– Bom, acho melhor vocês irem se lavar. - Natalie diz, passando a mão no cabelo loiro. - O jantar vai sair daqui a pouco.

No meu quarto tem outro chuveiro, dessa vez maior e mais elaborado, um painel abarrotado de funções está ao lado do aparelho. Um botão escrito " Viagem ao Paraiso" me chama atenção. Aperto e imediatamente sou inundada com uma água de temperatura perfeita, sais de varias cores são despejados na banheira e uma espuma fosforescente se forma. Tenho que admitir que a sensação é maravilhosa.

Termino o banho e visto uma roupa que está em cima da cama. Ao sair do quarto vejo uma pessoa ao lado da porta esperando para entrar. Um empregado com certeza.

– Aaah oi! - Digo. - ahm desculpe pela bagunça, eu me empolguei com o banho. Você sabe me dizer se o Filipe já saiu do quarto? - Ele não responde, apenas continua lá fintando -me, claramente desconfortável. - Oiii! eu fiz uma pergunta. - Insisto perdendo a paciência, não gosto de ser ignorada. - Você pode me responder por favor?

– Ele não vai falar Melanie. - Diz Brandon, ele faz um sinal para o garoto que entra no quarto. - É um avox.

– Um o quê? - Pergunto.

– Avox. São escravos da Capital, presos por alguma coisa que fizeram.

– Tá e por que não falam?

– Além de trabalharem até a morte para Capital, eles tiveram suas línguas cortadas como punição e é estritamente proibido conversar com eles. Nos dirigimos somente para dar ordens. Entendeu? - O meu espanto deve ter ficado bem visível, pois Brandon perguntou se eu estava bem. Eu não estava, línguas cortadas? Isso é perturbador, mas eu digo que sim e juntos seguimos para a sala de jantar.

Me sento ao lado de Filipe ainda horrorizada, ele me dá um beijo e sorri para mim. Comemos lentamente, enquanto Cornélia tagarela o quanto nos fizemos sucesso hoje na apresentação ela, Verne e Marlicia a estilista de Filipe estão empolgadíssimos com uma festa que vai ter mais tarde.

– Amanha começa o treino de vocês. - Diz Natalie depois de um tempo. - E a primeira dica que eu tenho á dar é... Não mostrem suas habilidades.

– Como assim não mostrar nossas habilidades? - Pergunta Filipe surpreso. " Como assim habilidades?" Penso em desespero. Os tributos de alguns Distritos apresentam habilidades com armas muito características. 2 Picaretas.; 4 Tridentes;7 Machados, entre outras armas com o qual eles se dão bem. No Distrito 8 que é têxtil, o mais próximo que chegamos de uma arma é a agulha da maquina. - Achei que devíamos mostrar nossas habilidades ao máximo, para conquistar patrocinadores. - Continua ele.

– Exatamente. Para os patrocinadores, não para os tributos. O elemento surpresa é uma dadiva Filipe, se você mostrar tudo que tem agora, vai lhes dar tempo de observar e descobrir uma fraqueza. Embora todos já saibam a sua. - Os olhos de Natalie caem sobre mim, e sinto minhas bochechas corarem. - Todos acham que você é um forte candidato Filipe, mas sabem que você vai baixar á guarda para proteger a Melanie.....

– Natalie. - Cornélia a interrompe. - Mas que falta de tato.

– Não tem problema Cornélia. - Diz Filipe e pega na minha mão. - Não mostrar nossas habilidades, já saquei, além disso mais algum conselho?

– Sim, não ignorem os estandes de sobrevivência, eles são extremamente importantes. Ok?

Acordo e Filipe esta ao meu lado, ele dorme tranquilamente. Já eu não dormi direito, as palavras de Natalie recaíram sobre mim com a força de um meteoro "Todos acham que você é um forte candidato Filipe, mas sabem que você vai baixar á guarda para proteger a Melanie". Batidas na porta me trazem de volta ao presente. Cornélia novamente viera nos acordar e dessa vez sua reação ao ver Filipe na cama, foi apenas revirar os olhos. " Vocês descem para o treinamento em 15 minutos, não se atrasem". Acordo Filipe e seguimos para a sala de estar, uma mesa cheia de guloseimas esta a nossa espera, mas antes que qualquer um de nós possa se aproximar, Cornélia diz:

– Nem pensem nisso, eu disse 15 minutos, já se passaram quase 30. Vocês estão atrasadíssimos, podem descendo.

Bufamos em desagrado rumando para o elevador, Filipe consegue pegar dois pãezinhos que comemos no caminho enquanto Brandon nos da mais conselhos:

– Observem os Carreiristas com muita atenção, mas não foquem só neles, na maioria das vezes quando um tributo de um Distrito fraco vence é porque ele é subestimado. Não cometam esse erro.

Descemos do elevador e todos os tributos já estão a espera.

– Bom agora que os pombinhos finalmente chegaram, podemos começar. - A mulher que diz isso se chama Lavignea e é estranhamente forte e comum, ela era mais parecida com os brutamontes do dois do que alguém da Capital, mas seu sotaque esganiçado não enganava ninguém. - Devo lhes apresentar um relógio 8? -

– Desculpe! é que nós.... - Começa Filipe, mas é rapidamente interrompido.

– Não importa o que houve. - Lavignea tem os olhos gelados e intimidadores.- Que não se repita. Não esperaremos por vocês de novo.

Ela começa um discurso sobre as regras do Jogo, as nossas restrições e obrigações. Depois de uns minutos eu simplesmente parei de prestar atenção, observei os tributos, e nem um deles me surpreendeu tanto, era basicamente a mesma coisa do ano passado. Carreiristas e seu olhar cruel e o resto. Os únicos que continuavam a me intrigar era Ravina e Sam. Eles eram tão jovens, mas ao mesmo tempo pareciam tão perigosos. Mas seguindo o conselho de Brandon presto mais atenção. Bom! Os primos do 11 pareciam bem perigosos.

Lavignea para de falar e eu só sei disso porque sinto Filipe me puxar. Pelo visto á três atividades obrigatórias. Agilidade, arma e força. Bom, eu não sou lá muito resistente embora aguente baixas temperaturas e um tempinho de barriga vazia, corro mais rápido do que a média o que é uma vantagem. Nunca peguei em uma arma na vida e até que sou forte para o meu tamanho. Lá no Distrito eu era conhecida como alguém. hãm... " Briguenta" na verdade eu só me considero impaciente. No corpo a corpo até que levo jeito. Lembro de ter quebrado o nariz de Bridget Tannier com um único soco. Sorrio com a lembrança.

As provas obrigatórias vão ser divididas nos três dias de treinamento. Sendo o primeiro dia Agilidade. Nos agrupamos em duas fileiras, feminina e masculina. Cat do 1 é a primeira, a prova é basicamente uma corrida de obstáculos, onde tínhamos que correr entre pneus, se equilibrar em um tablado fino de madeira, subi uma parede de escalada, nos balançar em umas cordas e pular um rio simulado cheio de piranhas. Isso tudo no menor tempo possível. O mínimo erro em qualquer uma das etapas e "Morte Certa" e fim da prova.

Quando disse que além de sua beleza hipnotizante Cat não tinha qualquer outro talento visível... Bem pode se dizer que eu estava vendo agora. Ela realizou a prova com uma destreza conflitante e acabou com apenas 1 minuto e 2 segundos. Maldita! Logo em seguida foi Torin que também foi surpreendente com um tempo de 49 segundos. Idiota! Me perguntei se algum dia nessa vida miserável ele fizera outra coisa a não ser treinar. Vania a rinoceronte, foi bem, mas se atrapalhou um pouco na hora das cordas, devia ser porque ela era grande demais, o peso atrapalhou. Ninguém esperava muito de Sam que calou a boca de todos com seu 54 segundos. A perna de Blaster realmente o atrapalhou e ele não passou dos pneus. A garota do 4, eu ainda não sabia seu nome. Ravina do 5, a voluntaria inesperada, que cartas ela tinha na manga? Seja lá qual for, eram boas pois ela terminou a prova com 46 segundos, o queixo de todos caindo novamente. Tirando Torin que mantinha os punhos cerrados. Infelizmente Pablo já estava no fim da sua prova, e eu seria próxima. Minhas mãos estavam suadas, e eu as limpei na calça, torcendo que meu nervosismo não estivesse tão obvio no meu rosto. Ele terminou com 1 minuto e 45 e Lavignea fez um sinal para que eu seguisse. Filipe sussurrou um " Você consegue" e com isso eu fui. A prova não era nem de longe fácil. Passo facilmente entre os pneus, mas quando se trata de equilíbrio eu sou um caos, devo ter perdido uns 20 segundos naquele tablado. A escalada é definitivamente o mais fácil da prova. Finalmente consigo me balançar e cair de joelho do outro lado do rio simulado. Bufo, indignada com meu tempo. 1 minuto e 12 sério? Filipe me abraça dizendo que eu fui maravilhosa e tal. Ele termina a prova com 57 segundos e fico um pouco enciumada, o que é estranho já que não estamos competindo. O resto segue numa média de 1 minuto e 30 a 2 minutos e 10. Proeza de Selaena, a garota do 12.

– Então.. - Começa Lavignea. - Está bem equilibrado, até que vocês não foram tão mal, pelo menos todos vocês. - Ela olha para Selaena e arqueia a sobrancelha. - Porém Ravina se mostrou a mais preparada quando se trata de Agilidade. Parabéns. - Torin bufa e revira os olhos. - Vocês estão livres para conhecerem os outros Stands de treinamento.

Rumo diretamente para o Stand de sobrevivência, obedecendo o conselho de Natalie. Filipe vem em meu encalço, mas logo percebo que aprender a fazer fogo não é algo que interesse muito a ele.

– O que foi? - Pergunto tocando sua mão.

– O que? Aaah nada.

– Você não para de olhar para aquelas armas.

– Aaah é que eu queria... sabe treinar um pouco. Tem um tempo que eu não pego em uma arma de combate. - Filipe tinha meio que um mini centro de treinamento em sua casa, eu sabia disso, onde ele treinava, caso algum dia... ele se apaixonasse loucamente por uma pobretona maluca que tinha o seu nome 38 vezes na cúpula da colheita e ele decidisse se voluntariar para protege- la. A culpa cai sobre mim de novo e mordo os lábios.

– Vai lá então.

– E deixar você aqui? - Ele me olha já negando. - Nem pensar.

– Pelo amor de Deus Filipe, não vai acontecer nada. Vai logo. - Ele reluta sem sair do lugar. - Vai, eu vou ficar bem. - Sorrio encorajando -o.

– Ok. - Ele me beija novamente e entra na fila das armas.

Uns 20 minutos se passam e eu estou no Stand de camuflagem, tentando sem sucesso me camuflar ao tronco de uma árvore. Filipe estava super concentrado em sua tarefa de atirar dardos.

– Você não é muito boa nisso, princesinha gelada. - Torin, ele ri ao lado de seu grupinho de carreiristas, eles já tinham se aliado como sempre. Sam estranhamente pequeno naquele grupo, mas igualmente mortal creio eu.

– Sabe Torin, eu não me lembro de ter pedido a sua opinião. - O sorriso irônico no meu rosto o deixou sem graça e ele levou uns segundos á mais para responder.

– Hum.. Ela arranha. Quem poderia imaginar! Eu achei que você só estivesse aqui para ser protegida, por seu príncipe. - Ele riu confiante.

Juro que a minha resposta seriam como facas nas costelas dele, mas antes que tivesse oportunidade de falar Filipe já estava entre nós.

– O que você quer com ela? - Pergunta ele com os dentes cerrados.

– Ai está ele, o Cavaleiro encantado. Você demorou em, eu até consegui trocar duas palavrinhas com ela. - O olhar de Torin era debochado e seu sorriso ainda mais.

– Tá tudo sobre controle Filipe. - Digo saindo de trás e me prostrando ao seu lado. Arg ele tinha que aparecer. Só para fazer verdade as palavras daquele idiota?

– É Filipe tá tudo sobre controle. - Torin continuou, o sorriso ainda em seus lábios. - Mas da próxima vez esteja mais alerta, não queremos que nada de ruin aconteça a Melzinha. - Ele estava prestes a dar uma rizada, mas eu não deixei que se concretizasse. Lancei meu punho com força na sua face, ele cambaleou para trás, e quando tirou a mão da boca viu que ela estava sangrando. Antes que ele pudesse ter qualquer reação Lavignea estava entre nós.

– Seus idiotas, vocês não leram as placas? É proibido atacar outro tributo

– Eu vou estripar você sua Vadia, e vou deixar o seu principezinho de merda olhando. - Torin estava enfurecido, com as mãos no lábio rasgado.

– Acho melhor te darem um lenço Torin, tá sujinho aqui. - Levo meu dedo ao exato lugar no meu rosto onde esta sangrando o de Torin, ele estremece com a afronta e tenta vir para cima de mim. Mas Lavignea ainda esta entre nós. Todo o salão parou para nos ver.

– Agora chega. - Grita ela. - É sério 8, essa é a sua segunda advertência, a terceira é punição. Está me ouvindo. - Assinto, estremecendo, com a mera ideia do que seria aquela punição. - Chega de treinamento por hoje. Todos para seus andares e você Torin vá até a enfermaria. - Torin rosna para mim, que apenas sorrio de volta.

– E então como foi lá? - Uma Cornélia exasperada nos espera ao lado do elevador.

– Normal. - Respondo dando de ombros e correndo para pegar uma maça. Filipe dá uma risadinha.

– Normal? A mel deu um soco no cara do 1.

– Um soco? - Cornélia repete horrorizada - Como assim?

– Aaah ele estava me irritando, só isso.. - Dou mais uma mordida na maça enquanto os olhos de Cornélia se arregalam ainda mais.

– Mas você não pode fazer isso, é proibido..

– Atacar outro tributo. - Termino a frase revirando os olhos. - Eu sei tá, Lavignea me disse, e também disse que se fizesse de novo ia receber uma punição.

– Duas advertências em um único dia? Essa é a minha garota. - Brandon vem em minha direção, a mão levantada, bato a minha na sua em um gesto cumplice. Cornélia resmunga indignada. - Vamos lá Nelie, ela arrasou.

– Onde está Natalie? - Filipe indaga e me dou conta da falta dela.

– Esta em uma reunião com outros Mentores. - Diz Brandon.

– E porque você não esta junto. - Pergunto.

– Aaah eu vou na próxima, não tem necessidade de nós dois lá. - Ele sorri para mim e eu correspondo. Gosto muito mais de Brandon do que de Natalie que sempre parece estar de mal humor.