Gargoullaide escrita por Lous


Capítulo 1
Capítulo 1




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~ Gargoullaide



As sapatilhas pisam o breu. Os músculos se enchem de uma vitalidade estranha a cada lufada de ar capturada. As mãos e braços que antes espalhavam delicadeza ganham a força de anos de trabalho.

Bela coroa resplandecente que se ofusca aos teus olhos que se fazem brilhar; ela em fim vem quando você tira a armadura – aquela que prendia tuas asas em torno de si a fim de sufocá-la.
Milhões de gotas de suor. Milhões de lágrimas. Pensa estar num turbilhão: sob luzes, cores, expectativas, críticas, notas, sombras, penas... Pensa sufocar ao passo de libertar-se. Um enxame de lembranças que tomam tua mente com volúpia e expulsam a paixão para que trasborda por todos os teus poros; porque é isto que eles querem ver.

Querem-te a pulsar, Nina. Eles querem que tuas asas os abracem e os aqueça com o fogo que a artista deve guardar para os palcos... Você bem sabe. Deve-se ensiná-los a viver tão feliz como ti, uma artista que se liberta com a espontaneidade de uma criança! E numport de bras¹você já os têm ganho. Mas há um porém.

A felicidade não faz parte de teu ser. Transbordas, não devido á ela.

Coração está calejado assim como os pés que lhe levam por tantos caminhos; e você não faz ideia de qual caminho teu coração deve seguir. O da perfeição?! O da emoção?!

O da autodestruição?!

Poderia você os acolher em tuas bonitas asas antes que elas se desfaçam e se tornem penas tombadas, que antes tudo podiam... Ah sim, você pode tudo neste palco – ele pode ser teu. É o teu exuberante mundo, todos aqui pertencem á ele e você não passa de uma Rainha que os conduz para onde você quiser chegar. Querem que esta viagem seja inesquecível, diferente de tudo que já viram na vida e que revele alguma esperança em meio á todo caos. Você é capaz de lidar com tal responsabilidade?

Algum tempo atrás, você sentiria que não. Mas diria que sim porque você é dotada de uma coragem e determinação raras – embora o problema do talentoso muitas vezes seja a ignorância. Talvez tudo tenha sido mal conduzido. Junto á raiva da falha a pouco convertida á pleno furor. Hoje você sente e é ciente da competência que borbulha em teu peito e ao mesmo que o congela, gerada pela vontade de praticar a perfeição. De ser perfeita convenientemente; provar á tudo ao teu alcance que quem comanda esta magia é você.

Há algo a ser aprendido; você pensa. Há sempre algo que ignoramos... E é aí que você afunda todo o teu senso e natureza... Porque você quer sempre mais. O quê você tinha, de nada vale. O fundamento de um bailarino agora lhe transforma em defeito: Nunca está bom. Vocêsemprepode ser melhor do que isso. E a tua ambição lhe levará para o fundo do poço.

Contraditório, não?! Você nem se importa. Fez coisas piores, se sente outra pessoa e no direito da ganância, pode e conseguetudo– tua mente se transporta para a garota morta que você deixou lá no banheiro do camarim junto á Odette.

Pois agora você é Odile. Se lhe dessem a oportunidade de se aproveitar de todos estes que lhe assistem, pois não?! Pois não iria fazê-lo?! É óbvio. Agora você pisa o palco para lhe roubarem as almas. Agora você não é só o artista que se alimenta de almas, você ainda é Odile.

Você é traiçoeira. Os espectadores deveriam deixar o teatro o mais rápido possível; esta noite para sempre estará viva em suas lembranças. Será inesquecível, você; teu brilho e ânsia por ser unicamente perfeita não passará batido.

Lembra-se da tua primeira aulinha de ballet? Ora, como não. Ali você acabava de traçar teu destino e aqui você acaba de finalizá-lo – mas veja. Você o faz com perfeição. Neste momento teu rosto é invadido por um entusiasmo caloroso! E faz como se ainda tivesse cinco anos de idade...

Desliga-se de Nina Sayers. Fecha os olhos e para os ponteiros dos relógios. Faz-se senhora das horas. Decide ser o que quisesse, em exceção á Nina, menos o que sempre lhe foi comum. Você está num outro mundo, maravilhada, encantada e irradiando inocência... Faz do ar teu aliado e o toma consigo como parceiro: deseja ser também senhora das estações, senhora dos corações á lhe prestigiarem... Teus pés estão descalços. Teus braços? Envoltos na maciez das penas que lhe auxiliarão no voo. O corpo inteiro movido por uma magia fumegante, delirante – sombria? Divina!

Odile se esbanja e Nina gargalha: duvidaram de você, não foi?! Antes tarde do que nunca - descobre o que é dançar.

Você dança pela primeira e última vez.


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Notas finais do capítulo

Espero por comentários construtivos, e os adoro, por isso sintam-se á vontade.



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