisas idiotas mas eu era uma mulher de verdade por tras de tudo aqui.

Haymitch é um homem tão bonito, grandes olhos azuis, cabelos loiros lisos, encantador quando queria e presa naquelas duas esferas eu fiz algo em que eu sempre tive vontade, algo que o meu coração sempre me pediu e eu nunca consegui.

Eu beijei Haymitch.

E ele me beijou de volta, me apertando em seus braços, me fazendo me sentir importante, sendo mantida em seus braços com tanta esperança, tanta força e então me rendi aos seus toques e suas carícias e ele me fez mulher.

Eu sorrio voltando a realidade. Eu ainda estou parada ali, com Peeta e Katniss me olhando.

- Você... Você... – Katniss não consegue continuar a frase.

- Sim querida. – Eu digo apenas.

- Mas... Quem? Mas quem é o pai...? – Peeta quem faz a pergunta agora.

E não sou eu quem responde.

- Haymitch. – Katniss diz apenas.

- Sim. – Eu abaixo os meus olhos e então sorrio. – Mas ele não sabe, e eu acho que por enquanto devemos manter isso em segredo, tudo bem? – Eu pergunto para os garotos.

Eles ainda não conseguem formular uma resposta e eu agradeço a isso, estou tão cansada para responder qualquer pergunta.

- Seis meses. – Katniss diz novamente e eu apenas acento com a cabeça.

- Distrito 13? – Peeta agora quem faz a pergunta.

- Isso.

- Mas então...

- Crianças, eu estou tão cansada, será que posso ficar aqui por hoje? – Pergunto para eles.

- Mas é claro Ef, eu só... Vou arrumar o quarto que era da minha mãe para você, Peeta, você poderia servir algo para Effie comer?

- Claro, vem Ef, vamos para cozinha, vou te preparar um jantar maravilhoso.

Enquanto eu como, eu ainda consigo sentir seus olhares em mim, Peeta e Katniss estão com suas mentes tão confusas, mas quem não está?

- Eu dormi com Haymitch, não me cuidei e então, aconteceu. – Eu digo apenas.

- Não Ef, não aconteceu – Ela gesticula com as mãos. – Você engravidou de Haymitch e depois fugiu ele não consegue te perdoar, ele está em frangalhos! – Diz Katniss.

- Ele está em frangalhos? – Me permito uma risada seca e ríspida. – Katniss ele não me procurou, ele não me queria por perto, nunca quis, eu estou apenas fazendo isso para que ele possa ter a chance de saber que será pai, eu não quero ter ele em minha vida, mas se ele quiser, ele não precisará estar nela, dentro de alguns dias eu estarei voltando para capitol e tudo isso será esquecido.

- Não é assim Effie. – Diz Peeta agora, ele havia se mantido calado durante todo o jantar, no qual eu percebi que somente eu estava comendo. – Estava acontecendo uma guerra, eu estava fora de mim, todos nós poderíamos ter morrido e então você deixou Haymitch lá e ele enlouqueceu, nós quatro formamos uma família e você nos abandonou, justo no momento em que ele mais precisava de você, justo quando tudo o que ele tinha era pedaços de mim e de Katniss e não havia ninguém para segurar sua mão.

Eu gemo baixinho, talvez eu tenha alguma culpa, mas não toda. Sim, eu havia fugido pela manhã de seu quarto e fingia que aquilo entre nós não havia acontecido quando ele foi me procurar, mas eu estava com medo, medo do que sempre senti por ele e nunca ter sido correspondida, medo de tentar e ficar ainda mais quebrada e então eu simplesmente virei as costas para tudo e partir depois que a Guerra acabou.

- Eu preciso me deitar, estou muito cansada. – Eu digo depois que termino minha refeição. – Vocês não comeram nada.

- Estamos esperando Haymitch para o jantar. – Katniss diz e ela percebe quando meus olhos duplicam de tamanho, mas me relaxa. – Manteremos segredo sobre você Effie, porque achamos que quando estiver pronta, ele saberá de tudo isso.

- Certo, sim, sim, ele saberá. – Disse um pouco exasperada demais fazendo com que meu sotaque forte do Capitol voltasse.

Katniss e eu estávamos agora no quarto em que ela havia preparado para mim.

- Você vai ficar bem? – Katniss me pergunta e eu apenas posso sorrir para ela. Ela estava tão bem, sua pele estava agora rosa bebê nos lugares onde antes estavam as queimaduras, seu rosto continuava lindo, seus cabelos haviam crescido um pouco e ela estava mais cheinha, suas formas estavam quase como antes, como no dia em que eu a conheci.

- Você me odeia? – Eu pergunto em um sussurro de voz.

- Claro que não, é que todos nós fomos pegos um pouco de surpresa, só isso. – Ela diz e então me abraça. – Você está muito magra Ef, tem se alimentado bem? – Ela me pergunta com uma conotação de repressão em sua voz.

- Magra? – Eu sorrio e então acaricio minha barriga volumosa.

Ela sorri também. – Você sabe o que eu quis dizer.

Na verdade não, fazia muito tempo que eu não comia um jantar de verdade e me senti mal naquele minuto por ter sido tão desleixada comigo mesma e com a minha filha, então resolvo mentir.

- Claro querida. – Pisco meus olhos teatralmente.

- Certo, vou deixar você descansar agora querida – Diz Katniss se afastando para a porta. – Você está linda Ef, de verdade, muito linda mesmo – Ela diz fechando a porta atrás de si.

Dou uma vagada pelo cômodo, é um quarto grande e bem ventilado. Decido tomar um banho e então ligo a banheira e quando a água já está mais que bastante na banheira, tiro minhas roupas e entro nela.

A água quente me faz relaxar e descansar minhas costas cansadas, coloco sais o suficiente para três banhos e me deixo na banheira descansando. Eu ouço quando alguém bate na porta, ouço quando Haymitch entra e conversa com os garotos, ouço quando as cadeiras são arrastadas para trás e então eles se sentam. A conversa é tranquila, leve, eles falam sobre amenidades, nunca tocando em um nome específico e então ele fala algo que eu sei que é para mim.

- Ela ligou? – Pergunta Haymitch.

- Não. – Katniss.

Silêncio.

- Porque você não liga para ela? – Peeta.

- Para que padeiro? – Ele pergunta ríspido.

- Eu não sei, é você quem pergunta dia após dia sobre ela Haymitch, o que tanto quer falar com ela? – Peeta pergunta.

- Também não sei. – Haymithc responde e sua voz parece cansada.

A água da banheira já esta gelada, fazendo arrepios subirem pela minha coluna, mas eu não me movo, continuo lá, parada, olhando para a minha frente, com a minha vista desfocada, tentando entender essa parte da conversa onde eu me perdi.

Será que ele sentia minha falta? Não, ele provavelmente queria saber algo sobre... Sobre que? Eu não conseguia dizer. Depois de algum tempo, ouço Haymitch se despedir das crianças e elas fecharem a porta se caminhando para a cozinha, eles começam a cantar uma música suave, e então eu me levanto da banheira e começo a me preparar para dormir.

O sono não vem, mesmo eu estando tão cansada. Eu me viro de um lado para o outro da cama na intenção de encontrar uma posição que me favoreça a descansar. Não consigo, desde aquela noite, em que dormir com Haymitch, o sono para mim nunca mais foi o mesmo, e então resolvo me levantar.

Está bem frio, mas eu preciso de ar, então coloco um casaco de lã e saio no vento gélido para o terraço de frente com a minha janela, durante alguns minutos simplesmente fico olhando para o nada. Estou de pé e fecho meus olhos sentindo o ar gelado do distrito 12.

Olho para minha frente, para a casa ao lado da de Peeta que agora se encontra sem vida, Haymitch está lá, ainda há luz em seu quarto e eu tenho vontade de correr para lá e me alinhar em seus braços, pois sei que só assim consigo dormir.

Não sei o que fazer, mas imagino sua reação. Ele me odiara.

E então Haymitch está de frente para mim, em sua janela, olhando para frente, ele parece tão cansado, assim como eu. Ele perdera alguns quilos e seus cabelos estão um pouco maior, mas ainda sim, continua lindo. Ele continua lá, olhando para a frente, como se estivesse hipnotizado, seus olhos me parecem tão velhos, como se ele já tivesse visto de tudo nesse mundo, lembro-me que ele viu, e que eu também deva ter esse olhar, por que eu também vi.

Ele abaixa os olhos para os próprios pés e fica naquela posição durante alguns segundos. Segundos esses em que eu permaneço imóvel e então ele me olha, bem nos olhos e ficamos nos olhando durante alguns longos segundos onde ninguém se moveu, ninguém pisca.

Meu coração bate 3 batidas a mais por segundo e eu tenho medo do que acontecerá em seguida, primeiro Haymitch me olhava como se eu fosse um fantasma, com muita surpresa, depois ele me olhou com... Amor (?), depois admiração, e em seguida foi se transformando em ódio, tudo em questão de segundos e então, ele se afasta da janela.

Eu tento me acalmar, mas não consigo, e então também me afasto da janela e volto em direção ao meu quarto me deitando, fecho os meus olhos e tão rapidamente quanto um trem, já estou dormindo.

O sol aquece meu corpo e eu agradeço pela luminosidade do quarto no momento em que abro meus olhos, ainda é bem cedo e a casa está no mais completo silêncio. Me levanto com um pouco de dificuldade por causa da minha barriga que já está grande e passo as mãos carinhosamente por sobre ela, sentindo minha bebê, tomo um banho e me visto (http://doutissima.com.br/wp-content/uploads/2013/05/moda-gestante.jpg), arrumo o quarto que Katniss tão carinhosamente preparou para mim e deixou a minha disposição e desço as escadas.

Quando chego à cozinha, três pares de olhos estão sentados à mesa me esperando, mas o único par que eu realmente olho está com a boca aberta encarando minha barriga volumosa.

- Mas que porra é essa? – Ele já está de pé chegando em direção a mim com Peeta em seu encalço. Sua expressão é de pura raiva e rancor. – Você? ... Como pode? – Ele queria dizer o que? Como pude engravidar? Esconder dele? O que?

- Effie, você agiu como uma cadela, sua... Sua ordinária. – Eu não sabia o porquê de Haymitch estar me tratando assim e então eu começo a chorar. – Não me venha com essas lágrimas falsas para cima de mim, até quando você esconderia essa criança? – Ele estava em minha frente e estava furioso demais, Peeta mantinha alguma distancia e Katniss ainda continuava sentada no mesmo lugar.

Eu estava entendendo. Ele não queria assumir a responsabilidade de um filho, ‘’Ai meu Deus, como eu fui ser tão burra?’’

- Eu não... – Eu não conseguia falar o choro sempre ganhava de mim. – Eu não... Sei... Você não quer minha filha? Tudo bem... – Eu disse me afastando, querendo voltar para o quarto e ficar deitada em minha cama até o sono me ganhar novamente.

- É uma menina? – Haymitch pergunta, seus olhos agora estavam vidrados nos meus e eu sorri porque sabia que nossa menina também teria aqueles olhos que sempre puderam me acalmar.

- Sim. – Eu estava entre soluços agora. – É uma menina... – Eu digo abaixando meus olhos e encarando meus pés. Ou pelo menos, as pontas das minhas botas.

Por alguns segundos a sala fica no maior silêncio e então eu escuto a cadeira em que Katniss estava sendo arrastada e segundos depois a porta em minhas costas se fecharem.

Estava a sós com Haymitch novamente, mas eu não queria.

- Eu não vou te machucar. – Ele me disse quando eu comecei a procurar pela sala alguém. – Effie... Eu não vou te machucar. – Ele disse novamente. – Eu estou sóbrio, eu não vou te machucar.

- Você me odeia? – Eu pergunto olhando em seus olhos azuis.

- Sim. – Ele estava sendo honesto.

- Eu só quero uma resposta! – Ele disse autoritário.

- Eu não sei Haymitch... Eu estava com medo. – Me encaminhei até a mesa e me sentei de costas para ele.

- Você tem medo de mim? – Ele quis saber.

- Tenho. – Já que estávamos sendo sinceros...

Tudo em silêncio novamente e então me arrisco em dar uma olhada para ele. Ele usava uma blusa de frio xadrez preta e azul e uma calça jeans clara, seus cabelos estavam maiores como eu havia percebido na noite anterior e seus olhos estavam perdidos olhando para a janela.

- Eu não sei o que fazer. – Ele me disse cansado.

- Não precisa fazer nada, estou indo embora, voltar aqui foi uma burrice, você...

Ele estava tão cansado.

- Eu sou um bêbado imundo, ordinário... Eu sei. – Ele disse me olhando nos olhos.

- Você não é um bêbado ordinário. – Eu digo.

- Ah Ef, é que você me vê muito melhor do que eu realmente sou. – Ele rebate tristemente. – Eu não quero que você vá embora. – Meu apelido, aquelas súplicas em suas palavras. – Eu não quero que você se vá novamente.

Ele me diz simplesmente.

- Eu preciso ir, eu não pertenço aqui, não pertenço a este lugar, eu... Eu nunca contaria a você sobre a bebê. – Eu digo, porque é verdade, se eu tivesse pensado melhor, se eu tivesse pensando nas opções eu teria continuado lá, na Capitol, presa entre a verdade e a mentira, sozinha...

- Mas você pertence a mim, Ef. – Ele diz apenas. – E minha filha também.

- Você não a quer! – Eu digo entre dentes. E então ele explode.

- Você acha que eu não a quero? Você acha que eu nunca pensei em me casar um dia ou a ter filhos? Você é ainda mais boba do que eu imaginava... Todas as noites eu pensava em uma criança como você, uma réplica sua, como você era e ainda melhor, como você é agora... Você me deu isso Effie, mas eu não acredito que você verdadeiramente pensou que eu não quisesse uma vida com você.

- Haymitch. – Eu grito porque ele esta me machucando com suas palavras e porque eu me sinto tão culpada.

- Sabe de uma coisa? Eu te odeio Effie, como você pode! Eu te odeio, nesse momento eu queria jamais ter te salvado dos Pacificadores, nesse momento eu queria que você estivesse morta. – E aquilo me machucou mais do que mil facas.

- Eu também me odeio. – Fiz menção de me levantar mais uma tontura forte me atacou e eu cai novamente na cadeira, não demorou um minuto e Haymitch estava lá me oferecendo um copo com água e açúcar.

- Me desculpe, Eff. Eu realmente sou horrível, é só que, você me procurou, nos fizemos amor e então eu acordo no outro dia e você não está lá, e eu fico sem saber se aquilo foi um sonho como todos os outros... Você foi embora, você me abandonou, me rejeitou de todas as formas que você poderia e então você está aqui, você me dá um presente, um filho e então eu tenho ódio de você, não por isso. – Ele diz se ajoelhando e ficando a centímetros de mim enquanto coloca uma mão sobre minha barriga. – Mas por tudo, por todos os anos em que fomos tão próximos e você me negava e eu era um bêbado imundo. Mas não é só de você que eu senti ódio, sinto ódio de mim, por ter me juntado a revolução, por terem te machucado. – Ele diz pegando em minhas mãos onde as marcas das amarras ainda estavam estampadas em minha carne. – Por eu ter sido fraco e não ter ficado ao seu lado e sinto mais ódio ainda por termos feito um bebê e eu nunca ter te pedido em casamento quando eu podia.

As últimas palavras saem de sua boca em um sussurro e quando olhos em seus olhos, eles estão tão marejados quanto os meus.

- Você ainda pode. – Eu digo num fio de voz.

- Posso? Eu ainda não estraguei tudo? – Ele pergunta.

- Ainda não. – Sorrio e então, Haymitch me beija.

EPÍLOGO.

Abro meus olhos e olho em volta, a casa está silenciosa, Haymitch está deitado comigo no sofá de nossa casa, no distrito 12, em meus braços, minha filha repousa tranquila, tão linda, e então passo as mãos por seus ralos cabelinhos – que são tão loiro que chegam quase a ser transparente. – e sorrio mais ainda.

Tudo está maravilhosamente bem, olho para o lado, para meu marido e vejo que ele está me comtemplando também. Ele se levanta, vai até o armário grande que fica no final do corredor e volta com uma colcha e então nos envolve em seu abraço, beijando o topo da cabeça da nossa bebê, e depois dando um beijo suave em meus lábios.

- Eu te amo. – Ele me diz aquelas palavras, docemente. E eu sei que são tão verdadeiras quando o abraço que ele me mantem.

- Eu te amo. – E eu digo novamente num sussurro.

Se algum dia eu pensei que fosse feliz, nada daquilo se comparava a felicidade que eu sentia nos últimos seis meses. Eu havia me casado com Haymitch no centro da cidade, com algumas poucas pessoas, Katniss e Peeta foram os nossos padrinhos e como presente, nos havia dado a honra de sermos padrinhos de seu casamento que seria dali a mais alguns meses.

Quando nossa filha veio ao mundo, minha vida estava completa, minha felicidade não poderia ser maior, ela era tão pequena, mas tão calma... Penamos no começo para aprendermos a tocar fraudas, banho... Quando ela chorou pela primeira vez, foi como se o distrito 12 tivesse resusgido novamente das cinzas, voltado, muito melhor. Éramos uma família, uma cidade novamente. Depois de algumas semanas, alguns de nossos amigos voltaram a morar aqui, e então, outro casal surgiu: Johanna e Gale. Ficamos tão felizes, todos nós.

Dias como hoje haviam sido corridos, com a reconstrução da cidade, Haymitch, Peeta e Gale ajudavam nas construções das coisas e nós meninas, sempre ficávamos juntas, cuidando da pequena Summer que era objeto de desejo de Katniss e Johanna.

Haymitch era um novo homem, e eu o amava ainda mais, a cada dia mais.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Devo fazer uma Fanfic para Johanna e Gale? :3



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