Tudo mudou depois daquele beijo. Eu e Chris nos afastamos completamente. Apenas nos falávamos quando o assunto era Nicole. Agora, tudo o que me restava era chorar sozinha, pois o meu único apoio me deixou.

Depois daquele “incidente” com Christopher, passaram-se uma semana, minha melhor amiga veio aqui em casa e me fez companhia. Não contei a ela sobre o beijo, mas acho que foi melhor assim, acreditem, Juliana daria um verdadeiro escândalo e ainda brigaria comigo pelo tapa que dei nele. E sinceramente, nem eu sei se deveria ter batido em meu primo. Mas agora já esta feito e não da pra voltar atrás. Depois de dois dias vindo me ver, pedi a Ju que não viesse mais, pedi com carinho, eu juro! Eu só não aguentava mais vê-la me olhar com pena. Ela respeitou e não veio mais. Mas como eu não tenho ido a escola, conversamos sempre por mensagem, e ela me explica mais ou menos o que foi passado de matéria.

Sobre os meus pais... Eles ainda não acordaram do coma, mas deram uma melhorada significativa, e finalmente saíram da UTI. E hoje iremos la vê-los. Eu e Christopher demos uma trégua por alguns minutos para conversar sobre como explicar sobre o coma para Nicole.

– Acho que devemos combinar o que iremos falar para que ela no fique confusa. – disse enquanto esperávamos minha irmã acabar de se arrumar.

– Se ela perguntar alguma coisa do por que eles não acordam, diremos que eles dormem bastante para se recuperarem logo, e se ela não perguntar não diremos nada. – ele disse como se fizesse isso todos os dias. – mas eu acho que você não estará em condições de falar nada a ela. Afinal são seus pais também. Pode deixar que eu respondo caso ela fale alguma coisa.

Eu estava boquiaberta em como ele estava frio, mas mesmo assim parecia se importar um pouco comigo.

– Christopher eu... – fui interrompida por Nicole chegando a sala, quando ia finalmente tentar acertar as coisas, só olhei pra ele como quem diz “depois conversamos”.

– Vamos!! Quero ver papai e mamãe logo! – meu coração se partiu ao ouvir a animação dela em ver os nossos pais, sendo que sem que ela soubesse eles estavam em coma.

– Calma aê princesa, a gente já vai. – ele me parou com o braço discretamente e se virou para Nicole de novo – vai indo la pro carro que eu e sua irmã já vamos ta?

– Ta bom, mas não demora! – e saiu correndo saltitante em direção ao carro do primo.

Depois de ver que ela já estava no carro ele se virou pra mim, e percebeu pela minha cara, que eu não estava entendo absolutamente nada.

– Calma, e não vou te esfaquear – ele disse brincando, e conseguiu pro incrível que pareça arrancar uma risada fraca, porém verdadeira de mim – eu só quero te dizer que apesar da distancia que estamos mantendo durante esse tempo, se você precisar, eu estarei la, pra te apoiar ta?!

Eu juro que quase chorei ali mesmo, mas por impulso, e antes mesmo que eu pudesse pensar direito, me joguei nos braços dele e lhe apertei em um abraço. Resmunguei um “obrigada” enquanto me afastava envergonhada, e torcendo para que ele não percebesse que minhas bochechas estavam coradas.

– você fica fofa com vergonha – ele sussurrou com um sorriso no rosto, fazendo minhas pernas bambearem.

– o-obrigada, eu acho...

Fui salva por Nicole nos apresando. Quando chegamos ao hospital, perguntamos na recepção em que quarto o Sr. e a Sra. Gollen estavam. 321 ala B.

Quando chegamos em frente a porta do quarto de meus pais eu simplesmente travei, e não consegui abri-la. Exatamente como tinha acontecido quando fomos ver a Nicole, no dia do acidente. Mil coisas se passavam em minha cabeça, a reação de Nicole ao ver os pais em coma, como meus pais estariam, como eu ficaria, e se eu suportaria ser forte por Nicole.

Como eu estava na frente dos dois, quando parei, eles pararam também. Acho que por telepatia, Chris já sabia o que tinha acontecido, então apenas colocou a mão em meu ombro me dando força, mas Nicole, ah, minha pequena, ela pegou minha mão e me puxou para baixo, fazendo com que eu ficasse na altura dela, e me perguntou:

– Ta tudo bem com você? – ela parecia preocupada comigo, mas eu apena sorri e fiz que sim com a cabeça.

Quando me levantei, olhei rapidamente para Chris e abri a porta do quarto. Nicole entrou correndo e parou entre as camas de minha mãe e de meu pai, e eu... bom, eu não movi um musculo. Continuava ali. Parada, olhando para as duas pessoas que eu mais amo “dormindo”.

Depois de me recuperar do choque, andei até onde Nicole estava e disse a ela para falar com os dois como se estivessem acordados, falei também para ela contar o que fez todos esses dias enquanto eles estavam fora. Ela fez exatamente o que eu a mandei fazer sem nem perguntar nada, apenas engatou uma animada “conversa” com os dois.

Enquanto ela fazia isso, eu abracei com força Christopher, que me apertou da mesma forma. Estava me segurando para não chorar. E consegui.

Quando soltei meu primo, Nicole veio até nós e disse que já tinha contado tudo o que tinha feito durante essa semana, e antes que falássemos alguma coisa ela completou que achava melhor irmos pois os dois tinham que dormir. Essa ultima fala dela me soou como a de uma adulta mandando seus filhos para a cama, e eu ri com a comparação. Chris sorriu ao me ver sorrindo, mas eu fingi que não tinha percebido.

Depois de dar um beijo nas bochechas de meus pais e sussurrar um “eu te amo” no ouvido de cada um, fomos embora.