Cartas de Lugar Nenhum escrita por Ana Muniz


Capítulo 5
Capítulo 5 - Revelações


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a todos que estão acompanhando a Cartas de Lugar Nenhum, espero que a história tenha, de alguma forma, despertado o interesse de vocês. Esse é o penúltimo capítulo da minha primeira fanfic, espero que vocês gostem.



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– Como ele era?

– Eu não pude ver seu rosto, ele estava de máscara, ele usava a máscara de palhaço mais horrível que eu já vi.

– Como você sabe que foi Ian?

– Ele disse o nome antes de me matar.

– Eu sinto muito.

– Tudo bem. Precisa de ajuda?

– Sim, eu tenho que sair dessa cela.

– Olhe do outro lado: tem um cano ali, quem sabe ele possa quebrar o alçapão.

– Obrigada Wendy.

– Disponha.

Depois disso, desapareceu.

Onde ela estava parada eu encontrei uma pequena chave.

Vi, do outro lado das grades um cano grosso de metal, ele seria perfeito para quebrar aquele alçapão, mas eu não o alcançava, peguei as correntes e – com muita força – consegui fazer que elas chegassem até o cano, envolvi as correntes no cano e as puxei, assim que ela tocou minhas mãos, respirei aliviada.

Bati com força no alçapão usando o cano, ele cedeu e se quebrou. Exausta, subi as escadas de corda e saí daquela cela.

Eu estava com medo de encontrar Tommy novamente, eu tinha medo de ele tentar fazer algo pior do que ele já fizera.

Fui até a fonte mais uma vez, agora eu tinha uma luva para colocar a mão naquela água malcheirosa. Aquela coisa brilhante no fundo da água esverdeada era uma chave, igual a que eu pegara na maleta. Aproximei-me da construção e descobri que era o orfanato. Na porta, encontrei dois cadeados que destranquei com as duas chaves pequenas que tinha encontrado.

Após abrir a porta, vi que o orfanato não parecia tão acolhedor quanto deveria ser. As paredes manchadas de tons escuros contrastavam com os ladrilhos marrons – ou talvez sujos – que estavam no chão.

No balcão havia um telefone que estava fora do gancho e que tinha linha. Atrás do balcão eu encontrei mais um alguém incomum.

– Por favor, não me machuque, eu não fiz nada – ela suplicava, com medo.

– Não se preocupe, eu não vou te machucar. Quem é você?

– Eu sou Olga Exen, eu era professora deste orfanato, até ser assassinada na minha sala de aula.

– Quem te matou?

– Ian Hunt, um dos meus alunos...

– Eu sinto muito.

– E você? O que faz aqui? Como conseguiu entrar aqui?

– Eu estou procurando meu noivo. Sabe se ele está aqui?

Antes que ela pudesse me responder, algo diferente aconteceu.

– Lizz... Lizz... – eu ouvia a voz de Ian.

Assim que eu ouvi – e me virei para trás – Olga desapareceu, onde ela estava sentada havia três fios: um azul, um verde e um vermelho. Peguei-os e continuei andando.

Atravessei um corredor com duas portas, uma trancada com um leitor biométrico e a outra aberta, optei pela mais fácil por mais que eu sentisse a presença de Ian atrás da outra porta.

O cômodo era um escritório – ou pelo menos parecia ser – eu estava procurando respostas para minhas perguntas, mas não sabia por onde começar. Até que percebi que na frente dos meus pés havia uma cadeira, onde estava um livro aberto.

“Eu precisava fazer testes, sempre fui obcecado pela paranormalidade e o filho dos Hunt era a cobaia perfeita. Edwin e Catherine nunca me dariam o menino, então eu tive que fazer algo. Fui à loja de brinquedos e peguei um boneco de um palhaço e resolvi usá-lo. Com os meus livros de demonologia eu pude implantar um demônio no boneco, depois eu o levei à casa dos Hunt, e por causa disso eles morreram, menos o pequeno Ian, ele, que foi o primeiro a tocar no boneco, estava livre da maldição. Depois, eu voltei e levei o menino para o meu orfanato, onde eu planejei retirar grande parte dos poderes dele, mas minha experiência deu errado, e eu acabei dividindo o menino em duas partes semelhantes, um era bom, o outro, demoníaco.
Percebi que o garoto mau me olhava de maneira estranha, como se fosse me matar assim que tivesse chance. Mas só quando eles cresceram eu tive alguma prova disso.”

Quando terminei de ler, me virei e vi que tinha novamente companhia.

– Você é Martin Berger?

– Sim, como você me conhece?

– Eu te conheço por causa da morte dos Hunt.

– Isso aconteceu há muito tempo. Pelo visto você leu minhas anotações.

– Sim, eu as li. O que “Mas só quando eles cresceram eu tive alguma prova disso” quer dizer?

– A parte ruim do menino dos Hunt me matou. Certamente em função da vingança. Quando eu fiz a experiência, o poder que os Hunt deixaram ao garoto ficou somente com ele, o verdadeiro Ian ficou sem nenhum poder. Era muito poder.

– Onde você o escondeu? Digo, Ian e a parte má.

– Aqui embaixo de onde eu estou, tem um alçapão, foi lá que eu aprisionei os meninos. Vá até lá e resolva esse problema.

Dizendo isso, desapareceu. Sobre o alçapão havia uma manivela, eu a peguei e com ela abri o alçapão.

O quartinho era pequeno, havia apenas as duas camas e uma casinha de bonecas igual à que Tommy me deu. Eu fui vê-la, estava conservada, na parte de dentro do telhado havia uma folha escrita.

“Sou Ian Hunt – o verdadeiro, o outro está agora brincando com sua casa de bonecas – eu sou órfão, um palhaço matou meus pais, e o diretor me trouxe para cá, ele fez uma experiência comigo e daí o outro surgiu. Sabe, eu não tenho esperanças de sair daqui, mas eu sempre quis fazer uma amiga, sempre adorei nomes diferentes, queria que uma amiga minha tivesse um nome diferente.”

Saí do cômodo e caminhei em direção ao corredor, o que eu faria se encontrasse Ian atrás daquela porta trancada?

Assim que cheguei diante da porta, tropecei e toquei na tranca com a minha mão direita, para minha surpresa, a porta se abriu. Meu coração disparou quando meus olhos piscaram.

– Ian!

Ele estava lá, deitado sobre alguma mesa cirúrgica com algo parecido com um capacete na sua cabeça, os olhos dele estavam estreitamente abertos, mas eu vi os lábios dele se mexerem dizendo meu nome. Do outro lado eu via Tommy.

– Você? Mas, por que, Tommy?

– Estou surpreso que você tenha acreditado nesse meu disfarce, apesar de você ter acreditado nas cartas que eu mandei Olga escrever, você veio ao orfanato quando eu mandei que Olga ligasse a você na casa.

– Como você sabia exatamente onde eu estava em tal momento?

– Essa cidade está sob meu domínio completo, mas quando eu vou atrás de você, você encontra um dos pobres coitados que eu matei.

– Você é o Assassino do Riso!

– Está mesmo surpresa? Estranho, você esqueceu o fato de que eles não são pessoas, são almas e você as viu. Você também tem certa paranormalidade: você é médium.

– Como isso pode ser verdade?

– É natural que os Hunt sejam médiuns e só um laço matrimonial poderia fazer isso passar a você. Ian usou seu limitado poder para passar isso a você quando vocês se tornaram noivos.

– Quem é você?

– Eu sou Ian Hunt. Uma parte dele, a melhor parte.

– Não! Ian não precisa de você! Ian não precisa desse lado ruim para ser quem é!

– É o contrário, eu não preciso do lado bom dele. Ele logo deixará de existir. Para que meu poder seja completo e definitivo.

– Então um não pode viver normalmente enquanto o outro continuar vivo?

– Infelizmente não, já que a divisão aconteceu por causa de um egoísmo e de uma obsessão, isso se tornou uma consequência dela.

Quando ele terminou, eu pisquei e notei que ele era igual ao meu noivo, não pude ver nenhuma diferença física entre eles.

– Vê esse painel no centro da sala? Ela controla a máquina que nos separou, eu a reprogramei para tirar uma das duas partes da vida, assim que você ligá-la, eu e seu noivo iremos nos misturar mais uma vez, mas nos separaremos depois, inconscientes. Você vai ter que apertar um botão que fará um de nós, mas o painel está quebrado, se você quiser salvá-lo vai ter que concertá-la. A escolha é sua, os riscos, também.

Eu não sabia o que teria que fazer, eu estava correndo os riscos de matar meu noivo e deixar o irmão gêmeo ruim dele viver, ou de deixá-lo viver. Mas eles eram iguais, eu poderia acabar errando.

Fui até o painel quebrado, encaixei os três fios e ele ligou, eu apertei o botão com as mãos trêmulas, os dois se juntaram.
O painel mostrava Ian por completo, com o lado mau e o lado bom, depois, a imagem de dividiu, e em cada lado, apareceu um espaço para uma manivela.

“Quando eu colocar a manivela em um dos lados e a girar, aquele que estiver daquele lado vai morrer.” - meus pensamentos concluíram.

Eu via duas imagens, Ian e seu irmão gêmeo do mau, eles eram semelhantes demais, eu corria muito o risco de escolher o errado nisso.

O corte de cabelo era igual, os olhos castanhos escuros eram iguais, as roupas eram iguais, mas as mãos...


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