Não caias nesses buraco sem fundo. Não sejas tolo e sai enquanto podes, por favor. Não sou aquilo que pensas que sou. Nunca viverás comigo o sonho que encontraste no meu cabelo claro e olhos extravagantes.

Não vejas nos meus sorrisos um sinal de felicidade constante, são tão mentirosos como aquela casa feita de doces que em crianças líamos sem parar. Há buracos e mais buracos, tapados com pequenos remendos frágeis que a qualquer instante terão as costuras a rebentar.

Não te aproximes demasiado, não me toques, abraces. Não ouses beijar-me a testa ou os lábios, nem sequer a ponta dos dedos. Não mereço estragar-te a vida. A verdade é que sou um caco partido, jogado no lixo que alguém decidiu envernizar para parecer bonito.

Não me dediques musicas, não me ofereças flores ou chocolates. Descarta os convites para jantar ou passar uma tarde no parque. Não te quero magoar, parte enquanto é tempo. A verdade é que estou danificada, sou triste, partida e ainda não estou pronta para me reconstruir. Não penses que o farás com os teus sorrisos gentis e a tua gargalhada pateta. Só voltarei intacta quando decidir que é tempo.

Não me convides para dançar descalça na areia, não me leves pela mão a passear pelo mar bravo do outono. Vai embora enquanto é tempo, deixa-me antes que te magoe. Não sou feliz e não te posso fazer feliz. Ouve-me enquanto é tempo, corre para bem longe de mim.

Não te apaixones por uma boneca partida, revestida de verniz para ficar bonita. Dentro dela é tudo côncavo, o coração foi roubado, as palavras bonitas rasgadas. Um dia as suas faces eram rosadas mas tudo agora não passa de mentiras em forma de tintas.

É assim que eu sou, um poço de tristezas e amarguras. Não vejas em mim o que não existe. Não te iludas com hipóteses de uma melhoria. Que um dia eu volte a ter cor sozinha. Que os meus sorrisos sejam sentidos e que volte a gargalhar como em criança.

Não te apaixones por mim, não posso ver-te sofrer. Corre, foge enquanto podes, não sou digna de ti, não mereces sofrer à minha custa. A verdade é que bem posso apaixonar-me, mas enquanto não me curar prefiro viver e crescer sozinha.