Em poucos minutos Rose estava sentada em baixo de uma árvore, a mesma em que descobrira a corrente elétrica passando pelo seu corpo ao mais simples toque do garoto. Não teve a chance de virar a página do livro de capa marrom.

—Então, sentiu a minha falta ruiva? —Scorpius estava escorada no tronco, com os braços cruzados na altura do peito.

—Sim, mas não faça que eu me arrependa. —Virou a página do livro.

Scorpius foi se aproximando até sentar ao lado da garota.

—Posso ficar aqui com você? —Perguntou baixinho, enrolando o dedo em um cacho da garota.

—Achei que ficaria jogando com o meu irmão.

—Deixei ele ganhar para vir aqui. —Respondeu sinceramente.

—Vai ficar levantando o ego dele?—Rose levantou a sobrancelha esquerda sem tirar os olhos das páginas envelhecidas do livro.

—Não, eu só queria terminar logo para ficar com você. —Deu de ombros. —E para eventos futuros, eu estava no salão comunal dormindo.

Rose riu, fechando e deixando o livro na grama ao seu lado.

—Ele é meio ciumento. —Respondeu.

—Imaginei. —Ambos riram. —Não vai continuar lendo?

—Não sei, achei que ficar aí falando sozinho não seria legal. —Segurou o olhar fixamente nas águas turvas, que se moviam conforme a brisa soprava.

—Isso não parece muito com a Rose que eu conheço, mas gostei dessa mudança. —Scorpius riu. —Se importa se eu...

Rose entendeu de imediato, e não hesitou em assentir como permissão para que o fizesse. O loiro então lentamente deitou a cabeça no colo da garota, e atentamente observou sua expressão tímida tonar-se relaxada.

—Sabe ruiva, andei pensando! —Suspirou.

—Não sabia que pensava. —Scorpius fez uma careta engraçada. —Desculpa, continue.

—Obrigado. —Jogou os braços na grama. —Não sei se vou conseguir completar a terceira tarefa.

Rose não havia pensado naquilo, e para tranquilizar o garoto, relutante e hesitante, afundou os dedos tímidos no cabelo loiro, massageando-o.

—É só um duelo, não é como se você fosse me lançar uma maldição imperdoável para sobreviver a um dos meus ataques. —Continuou brincando com os fios loiros do garoto.

—Tem razão. —Fechou os olhos. —Isso é tão bom.

Rose deixou um sorriso satisfeito escapar de seus lábios.

—Nem acredito que daqui duas semanas estaremos em casa! —A ruiva sentia falta da família, dos cafés da manhã animados, quando Rony tentava se desculpar ou contornar alguma situação que falara ou agira sem pensar.

Ao ficar imaginando a cena de seu pai tentando se proteger com o jornal enquanto Hermione ficava vermelha de raiva, não viu quando Scorpius pegou seu livro e abriu-o.

—Um romance trouxa? —Perguntou, inocentemente tirando a ruiva de seus pensamentos.

—Sim. —Enrolou um fio loiro em seu dedo.

—Posso lê-lo? —Perguntou curioso com o enredo.

—Claro, eu já o li umas cinco vezes.

E passaram a tarde ali, Scorpius lendo atentamente o romance. Enquanto Rose alisava seus cabelos, debatendo em alguns momentos as atitudes e ações dos personagens. Para o garoto, era maravilhoso estar naquela proximidade com a garota que tanto desejava e ansiava, a calmaria finalmente havia chegado. A ruiva não pode conter a mão que esbarrou com a do garoto que largara o livro, timidamente a afastou, mas ruborizou ao sentir Scorpius pescando por entre os gramíneos seus dedos, até entrelaça-los. Seus olhos se encontraram por um momento breve, pois Rose desviou o olhar para longe.

—Hey, vamos voltar. —Separou suas mãos bruscamente, mostrando-se nervosa. —Já está ficando tarde.

Durante a semana, Scorpius parecia mais disperso e alheio às conversar em geral. Temia pelo Clube de Duelos, que se dirigia naquele exato momento. O professor havia preparado apenas um tablado, com o brasão de cada casa pendurado nas laterais, cerca de pouco mais de um metro de altura. Os alunos já se aproximavam garantindo lugares melhores, o professor andava de um lado para o outro. Cumprimentou a todos e chamou uma das duplas para que iniciasse o duelo. Uma Lufana e um Corvino.

Scorpius estremeceu ao lado de Rose assim que o primeiro feitiço foi lançado, e a ruiva percebendo isso, segurou sua mão, apertando-a. Scorpius seguiu com o olhar suas mãos e sorriu assentindo. Mais dois duelos ocorreram e Scorpius parecia ainda mais nervoso, mas quando Rose apertava carinhosamente sua mão, sentia-se bem para enfrentar qualquer coisa.

—Obrigado. —Os alunos desceram sob os olhos do professor. —Bem, os duelos até agora foram ótimos, mas tenho expectativas quanto ao próximo. Sr. Malfoy e Srta. Weasley.

Scorpius arregalou os olhos e Rose apertou sua mão com força.

—Você não vai me machucar! —Disse antes de subir no tablado com ajuda do professor. Cada um se posicionou em uma das pontas, a varinhas nas mãos nervosas apontadas para seus corpos.

—Já sabem as regras! —O professor então saiu do meio e se juntou aos alunos.

Rose respirou e assentiu.

—Locomotor Mortis.

Scorpius teve as pernas coladas por alguns instantes, desequilibrando-se diversas vezes até conseguir soltar-se.

—Levicorpus.

Rose não se defendera, e fora erguida pelos tornozelos, ficando pendurada de cabeça para baixo. Agradeceu mentalmente por estar usando a calça e não a saia do uniforme. Contra atacou.

—Liberacorpus.

Caiu de volta à madeira e empunhou a varinha, sorriu marota e levantou as sobrancelhas.

—Bombarda!

Com a explosão Scorpius foi lançado para longe, mas recompôs-se rapidamente.

—Espere um minuto, venha cá garoto. —O professor cochichou algo no ouvido de Scorpius. E nesses poucos segundos, Luke se aproximou de Rose e disse claramente “provoque-o”. —Prossigam.

—Vamos lá Malfoy, não sabia que só conhecia feitiços do primeiro ano. —Rose o provocou, e recebeu um olhar confuso do professor e um olhar orgulhoso de Luke. O sangue de Scorpius ferveu por um momento, mas entraria no jogo da garota.

—Veremos ruiva.

Rose riu falsamente, tentando mostrar-se mais confiante.

—Diffindo.

—Protego.

Rose esquivou-se com um feitiço de proteção.

—Com medo Weasley?

—Não mesmo. —Respondeu decidida.

—Flipendo!

Com um feitiço fraco, Rose foi apenas empurrada trás.

—Só isso Malfoy? —Sorriu. —Esperava mais de você!

Scorpius já não aguentava as provocações, odiava quando alguém duvidava de sua capacidade, mas até o momento estava se controlando por se tratar de Rose, ou seja, uma garota.

—Incendio!

Rose esquivou-se das chamas lançadas pelo garoto, estava muita fácil.

—Vamos lá Scorpius é apenas uma garota! —Um aluno da Sonserina gritou para o loiro no meio da multidão. Scorpius não tirou ou olhos de Rose, mas respondeu.

—Por que acha que estou pegando leve? —Tinha um sorriso presunçoso estampado nos lábios.

Luke por um momento tirou seus olhos do amigo e passou-os para a ruiva escarlate, com certeza havia ficado com raiva do comentário, sempre dissera o quanto odiava pessoas machistas e Scorpius simplesmente jogou aquilo no meio do duelo como uma simples palavra sem significado.

—Está pegando leve? Por que sou uma garota? —Estremeceu Rose, apertando a varinha com um sorriso psicopata nos lábios. —Vamos ver quem é a garotinha aqui!

Scorpius se assustou com a forma que a ruiva o olhava.

—Impedimenta!

Com a intensidade, o garoto deu algumas piruetas no ar e caiu com um baque. Levantou-se visivelmente irritadiço.

—Imobilus.

Balbuciou tentando reverter à situação. Mas Rose usou a varinha como proteção, que impressionou a muitos, já que é uma técnica complicada. Mas o que impressionou ainda mais o público e o professor foi que Scorpius utilizou a mesma técnica para se defender do turbilhão de feitiços não verbais que Rose usou em seguida. A ruiva movimentava a varinha com frieza e velocidade, raios de diversas cores voavam em direção ao garoto, que mesmo bloqueando as azarações, recuava passo por passo.

Os olhos do professor orgulhoso, brilhavam com o duelo na sua frente, as rajadas e agressividade deixavam tudo mais emocionante.

E em um ultimo movimento, Rose empunhou a varinha:

—Everte Statum!

Scorpius não teve chance e foi lançado para longe, novamente, dando piruetas, mas antes, conseguiu acertar Rose com um feitiço estuporante e lançar Rose para o outro canto do tablado. Ambos levantavam-se com dificuldade, Rose segurava uma costela enquanto Scorpius fazia caretas ao movimentar o pulso esquerdo.

O professor de colocou entre os dois.

—Eu não disse que seria um duelo interessante? —Alguns alunos riram. —Estão bem?

Scorpius se aproximou assim como Rose e ambos assentiram, mesmo desconfortáveis com o pulso ou a costela.

—Não parecem, estão liberados, podem ir para a enfermaria. Acho que o Sr. Malfoy torceu o pulso. —Scorpius assentiu. —Srta. Weasley, pode ir com ele? —A ruiva assentiu olhando para o loiro. —Aplausos, por favor.

Scorpius desceu e ajudou a ruiva, pegaram a mochilas no fundo da sala e saíram em direção à Ala Hospitalar.

—Desculpa! —Falaram na mesma hora e soltaram uma risada tímida.

—O professor me mandou te provocar, só não achei que aquele comentário fosse tão sério! —Scorpius tentou levar a mão para a cabeça, mas fez uma careta que não passou despercebida por Rose.

—Luke me mandou te provocar, já que o duelo estava meio fraco. —A ruiva pegou o pulso do garoto. —Está doendo?

—Um pouco. —Respondeu virando-se para ruiva. Delicadamente, colocou sua mão sobre a da ruiva, que segurava o lado esquerdo da caixa torácica. Rose levantou o olhar e encontrou o do garoto. —Está doendo?

—Um pouco. —Respondeu carinhosamente.

—Vamos lá. —Scorpius tirou sua mão da de Rose e continuou a caminhar.

Mandame Pomfrey estava sentada, com o Profeta Diário aberto na sua frente, os olhos passavam pelas letrinhas miúdas. Rose bateu na porta, o que chamou atenção da senhorinha.

—Vocês de novo? —Ponderou. —Já sabem o procedimento.

Scorpius e Rose caminharam até uma maca, e sentaram-se na mesma.

—Clube de Duelos? —Ambos movimentaram a cabeça assentindo. —Esse clube já me deu dor de cabeça o suficiente essa ano. O mais intrigante, é que são sempre os dois!

—Não temos tanta sorte. —Scorpius riu baixinho.

—O que foi dessa vez? —Perguntou a medi bruxa, olhando-os por cima dos óculos.

—Eu acho que torci o pulso e Rose... —Foi interrompido.

—Acho que machuquei uma das costelas. —Proferiu rapidamente, explicando como pôde.

Madame Pomfrey assentiu e levantou a manga do garoto, examinando seu pulso. Levantou a varinha e proferiu claramente o feitiço Braquium remendo, uma luz irradiou de seu pulso, deixando-o novo em folha.

—Agora senhorita, levante a camisa, por favor! —Rose tirou a capa e levantou a camisa um tanto corada. Scorpius olhava para o rosto de ruiva, evitando ver mais que o necessário. —Devo dizer que foi apenas um arranhão, só que essa região é sensível.

Movimentou a varinha novamente, e o corte, se é que poderia ser chamado assim, desapareceu.

—Por Mérlin essa vez não foi nada grave! —A medi bruxa falou. —Estão liberados, espero não vê-los tão cedo.

Rose assentiu e se despediu da senhora com um sorriso. Seguiu o caminho ao lado do garoto.