Everywhere escrita por Alex Baggins


Capítulo 4
Capitulo 3


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo é curto e feito basicamente de diálogos. Espero que gostem.



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Lily acordou cedo, como sempre fazia. Levantou-se silenciosamente e se vestiu, abotoando a blusa lentamente com seus dedos longos. Levou alguns segundos para perceber que aquele não era seu quarto e que havia alguém mais na cama onde dormira. Um homem alto e bonito, de cabelos longos e negros. Ela não se lembrava do nome dele (era o nome de uma estrela, ela tinha certeza. Sun, talvez?), nem de como havia ido parar ali, mas era tarde demais para fazer perguntas ou para se arrepender. Ela terminou de se vestir, pegou uma camiseta velha do homem que estava jogada sobre uma cadeira (Lily sempre guardava lembranças de seus casos de uma noite, principalmente daqueles que ela não se lembrava) e colocou na bolsa. Lançou um último olhar vazio ao homem adormecido e se foi, fechando a porta com cuidado atrás de si.

Passou pela sala sem olhar para trás ou para os lados. Abriu a porta e estava prestes a sair quando uma voz atrás dela disse:

–Já vai?

Lily se virou e deu de cara com James, o autor que derramara café nela no dia anterior. Ela não sabia o que ele estava fazendo ali no apartamento do Cara Com Nome De Estrela, mas supôs que ele fosse um colega de quarto. Suas memórias turvas não faziam jus à beleza dele, ele era bem mais bonito do que ela se lembrava. Cabelos escuros completamente incontroláveis e olhos grandes e brilhantes cor de avelã. Tinha um rosto com feições suaves e cansadas com olhos fundos por noites mal dormidas. Usava óculos de armações grossas e tortas e tinha os dedos sujos e tinta e o que parecia ser carvão. Ele não era só um escritor, mas também um artista.

–Já. - ela respondeu depois de um tempo - Já fiz o que tinha que fazer por aqui.

–Está indo pra livraria? - Lily assentiu - Tome uma xícara de café. Eu te deixo lá.

Ela parou na porta, hesitante. Não se sentia confortável ficando ali por mais tempo que o necessário, era como aguardar na cena do crime. Mas o cheiro de café logo a invadiu, forte e deliciosamente quente, impregnando a sala com seu odor.

–Não se preocupe, Sirius não acorda antes do meio dia. - acrescentou quando percebeu a hesitação dela.

–Então esse era o nome dele... - ela sussurrou.

Ela fechou a porta e seguiu James até a cozinha. Era um cômodo simples e sem muitos apetrechos, tipicamente masculino, tirando pelo fato de estar impecavelmente limpa. James coava o café com um daqueles coadores de papel e a fumaça que subia do líquido espiralava pela cozinha. Ela se sentou sobre o balcão, cruzou as pernas e deu uma boa olhada em volta, ignorando a expressão de surpresa do homem.

–Você não faz café na máquina? - ela perguntou com uma voz inexpressiva enquanto analisava com interesse a disposição dos ímãs de geladeira.

James balançou a cabeça negativamente.

–Fica mais gostoso assim, mais...

–Deliciosamente forte?

Ele levantou os olhos curiosos para ela, que balançava as pernas, ainda empoleirada no balcão.

–Isso. - concordou.

Ele terminou de preparar o café e se serviu. Encheu uma caneca aleatória e entregou para ela, a fumaça borrando as lentes de seus óculos.

–Então, hã...

–Lily.

–Lily. O que você faz na livraria?

–Passo tempo lendo livros atrás do balcão quando acho que ninguém está vendo.

James a olhou surpreso por cima da xícara que bebericava.

–Já leu muitos livros? - perguntou.

–O suficiente.

–Algum particularmente bom?

Lily demorou pra responder, calculando com cuidado suas palavras.

–Eu, hm... Sou crítica demais em relação a essas coisas. Procuro me abster de comentários.

Ele assentiu e voltou os olhos para o próprio café em um silêncio confortável. Tomou um gole e voltou a falar:

–O que estava lendo ontem?

–Seu livro.

James abriu um sorriso torto com a resposta.

–Grace como Em Hazel?

–Você tem outro?

–Não, na verdade não. - ele riu baixinho da própria ignorância - O que achou do livro?

–Sinceramente? Achei Savannah bem chata.

Se James pareceu chateado com a resposta, não demonstrou. Abriu outro sorrisinho divertido.

–Jura? A maioria das minhas leitoras não parece pensar assim.

–A maioria das suas leitoras são hipsters de 14 anos sem nenhum senso crítico literário.

Ele não parava de sorrir e isso estava começando a irritá-la.

–Você não é como elas. - James afirmou.

–Não. No entanto, eu gostei de John. - ela tomou um gole de seu café e soltou um suspiro deliciado - Isso aqui tá muito bom. Tenho que aprender a fazer café assim.

Ele ignorou o comentário sobre o café e voltou o assunto para o livro.

–Então, você gostou de John, não é? Por quê?

Lily deu de ombros.

–Não sei. Ele parece mais... Real. Mais seguro. Em quem se inspirou para cria-lo?

–Como sabe que me inspirei em alguém?

–Ninguém cria personalidades complexas do ar. Os personagens criados são coletâneas de características tiradas de pessoas que conhecemos. Em quem se inspirou?

James ficou quieto por um segundo, absorvendo a resposta dela com gosto, antes de replicar:

–Em mim.

Ela revirou os olhos.

–Muito modesto da sua parte.

–Todo mundo já criou um personagem inspirado em si mesmo! - James disse gesticulando com tanto entusiasmo que quase derrubou o café de Lily de novo - Me desculpe.

–Tudo bem.

–Quero dizer, se você escrevesse, ia saber disso.

Lily franziu os lábios e não respondeu, tomando um gole silenciosamente. James olhou rapidamente para seu relógio e xingou baixo.

–Vamos ter que nos apressar, não quero fazer você se atrasar. - ele disse enquanto colocava a xícara na pia e pegava uma mochila que estava no chão.

Ela deu de ombros.

–Sem pressa - falou - Eles vivem sem mim. Não é como se eu fizesse muita coisa útil ali,

James apanhou as chaves e ela pulou do balcão de volta para o chão. Pegou seus pertences na sala e saiu com ele para a garagem do apartamento. Os dois entraram no sedam preto dele e saíram para o dia ensolarado. Incomodado com o silêncio, ele ligou o rádio que com um chiado começou a tocar um blues suave.

–Então - começou tentando quebrar o silêncio - você gosta de música?

–Gosto.

–Do que gosta de ouvir?

–Qualquer coisa que se pareça com música.

–Isso elimina muita coisa hoje em dia.

–Eu sou bem seletiva.

–Curte blues?

Ela respondeu com um suspiro>

–Sim.

Lily fechou os olhos lentamente e apoiou a cabeça no encosto do banco.

–Lily? - sussurrou ele olhando de relance para ela pelo canto do olho. - Está dormindo?

–Não.

–Converse comigo.

–Por quê?

–O silêncio me incomoda.

Ela abriu um sorriso pequeno, mas não abriu os olhos e não disse uma palavra.

–Por que são tão cedo e tão de fininho? - insistiu ele.

–Não estava saindo de fininho! - defendeu-se ela abrindo um dos olhos.

–Ah, estava sim. Pisando pela sala como um fantasma.

–Está exagerando.

–Mas não estou mentindo.

Ela não respondeu, mordeu o lábio e fechou os olhos novamente.

–Por quê?

Ela hesitou antes de responder, como sempre fazia.

–É mais fácil, acho. - ela disse depois de um longo silêncio - Assim eu pulo aquela parte desconfortável de despedidas onde você diz que vai ligar, mas nunca liga. Prefiro levantar e ir embora. Sem adeus.

James balançou a cabeça, inconformado.

–É como ouvir Sirius falar. - ele parou no sinal vermelho e se virou pra ela - Mas me diga, a vida não fica meio vazia assim? Nunca mantendo contato... Não fica meio sem sentido?

–Sexo não precisa fazer sentido. - ela revirou olhos - Esse é o problema de vocês.

–“Vocês”?

–Humanos.

Ele riu.

–Vocês vivem levando tudo pro lado emotivo - ela continuou - vivem pensando demais. Então eu dormi com um cara: grande coisa! Foi físico, não emotivo. Não preciso casar com ele.

–Ou saber o sobrenome dele, aparentemente.

–Eu sei o sobrenome dele!

James arqueou a sobrancelha duvidosamente.

–Qual é?

Lily pareceu pensar.

–É uma cor, disso eu tenho certeza. Sirius... Blue?

James gargalhou alto e voltou a virar pra frente, acelerando quando o sinal ficou verde.

–Você é uma mulher interessante, Lily.

–Você não é o primeiro a me dizer isso, James. - ela respondeu com uma voz suave - Mas eu ainda não sei dizer se isso é um elogio.

–Você liga?

–Nem um pouco.


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Notas finais do capítulo

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