Essa moça NÃO sou eu escrita por Khunnie


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem, com a Pikenna, tinha pensado em escrever uma história resposta à texto do meu melhor amigo, DrLecter. Respondi uma forma bastante pessoal, não generalizei as mulheres, mas acredito que tenhamos alguns pensamentos em comum. Espero que gostem.



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Prezado Pretendente Hipotético,

Venho com todo o gosto responder o mais rápido possível à sua querida e extensa carta. Posso afirmar prontamente que me diverti a lê-la, mas não me identifico com nenhuma dessas características que erradamente me atribuiu. Também não me vejo como uma pessoa que glorifica mentiras, tirando aquelas que brinco com a balança pelo menos uma vez por semana e digo a mim mesma: "estás óptima, a balança é que está estragada!". Primeiramente, meta uma coisa na cabeça, mulheres são seres sedutores e muitos sentimentais.

Sim, no final terá sempre a culpa, mas isso é porque estamos geneticamente programadas para no final da relação nunca pensarmos que somos o problema. E aposto que o mesmo se passa no lado masculino, quantas vezes ouvimos a desculpa dos nossos amigos homens (gays ou não, não há cá dessas gayzices de diferenciar tendências) que dizem “ela era muito sentimental” ou “não queria estar comigo”. Por isso, não comece já a decidir o que digo ou faço baseando-se em antigas relações, assim como eu não o vou achar um perfeito inútil e homem ogre, como os outros homens das minhas relações foram. Francamente se fossemos por aí nós nunca nos acharíamos pretendentes. E não veríamos um possível relacionamento.

Óptimo que não pense. Também não estou o tempo todo com a sua pessoa na minha cabeça. Trabalho, família, compras e o que vou fazer para o jantar estão na lista também. Além disso preciso de pensar se paguei todas as facturas da luz, gás e água. Pois sei que não posso contar com essas coisas da sua parte. Mas não faz mal, cada um tem a sua parte numa relação e esta é a minha.

Mas não fique triste ou preocupado, achando que não o mantenho no pensamento. Quando estou na fila do banco, a caminho da mercearia e enquanto passo nos corredores de enlatados. Até mesmo no transportes públicos, a sua imagem vem-me ao pensamento e dou por mim a sorrir como tola, a imaginar se estará tudo bem consigo e se devo ou não envia-lo uma mensagem obscena com códigos que só nós os dois percebemos. Tenho até dias que gostaria de ligar, mas, as suas reuniões e a minha chefe mandona não o deixam e espero depois quando chegar a casa fazer algo muito divertido para os dois.

Sim, já percebi esse sono de pedra. Quantas vezes os carros dos vizinhos entraram em perfeita festa de buzinas e apitos e a única coisa que fez foi virar-se para o outro lado e continuar com esse ressonar que não lembra a ninguém. Eu ao contrário tenho o sono bem leve, foi programado em nós, mulheres, esse sono dos Infernos, porque haverá um dia em que pequenas criaturas necessitarão da nossa preocupação a altas horas da madrugada e só nos têm a nós, progenitoras donas do leite materno, para assegurem as suas necessidades alimentares.

Não, não precisa ser mais uma das coisas que me acorda na madrugada simplesmente para me cuspir palavras incoerentes. Já que sabemos que tenho dificuldades em dormir, não vejo o propósito de me privar de mais uns minutos de sono. Já não basta os vizinhos do primeiro andar de cima e os cães da vizinha do lado. Não vejo o que há de romântico nisso, deixe esse amor para de manhã, com um pequeno almoço na cama que eu prometo recompensa-lo com algo muito mais interessante por baixo dos lençóis.

Técnica de esbarrar só funciona em comédias românticas, onde todas as personagens foram criadas para não sentir dor e sorrirem sempre que acontece. Se nos conhecermos porque alguém bateu em alguém será numa esquadra onde você levou a amiga que decidiu agredir-me porque peguei no par de sapatos que ela queria.

Eu sei que sou distraída, é um facto da vida, a minha mente divaga para muitos mundos e estou sempre a pensar em ideias para o meu futuro hipotético livro – que se torna cada vez mais incerto – e como quero que ele comece e termine. Olho muitas vezes para o céu, gosto da cor e amo encontrar nuvens com formas e que me fazem pensar em objectos, animais e pessoas. Sim, eu sou esse tipo de especial. Não espero que use esse ponto para esbarrar em mim e sorrir de forma sedutora. Irei sorrir de volta e continuarei a minha vida achando-o um perfeito retardado e como a minha blusa ficou suja com o café frio que levava na mão. Não, não teria uma boa impressão sua.

Aborde-me de uma maneira menos corrosiva, sofisticada e amiga da minha roupa.


Eu compreendo e não compreendo o sagrado do futebol. Irei esperá-lo nas noites de jogo, quando sair com a cara pintada e bandeira às costas. Até irei me oferecer para lhe pintar a cara – coisa de mulheres. Sabemos muito bem aplicar tintas na cara, não é verdade? –. Prometo não resmungar quando quiser ver o jogo pela televisão. Foi exactamente por isso que decorei a casa com prateleiras e as enchi de livros e mais livros. Além disso gasto dinheiro com a internet, mais vale dar-lhe uso. Só para ver o quão boa namorada só além de lhe ceder a televisão faço o favor de, depois de sair do trabalho, passar pela mercearia e comprar uma grade de cerveja e sacos de aperitivos. Deixar algumas na geladeira e arranjar tudo na mesa da sala de estar.

Não sendo apreciadora de futebol, já que são vinte e dois homens suados atrás de uma bola, não teremos zangas sobre se a sua ou a minha equipa ganha. Ficarei alegre porque está alegre da sua equipa ter ganho e beberei consigo um copo de whisky quando a equipa perder. – Como eu não resisto a um bom copo de álcool.

Não quero que me acompanhe nas idas do shopping – a não ser que seja para um jantar com a sua mãe, aí preciso da opinião do filho querido da mamã – é o tempo que uso para estar com amigas e falarmos de como as nossas vidas, que não estão como sonhamos que estariam. Além disso sei o quão desagradável isso pode ser para si, (Sentimentos meus para com o futebol). Para que me serve obrigá-lo a ir a um local onde sei que vai sentir-se um estranho? Não sou estúpida, querido.

Também gosto de comprar uma coisa nova, levá-la para casa e no dia seguinte vestir-me e ouvi-lo perguntar “Foi o que compraste ontem? Fica-te lindamente” e ter o prazer de responder “Não, esta já é antiga.” e sorrir triunfante enquanto vejo a sua cara de “oh meu Deus, o que fui eu fazer!” e sair sorrateiramente para sala porque não consigo controlar o riso.

Quero saber também quem lhe disse que não olho para o preço primeiro. Volto a repetir, pare de me descrever baseando-se em clichés e superstições. E, não espero que financie a minha roupa assim como espero que não pense que lhe irei financiar as idas aos estádios – a não ser para o seu aniversário ou uma data importante.

Posso também sugerir que não façamos aquela coisa estúpida do aniversário de um mês, três ou seis? É aniversário, está escrito na palavra que é uma coisa anual e não mensal.

Por favor, eu corto o cabelo em casa. Arranjo as unhas e pinto-as enquanto está a dormir no sofá depois daquele filme de acção super não interessante que passou a ver a tarde toda – e não diga que era fascinante, a prova do contrário está no seu ronco que se espalha comodamente pela casa inteira. O culto da vida Alheia como bem o chama é na verdade uma troca básica de informações no bar enquanto esperamos pela nossa mesa para jantar, naquele restaurante caro onde nos encontramos uma vez por mês – até é mais de dois em dois meses, não tenho como financiar essas despesas.

Não irei liberar os Domingos. Quero esse dia para com a família. Almoçar em casa dos seus pais ou na casa dos meus. Ouvir a minha sogra reclamar por netinhos, ouvir a minha cunhada queixar-se de como os filhos dela a deixam sem tempo. Ver o seu cunhado tentar-se meter nas nossas conversas porque tem medo do sogro, que já gastou a paciência toda com o inculto do genro e não consegue um tema de conversa interessante. Vê-lo passar tempo com o pai, contarem as novidades e conversarem sobre possíveis netinhos hipotéticos.

Ou quando almoçamos em casa dos meus pais, e vejo-o a falar casualmente com o meu pai enquanto grelham os hambúrguers no quintal. A minha mãe pergunta-me quando é o nosso casamento e como estão os seus pais. As minhas sobrinhas mostram-me os seus trabalhos da escola e o meu irmão dá-me um pequeno beijo na testa e vai acompanhar-vos.

Não abdico desses momentos por nada. Terá a parte fim da tarde e noite de Domingo para passar com os amigos no jogos e na Sagrada Cerveja. Até mesmo as sextas depois de jantar.

Espero então poder ter os sábados só para nós. Uma caminhada, um passeio por algum lugar bonito. Visitar museus – sabe bem como eu amo essas coisa; ou passar um dia inteiro em casa na cama com brincadeiras de adultos. Talvez, à noite, um bom banho de imersão para mais um rodada de brincadeiras. Antes ou depois de um bom jantar de pizza encomendada ou macarrão instantâneo de quatro queijos – como eu amo queijo.

Prometo não embirrar com o idiota do seu amigo que passa o tempo todo a assediar-me como se estivesse bêbado ou aquele que faz comentários impróprios com a minha roupa. Espero que os repreenda quando não estiver por perto. Mantenha a dignidade da sua mais que tudo. Assim como o defenderei se o amigo gay quiser resmungar do cabelo, se o fizer será só para mim, vocês não são íntimos para esse tipo de confiança. Fique então registado se algo assim acontecer, irei mandá-lo passear, o seu corte de cabelo está bom para mim, porque faz parte do meu mais que tudo.

Eu sei que não é perfeito. Mas eu não procuro a perfeição. Só em livros de ficção. Não posso exigir de si um príncipe de livros já que nem eu sou digna de perfeição. Sou emocional, tola, distraída, e esqueço das coisas facilmente. Mas isso não me impede de amá-lo, de tentar compreende-lo, ajudá-lo e estar lá para quando necessitar. Acordá-lo nos Domingos com um beijo carinhoso e esperar que regresse do trabalho e preparar um jantar digno de nada. Não necessito de rosas todos os dias, flores ou bombons, não preciso que me ligue todos os santos minutos, que me acorde durante a madrugada. Preciso apenas de saber que estará lá quando precisar, saberá (com o tempo) dizer-me a palavra certa quando estiver triste. Encomendar a pizza no dia em que me vir chorar com um livro na mão, sabe bem como não consigo cozinhar de pois de ler um bom livro trágico – é, mulheres.

É tudo, se espera que faça birrinhas, que desate a chorar porque não me comprou rosas ou porque ainda não me ofereceu O anel, está muito enganado – Essa moça não sou eu.

Atenciosamente,
Sua Pretendente Hipotética.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ;)



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