Lógico. Até porque bêbado e embriagado são duas coisas tão diferentes! Aquela indica apenas um momento, enquanto esta é tão somente o perfil do espírito; supunha que já soubesses disso, o imperturbável estado de estar-se sempre paralisado de êxtase, enlevado por desde as rachaduras antigas da calçada até as formas crescentes das nuvens que se desenham para nós, porque a tua alma foi a minha segunda paixão — a primeira foram os olhos.

Sim, eu devo dizer que é aborrecida. Mas vou dizer-te algo que li nalgum lugar do qual já não me lembro mais e que falava, mais ou menos, em palavras mais bonitas, que poetas nunca prometem nada senão o seu próprio sofrimento, o que é praticamente a minha vida mesmo quando escrevo e só não o é quando estou contigo. De qualquer forma, sofri mais uma vez, e a casa já está limpa, o que também não vai durar mais que um ou dois dias (vê que em anexo mandei uma foto em que me tens customizado à maneira dos antigos escravos).

É uma pena que tenhas descoberto meu segredo. Sim, eu não posso dizer que não me queria meter contigo, mas a verdade é que eu não sabia nem um quarto de em que eu estava me metendo, e agora estou aqui, eternamente preso. E estás te esquecendo da minha tarte. Nunca é tarde demais para rir, no entanto, e quem sabe do outro lado das paredes alguém ria da tua risada, que não é não menos engraçada do que sequestrar um cozinheiro. Só de lembrar-me dela quase fui ao chão (estava sentado sobre a cama).

É uma pena que tenhas vagas saudades. Quando as tiveres inteiras, falamo-nos novamente. Eu vou-me deitar logo, e antes disso vou rezar pela pequenez relativa de Londres comparada aos teus humores tão explosivos quanto o nascimento da primavera. A noite está morna. Jantei à lanchonete da esquina e senti na brisa tépida o toque da tua pele. Não te preocupes, que eu já trouxe a planta para dentro de casa.

Amo-te como os vapores perfumados do chá.