A Inspiração escrita por RayaneParaguai


Capítulo 1
Mémorias


Notas iniciais do capítulo

Bom esse capitulo fala muito de quem é a Mel e de como é a vida dela no Distrito 8. Espero que gostem E por favor comentem, elogios são bem vindos e criticas também. Amo vocês Ray. ;)



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Eu não sei o porque disso ter acontecido. Talvez seja meu destino, talvez eu precise disso, ou talvez simplesmente a sorte que não esteja a meu favor. A verdade é que o porquê, não importa. Eu fui sorteada para lutar até a morte nos Jogos Vorazes, e pior, com ele. Eu não espero voltar, eu não quero voltar. Estou disposta á morrer para que ele sobreviva, e ele também fará o mesmo por mim.

Acordo exasperada, um pouco antes do sol nascer, mais um pingo cai na minha testa, e então me dou conta, está chovendo no distrito 8, o mais frio e chuvoso de Panem. O que não me incomodaria nem um pouco se não houvesse uma goteira bem em cima da minha cama, e se minha casa não fosse de madeira, uma das poucas ainda assim no Distrito. A maioria das pessoas moram em sufocantes e cinzentos apartamentos no centro da cidade, sorte minah mãe ter herdado essa pequena casa, mesmo com todos os defeitos ainda é melhor que morar em uma caixa de concreto. Levanto ecoloco um balde em baixo da goteira, deixando que o barulho de água batendo no metal me desperte. Sento perto da janela, esperando o tempo passar. Hoje é dia de colheita, e pela primeira vez na vida, essa não é minha maior preocupação, e sim um maldito casamento, que acontecera dali à 6 dias, exatamente o dia do meu aniversario. Irônico não? Provavelmente não. O casamento de Filipe Soyer e Anitta Fayle. Tinha que ser a garota que eu mais odeio na terra?

Fazia exatamente um ano que eu o conhecera. Tinha acabado de ocorrer a cerimonia da colheita, e graças ao céus,eu não havia sido sorteada e sim uma garota chamada Brianna Valle e Josh Talla. Não conhecia nem um dos dois. Ótimo! Não haveria muito sofrimento este ano. Como de costume segui em direção à uma grande árvore, em um canto afastado do distrito, para agradecer a quem quer que seja por não ter tido o azar de termeu nome retirado daquela bola de vidro. Lá estava ele, em cima da árvore, me observando, não reparei em sua presença, até que se mostrou.

– O que esta fazendo? - Perguntou de cima do galho.

– Que susto. - Exclamei levando as mãos ao peito. - Quem é você?

– Jura que não sabe? - Insinuou malicioso.

Mas eu sabia quem ele era, Filipe Soyer, filho do prefeito, e queridinho do Distrito. Com aqueles olhos amendoados, sempre tão arrogantes, com um ar tão superior. Tão detestável quanto todos na Capital.

– O que quer? - Perguntei irritada.

– Nada, só não estava a fim de ir para casa comemorar. - Deu de ombros.

– Não há o que comemorar Srº Filho Do Prefeito. - Meus punhos agora estavam cerrados, como ele podia ser tão arrogante, não percebia o que aconteceria aquelas pessoas daqui à alguns dias.

– Eu sei que não há. - Disse descendo da árvore e se postando à minha frente. - Só precisava ficar sozinho, é isso.

– Bom então eu já vou indo. - Disse virando- me. Nesse momento ele pegou no meu braço, despertando em mim uma sensação, que só pode ser caracterizada, como congelar todo o meu corpo

– Espera! - Disse ainda com a mão no meu braço. - Você é a Melanie né? Te vejo no colégio, quer dizer nos intervalos.

– Sim.- Puxei meu braço, e com um ar de indiferença perguntei.- E daí?

– Bem que me falaram que você é um tantoirritadinha. - Ele deu uma risada, que deixou o meu rosto normalmente pálido de frio, vermelho de raiva.

–Áh vai para o Inferno. - Praguejei, virando- me para ir embora. Ele ainda ria quando gritou.

– Até amanha.

Corri para casa jurando à mim mesma, que nunca mais olharia na cara daquele idiota, porém por incrível que pareça, no dia seguinte eu fui até a árvore no mesmo horário, e ele estava lá em cimadomesmo galho, me observando e no dia seguinte eu fui de novo, e de novo, e de novo até que encontra- ló ali debaixo daquela árvore se tornou parte da minha rotina.

Quando meu pai acordou o café já estava sobre a mesa, definitivamente não era muito, um chá pálido com umas poucas folhas de menta e um pão de grãos pela metade. Era o que havia sobrado das Tecerás desse ano, as Tecerás, um suprimento extra de grãos dado pela Capital para quenossas chances de morrer de fome diminuam, e as de morrer nos Jogos dobrem. Nunca vou entender a Capital.

– Bom dia meu bem. - Diz me pai dando um beijo na minha testa e sentando- se à mesa.

– Bom dia pai. - sorrio.

– Você não vai comer? - Pergunta ele olhando para o meu prato vazio. Enrubesço imediatamente.

– Ah! Na verdade eu já comi. - Digo com a cabeça abaixada. - É que estou acordada à algum tempo, e..

– Tudo bem querida, não tem problema.

Ele esta prestes a levar o pão à boca quando acontece. Minha barriga ronca e imediatamente me repreendo por isso. Sei exatamente o que ele vai fazer, ele sempre faz isso. As porções de comida na nossa casa são sempre muito pequenas, e raramente eu fico satisfeita. Passando o seu pequeno pedaço de pão para o meu prato, ele diz.

– Pode ficar, eu não estou com fome mesmo.

– Pai - digo empurrando o prato na sua direção. - Por favor não precisa. Eu já estou satisfeita.

– Coma querida. - Ele dá uma risadinha doce. - Eu vou levar esse pedaço para sua mãe.

Como o pão prometendo jamais me perdoar por isso.

Meus pais são as pessoas que mais admiro no mundo, os dois trabalham nas fábricas de roupas. Não há muito o que se fazer no Distrito 8, que é de Industrias Têxtil. Basicamente ou você trabalha nas fábricas, ou herda algum estabelecimento, ou morre de fome que é praticamente a mesma coisa que trabalhar nas fábricas. Meus pais são bem diferentes um do outro. Minha mãe tem longos cabelos ruivos e olhos de um azul tão brilhante que é até incomodo, enquanto meu pai tem cabelos negros e olhos castanhos, bem e eu sou uma mistura disso, meu cabelo é de um tom praticamente indecifrável, um castanho alaranjado ou algo do tipo, à verdade é que eu não faço a mínima ideia. Meu pai costuma dizer que eu sou a coisa mais linda que ele já fez pelo mundo. Para ser sincera, eu sou tão bonita quanto qualquer outro morto de fome do Distrito 8. Cabelos daquele jeito que já mencionei, olhos castanhos arroxeados, e magra, até de mais na minha opinião.

Fui até o quarto de meus pais onde os encontrei dando um beijo terno, sorri com a cena, em uma vida tão cheia de tristeza as demonstrações de amor são muito valorizadas. Todo ano algumas semanas antes da colheita, desde que eu tinha doze anos, minha mãe cai de cama em um estado que nossa curandeira classificou como tristeza profunda, Anandra a curandeira, diz que isso tudo é preocupação, medo que eu possa ser escolhida, e que logo passara após o sorteio. E é o que sempre acontece.

– Estou indo na Nancy, ok?- Digo ainda na porta.

– Tudo bem meu amor. - Minha mãe sorri. - Só não se atrase.

Saio pela porta em direção da casa da Nancy, que é três casas após a minha. Nancy nada mais é do que a minha melhor amiga no mundo, nos conhecemos desde sempre, e fazemos tudo juntas. Seu pai trabalhava na Fábrica junto com os meus, até que teve um acidente feio no trabalho em que sua mão direita foi decepada, isso vai fazer 2 anos, e o auxilio ferimento já havia acabado à 1 ano e 3 meses, sua mãe havia morrido em um parto complicado à 5 anos, quando a Nancy tinha apenas 10 anos e teve que tomar a dianteira da casa e se tornar mãe de sua irmã Angie.

– Uau! Sua cara está péssima. - Disse ela antes mesmo de eu parar em frente a sua porta onde ela colocava os sapatos. - Isso Tudo é por causa da colheita?

– Obrigada Nancy, você também está ótima. - respondi ironicamente. - Também, choveu hoje, minha cama, lembra-se?

– Ata! A goteira. - Ela me olhou de cima abaixo com a sobrancelha arqueada e olhar inquisidor. - E é só isso mesmo?

Nancy me conhecia muito bem, melhor do que eu mesma as vezes.

–SimNancy, é só isso.- Mudei rapidamente de assunto, pois não queria me aprofundar nesse papo. - E a Angie, como está?

– Levada como sempre, ela continua com aquela mania de imitar os outros, isso me irrita tanto. - Exclamou revirando os olhos.

Para ser sincera as manias da Angie não me incomodavam nem um pouco, pelo contrario eu até achava fofo, mas preferi não discutir. Caminhamos por um tempo, conversando sobre tudo. Já eraquase uma hora da tarde quando nos demos conta do tempo, saímos em disparada em direção a nossa rua, A colheita começa exatamente as 14:00 horas e qualquer atraso pode ser punido com pena de morte. Quando enfim chegamos, eu corri em direção a minha casa, mas antes de passar pela porta, ouvi Nancy dizer.

– Mel. - gritou correndo em minha direção. - Eu só queria te agradecer mais uma vez pelo o que você fez por mim, e por minha família, você foi uma verdadeira irmã, louca, mas irmã.

– E eu faria um milhão de vezes mais. - Disse sorrindo. - Boa sorte Nancy!

– Boa Sorte Mel! - Nos abraçamos.

Era meados de agosto, eu já estava sentada ao lado da Nancy, ouvindo ela chorar a mais de meia hora, o auxilio de seu pai já havia acabado à um tempo, e sem nem um renda extra era impossível sobreviver, ela tinha dobrado as Tecerás esse ano, o que dobrava a quantidade de papeizinhos com seu nome, 46 para ser exata, e mesmo assim já havia acabado a 3 dias, e eles não tinham mais nada para comer. Esse ano quando fui pegar as Tecerás, uma das representantes disse que eu tinha ganho um sorteio maluco, em que eu recebia minha porção extra sem precisar acrescentar nomes, ela disse que era umpresente daCapital, para provar seu amor por cada pessoa no Distrito,fiquei assustada com minha própria sorte, e voltei para casa radiante.

– Mel eu não sei mais o que fazer. - Disse Nancy fungando. - Eu já fui até as Fábricas e eles foram bem claros, eu só posso começar a trabalhar lá com 18 anos, ainda falta 2 anos, o que eu vou fazer até lá. A Angie está com fome, ela quase desmaiou ontem, eu estou desesperada.

– Você já tentou na cidade? Nem um comerciante? - Perguntei aflita.

– Ninguém, eles dizem que já tem seus funcionários. - Ela olhou pra mim com os olhos vermelhos, enxugou as lagrimas e disse com raiva na voz. - A minha única opção é o Trevor.

– Não Nancy, isso não. - Disse com os olhos arregalados. Trevor Maked era simplesmente a pessoa mais nojenta de todo o Distrito, era Pacificador chefe, e adorava estuprar as garotas da cidade, muitas garotas iam até o Trevor vender seu corpo por uma micharia só para não morrerem de fome, e se por acaso alguma delas engravidasseele as matava.

– Que outra escolha eu tenho.- Disse ela voltando a chorar. - É isso ou ver toda minha família morrer de fome.

– Eu vou dá um jeito, ok. - Segurei sua mão forte, olhando no fundo dos seu olhos.

– Que jeito? - Ela me olhou incrédula.

– Só me prometa que não vai procura- lo.

– Mas Mel..

– Prometa- me.

– Ok, eu prometo.

Corri em direção á cidade, deixando Nancy em sua casa, chegando lá a Fila para pegar Tecerás ainda era relativamente grande embora já houvesse 9 meses desde o inicio da distribuição, me postei no final, não se passaram nem 5 minutos quando os avistei ao longe, Anitta e Claudia vinham na frente, provavelmente falando mal da ralé do Distrito como sempre, Filipe vinha um pouco atrás sem prestar muita atenção no assunto. Quando eles passaram ao lado da fila, simplesmente virei de costas, não queria ter o desprazer de ser encarada por nem um deles.

– O que você está fazendo? - Filipe Soyer definitivamente adorava essa pergunta. Virei- me suspirando.

– Não é da sua conta. - Havia um tempo desde que nos falamos pela ultima vez. E ele ainda continuava me causando arrepios.

– Você vai pegar Tecerás? - Perguntou ele com os olhos arregalados.

– Não é da sua conta. - Repeti, ele ignorou.

– Achei que você já tinha pego as Tecerás, você não ganho um tal sorteio?

– Você não tem.... - Ele já estava gritando com os olhos cada vez mais arregalados.

– Eu não acredito nisso, eu não acredito em todos vocês, não importa o quanto tenham sempre será pouco, vendem seus filhos por uma porção de grãos, e venderiam de novo, como seu pai pode ser tão egoísta, você..

Minha mão virou tão forte em seu rosto que até ficou marcado, a essa altura todo mundo envolta já tinha parado para ouvir a briga, Claudia estava ao lado de Filipe com os olhos cerrados de ódio e Anitta já havia se postado ao lado de seu futuro esposo.

– Nunca mais. - Disse eu como que em um sussurro, só que todos podiam ouvir - Ouse falar qualquer coisa sobre o meu pai, ele é muito mais homem do que você jamais foi, filhinho da mamãe.

Caminhei para mesa de coleta, onde já tinha chego a minha vez, uma lagrima quente caia dos seu olhos quando ele disse.

– Por favor, não pegue as Tecerás. - Não ousei encara- ló,simplesmente posicionei meu dedo, onde a representante da Capital furou para pegar uma gota de Sangue.

– Melanie Roy, 15 anos, seu nome aparecerá 38 vezes na colheita- Ela me entregou a porção de grãos, sai andando sem olhar para trás.

– Que garota louca. - ouvi Anitta dizer.

– Me solta Anitta. Quantas vezes você disse que o nome dela apareceria? - Filipe perguntou a Representante.

– 38 vezes.

Um suspiro triste foi a ultima coisa que eu ouvi antes de virar a rua.

– Nancy. - Gritei na porta, e ela logo veio atender.- Eu disse que ia dá um jeito.

Seus olhar migrou do meu rosto para minha mão onde estava a Porção de Tecerás, e ficou tão pálida que achei que ela fosse desmaiar.

– Você não fez isso. Mel, você.. você não pode ter feito isso. - Nancy gaguejava incrédula.

– É mais eu fiz.

– Eu não posso aceitar, é loucura, você é louca, só pode ser louca. - Ela balançava a cabeça.

– Parece que todo mundo tá me achando louca hoje. - dei uma risadinha rouca. - Olha Nancy, você precisa aceitar, é a única maneira que eu tenho de te ajudar, e irmãs se ajudam, não é mesmo?

– É mais...

– E outra coisa, eu ganhei aquele sorteio, então a sorte deve estar ao meu favor esse ano. - Ironizei sorrindo, torcendo veemente que estivesse certa.


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Notas finais do capítulo

Olá Pessoas, o que acharam do primeiro capitulo?? Comentem, comentem, comentem a opinião de vocês é muito importante para mim. >E o próximo capitulo "A colheita" já está em andamento.