Strawberry Kiss escrita por GioBacon


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, então, explicando melhor o porque dessa fic. Bom, era pra ser apenas mais um dos meus projetos de escrita que ficariam apenas no meu caderno ou na minha mente, mas com o aniversário da minha linda esposa chegando eu resolvi seguir adiante. A verdade é que eu terminei ela hoje, sendo que o plano era postar muito mais cedo. Culpem a escola, sei lá (?).Talvez vocês notem um pouco a mudança de personalidade de alguns personagens (apesar de eu tentar mante-las o máximo possível, mudanças foram necessárias para o enredo) e o passado deles um pouco superficial. Optei por não incluir muitas informações sobre o passado para ficar à imaginação dos leitores. Bom, sem mais enrolação, aproveitem aí. Supostos erros de gramática são culpa do word (mentira, podem me responsabilizar tbm)



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Em uma semana faria três meses, que passaram despercebidos pelo desatento americano, que por todo o trajeto que fazia de ônibus ficava a observar o sujeito enigmático que sempre se sentava no mesmo lugar. O sujeito cujo nome Alfred desconhecia, mas sentia algum tipo de paixão platônica ou algo assim. Ele era apaixonado por sua beleza.

Alfred estava no início do quarto – e último – ano do seu curso superior de especialização em fotografia e já tinha seu primeiro emprego como um fotógrafo profissional. Depois de seu amor pelo hobby vinha sua paixão pelas estrelas. Ele adorava o céu à noite, quando abarrotado de pontos brancos luminosos, adorava as constelações e blá blá blá. Mas não é disso que vamos falar.

O desconhecido era um loiro extremamente atraente, que cativara o coração de Alfred no minuto em que ele lhe botara os olhos. Ora, que clichê, amor à primeira vista. Não, não era amor, mas caramba, em todos os seus anos de uma vida gay Alfred nunca ficara tão obcecado por um cara.

A câmera, que acompanhava o americano a todos os lugares em que este ia, continha centenas de fotos dele.

De sua pele exageradamente pálida, que Alfred imaginava ser intocada, em sua mente era como uma porcelana, que se partiria ao toque menos delicado.
De seus cabelos louros como fios de ouro, que sempre reluziam o crepúsculo.
De seus lábios finos e róseos, que vez ou outra formavam bolas coloridas com chicletes dos mais variados sabores, que Alfred nunca deixaria esquecer-se do cheiro. Até de suas sobrancelhas, grossas e escuras, que muitos considerariam estranhas, mas que para Alfred era um charme especial. Seu cheiro adocicado, da loção feminina que ele descobriu ser Euphoria - Calvin Klein. Suas calças justas que delineavam suas curvas perfeitas e seus dotes posteriores, que não podiam e não deviam ser reconhecidos apenas por Alfred, com certeza. Sua estatura baixa, corpo esguio, roupas caras, muitos acessórios. Ah, ele era perfeito! Ele buscava no fundo de sua alma americana idiota e patriota comparações que ele achava que se aplicassem ao cara. Mas havia algo em sua aparência que ele desconhecia. Seus olhos.

Em todos os longos três meses que Alfred ficou a observá-lo ele usou um óculos solar grande, Vogue marrom em degrade. Nunca soube a cor dos seus olhos. Isso era muito frustrante.

Mas felizmente hoje era diferente. Começava a transição entre Verão e Outono, e com o tempo nublado, escondendo o sol atrás de nuvens espessas e cinzentas e constantes garoas que respingavam na janela do veículo do transporte público, não havia motivos para usar tal acessório de preço elevado.

E nesse dia Alfred finalmente descobriu que o estranho possuía enormes e brilhantes orbes verdes penetrantes, que cintilavam como esmeraldas recém-polidas. Teria ajoelhado e agradecido ao seu senhor ou algo do tipo, mas seria ridículo demais, por isso não o fez. Deus, eles eram capazes de absorver cada segundo da atenção de Alfred, que ignorou completamente todos os sons das bolas de chiclete estourando, o cheiro árduo de menta passou despercebido e nem a sua nova calça com rasgos propositais na região das coxas receberam tanta atenção como suas duas pedras preciosas.

Era como as estrelas, as constelações, a galáxia, prendia Alfred de tal maneira que desgrudar seus olhos dele era impossível. Alguns chegaram a achar que ele era um psicopata ou algo do tipo, não havia um ser que não reparasse o olhar estático que o maior lançava ao outro.

Ele declarou mentalmente que eram olhos sugadores de almas, que ele já não sentia mais sua própria presença, se é que tinha consciência suficiente para pensar.

Mas o mais importante era: precisava de fotos. Não sabia quando poderia acontecer de novo, qualquer presença de raios Ultra Violeta seria motivo para colocar os óculos, que apesar de grandes no rosto delicado do desconhecido, lhe caiam muito bem.

O americano passou a remoer-se mentalmente tentando decidir por tirar uma foto do loiro ou não. Seus dedos nervosos giravam as enormes lentes de sua máquina de um lado para o outro, vez ou outra soltando um estalido.

Vamos, acalme-se Jones, não fique nervoso, alguém pode perceber.

Foi quando sua paixão, secreta apenas em sua mente, fitou-lhe rapidamente antes de voltar a observar pela janela. Argh, que se danasse a opinião alheia! Alfred não pôde controlar, levantou a câmera na altura dos olhos, ajustou as lentes que havia desconfigurado ao remexê-las, arrumou o zoom e focou. Mas o outro olhava para fora e, apesar da posição estar ótima, seu olhar penetrante não seria capturado. Vamos, uma olhadela, só uma. Ele tinha apenas uma chance, na sua mente heroica e decidida.

Segurando o objeto sólido e pesado com a mão direita, com a outra juntou o dedo médio ao polegar e ergueu-o até próximo o suficiente para que o estranho pudesse ouvir o estralo que ambos os dedos pressionados com rapidez fizeram e ele lhe dirigir a atenção.

Nesse momento Alfred prendeu a respiração e seu coração falhou uma batida.

“Vamos Alfred, não falhe agora, seja o herói!”

O rapaz a sua frente percebeu sua intenção e começou a formar novamente a bola de chiclete, mas dessa vez de modo demasiado lento, para que Alfred pudesse tirar a foto. O maior demorou um pouco a perceber, mas assim que o fez focalizou e apertou o botão mágico que salvava todas suas visões estupendas para que ele se lembrasse delas pelo resto de seus dias.

Assim que o som da câmera confirmou que a foto havia sido tirada, o outro se apressou em encher a bola de chiclete sabor menta com ar rapidamente, para que ela estourasse e ele pudesse voltar a mastigá-lo para depois fazer de novo. Após a foto ele continuou a fitar o vidro embaçado da janela.

Enquanto ele dizia a si mesmo mentalmente o quanto era demais, observava a foto satisfeito, que apesar do ato infantil, em sua visão era extremamente sensual, e ele passou a fitar os lábios rosados da imagem. Sua língua era visível através do chiclete verde, que dilatado ao ser enchido com o ar e hálito quente do outro, ficou ligeiramente transparente. Ele contemplava a foto com um sorriso abobalhado no rosto. Definitivamente era a melhor, iria revelar com a resolução grande e, dentre todas as outras que ocupavam a parede de seu quarto, essa ficaria no centro.

Não foram necessárias palavras. Não houve comunicação, a foto não dizia nada, não demonstrava nada, exceto pra Alfred. Seu sorriso sim dizia, com mais de cem palavras, o quanto ele tinha algum sentimento especial pelo sujeito que não conhecia, mas enchia-lhe os pensamentos, sem ele nem saber seu nome, sem ele ter reais motivos.

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Como narrar à deturpada visão de Alfred para com o estranho em todos os dias da semana seguinte em que ele andara de ônibus seria muito maçante, pularemos para a parte em que algo interessante – ou quase – acontece.

Nosso querido colega americano, alto, loiro, de olhos azuis, sempre cercado de garotas iludidas que desconheciam sua sexualidade, com toda sua obcessão para com o desconhecido, simplesmente mudou de ponto onde o ônibus que pegava para ir ao curso, para um que ficava a seis quarteirões – que ele percorria a pé – apenas para.. Bem, continuar com toda sua obcessão.

Ele entrava pontos antes apenas para sentar-se de frente ao rapaz de orbes verdes e observa-lo como fez por três meses sem pausa. Não queria arriscar que alguém roubasse seu precioso lugar de observação, assim como nunca ousariam sentar no lugar do nosso colega paixão-desconhecida-do-Alfred. Por que convenhamos, ele era atraente demais.

Mas nesse dia ele não subiu no ônibus quando este parou no ponto. Ele deveria subir os degraus, com suas botas de couro longas e sentar-se em frente a Alfred para que ele pudesse olhá-lo como sempre.

Alfred esperou mais um pouco e ele realmente não apareceu. Sem desconhecidos para fotografar hoje. O loiro contentou-se em sentar no lugar do outro, para ver o que é que ele tanto observava pela janela. Ai Alfred, você é o ser mais tapado que existe. Por que obviamente pra trocar de lugar você deveria prever que ele não entraria no ônibus. Pois é, não foi o que aconteceu, pois dois pontos depois lá estava ele, com suas botas de couro.

Pense rápido! Bem, se você der o lugar pra ele talvez ele pense que você está dando em cima dele, e não é isso que você quer! Não é só por que você tirou uma foto dele que ele vai achar que você tem algum interesse, pfft. Mas se você não ceder o lugar, vai se sentir culpado e... Espera, aquilo é um picolé?

Alfred quase entrou à beira do desespero ao receber um olhar de reprovação por estar sentado naquele lugar. Ele não deveria estar lá. Ah, que burrada! Certo, acalme-se, ele vai sentar em outro lugar..o quê?! Por que ele estava em pé ali?

O dia estava ensolarado, apesar da temperatura amena, então ele estava com os óculos de novo. E com um picolé de chocolate, sim, chocolate! Deus, era tão..tão..

Alfred teria um colapso e faleceria hoje. Por que faziam isso com ele, desconhecidos-atraentes-sádicos?

Ele estava provocando Alfred para ele ceder o lugar, com certeza, não poderia ter outro motivo para ele lamber o picolé daquela maneira, tão sensualmente..

Argh!

O sujeito desconhecido lambia o picolé vagarosamente, de forma provocativa e sensual. Qual foi a reação de Alfred que quase quebrou o banco com a pressão que suas mãos fizeram nele ao vê-lo abocanhar a extremidade do picolé e sugá-lo lentamente.

Ele precisava sair dali. Rápido. Seu rosto estava vermelho e quente, ele suava frio, quanto nervosismo! Ia acabar. Seu ponto estava chegando, ele podia resistir.

Ele podia resistir se certo loiro não tivesse feito o picolé quase sumir dentro da boca, só pra depois retirar e fazer de novo! Se possível seu rosto ficou mais vermelho. Era a sua deixa.

Antes que ele desse adeus ao seu autocontrole, resolveu levantar-se e esperar na porta. Quando se ergueu ele viu.. ah, aquilo foi um sorriso?! Estava rindo dele, descobriu seu ponto fraco! Oh, droga.

Viu o loiro rapidamente sentar-se no lugar que ocupava antes, mas dessa vez ele não olhou para janela. Ele continuou encarando Alfred e chupando seu picolé sexual.

Talvez Alfred tenha levantado um pouco cedo demais, o que rendeu cinco minutos esperando na porta e uma alta dose de constrangimento. E apesar de ter “cedido” o lugar ao outro ele continuou chupando o picolé daquela forma.. Daquela forma!

Seu ponto havia chegado, as portas se abriram e antes de descer os degraus ele lançou um último olhar nervoso ao outro, tendo apenas tempo de vê-lo morder o picolé com força e depois lamber os lábios. Assim que desceu, instintivamente levou as mãos às partes baixas. Aquilo foi cruel.


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No dia seguinte Alfred foi chamado à sala de seu chefe. Seus pensamentos iam ao extremo do otimismo em “vou receber um aumento” e do pessimismo em “serei demitido”.

Ele chegou em frente à porta e depois de respirar fundo bateu, ouvindo um “entre” em confirmação.

Assim que adentrou a sala percebeu o olhar sério de seu superior, o francês Francis Bonnefoy, diretor da editora na qual Alfred trabalhava. Sentou-se no banco de couro negro em frente à mesa, um pouco apreensivo.

– Alfred, tenho um assunto sério a tratar com você. – O americano vacilou, abriu e fechou a boca algumas vezes. Será que ele havia descoberto que ele andara tirando fotos do nipônico que trabalhava na sessão de edição de fotos? Mas já havia muito tempo.. Bom, há três meses exatamente. Pensando que o outro não iria se pronunciar, o francês continuou. - Há um novo serviço para você começar.. – Ele só não esperava ser interrompido.

– Ah, mas eu não tiro mais fotos do traseiro do Kiku, isso foi há muito tempo! Mais ou menos uns três... – Pequena pausa para raciocínio - novo serviço?

Certo, Jones, você acabou de se entregar, quão estúpido você pode ser? Ok, talvez ele não tenha ouvido.

– Traseiro do Kiku?

Ou talvez ele tenha. Como sair dessa agora? Pense, pense, pense.

Porém, antes que pudesse inventar qualquer desculpa convincente, o francês sorriu e disse:

– Realmente ele tem um bom traseiro, mas é melhor não o deixar descobrir que você fazia isso.

Às vezes ter um chefe excêntrico não era desvantagem. A verdade é que ele era um pervertido, mas deixando isso de lado ele tinha assuntos importantes a tratar. Um novo serviço? Boa, Alfred, uma nova aventura te espera.

– Continuando.. Eu quero que você seja o fotógrafo da matéria principal da nossa nova revista, Prune– Ele levantou as mãos como forma entusiasmada de apresentar o novo trabalho do jovem.

– Então eu vou ter que fotografar o quê? Ou quem? – Ele não fazia ideia sobre do que se tratava a nova revista, não entendia nada de francês, apesar de sempre ouvir seu superior falando frases em sua língua natal, que ele fazia questão de ignorar.

Mon Cher, você vai fotografar o nosso jovem modelo Arthur Kirkland.

Um homem? Ele ia fotografar um homem? Ele não sabia se abraçava ou socava esse francês imbecil. Considerando sua orientação sexual seria muito menos desconfortável fotografar uma mulher, já que tudo seria puro profissionalismo. Por outro lado, apesar de ser muito satisfatório trabalhar com um modelo masculino, ele poderia ficar nervoso, ou desconcentrado e.. Argh, Bonnefoy, seu maldito! Sua mente travava um conflito interno, um lado tentando convencer que a ideia era boa e outro que seria um fiasco.

Francis esperava que Alfred dissesse alguma coisa, mas ao vê-lo fitar o chão pensativo e vez ou outra fazer algumas caretas ele resolveu acrescentar:

– Alfred, você sabe que eu tenho total confiança em você para realizar esse trabalho, mas se você não quiser posso ceder ao Antônio..

– Não! – Não foi necessário mais, Alfred aceitaria o novo cargo temporário, provavelmente a remuneração seria boa. – Digo.. Eu aceito.

Levando em consideração os pontos positivos talvez realmente fosse um bom cargo temporário. Ou talvez fosse melhor do que Alfred imaginava.

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Como havia combinado com Francis, Alfred deveria ir ao estúdio às 15 horas do dia seguinte. Ele havia pensado bastante e não estava nem um pouco nervoso. Concluiu que seria idiotice deixar seu sentimento de apreensão quanto a isso interferir no seu lado profissional.

Ele chegou dez minutos mais cedo e foi recepcionado com uma xícara de café. Uh, ele estava gostando dali.

Pensando bem, quem seria esse modelo? Alfred nunca tinha ouvido falar nele. Seria novato? Segundo Francis ele era jovem. Arrependeu-se de não ter pedido mais detalhes. Passou algum tempo imaginando. Talvez pudesse conhecê-lo antes de iniciar a sessão, ficar mais a vontade, ou sei lá. Movido por sua enorme curiosidade Alfred contatou a primeira assistente que encontrou e, julgando pelos segundos que ela levou olhando pra Alfred, parecia ponderar seriamente.

Mas o golpe final seria.. O super-olhar-de-cão-abandonado!

– Por aqui, Sr. Jones.

HÁ!

Alfred sabia que ia funcionar, sempre funcionava. Sorriu vitorioso e acompanhou a moça.

Passaram por vários corredores, Alfred até cumprimentou alguns funcionários, e chegaram a um corredor comprido e escuro. Por que ele era propenso a sempre acabar em lugares assustadores e mal iluminados? Seguiu a simpática assistente até o fim do corredor, chegando à frente uma porta com o número 505, que provavelmente era o camarim.

A moça bateu delicadamente e chamou “Sr. Kirkland?”, perguntando se ele poderia atender o fotógrafo, que queria conhecê-lo. Por um instante isso pareceu muito constrangedor, porém Alfred pôde ouvir um “sim” em resposta. Agradeceu a moça que saiu e o deixou sozinho. Naquele corredor escuro. Alfred só parou pra pensar no que dizer e em como iria se apresentar agora. Qual é, todos conheciam o carisma do nosso herói, ele iria somente ser ele mesmo.

Ouviu a porta sendo destrancada e aberta. Ia dizer uma “Boa tarde, Sr. Kirkland” com seu tom alegre de sempre, se a primeira coisa que tivesse visto não fosse uma serpente.

Céus, quem diabos aparece com uma cobra para cumprimentar alguém? Alfred lançou um grunhido em desaprovação e ia preparando-se para perguntar se o rapaz queria matá-lo recebendo-o com um bicho desses até ver o rosto de Arthur.

Ele sentiu como se um meteoro tivesse caído em sua cabeça, como se fosse atropelado por uma manada de elefantes, como se a força da gravidade tivesse triplicado, como se fosse entrar em combustão!

E o pior é que ele sabia que devia estar com uma cara horrível, fazendo caretas idiotas, e Arthur apenas o olhava com aquele olhar cético. Aquele olhar cético, aquele Arthur, com aqueles olhos malditamente verdes!

Tudo que ele conseguiu foi apontar descaradamente para o loiro e dizer:

– Você...! – Como se o acusasse de algo.

– Eu..?

Mas por quê?! Essa voz, essa voz parecia quinhentas vezes mais sensual e provocante vinda dele. Do desconhecido do ônibus. De Arthur.

Vamos, acalme-se, seja um bom profissional.

– V-Você é.. – Não gagueje – o cara do..ônibus.

– Hm, é, sou eu – Era incrível como ele podia ser tão indiferente diante do nervosismo de Alfred. Ele acariciava a serpente, ou melhor, aquele bicho demoníaco que tentou matar Alfred há alguns segundos. – Vamos, entre.

O maior obedeceu, adentrando o local bem iluminado. Havia vários espelhos, inúmeros tipos de cosméticos que ele não fazia ideia de pra que servia, incontáveis roupas, vezes coloridas, vezes pretas.

Daí parou para ver o que Arthur vestia. Calças de couro escuro, botas, uma camiseta justa que delineava seu corpo esguio e perfeito e.. tire os olhos daí!

– Você é o cara que me fotografou aquele dia no ônibus, certo? – Alfred engasgou-se com a própria saliva, como ele podia dizer isso de maneira natural? Claro, ele não deveria nem imaginar que Alfred tinha uma paixão meio estranha por ele. Pfff, claro que não. Então ele deveria manter isso em segredo para que Arthur não pensasse que ele era algum tipo de psicopata ou maníaco.


– Ahn.. é, porque.. Você tem belos olhos. – Sorriu meio nervoso, ele estava sendo sincero, oras!

– O-Obrigado. – Ele havia corado! Céus, como ele ficava atraente com as bochechas vermelhas. Um lado de Arthur que ele não sabia que existia. – Mas.. por que quis me conhecer? Aliás, já estamos quase em cima da hora.

Ele não queria conhecê-lo! Quer dizer, ele queria, mas não por ser ele. Bom, por ser ele também, mas.. Era confuso, ele só queria conhecer o maldito modelo ao em vez de dar de cara com uma cobra e descobrir que o cara por quem ele tinha uma queda trabalhava nesse ramo!

– Eu só queria saber quem era a pessoa que seria alvo dos meus flashes. – Escolheu o típico sorriso de “Alfred está empolgado” e lançou uma piscadela.

Arthur vestiu um colete preto por cima da camiseta vermelha e pegou um chapéu, porém não o colocou.

– Você vem? - Perguntou a um Alfred que não parava de lhe fitar. Como sempre.

–Hã? Ah! Claro, vamos. - Levantou-se, seguindo o menor.

Segundo Bonnefoy, seria uma sessão de 18 fotos com looks diferentes. Na primeira, Arthur usava a roupa com que Alfred o havia encontrado, e ele ficava absurdamente sexy com o chapéu.

Alfred perdeu parte da inquietação e conseguiu realizar seu trabalho com êxito. Mesmo quando Arthur usou as roupas mais justas, ou quando fez as poses mais provocantes, e até mesmo (com um pouco de dificuldade) quando ele posou apenas de jeans. Ah, se descobrissem que o que se passava em sua mente não eram coisas nada profissionais que ele fazia com Arthur..

Dentro de três horas e meia a sessão havia acabado. Alfred guardava seu equipamento quando Arthur anunciou que iria embora. Havia sido um dia muito produtivo, lembraria-se de pedir mais serviços como esse a Francis. Só após alguns minutos o americano percebeu uma presença ao seu lado. Era Arthur, mas o que ele queria ali?

– Você mora por aqui? – Ah, isso respondia sua pergunta.

– Sim, eu pego o ônibus pra ir pra casa. – Levantou-se, já tendo em mãos seus equipamentos e sua inseparável câmera.

– Eu também.

E foram conversando até o ponto mais próximo, conhecendo-se melhor, tirando o atraso de três meses só de observação. O maior descobriu que Arthur era inglês – o que havia desconfiado pelo sotaque - e havia se mudado recentemente, que tinha vinte e seis anos – Ele era mais velho que Alfred! –e seguiu a carreira parte por influência da mãe, parte por ter aprendido com ela a gostar do que fazia. Ele também contou sobre sua paixão por fotografia e pelos astros, entre outras coisas banais.

Ao chegarem ao ponto o inglês parecia inquieto. Então repentinamente ele mudou de ideia.

– Hm.. Quer tomar um drink? – Ao fazer a pergunta ele corou de novo. Ele super poderia se acostumar com um Arthur envergonhado, era muito.. fofo, bem diferente do ar provocativo que geralmente o envolvia. Era a oportunidade que Alfred queria, qualquer minuto a mais com ele seria vantagem.

– Claro. – Ele viu o menor apontar para um pub – ou quase um – dizendo que costumava frequenta-lo.

Seguiram até lá conversando. O local não tinha muita gente, talvez por ainda estar cedo, mas as pessoas iam chegando cada vez mais. Eles entraram e sentaram-se no balcão de bebidas, e Alfred ouviu o outro pedir “o de sempre”. O barman lançou um olhar inquisitivo ao americano. Provavelmente Arthur vinha sempre desacompanhado, era o que ele pensava.

Entre conversas e risadas o tempo foi passando e de repente o local estava abarrotado de gente. A música estava alta, as luzes coloridas iluminando o local e Arthur.. ele havia tomado “o de sempre” vezes demais. O que o transformou em uma pessoa extremamente falante e sorridente.

Pelo menos até agora, porque repentinamente a atmosfera – que geralmente passava despercebida por Alfred – havia ficado desconfortável. Arthur estava calado, era possível perceber a perturbação em sua face. Estava com o cenho franzido, os lábios pressionados e com o rosto muito vermelho, evitando olhar para Alfred, que por sua vez havia parado com o monólogo para tentar entender o conflito do outro. E tudo só ficou mais confuso quando Arthur virou-se e disse:

– Me beije.

Ok, ele também havia bebido demais, devia estar escutando coisas, afinal, o lugar estava um rebuliço e não conseguia ouvir nada.

– Oi? – Pelo jeito que o inglês o fitava ele não parecia muito paciente.

– Me beije. Agora. – Dessa vez ele havia dito alto e claro.

Sem reação foi pouco pra descrever Alfred no momento. Arthur estava mandando que ele o beijasse? É, isso mesmo. E quem era ele pra recusar?
Ele se aproximou lentamente, ainda hesitante e confuso, até por que não era sempre que um cara chegava pra ele e dizia “me beije” depois de se embriagar, portanto, ele não sabia se o que ia fazer era certo, mas ele sabia que queria, queria muito.

Selaram ambos os lábios no que era pra ser um beijo casto, lento. Arthur enlaçou os braços no pescoço de Alfred e foi dele a iniciativa de aprofundar o beijo. Em alguns segundos o clima estava pesado, o ambiente de repente pareceu muito abafado e o beijo se tornou feroz, uma luta ávida por dominância. Arthur se levantou, sem nunca descolar os lábios dos de Alfred, e se moveu pra trás, empurrando-o, atropelando e esbarrando em tudo e todos que estivessem em seu caminho.

Chegaram a um sofá um pouco mais afastado, o menor ficou por cima de Alfred, que desceu as mãos pelo seu corpo esbelto, que tanto cobiçara um dia, parando em sua bunda e apertando levemente. Recebeu um suspiro resignado em troca, junto com um choque de realidade.

O que diabos eles estavam fazendo? Primeiro que havia acabado de conhecer Arthur (ou falar com ele) e depois ele estava bêbado, nem respondia mais pelos próprios atos. Mas talvez ele pudesse apenas ter uma noite de sexo casual. Porém isso parecia muito errado e ele tinha a impressão de estar se esquecendo de algo.

Mas Arthur não pensava o mesmo, continuou o beijando com volúpia e levou uma das mãos até seu volume eminente sobre a calça, arrancando um grunhido contido de Alfred.

Interrompeu o beijo e ia substituir a mão pela boca quando o som da Katy Perry cantando Firework foi ouvido. Perto demais. Era o celular de Alfred tocando.

Ele lançou um olhar de pesar ao menor, retirando o objeto do bolso e atendendo.

– A-Alô? – E a realidade lhe atingiu como um raio – outra vez - e ele se lembrou do que não deveria ter esquecido.

– Alfred? Onde você está? Deveria ter chegado há quase uma hora!

Sim, ele deveria voltar à editora para falar com Francis, porém Arthur havia tomado toda sua atenção e ele simplesmente se esqueceu.

– Ah, aconteceram alguns.. imprevistos, mas eu já estou indo. – Ouviu o outro reclamar algo em francês e desligar em seguida.

– Desculpa Arthie, mas eu preciso ir. Meu chefe.. – Falou apontando para o celular.

– Tudo bem. – Era possível perceber a frustração em sua voz apesar de sua expressão continuar indiferente.

–Então.. tenho que correr, até mais. – Deu um breve selinho no menor e saiu correndo, na expectativa de alcançar o primeiro ônibus.

Arthur bufou irritado e seu humor só piorou quando se lembrou de não dar seu telefone a Alfred. Acabou por pedir o de sempre novamente.


XXXXXXXXXXXXXXXXXX

Na manhã seguinte Alfred acordou com dor de cabeça, mas por sorte não ficou de ressaca. Ele nem queria imaginar a situação de Arthur ao acordar.

Fez sua higiene matinal, tomou o café da manhã, ficou vendo TV e se lamentando por não pegar o telefone de Arthur até a hora do curso.

Se vestiu e foi para o ponto de ônibus. Seu ponto de ônibus. Entrou e viu o mais velho sentado no mesmo lugar de sempre, mascando chiclete de morango. Sentou-se de frente a ele e lhe desejou bom dia.

Quando o banco ao lado de Arthur ficou livre Alfred o ocupou, ligou sua câmera e ergueu na direção dos dois, no intuito de tirar outra foto. Quando ia apertar o botão do obturador o menor segurou seu queixo, colando ambos os lábios.

Alfred não teve tempo de ver se a foto saiu focalizada, porque logo o beijo já envolvia línguas e caricias e a câmera foi deixada de lado.

Porém sem demora Arthur parou o beijo retirando algo do casaco, que Alfred não viu, pois se ocupou em observar a foto de ambos. Teria que arranjar algum espaço pra ela dentre as outras. Ouviu o outro anunciar que desceria, despedindo-se com um selinho como o mais novo fizera no dia anterior e colando algo na câmera de Alfred.

Ele não soube porque o inglês desceu pontos antes de onde costumava, mas soube que precisaria de uma lente nova.

Call me XoXo 630-860-****

Era o que dizia o pedaço de papel colado com chiclete nela e essa descoberta não lhe agradou tanto.

Porém ele também havia descoberto que morango era seu sabor favorito de chiclete.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Mereço reviews ou pedradas? Contatem meu advogado, ok? Enfim, a fic se passou num universo paralelo repleto de viadagens, normal até aí. Eu me inspirei em muitas coisas, doujinshis, músicas (principalmente no meu recente vício, que é Arctic Monkeys (que talvez vocês encontrem algumas referências), nas minhas viagens de busão e, principalmente, em uma ameixa. Sim, essa fruta foi a fonte de inspiração para o nome da revista, que eu já estava me remoendo há tempo por não saber como chamá-la.. não que ameixa fosse a melhor escolha, mas.. Mandar review não mata ninguém (disse a leitora-fantasma), então críticas e elogios são sempre bem-vindos. De qualquer modo espero que tenham gostado (principalmente minha chuchu ♥), até mais (ou não).

Agradecimento extra às minhas Betas/conselheiras
Maria e Rebeca, vlw gnt



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