Everywhere escrita por Alex Baggins


Capítulo 1
Prólogo




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Nova Iorque, 15 de Dezembro de um ano qualquer (eu não conto anos. É deprimente)

Querido Terapeuta,

Aqui estou eu, nesse dia particularmente chuvoso no meio de um parque escrevendo essa carta que você me pediu. Eu poderia estar me divertindo pacas com o mendigo bêbado sentado do meu lado, mas eu tenho que escrever essa carta. O que a torna completamente desagradável. Nunca saberei se o mendigo é uma ótima companhia ou se ele gosta das mesmas coisas que eu. Você percebe as coisas que você está me roubando? Estou deixando de fazer amigos. Espero que esteja se sentindo culpado e repensando todo seu método de trabalho.

O ponto dessa carta é me apresentar para um completo estranho (que eu já não gosto muito, pois está me privando de uma possível amizade com o mendigo, que agora está cantarolando “I Will Survive” de um modo surpreendentemente afinado. Muito bem, mendigo!), que vai ouvir meus problemas e fingir que liga para eles por alguns meses, correto? Ora, boa sorte com isso. Eu mesma mal consigo ligar para os meus próprios problemas, quanto mais você, que tem que ouvir problemas de gente muito mais interessante do que eu.

Bem, suponho que isso não vai fazer mal algum. Aqui vou eu: Meu nome é Lily Evans, eu tenho 21 anos e ainda não tenho problemas com álcool. Eu moro com uma colega de quarto que gosta de se considerar minha amiga e que constantemente me define como “irônica levemente psicótica com o humor mais ácido que eu já vi, além de um complexo de inferioridade e um toque de depressão, para dar mais sabor”. Eu gosto dela. Eu consigo viver com ela. Eu não consigo viver com o fato de que ela acha que eu preciso de um terapeuta.

Eu vivo das vendas de um livro que eu escrevi quando eu tinha 18 anos chamado “Contos Vagos” que conta várias histórias de menininhas que sofreram durante a infância e/ou adolescência. Depressivo? Talvez. Eu ligo? Não.

Mas como eu não conseguiria passar infinitos dias sem trabalhar, me recolhendo no meu sofá de veludo roxo, afogada em meus pensamentos tóxicos, eu tenho um trabalho em uma livraria que fica a duas quadras do meu apartamento, na qual eu me divirto vendo pessoas lendo livros pretensiosos tentando se passar por cultas. Eu costumo a jogar coisas nelas quando meu chefe não está olhando.

Eu não tenho pais. Os meus morreram quando eu tinha sete anos em um acidente de carro. Motorista bêbado e tudo mais (o que talvez explique minha aversão ao álcool). Eu vivi em um orfanato por alguns meses até que uma família me adotou. A família cuidou muito bem de mim. Fim da história. Quase não tenho problemas familiares. Quase.

Eu não tenho relacionamentos, porque na maioria das vezes eu nem gosto de ficar perto das pessoas. Eu não consigo achar uma pessoa que tenha uma conversa interessante o suficiente para me distrair. Pessoas podem usar lábios para outras coisas que não sejam falar. É para isso que eu as uso. Pense nisso, Terapeuta.

Eu não fumo, eu não bebo, eu não me corto e na maior parte do tempo eu não tenho instintos assassinos. Você, Terapeuta, como a pessoa razoável o suficiente para ter um diploma que é, deve notar então que eu não tenho realmente um motivo para ter que aguentar suas perguntas por um mês (que foi o tempo que Marlene, minha colega, aceitou pagar por seu serviço). No entanto, eu irei as suas consultas, pois desperdiçar dinheiro é quase tão ruim quanto desperdiçar chocolate. Quem sabe até poderemos ser amigos, quem sabe você compense o fato de que eu não pude ser amiga do mendigo.

Esperando sinceramente que você não seja um babaca,

Lily Evans


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Notas finais do capítulo

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