Snowy Days escrita por akumuffin


Capítulo 8
Elevador


Notas iniciais do capítulo

Esse cap saiu mais cedo uwu Espero que gostem~



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P.O.V. – Nico

Eu segui correndo, por mais que pudesse ouvir a voz de Percy gritando pelo o meu nome e pedindo para que eu parasse. Não demorou muito tempo até que eu começasse a arfar, mas isso não me impediu de continuar a fugir. Talvez essa fosse a única coisa que eu fazia direito mesmo. Eu fugi no dia em que descobri sobre a morte de Bianca e de Maria, a minha mãe, simplesmente porque eu não queria mais permanecer naquele hospital, sabendo que ambas já tinham passado dessa para melhor. Eu não fui no funeral delas porque não sabia como iria reagir quando visse ambos os corpos delas sendo enterrados, o que era uma prática um tanto irônica se formos considerar que “as almas boas vão para o céu”. Nunca acreditei nessa coisa de religião, de pós-vida ou até mesmo de renascimento. As pessoas morriam, e fim. Não tinha um “e se”, era aquilo e ponto.

Eu nunca soube como reagir às coisas. Sempre acabava tentando dar uma escapada para fugir dos meus problemas, ou simplesmente me trancava no quarto. Mas agora que Percy tinha me perguntado por que eu dormi no ombro dele, não tinha mais nenhum quarto para se esconder. Eu jurava que tinha sonhado sobre ter caído no sono junto com ele, e não que aquilo tinha acontecido de verdade. E o pior disso é que eu não podia falar o meu ponto de visão da história porque ia ficar estranho do mesmo jeito. Que tipo de garoto hétero sonha com coisas desse tipo, sobre dormir sobre os ombros de um amigo dele? Pff. Percy nunca iria levá-lo a sério se dissesse isso. Se bobeasse, talvez parasse de tentar se aproximar, de mandar umas mensagens idiotas no meio da noite ou simplesmente de dar um “oi” para mim quando me visse no corredor durante os intervalos. Eu preferia guardar meus sentimentos em um cofre do que deixá-lo descobrir, se fosse para ele me tratar desse jeito.

E bem, lá estava eu. Minhas pernas estavam cansadas, mas eu não podia parar. Percy estava me seguindo, ainda repetindo para que eu andasse mais devagar e conversasse com ele. Ah, se ele pelo menos tivesse uma ideia do que “parar e ter uma conversa” significava, não estaria correndo que nem um maluco atrás de mim e... Ah, não era exatamente isso que eu tinha dito para ele não fazer? Tudo bem que eu tinha começado a correr antes, mas mesmo assim. Não era para ele ter vindo atrás. Porém eu duvidava que isso tivesse chegado a passar pela cabeça dele por um momento.

Quando vi, já estava na portaria do meu prédio, apoiando o peso do meu corpo nos joelhos, de cabeça caída. Depois de alguns minutos assim, fui para o elevador. Como ele provavelmente estava bem atrás, não tive pressa nenhuma. Entrei na caixinha claustrofóbica de metal e apertei o botão do meu andar.

Quer dizer, eu teria feito isso se não fosse por um braço estendido que impedia as portas de se fecharem. Encarei os olhos verdes dele com espanto, e mordi o lábio inferior com toda a força que eu tinha. Como que ele tinha me alcançado? Será que eu fiquei descansando por tempo demais? Droga. Droga, droga, droga!! Ele ia pedir explicações sobre eu ter dormido no ombro dele, e também por eu ter fugido. Pensei em escapar do elevador, mas agora as portas já tinham se fechado de novo, e ele estava ali do meu lado. E quando eu digo “do lado” é porque é do lado mesmo. Ele estava praticamente grudado em mim.

― Nico. ― Ele disse o meu nome com um tom de seriedade, apesar de sua voz estar um pouco rouca devido aos gritos de antes. Ele me observava no fundo dos meus olhos, e isso só fez com que eu me ocupasse a encarar o chão de novo. “Desconfortável” estava longe de descrever como eu estava me sentindo agora.

― O que foi? ― Murmurei, largando o meu lábio inferior por alguns instantes. Abaixei a cabeça mais ainda, e comecei a fitar os meus tênis sujos.

― Você sabe do que eu estou falando. ― A seriedade deu lugar à preocupação, que estava nítida no rosto (perfeitamente esculpido, eu tinha que admitir) dele. Ele colocou uma de suas mãos sobre o meu braço direito, e com a outra delicadamente levantou o meu rosto, puxando-o para cima pelo queixo. Comprimi os meus lábios ao pensar no quão constrangedora e subjetiva aquela cena era. ― Por favor, Nico.

― Não, eu não sei. ― Continuei com o olhar baixo, já que eu não conseguia aguentar aquele olhar que ele tinha sobre mim.

― Isso não é brincadeira. Sério. Fala pra mim. Eu não vou rir de você. ― Ele insistiu, e foi só agora que eu percebi que ninguém tinha apertado botão algum ali no painel. Me inclinei naquela direção na tentativa de apertar qualquer que fosse, mas ele percebeu e se pôs no meio do caminho. ― Esse elevador não vai a lugar nenhum até que você me explique sobre o que está acontecendo.

Finalmente, ergui o olhar. Os olhos verdes dele continuavam a me encarar, e os seus dedos ainda repousavam em meu queixo, por mais que não estivessem mais me segurando com a mesma força de antes. Ele só queria que eu dissesse o motivo de eu ter feito aquelas coisas.

― Quer saber, é? Pois saiba que eu estou tão confuso quanto você. ― Eu finalmente disse, dando um passo para o lado na tentativa de escapar, ou de pelo menos apertar um dos botões. Mas Percy foi rápido e impediu a minha passagem de novo, aproximando-se de mim e deixando uma distância ridícula entre nós dois. Nossos rostos estavam tão próximos um do outro que eu conseguia ouvir a respiração dele.

― Então me diga o que você já entendeu, pelo menos.

― O único problema é que eu justamente não posso falar pra você o que eu já entendi. ― Depois de dizer isso, eu já não estava mais dentro de mim. Parecia que uma pessoa totalmente diferente tinha tomado posse do meu corpo. ― Eu tenho que mostrar.

Fiquei na ponta dos pés, e lancei-me na direção dele, reduzindo o espaço que tinha entre nós a zero, e colando nossos lábios por alguns instantes. Estavam um pouco rachados devido ao frio, mas eu não me importei no momento. Apenas queria tê-lo junto a mim por um tempo, por menor que fosse. Queria carregar um pedaço dele comigo antes de que ele começasse a me ignorar, a parar de falar comigo, ou o que fosse. E naquele instante em que alcancei os lábios dele, eu sabia que tinha conseguido. Eu aproveitei a minha chance, e agora só precisava saber qual foi o efeito que ela causou nele.

Como aquilo foi um dito “beijo roubado”, não pude aproveitar tudo o que Percy tinha a oferecer, mas mesmo assim estava feliz. Feliz por ter deixado a timidez de lado por pelo menos um instante, e por não ter fugido. Eu fiz o que o meu coração me mandou, pelo menos uma vez na minha vida.

Depois disso, dei um empurrão nele e esgueirei-me o suficiente para alcançar o botão de “abrir” do painel, escapando dali com o resto de forças que o meu corpo ainda tinha. Eu não ia aguentar ficar observando-o até que chegasse ao meu andar, então a melhor alternativa que eu vi no momento foi ir pelas escadas.

Mas, enquanto eu ia correndo, virei-me para ver se ele não estava me seguindo. Para minha surpresa, ele continuava dentro do elevador, ainda com uma expressão de surpresa acompanhada de bochechas vermelhas em seu rosto. Ele tinha alguns dedos sobre sua boca, e murmurava alguma coisa que eu não conseguia entender. E naquele exato instante, eu senti as borboletas se remexerem dentro da minha barriga mais uma vez.

Será que ele... tinha gostado?


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Notas finais do capítulo

Comentem! uwu