Amando o Inimigo escrita por IsabellaC


Capítulo 17
Periculum Siderea




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Apesar de ainda estar confusa com os acontecimentos da noite anterior, prestava a máxima atenção no que Harry falava durante a aula de Feitiços. Ele lançou o feitiço Abaffiato sobre nós e começou a relatar o modo como extraíra a memória de Slughorn, o que Dumbledore havia revelado sobre as Horcruxes de Voldemort - a quem eu estava enfim tomando coragem de chamar pelo nome - e da promessa do mesmo de levá-lo em sua companhia, caso encontrasse outra.
– Uau. - exclamou Rony, após Harry finalizar a história, acenando sua varinha em direção ao teto - Você vai realmente acompanhar Dumbledore… E tentar destruir… Uau.
– Rony, você está fazendo nevar. - Hermione avisou, pacientemente agarrando o pulso dele e desviando-o do teto, de onde havia começado a cair flocos de neve.
– Ah, é. - ele exclamou, olhando para seus ombros - Desculpem… Parece que agora todos nós estamos com uma caspa horrível…
Ele espanou um pouco da falsa neve dos ombros de Hermione. No mesmo instante ouvi alguém cair no choro. Virei o rosto para ver quem era e vi Lilá.
– O que houve com ela? - perguntei, unindo as sobrancelhas em expressão de dúvida.
– Nós terminamos. - Rony falou, entortando a boca - Na noite passada. Quando ela me viu saindo do dormitório com Hermione. Ela não pode ver Harry, já que ele estava usando a capa da invisibilidade, então pensou que estávamos sozinhos.
– Ah. - exclamou Harry - Você não está ligando para isso, está?
– Não. - admitiu Rony - Foi bem chato ouvir os gritos dela, mas pelo menos não precisei terminar.
– Covarde. - disse Hermione, embora parecesse achar graça - Bem, foi uma noite ruim para os namoros em geral. Gina e Dino também terminaram.
– Por quê? - Harry perguntou e eu percebi uma faísca de satisfação em seu olhar.
– Por uma coisa realmente boba… Gina falou que ele estava sempre querendo ajudar na hora de passar pelo buraco do retrato, como se ela não soubesse subir sozinha… Mas o namoro já estava balançado há um tempão. - explicou - Claro que isso deixa você num dilema, na equipe de quadribol, com Gina e Dino sem se falar…
– Ahn… É. - concordou Harry.
– Creio que a Natalia seja a única de bem com seu namoro por aqui. - Rony brincou.
– Na realidade… - suspirei - Eu vou terminar hoje com Robert.
Eu não havia o visto novamente desde a noite passada, quando o vira junto com Candice. Na realidade, havia evitado encontrá-lo. Quando acordei, segui direto para o Salão Principal, não ficando nem um minuto na sala comunal, e de lá, pegando apenas uma fatia de torrada com manteiga, segui para um dos banheiros femininos, para que pudesse comer sozinha. Isso podia até soar como um ato covarde, mas eu não ligava, eu simplesmente não me sentia preparada para encará-lo ainda. Porém tudo seria resolvido naquele dia, eu não podia adiar demais.
– Por que, Nat? - Hermione perguntou claramente surpresa - O que aconteceu?
– Longa história. Depois eu explico.
– Flitwick. - alertou Rony.
O pequeno professor caminhava em nossa direção, sendo que apenas eu e Hermione havíamos conseguido transformar vinagre em vinho; nossos balões de ensaio estavam cheios do líquido vermelho, enquanto os de Harry e Rony continuavam castanho-turvos.
– Vamos rapazes. - censurou o professor com sua voz fininha - Menos conversa e um pouco mais de ação! Quero ver vocês experimentarem.
Juntos, eles ergueram as varinhas, concentrando-se ao máximo, e apontaram para seus respectivos balões. O vinagre de Harry virou gelo; o balão de Rony explodiu e eu tive que me segurar para não rir, assim como Hermione.
– Então… Para casa… - disse o professor, tirando estilhaços de vidro do chapéu - Praticar.
Saímos da sala e fomos direto para sala comunal, já que teríamos um tempo livre juntos. O caminho todo eu fiquei perdida em meio aos meus pensamentos, algo que, graças a Merlin, nenhum dos meus três companheiros havia notado.
Não fazia ideia de como iria abordar Robert em relação ao que vira na noite passada. Afinal eu também havia o traído com Draco. Pois por mais que ele tivesse me enganado primeiro, isso não amenizava o fato de eu ter feito, de certa forma, o mesmo. Robert continuava, querendo ou não, sendo o meu namorado e eu não podia simplesmente ir até ele e dizer “Eu te vi ontem aos amassos com Candice no corredor e quero terminar. A propósito, depois disso, fui para a sala precisa com Draco e nós nos beijamos”.
O engraçado era que, como eu evitara topar com Robert durante toda manhã, acabei também evitando Draco. Se bem que também não saberia como reagir ao meu primeiro contato com ele depois do último acontecimento, e não fazia ideia de como ele iria reagir, já que ele era, definitivamente, a pessoa mais imprevisível e inconstante que conhecia. Porém, mas cedo ou mais tarde, acabaria descobrindo.
Suspirei ao atravessar o buraco do retrato e franzi o cenho ao registrar uma rodinha de alunos do sétimo ano – a qual nem Robert nem seus amigos faziam parte - na sala comunal, quando Hermione gritou:
– Cátia, você voltou! Você está bem?
Surpresa, direcionei meu olhar a Cátia, que parecia bem feliz e saudável rodeada por seus amigos.
– Estou realmente boa! – disse ela feliz – Eles me deram alta no St. Mungus na segunda-feira. Passei uns dias em casa com meus pais e voltei para Hogwarts essa manhã. Liane acabou de me contar o que McLaggen fez no último jogo, Harry...
– É, bem, agora que você já voltou e Rony está em forma, teremos uma chance decente de dar uma surra na Corvinal, o que significa que ainda poderíamos estar na disputa pela Copa. Escuta Cátia... – Harry hesitou, abaixando o tom de voz – Aquele colar... Você agora lembra quem lhe deu? – ele perguntou e eu senti um calafrio me subir a espinha.
– Não. – respondeu Cátia, sacudindo a cabeça – Todo mundo está me perguntando, mas eu não faço ideia. A última coisa que me lembro é de que entrei no banheiro feminino no Três Vassouras.
– Então, definitivamente você entrou no banheiro? – indagou Hermione.
– Bem, eu sei que abri a porta, então imagino que quem me lançou a Maldição Imperius estava parado ali atrás. Depois disso, minha memória apagou tudo até as duas últimas semanas no St. Mungus. Escutem, é melhor eu ir andando, a McGonagall é bem capaz de me passar uma frase de castigo, mesmo sendo o primeiro dia da minha volta...
Dito isso, ela pegou seus pertences e saiu atrás dos amigos, nos deixando sós na sala comunal, que sentamos numa mesa próxima à janela.
– Então deve ter sido uma garota ou uma mulher quem deu o colar a Cátia, – falou Hermione – para estar no banheiro feminino...
– Ou alguém com a aparência de uma garota ou de uma mulher – contrapôs Harry – Não esqueçam que existe um caldeirão de Polissuco em Hogwarts. Sabemos que roubaram um pouco...
– Não foi ninguém disfarçado. Foi uma mulher. – falei com tanta certeza que até eu mesma estranhei.
– E como você sabe? – Rony perguntou com o cenho franzido.
– Eu... Eu não sei. – balancei a cabeça, como se quisesse espantar os pensamentos de minha cabeça - Vou descansar um pouco. Vejo vocês mais tarde. – disse e não esperei por resposta nenhuma, logo indo para a escada e seguindo para o dormitório.
Deitei em minha cama e passei a encarar o teto. Estava me sentindo perturbada depois de escutar a conversa entre Harry e Cátia. Sentia-me como se estivesse traindo os meus amigos por omitir meus pensamentos, por mais que eles não passassem devaneios ou suposições. Como eu poderia ter tanta certeza de que Rosmerta é quem havia lançado a maldição em Cátia? E de que fora ela quem envenenara o hidromel para ajudar... Não, não e não. Eu só podia estar ficando louca.
Suspirei fundo e vi a porta sendo aberta, revelando Hermione.
– Está tudo bem? – ela perguntou e eu assenti com a cabeça – Eu sei que não está, Nat.
– Então por que perguntou? – ri da cara que ela fizera.
– Porque é mais educado. – respondeu como se fosse óbvio, sentando-se na beirada de minha cama, ao lado dos meus pés. - Se você diz... – dei de ombros.
– Você está assim por causa de Robert, não é?
– Bem... É. – suspirei.
Não estava mentindo ao dizer para Hermione que estava mal por causa de Robert, mas ele não tinha nem dez por cento de culpa do meu estado de humor no momento.
– Não vai me falar o que aconteceu?
– Ele me traiu. – disse simplesmente e Hermione adquiriu uma expressão chocada. Não sei se pelo fato de Robert ter me traído ou pelo fato de eu ter dado a notícia como se fosse outra coisa qualquer.
– Como assim? Como você descobriu isso? Explica as coisas direito, Natalia!
– Eu estava voltando da biblioteca para a sala comunal e, no meio do caminho, o vi junto com Candice, aos beijos.
– Você deve estar se sentindo péssima. – falou e se aproximou mais, segurando uma de minhas mãos, em sinal de apoio.
– Mais ou menos... – confessei – Foi pior na hora... De qualquer forma, nosso namoro já estava esquisito.
Vi Orheni entrando no dormitório pela janela e pousar sobre a cabeceira da minha cama, com uma carta no bico – a qual eu podia jurar pertencer a Draco. Sentei-me e estiquei a mão até o envelope que a ave trazia, pegando-o e, seguidamente, tirando um pote de biscoitinhos que tinha de dentro da gaveta da minha mesinha, dando um para Orheni, antes de acariciá-la e deixá-la voar de volta para o Corujal.
– De quem é? - Hermione perguntou, referindo-se a carta.
– Não faço ideia. - menti ao mesmo tempo em que guardava a carta, junto com o pote de biscoitos, dentro da gaveta.
– Não vai ler? - indagou, estranhando minha atitude.
– Não estou com cabeça. - expliquei - Melhor descermos. A próxima aula vai começar em minutos.
– Você tem razão. – falou, rapidamente se levantando e saindo do quarto, assim como eu.

Na hora do almoço, a primeira pessoa que avistei ao entrar no Salão Principal foi Robert. Ele estava sentado entre um espaço vago, supostamente guardado para mim, e Rodolph, tendo Jullian sentado a sua frente, e conversava animadamente com os mesmos.
Hermione estava sentada ao lado do espaço guardado por Robert, tendo Harry e Rony à sua esquerda. Já Neville e Gina estavam sentados do outro lado da mesa, de frente para os mesmos, tendo mais um assento vazio ao lado; o qual eu ocuparia.
Comecei a caminhar, sem pressa, em direção local desejado, até que vi Robert levantar-se de seu lugar, vindo ao meu encontro.
– Nat! Não te vi hoje de manhã. Onde é que você esteve? - ele perguntou, aproximando-se para me beijar, e eu virei o rosto.
No momento que fiz tal movimento, meu olhar encontrou Draco, que me fitava, de sua mesa, com um sorriso torto nos lábios.
– Está tudo bem? - ele indagou, estranhando minha atitude.
– Está sim. Eu estive ocupada durante a manhã. - respondi impaciente.
– Ah, ok então. Vem, sente-se comigo. Eu estava contando uma história hilária a Jullian sobre…
– Se não se importa, eu vou sentar ao lado de Gina, está bem?
– Mas… Bem… Se é o que você quer…
– Nos falamos depois então.
Sentei-me à mesa e, no mesmo instante, uma bolinha de papel amassada chegou as minhas mãos. Abri o bilhete e li a mensagem:

"Quando é que você vai resolver as coisas com Robert? - HG".

– Mais tarde. - respondi, olhando para Hermione, porém, pela feição que todos adquiriram, percebi que ela já havia contado tudo para eles.
Gina me abraçou de lado e cochichou:
– Você vai ficar melhor sem ele.
– Eu sei que vou. - sorri, agradecendo pelo apoio - Mas e você, como está depois do término?
– Perfeitamente bem. - respondeu e eu ri.
– Bom saber, porque eu acho que Harry ficou bem alegre com a notícia, sabe? - falei para que só ela ouvisse.
– Como? - perguntou, tentando disfarçar o tom de excitamento em sua voz.
– Ele tentou disfarçar, porém dava para ver nos olhos dele a verdade. - ri ao lembrar-me do olhar de Harry ao saber do término de Gina e Dino.
Gina não disse mais nada, mas a cara de satisfação que fez ao tomar um gole de seu suco de abóbora foi bastante como resposta.

Já eram 6h30 da noite e eu estava conversando com Gina na sala comunal. Tínhamos acabado de voltar do Salão Principal, onde mais uma vez, durante o jantar, evitara falar com Robert. Mas sabia que, a partir do momento que ele chegasse à sala comunal, não poderia adiar mais.
Mais cedo, após o almoço, eu voltara o dormitório, sozinha, e lera a carta que Orheni havia trazido mais cedo. De fato, como eu suspeitava, era um bilhete de Draco, pedindo para que eu o encontrasse às 10h em frente à sala precisa; o que eu faria.
Suspirei fundo ao ver Robert entrando pelo buraco do retrato e se aproximar de mim, dizendo:
– Acho que precisamos conversar, não é?
– Acho que sim. – respondi, levantando da cadeira que ocupava e dando um breve tchau a Gina.
– Vamos para o meu dormitório... É mais reservado... – falou e seguiu para a escada que dava em direção ao dormitório masculino.
Sem dizer mais nada, apenas o segui.
– Então, posso saber o que aconteceu para você estar tão estranha assim? – perguntou, assim que entramos em seu quarto, e sentou-se em sua cama.
– Tem certeza que não sabe?
– Eu...
– É exatamente isso que você está pensando. – falei, interrompendo-o – Eu sei sobre você e a Candice.
– Mas como...?
– Não interessa como. – o interrompi novamente – Eu apenas sei. E eu não estou com raiva de você... Pelo menos não agora. Eu sei que nosso relacionamento não estava grande coisa... Mas você deveria ter terminado comigo antes de ter ficado com ela. De qualquer forma, isso não importa.
– Nat, me desculpa, a gente podia...
– Não há nada que possamos fazer. Já estava tudo uma grande porcaria... Descobrir isso foi só a gota que faltava para eu tomar coragem e dizer algo. – falei impaciente – Sem falar que eu também já estou com outra pessoa.
– Como é que é? – um tom de raiva tomou conta de usa voz – Como você... Com quem você...
– Olha, nem venha com sermões para cima de mim. – o cortei – Eu posso até ter errado, mas você errou antes e me deu motivos para fazer isso. – bufei – Já cansei dessa conversa.
Dito isso, eu dei meia volta e saí do quarto, deixando um Robert vermelho e indignado para trás.

– Fico feliz que você tenha vindo. – ouvi a voz de Draco surgir atrás de mim, no momento que chegara ao local da sala precisa.
– Você fala como se não soubesse que eu viria. – virei-me para fitá-lo, erguendo uma das sobrancelhas.
– Bom... – ele hesitou – Melhor entrarmos na sala, antes que alguém nos pegue aqui.
No momento que ele falou isso, uma grande porta surgiu na parede vazia do corredor. Atrás dela estava a mesma aconchegante sala da noite passada e um sorriso tomou conta dos meus lábios ao lembrar de tudo que acontecera ali.
Senti suas mãos me tocarem a cintura por trás e seus lábios tocarem levemente meu pescoço. Dei meia volta, ficando de frente para ele e apoiei minhas mãos em seus ombros, ficando na ponta dos pés para alcançar seus lábios em então beijá-lo.
Era incrível a necessidade que sentia de Draco; era algo que parecia crescer cada vez mais, a medida de que nos aproximávamos um do outro. Completamente insano e sem sentido.
Ele partiu o beijo, depositando um selinho sobre meus lábios em seguida, e falou:
– Eu tenho uma coisa para você.
– O que? – perguntei, unindo as sobrancelhas em sinal de dúvida.
– Isso. – ele tirou um pequeno embrulho feito em papel de seda e o abriu, revelando o anel de cobra que havia jogado fora no início do ano.
– Mas como...?
– Eu o encontrei jogado na neve, próximo ao Lago Negro, no dia em que você o jogou fora, e decidi guardar.
– Como você sabia que eu tinha jogado ele fora e onde eu o jogara? – perguntei, franzindo o cenho.
– Eu não sabia... – falou, sentando-se no sofá – Eu apenas o encontrei por acaso e guardei.
– E como você pode ter certeza que o encontrou no dia em que o joguei fora? E você não deveria ter ficado chateado com isso? E...
– Bom, - ele me interrompeu – digamos que eu apenas sei das coisas, e sei que você meio que teve um motivo para se desfazer do anel.
– Draco... – sentei-me ao lado dele, que me acompanhava com o olhar – Eu também sinto essas coisas, sabe... De saber como você se sente, mesmo sem me falar nada... Às vezes parece que eu não estou sentindo meus próprios sentimentos, mas de outra pessoa... No caso os seus... Eu tenho sonhos estranhos... – suspirei – Você sabe o que é isso, não sabe?
– Vamos conversar sobre isso outra hora, tá bem? – ele pediu e eu assenti, derrotada – Me dê sua mão.
Estendi minha mão, assim como ele pedira, e ele colocou o anel em um dos meus dedos.
Ele sorriu sem mostrar os dentes e ergueu minha mão até a altura de seus lábios, dando um beijo sobre a superfície da mesma. Sorri e o abracei, encontrando todo o conforto que eu podia desejar no encaixe de nossos corpos.

Uma quinzena havia se passado desde meu término com Robert e muita coisa, desde então, havia mudado. Robert assumira apenas três dias depois seu romance com a lufana, tornando nosso término e sua nova namorada o assunto mais comentado da semana. Meus amigos, em especial Gina e Hermione, ficaram preocupados com minha reação diante disso, mas a verdade é que, desde que entrara em Hogwarts, eu nunca me sentira tão bem na vida.
Eu e Draco nos encontrávamos todas as noites, em segredo, na sala precisa e estávamos adquirindo uma proximidade que nunca tivera com ninguém. Ele me entendia como ninguém conseguia, assim como eu a ele, e, por mais que nós tivéssemos nossos segredos– mais ele do que eu, para falar a verdade – nós meio que compreendíamos o que se passava pela cabeça um do outro e sempre deixávamos o assunto de lado, sem maiores complicações.
Porém, as coisas não estavam melhorando apenas para mim. Gina e Harry também estavam cada vez mais próximos, principalmente após a saída de Dino do time de quadribol, devido à volta de Cátia. Ela me dizia que eles sempre passavam um tempo juntos, conversando e rindo, principalmente nas voltas dos treinos. Por mais que ele não tomasse nenhuma iniciativa maior, segundo ela, aquilo já dava maior segurança para que ela mesmo pudesse agir futuramente, o que bastava.
Já era noite e eu estava junto com Gina e Hermione na sala comunal, sentada no sofá que ficava de frente para a lareira. Gina contava sobre o que acontecera na sua última aula de Transfiguração, onde um menino da Corvinal, sem querer, acabou se transformando em um pato, quando, do nada, eu senti uma dor dilacerante atingir meu peito. Meu corpo, mole, caiu sobre o sofá e eu fechei os olhos, sem saber como reagir diante de tanta dor.
– Nat! O que houve? Tá tudo bem? Nat, fala comigo! – Hermione dizia próxima a mim, mas eu não conseguia abrir os olhos devido à dor.
– Você acha que deveríamos levá-la a ala hospitalar? – ouvi Gina dizer.
– Não... Eu... – respirei fundo e a dor começou a diminuir – Já está passando.
– Tem certeza? – indagou Hermione, receosa.
– Sim... Eu vou ficar bem. – ajeitei-me sobre o sofá, voltando a ficar sentada e elas voltaram aos seus lugares, ainda com os olhares preocupados sobre mim.
Então, do nada, uma figura passou correndo pela sala comunal, completamente encharcada, seguindo para o dormitório masculino.
– Era o Harry? – Hermione perguntou intrigada.
– Creio que sim. – Gina respondeu, no mesmo estado que a garota.
No instante seguinte, a mesma figura voltou à sala comunal e logo saiu correndo. De fato, era Harry, e ele estava encharcado com água e... Sangue. Instantaneamente uma imagem de Draco caído sobre uma poça de água e sangue, completamente ferido, se formou em minha cabeça.
Balancei a cabeça, em negação, espantando a imagem de minha mente e pedi para que Gina prosseguisse com sua história, a fim de me distrair um pouco. Porém, minutos depois, uma quintanista apareceu na sala comunal para contar as “novidades”. Aparentemente, Murta-Que-Geme havia espalhado para toda Hogwarts que Draco havia sido atacado por Harry no banheiro, confirmando o que eu tanto temia ter acontecido.
– Eu aposto que isso tem a ver com aquele livro do Príncipe Mestiço. – falou Hermione com um tom de irritação e, ao mesmo tempo, preocupação em sua voz – Eu falei para ele não usá-lo! - Talvez não tenha sido... – Gina começou uma tentativa de defender Harry, porém o olhar cortante que Hermione lhe lançou a impediu.
– Harry deve estar numa baita encrenca... – falei, por mais que a única pessoa que ocupasse minha cabeça no momento fosse Draco.
– De fato. – Hermione suspirou e eu reparei no quanto Gina estava aflita.
– Eu vou... Resolver uma coisa... – falei, levantando do sofá, sem sentir tanta dor como antes.
– Resolver o que? – perguntou Hermione com tom de suspeita.
– Depois eu explico.
E então saí da sala comunal.

Assim que entrei na Ala Hospitalar, Madame Pomfrey me abordou.
– Posso ajudá-la em alguma coisa? – perguntou.
– Eu... Eu poderia ver Draco Malfoy, Madame Pomfrey? – perguntei insegura.
Ela analisou meu uniforme, reparando na gravata da Grifinória e franziu o cenho, provavelmente se perguntando o por que de uma grifinória estar visitando o Malfoy. Principalmente quando a mesma é uma nascida trouxa.
– Tenho que... A professora McGonagall pediu para que eu desse um recado a ele, já que eu estava indo a biblioteca e a ala hospitalar fica no mesmo andar. – disparei a primeira mentira que se formara na minha mente.
– Está bem. – falou, parecendo convencida – Mas seja breve. O sr. Malfoy precisa de descanso.
– Está certo. Obrigada, Madame Pomfrey.
Aproximei-me da cama de Draco, que era a única ocupada, além de uma no outro canto da sala, onde se encontrava um menino primeiranista, que eu acreditava ser da Grifinória.
– Oi... – falei baixinho, para que só ele ouvisse, enquanto fazia um breve carinho em seu rosto.
– Nat… - falou sorrindo – Está tudo bem?
– Eu que devia estar perguntando isso, não acha? – ri baixo – Está doendo muito? – passei a mão de leve por seu peito e ele fez uma careta.
– Não muito. – deu de ombros – A notícia já se espalhou?
– Murta-Que-Geme fez questão de contar para todos. – falei – Mas mais cedo ou mais tarde todos iriam acabar descobrindo de qualquer forma.
– Se não fosse o maldito do Potter...
– Ele é meu amigo, Draco. – o interrompi e ele revirou os olhos.
– Mas se não fosse por ele, eu não estaria aqui.
– Tenho certeza de que ele não fez por mal.
– Claro que não. Ele só quase me matou sem querer. – falou debochado – Faz muito sentido.
– Não quero discutir sobre isso.
– Está bem... Desculpe. – ele pegou minha mão e a acariciou, fazendo com que eu sorrisse.
– Draco... – comecei - Algo estranho aconteceu no momento que... Você foi ferido.
Ele suspirou, ajeitando-se sobre a cama, esperando que eu prosseguisse.
– Eu não tenho certeza absoluta se foi no momento exato, mas... Eu senti uma dor dilacerante no meu peito, exatamente no local onde você foi ferido e... No momento em que eu vi Harry todo encharcado e ensanguentado na sala comunal, eu tive certeza do que havia acontecido e... – suspirei nervosa - São tantas coisas estranhas Draco, que eu sei que você pode me explicar.
– É complicado, Natalia. – ele falou e, pela sua cara, eu pude perceber que ele não queria continuar o assunto.
– Mas eu tenho o direito de saber, você não acha?
– É... Creio que sim. – ele suspirou, derrotado – Eu descobri isso apenas no ano passado, mas eu já sabia que existia algo estranho entre nós, uma espécie de ligação. – assenti, pedindo para que ele continuasse – E então, lendo um livro antigo que encontrara na biblioteca de minha casa, eu descobri sobre Periculum Siderea.
– E o que é isso? – perguntei ansiosa.
– É uma ligação mágica muito rara que pode existir entre dois bruxos. Tão rara que, entre dois bilhões de bruxos, as chances de esta ligação acontecer entre dois deles é mínima.
– Mas aconteceu entre nós dois. – afirmei, olhando para ele.
– Sim, aconteceu. – ele confirmou – A partir do momento em que nós nos vimos pela primeira vez, na escadaria, em direção ao Salão Principal. – ele sorriu – Você estava tremendo de medo e eu todo presunçoso.
– Eu lembro que fiquei toda apaixonada por você naquele dia... E então por mais três anos... E depois comecei a te odiar. – confessei, rindo baixo.
– E hoje você está comigo. - ele segurou minha mão com mais força.
– Mas então... Todos os sonhos, todas as suposições estranhas... Tudo acontece devido a essa ligação.
– Em grande maioria, creio que sim. Pelo o que eu li, esse é um meio que nós temos de compartilhar coisas que sentimos necessidade, mas não sabemos como... – explicou - E também, com um pouco de prática, você aprende a manipular os sonhos...
– Como aquele no qual você conversa comigo, na sala precisa, com aquele móvel estranho. – falei e ele assentiu – Então você realmente é um... – deixei a frase solta no ar e ele desviou seu olhar do meu. Foi então que eu tive a plena certeza de que as suspeitas de Harry esse tempo todo estavam corretas. Draco era, de fato, um comensal da morte.
Mordi meu lábio inferior, sem saber direito como agir, e coloquei minha mão em seu rosto, virando-o para mim.
– Eu não vou te deixar por isso. Você sabe, não é? – ele assentiu com um sorriso fraco nos lábios.
– Nat… Isso tudo é muito perigoso.
– Eu sei, mas eu não me importo. – disse sincera.
– Não só isso... Eu quero dizer, a ligação... – ele passou a mão na testa, puxando seu cabelo para trás – Ela é perigosa. Quanto mais próximo ficamos um do outro, mais forte ela fica, por isso você sentiu a dor que eu senti a ser ferido... Porque eu não soube controlar e... Pode ficar pior... – falou com a voz tomada em desespero – Por isso eu sempre me mantive o mais longe que pude de você.
– Não importa, Draco. – disse, pegando uma de suas mãos e segurando entre as minhas – O que importa agora é que estamos juntos e vamos continuar assim. Não importa o que aconteça, está bem?
Ele assentiu, porém seu olhar ainda denunciava o desespero que sentia.
– Srt.ª Walker? – ouvi Madame Pomfrey me chamar e logo me afastei de Draco – Tem outra pessoa querendo ver o Sr. Malfoy. Já deu o recado que precisava?
– Sim, Madame Pomfrey. Já estava de saída. – falei – Adeus, Malfoy. Melhoras. – disse e Draco me lançou um olhar de desdém, devido ao fato de estarmos na presença de outra pessoa.
Saí da Ala Hospitalar, cruzando com Pansy Parkinson na saída da mesma, e segui para a sala comunal.
Tudo o que acabara de descobrir através de Draco, apesar de complicado e até mesmo estranho, havia feito com que eu me sentisse aliviada. Afinal, eu não era louca. Tinha uma razão para eu saber tanto, mesmo que eu não entendesse como. Podia ser algo perigoso, como ele dissera? Podia. Porém aquela ligação era apenas mais uma prova de que eu e Draco havíamos nascido um para o outro e isso, no momento, era o suficiente para mim.


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